lunedì 23 settembre 2019

Domingo XXIX°/C



(Ex 17,8-13;Sal 121; 2 Tim 3, 14-4, 2; Lc 18, 1-8)

Paolo Cugini


1. O tema da liturgia da Palavra de hoje é sem duvida nenhuma a oração. É um tema importante porque é algo que nos leva ao coração da vida religiosa. É através da oração eu entramos em dialogo com Deus, experimentamos a sua presença ou, às vezes, a sua ausência. É sempre através da oração que medimos também o nosso crescimento interior, o nosso desenvolvimento espiritual. É aqui entra um grande paradoxo. De fato, se de um lado sabemos da grande importância da oração na vida espiritual, de outro lado se constata a escassa atenção que as mesmas pessoas religiosas oferecem para aprimorar a própria oração, o próprio jeito de rezar. E assim encontramos pessoas que há décadas freqüentam a Igreja, que são engajadas nos trabalhos da Igreja, que são lideranças ativa e participativa da Igreja, mas que rezam como crianças, com o jeito que aprenderam quando criança. O problema é entender o sentido da oração assim como a Palavra de Deus o apresenta, para podermos aprimorar o nosso jeito de rezar.

2.E quando Moisés conservava a mão levantada, Israel vencia; quando abaixava a mão, vencia Amalec” (Ex 17,11).
Este versículo expressa um dado extremamente importante da oração. Se entrarmos em nós mesmos e avaliarmos com atenção o conteúdo das nossas orações, talvez não encontramos nelas outra coisa a não ser nós mesmos, com os nossos problemas. Entramos na oração de uma forma tão egoísta e pensamos que Deus seja como um talismã pronto a atender os nossos pedidos que, na maioria das vezes, são pedidos materiais. O dato que chama atenção neste versículo é que Moisés passa o tempo todo rezando para os outros e não pra si mesmo. Além do mais é uma oração continuativa, ou seja, que dura até quando dura a guerra, mostrando assim fé e confiança em Deus. Nada, então, de formula estereotipada, rápida, impessoal, mas sim uma oração que reflita a intensidade daquilo que na realidade está acontecendo. A oração deve acompanhar a realidade, e deve expressar aquilo que na realidade acontece. Interessante, também, refletir sobre o sentido da realidade que sai do versículo que estamos analisando. A realidade é uma guerra, um constante conflito que podemos vencer somente com a ajuda de Deus. Esta ajuda nos é proporcionada não apenas com a nossa oração, mas também com a oração dos outros. É este o versículo que justifica a espiritualidade contemplativa, a oração das monjas dos mosteiros de clausura, aquela vida de total oração que aos olhos do mundo é absurda, mas que encontra a sua justificação na mesma vida de Jesus.

3.Jesus contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre e nunca desistir” (Lc 18, 1).
Problema: porque esta necessidade de rezar sempre? E como se manifesta esta necessidade? Olhando ao contexto da parábola que Jesus contou para explicar o sentido do seu pedido, na oração constante e ininterrupta buscamos a Justiça de Deus: “E Deus não fará justiça aos seus escolhidos?” (Ivi). A justiça de Deus se manifesta como misericórdia. Por isso é necessário rezar sempre, para abastecermos a nossa alma da misericórdia de Deus e, assim, esvaziarmos da maldade que vem ao nosso encontro da justiça egoísta e interesseira dos homens. Rezar sempre significa também a confiança extrema e irredutível para com Deus, manifestando assim a própria natureza espiritual de filhos. Nunca desistir de rezar para sempre viver em Deus. Quem desiste de rezar é porque quer, ou decide, realizar a própria vida de uma forma autônoma, independente. Por isso a oração é importante na caminhada cristã, porque desvende o sentido autentico e profundo da própria fé. Quem vive uma caminhada de Igreja não pode viver sem a oração. Aliás, quem vive e deseja dar um sentido autentico á própria vida não pode de jeito nenhum pensar de ir pra frente sem manter um dialogo constante e profundo com Deus. Além do mais a insistência na oração manifesta perante Deus aquilo que a gente é: nada. Este é um dos sentidos mais profundos da oração: somos carne e sangue, um punhado de células e nada mais do que isso. É só isso que somos e para dar um sentido á este punhado de células precisamos um Espírito, um contato constante com Deus, o nosso Pai. Acho que é isso que o homem experimenta quando se afasta de Deus, interrompendo a ligação natural com o próprio Pai. E assim, quanto mais alguém interrompe a ligação natural, que é uma ligação espiritual, tanto mais sente-se forçado a alimentar a própria alma de matéria.

4.Toda a escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, para argumentar, para corrigir e para educar na justiça a fim de que o homem de Deus seja perfeito e qualificado para toda boa obra” (2 Tim 3, 16).
Se for verdade, como vimos até agora, que a oração é fundamental para alimentar a fé, é também verdade que as vezes não sabemos como rezar, o que dizer, como orientar as nossas orações. É são Paulo que vem em nossa ajuda nos lembrando que é na Sagrada Escritura que encontramos as palavras certas que nos auxiliam na oração. Existe toda uma tradição na Igreja Oriental que aprendeu a rezar repetindo continuamente breves versículos do Evangelho ou dos salmos. Aprender a preencher as nossas orações com as palavras que encontramos na Bíblia é um ótimo método para sermos escutados pelo nosso Pai. Esvaziar a oração das palavras inúteis e egoístas falando só com versículos bíblicos, rende a oração pessoal mais autentica e verdadeira.

5. A liturgia da Palavra nos mergulhou num grande paradoxo: a oração constante e a nossa pratica inconstante e, sobretudo, inconsistente. Nos declaramos católicos, crentes, mas não fazemos nada para crescermos no dialogo constante com Deus, não cultivamos a pratica fundamental da oração. É no dialogo com Deus que aprendemos ao mesmo tempo a conhecer melhor a Deus e a nós mesmos. É no caminho da oração que aprendemos os segredos da vida espiritual. Somente nos afastando da vida religiosa superficial, feita de formulas repetidas sem pensar muito nelas, e entrarmos em um dialogo profundo e corriqueiro com Deus podemos crescer no amadurecimento da vida espiritual, que é a base da vida de fé.





Domingo da dedicação da basílica do Latrão



(Ez 47,1-2.8-9.12; Sal 46; 1Cor 3,9-11.16-17; Jo 2,13-22)
Paolo Cugini

1. Segundo uma tradição que remonta ao século XII, celebra-se neste dia o aniversario da dedicação da Basílica do Latrão, construída pelo imperador Constantino no IV° séc. d.C. Esta festa é importante porque a Basílica do Latrão é chamada “Mãe e cabeça de todas as Igrejas da Urbe e do Orbe (de Roma e do mundo)” e também como sinal de amor e unidade para com a cátedra de Pedro, que “preside a assembléia universal da caridade” (Inácio de Antioquia). Com esta festa a Igreja nos oferece a oportunidade de refletir um pouco sobre o sentido da mesma e, assim, avaliarmos o sentido da nossa pertença á ela. São as leituras de hoje que nos oferecem o conteúdo para respondermos aos nossos questionamentos sobre a Igreja e a sua natureza.

2. A água corria do lado direito do templo, a sul do altar... Estas águas correm para a região oriental, descem para o vale do Jordão, desembocam nas águas salgadas do mar, e elas se tornarão saudáveis” (Ez 47, 1.8).
Esta imagem do profeta Ezequiel mostra um elemento interessante sobre a Igreja. Interpretando o versículo citado, podemos afirmar que da Igreja sai a água (do batismo) que purifica a humanidade toda. Existe toda uma humanidade “salgada” pelo estrago do pecado que precisa ser lavada, purificada: é este o sentido do batismo. Claramente esta purificação não é feita apenas com a água sacramental, mas também através da ação de todos aqueles que foram purificados, batizados. A Igreja foi inventada por Deus com este intuito: oferecer um espaço para que o mundo seja purificado. A água do batismo purifica qualquer água salgada que encontrar: nada resiste a força purificadora dela. Entender isso é fundamental para descobrir a gratuidade da ação de Deus e, sobretudo, a verdade da sua força, do seu poder. Se Deus criou o homem e a mulher foi com a intenção que eles vivessem para sempre (Cf. Sab 2,3). Se este projeto foi estragado pelos mesmos homens e mulheres, por causa da desobediência, que não é nada mais que uma forma de teimosia, de orgulho, isso não levou Deus a desistir da sua idéia originaria. Pelo contrario, toda a historia da salvação que nós lemos na Bíblia, é a narração do esforço de Deus de consertar, purificar os erros dos homens. O ponto final deste esforço é Cristo, o Filho único de Deus, que veio ao mundo para mostrar a toda humanidade o caminho de saída do mundo do pecado, para entrar na gloria de Deus. O batismo é o sacramento que dá inicio a este caminho, porque deveria marcar o desejo da pessoa de seguir a Jesus e realizar a sua proposta de uma vida nova.

3.Ninguém pode colocar outro alicerce diferente do que está ai, já colocado: Jesus Cristo” (1 Cor 3,11).
A Igreja é aquela realidade espiritual, mística e ao mesmo tempo visível pela ação dos cristãos, que é alicerçada sobre um único fundamento que é Cristo. Se a Igreja é instrumento universal de salvação, deve isso ao fato que Cristo não apenas é o fundador dela, mas também o alicerce que sustenta toda a instituição. Por isso um cristão para ser tal, não apenas deve ser batizado, mas dedicar tempo ao conhecimento de Cristo. A Igreja é o conjunto do povo de Deus que sentiu-se atraído pela Palavra de Deus e que visa viver conforme os ensinamentos do seu Mestre Jesus. O tempo presente para um cristão, é o tempo do aprofundamento da Palavra de Jesus, da sua proposta de vida. Só que para conhecê-lo, para desejar aprofundar o conhecimento da sua Palavra, precisamos amá-lo e para amá-lo precisamos tê-lo encontrado, percebido. Este encontro é possível somente na interioridade da nossa alma, pois é ali que Deus se manifesta. Pessoas superficiais, mergulhadas nos prazeres do mundo, na busca dos bens materiais dificilmente conseguirão encontrar o Senhor, escutar a sua voz e, assim, ser atraídos por Ele. Se Cristo é o alicerce da Igreja, como Paulo nos demonstra hoje, precisamos conhecê-lo melhor, precisamos passar tempo com ele, debruçar na sua Palavra, interiorizar o seu estilo de vida. Somente assim a Igreja se torna o corpo visível de Cristo ressuscitado, que atrai toda a humanidade no Caminho que leva ao Pai.

4. “Jesus fez um chicote de cordas e expulsou todos do templo... E disse: ‘Tirai isso daqui! Não façais da casa do meu Pai uma casa de comercio!’” (Jo 2, 15.16).
Este é um versículo que muita gente não gosta. Até mesmo alguns exegetas, ou seja, estudiosos da Palavra de Deus, escreveram palavras negativas sobe esta atitude de Jesus. Pelo contrario, eu pessoalmente gosto muito deste versículo, porque acho que revela algo de muito importante não apenas da personalidade de Jesus, mas também da sua ação no mundo. Este versículo revela que Jesus não veio para botar a mão na cabecinha do povo, acobertando os seus erros, mas pelo contrario, Cristo veio para ajudar o mundo a sair do erro do pecado. O primeiro efeito da leitura do Evangelho, quando é feita com o coração aberto, é a descoberta da própria vida errada. Cristo é a verdade que descortina a mentira. Perante esta revelação a tentação imediata é acobertar, fingir que está tudo bem. Quem procede assim não está disponível a se tornar discípulo do Senhor, a ser uma pessoa diferente. Pelo contrario, o sofrimento causado pelo descobrimento constante dos nossos erros, é apaziguado somente se tivermos a coragem de aceitar os conselhos e as indicações do nosso Mestre Jesus, cuja intenção não é apenas de nos machucar mas, pelo contrario, de nos salvar da nossa vida errada. Esta violência que Jesus usa no templo de Jerusalém é o símbolo da força e do zelo que Ele mete no comprimento da vontade do Pai. As vezes, para sairmos de situações de vicio, de pecado enraizado na nossa alma, precisamos um pouco desta santa violência, que é força de Deus, que é a determinação que nos leva a sermos pessoas diferentes. Se isso vale num sentido pessoal, ainda mais quando se trata do pastoreio da Igreja. Quem tem uma função de liderança na Igreja não pode vacilar perante o pecado da comunidade, que pode estragar a mesma e comprometer definitivamente a caminhada. Às vezes, pelo amor de Cristo e da sua Palavra, precisamos da força do Espírito Santo para termos a coragem de sermos firmes e até duros perante situações de evidentes erros. Nessa altura, somente o pastor que tem amor a Deus mais de que a si mesmo terá a coragem de realizar atos e tomar decisões impopulares, mas que beneficiam o prosseguimento da comunidade.



Domingo XXVII°/A



(Is 5, 1-7; Sal 80; Fil 4, 6-9; Mt 21, 33-43)

Paolo Cugini

1. Ao longo da vida o Senhor nos oferece ocasiões para crescermos em sabedoria e graça e nem sempre sabemos desfrutá-las. Aprendemos a viver visando o lucro, o sucesso, o interesse pessoal, por isso não conseguimos enxergar tudo aquilo que de bom Deus proporciona por nós. Deus faz de tudo para que as pessoas possam viver de uma forma digna, conforme o projeto que Ele mesmo pensou, mas a ganância do mundo, a cobiça da vida atrapalha de um jeito a alma que consideramos negativo tudo aquilo que Deus prepara para nós. Esta é em síntese a historia da humanidade, que de uma certa forma é a nossa historia.

2.Por isso eu vos digo, o reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos” (Mt 21, 43).
Deus não fica esperando o tempo todo um povo que não dá ousadia por Ele: este é o sentido do versículo. O Reino de Deus deve produzir frutos, pelo contrario não serve ao objetivo pelo qual foi pensado. O problema que ao longo da historia da salvação quem tomou conta do Reino foi um povo que não prestou, um grupo de pessoas, a clássica panelinha da vez que em vez de acolher a Palavra de Deus para se converter e melhorar o próprio estilo de vida, a utilizaram para julgar os outros (cf. Rom 1-2). Furto do Reino de Deus devem ser atitudes que brotam do mesmo Deus e não atitudes que saem dum coração preso ao próprio egoísmo. Por isso não basta a Palavra de Deus, mas necessitas o esforço pessoal para que a Palavra possa encontrar espaço, o terreno propicio para poder brotar os frutos desejados. Para atualizar aquilo que estamos comentando. A Igreja acabou de viver o mês da Bíblia. Então a que adianta este mês, a que adianta os círculos bíblicos, as celebrações bonitas se não se traduzem em ações concretas ditadas pela Palavra de Deus meditada? Chega de encontros, de reflexões bíblicas só para acalmar a consciência ou, pior ainda, para se sentir melhor dos que os outros!  É esta a grande responsabilidade dos católicos, das comunidades cristãs. Pode acontecer conosco aquilo que aconteceu com o povo hebraico comentado no versículo sobre citado, ou seja, de sermos cortados. Em toda missa a comunidade, junto a cada cristão, deveria se questionar sobre a maneira de utilizar os dom que recebeu de Deus. Somente com esta capacidade critica é possível ir para frente no Reino de Deus. É isso que faltou aos fariseus e aos escribas, fechados no orgulho e na ufania, se achando os donos da Palavra e não os servos dela. Este versículo que estamos comentando, que encerra o Evangelho de hoje, apesar de ser muito forte, é extremamente realista, daquele realismo sadio que ajuda a alma a se colocar no próprio lugar, que nos ajuda a não nos empossarmos daquilo que não é nosso, mas que é simplesmente nos oferecido para nos salvar.

3.Certo proprietário plantou uma vinha... Depois arrendou-a aos vinhateiros e viajou para o estrangeiro” (Mt 21, 33).
Na vinha o dono coloca os vinhateiros para trabalhar, para que a vinha possa dar uva. Isso quer dizer, interpretando a parábola, que a Igreja é nos doada para trabalhar e não para mandar. O batismo que recebemos é participação da morte de Cristo, do seu do sofrimento como sinal do seu amor para o Pai. Isso quer dizer que devemos apreender a viver a Igreja com disponibilidade a servir de uma forma gratuita, com muita dedicação, para que a graça de Deus que recebemos nos sacramentos possa brotar frutos de conversão. É interessante, também, na historia narrada da parábola, que o dono entrega a vinha aos vinhateiros e depois viaja. Isso é sinal de confiança e, ao mesmo tempo, sinal de um compromisso que exige responsabilidade. O dono da vinha entrega tudo nas mãos dos vinhateiros e isso exige não apenas confiança da parte do dono, mas também compromisso do lado dos vinhateiros. Se A vinha é a Igreja, o Reino de Deus isso quer dizer que devemos aprender a viver a nossa pertença a Igreja com mais responsabilidade, devolvendo com um compromisso sempre mais fiel á confiança que Deus tem para nós. Além do mais, a maneira de Jesus agir para conosco, parafraseando a parábola, deveria ser aprendida por todos aqueles que assumem tarefas de confiança dentro da Igreja. Para que o reino do Céu possa crescer precisa de pessoas que saibam acreditar nos outros, que tenham a mesma postura de confiança que o dono da vinha teve na historia da parábola. Ajudamos os outros a crescer humanamente, espiritualmente e eclesialmente não segurando-os, não ficando o tempo todo manando neles, mas sobretudo confiando nas suas capacidades. Jesus fez e continua fazendo isso conosco: seria bom aprendermos a fazer isso também nós com as pessoas que o Senhor coloca ao nosso lado. Somente pessoas interiormente livres conseguem viver com liberdade os relacionamentos pessoais e a não querer que todos façam do jeito que ele pensar. Quantas vezes a Igreja, nos trabalhos que desenvolve, se torna espaço para descarregar as próprias frustrações pessoais em vez de ser o terreno propicio do desenvolvimento da liberdade dos outros? Isso, infelizmente, se torna amiúde bem visível toda vez que alguém assume uma tarefa dentro da Igreja, seja ele quem for, clérigo o leigo.  Mais uma vez é bom salientar que a parábola narrada no Evangelho de hoje nos ensina que a vinha do Senhor, o seu reino, Jesus a doou para trabalhar, para servir com humildade, assim como também Ele mesmo fez, que veio para servir e não para ser servido.

4.Irmãos, não vos inquieteis com coisa alguma, mas apresentai as vossas necessidades a Deus, em orações e súplicas, acompanhadas de ação de graças” (Fil 4, 6).
Na Igreja, que é vinha do Senhor, deveríamos aprender a viver assim, em tranqüilidade, sem nos inquietar com nada e com ninguém, em paz com Deus e com os irmãos. Só que para vivermos assim, precisamos entregar tudo nas mãos de Deus, aprender a viver a nossa vida como algo que está totalmente nas mãos de Deus, que seja Ele mesmo a tomar conta de tudo, da nossa vida e da nossa caminhada. É este o caminho da total espiritualização da existência cristã, o caminho feito de ações e de orações interligadas entre elas, caminho na luz de Deus que permite vislumbrá-lo a cada momento e em todo lado da nossa existência. Jesus sem duvida viveu deste jeito a própria existência terrena, com o rosto constantemente dirigido ao Pai, na busca constante da sua vontade, entregando a Ele completamente a sua causa. Pedimos a Deus que nos ensine a viver com sempre mais espiritualidade a nossa experiência de fé.


Domingo XVII°/A




(Is 55, 1-3; Sal 145; Rom 8, 35.37-39; Mt 14, 13-21)

Paolo Cugini


1. Somos mergulhados todos os dias a toda hora em problemas materiais, muitas vezes que exigem uma solução imediata. Percebemos o pressionamento da realidade, que nos encurrala, sentimos o bafo da história, do julgamento dos outros. A tentação é disfarçar, tapear, não enfrentar a realidade, fazer de conta que tudo não passa de um momento e então vivemos arrastando a barriga no chão, concentrando os nossos esforços nos problemas materiais imediatos, esquecendo de refletir sobre as motivações profundas dos nossos atos. E assim, um dia, de repente, acordamos sentindo um grande vazio dentro, uma angustia terrível, um sentimento de traição. Olhamos no espelho e percebemos um sentimento de estranheza, como se o cara na nossa frente fosse alguém de diferente. Deparamos assim, brutalmente, no eterno problema do relacionamento entre externo e interno, espírito e carne, vida espiritual e material. Na nossa vida corriqueira, também entre nossos amigos e parentes, é extremamente difícil encontrar pessoas que vivem a harmonia entre estas duas dimensões. Por isso, antes que seja tarde demais, é bom dar uma olhada um pouco mais atenta às leituras de hoje para aprendermos da Palavra de Deus como é que se vive, sem correr o risco de se esconder, por medo que alguém consiga ver a podridão que está cumulada dentro de nós.

2.Vinde comprar sem dinheiro, tomar vinho e leite sem nenhuma paga. Porque gastar dinheiro com outra coisa que não é pão?” (Is 55, 1-2).
É verdade que devemos comer e beber, só que não podemos fazer da nossa vida um eterno banquete! O nosso perigo é conduzir uma vida só concentrada nas preocupações materiais. Existe um alimento no qual vale a pena investir o nosso tempo e as nossas energias, também porque não custa nada, mas exige apenas disponibilidade. Além disso, é um tipo de comida e de bebida que preenche de um jeito a existência, que orienta até a vida material. Quem é acostumado a medir o valor da vida com o dinheiro, terá grande dificuldade a entender isso. Existe todo um mundo desconhecido, que é a vida espiritual, o mundo do Espírito, que se alimenta com algo de espiritual. Precisamos ser introduzidos dentro este caminho, que é o caminho que a Palavra aponta. Além disso, a mesma Palavra não se abre, não se revela no sentido estrito do termo, para as pessoas materiais. Para que o pão da Palavra seja o nosso alimento que fortalece o nosso caminho neste mundo, precisamos de alguém que coloque na boca o pão mastigado, assim como uma mãe faz com os próprios filhos. Existe um tesouro de vida, de amor escondido no pão espiritual da Palavra de Deus, que se torna alimento para todos e todas as pessoas que são conduzidas dentro dela. Por isso a Igreja nos aconselha de ler os grandes Pais da Igreja, ou seja, aquela época de ouro da Igreja aonde as pregações eram encharcadas de Palavra de Deus, e não de opiniões pessoais. Buscar o alimento espiritual para libertar a nossa vida da escravidão da matéria é o sentido da vida espiritual.

3. Dai-lhes vós mesmo de comer” (Mt 14, 16)
Acho que também este versículo precisa ser interpretado no sentido espiritual. Somos acostumados a fazer uma leitura material do texto que narra a multiplicações dos pães. Sem duvida foi uma ação histórica de Jesus, mas que deve ser colocada dentro o plano de salvação e do projeto do anuncio do Reino de Deus. Então o “dai-lhes vós mesmo de comer” é um mandamento de Jesus que deve ser realizado e que nos envolve em primeira pessoa. Somos nós batizados os novos discípulos aos quais Jesus se dirige pedindo de partilhar o pão da Palavra com as pessoas que encontramos no nosso caminho. Esta deve ser a nossa preocupação, pois se de verdade a palavra de Deus no Evangelho de Jesus salvou a nossa vida do anonimato, do esquecimento, da morte, então faremos de tudo para que as pessoas que encontramos possam receber o alimento que salva. Neste mandamento que Jesus um dia especial colocou para os discípulos, está escondido todo um programa de vida. De fato, como Jesus soube inventar caminhos e meios para anunciar o Reino do seu Pai para a humanidade que encontrou, assim também deve ser por nós.  Isso, porém, exige inteligência, atenção, reflexão, empatia, ou seja, capacidade constante de olhar para os outros. É um caminho progressivo, constante, no qual devemos ficar constantemente atentos não apenas com a realidade circunstante, mas também e, talvez sobretudo, com aquilo que o Senhor quer nos mostrar com isso. É interessante observar com que delicadeza Jesus instruiu os seus discípulos na difícil tarefa de continuar o seu trabalho. Jesus mostrou para os discípulos que partilhar a Palavra com as pessoas que o Pai coloca na nossa frente, comporta um constante olhar ao mesmo Pai (“Então ergueu os olhos para o céu”) e para o povo. Isso quer dizer que em qualquer ato de caridade que a Igreja realiza quem recebe deveria enxergar o rosto do Pai. Partilhar o Pão da palavra de Deus não é uma partilha de versículos, mas sim de vida, de amor, de história. Ergueu os olhos para o céu: em qualquer ação da nossa vida, seja ela qual for, devemos manter vivo e presente este olhar para o céu, para não perdermos o sentido da realidade, ou seja, que tudo vem de Deus e volta para Ele.

4.Quem nos separará do amor de Cristo?” (Rom 8, 35)
É esta a certeza de quem vive alimentado de Cristo, do seu espírito. Este ano, como sabemos, pela Igreja católica é o ano Paulino. Paulo é sem duvida o discípulo em que a força de Deus se manifestou como coragem, vida, capacidade e vontade de partilhar com todos e todas a salvação de Deus recebida por Jesus por meio do Seu espírito. Meditando as suas cartas, e é isso que a liturgia nos oferece todos os domingos na proclamação da segunda leitura, podemos abastecer a nossa alma daquele alimento que preenche as nossas vida de esperança que nos impulsiona a olhar sempre para frente, sabendo que não existe nada que pode nos atrapalhar, pois Cristo com a sua paixão, morte e ressurreição derrotou o inimigo. É verdade que podemos passar momentos de confusão, aonde percebemos a nossa fraqueza, também porque o mundo não dá sossego para aqueles que esperam só no Senhor. Mas alimentados dele, da sua Palavra, do Seu corpo, vivendo com intensidade a nossa pertença a sua Igreja, sabemos que aquilo que Paulo falava é verdade. A final e conta se Cristo é conosco, dentro de nós, nos nossos olhos, na nossa alma, então quem nos separará do amor de Cristo?




sabato 21 settembre 2019

Homilia de Domingo XXV/A





(Is 55, 6-9; Sal 145; Fil 1,20-24.27; Mt 1-16)
Paolo Cugini

1. Deus permanece sempre um mistério. Isso vale seja pelas pessoas que estão se aproximando a Deus nestes últimos tempos, seja pelas pessoas que desde sempre vivem em função da Palavra de Deus. Não podemos nos acostumar a Deus, pensar que já sabemos tudo dele, pois Deus permanece sempre na frente dos nossos pensamentos, das nossas previsões. A fé é um caminho corriqueiro de obediência á Palavra de Deus, no qual ficamos sempre atrás e nunca na frente, no sentido que sempre e em qualquer momento precisamos ser orientados. É com este espírito humilde e singelo que entramos no clima da liturgia de hoje para pedirmos a Deus que nos ilumine no caminho da vida.

2.Buscai o Senhor em quanto pode ser achado; invocai-o enquanto ele está perto... Meus pensamentos não são como os vossos pensamentos e vossos caminhos não são como os meus caminhos” (Is 55, 6.8).
São lindos estes versículos do profeta Isaias porque nos revelam que a vida de fé é uma busca continua. O homem, a mulher de fé é uma pessoa cuja característica é aquela de buscar sempre a Deus em qualquer momento da vida, em qualquer situação e circunstância. Isso exige uma constante atenção no objetivo, naquilo que se quer alcançar. Esta atenção desvende a força da pessoa de fé, a característica que o caracteriza, a diferença no confronto do mundo distraído que se deixa levar por qualquer corrente de doutrina seduzinte. Pelo contrario a pessoa animada pela fé em Deus busca continuamente em tudo aquilo que faz e pensa a vontade de Deus e, nesta busca expressa a própria confiança no Pai. É neste caminho de busca constante de Deus que experimentamos a grande diversidade dos nossos pensamentos com os pensamentos do Senhor. Neste sentido o caminho da fé deveria ser marcado para um processo de lenta, mas necessária mudança dos nossos pensamentos para aprendermos a pensar como pensa Deus.

 Talvez seja isso mesmo o sentido da vida espiritual: aprender a avaliar os eventos, a historia, os acontecimentos corriqueiros com o olhar de Deus. Este olhar não é o fruto do nosso esforço, mas sim o dom que o Espírito de Deus realiza em todas as pessoas que se tornam progressivamente dóceis á Palavra de Deus. Característica da vida espiritual, nesta perspectiva, não é um ativismo vazio na conquista humana de um objetivo, mas sim a lenta e dócil disponibilidade á ação do Espírito Santo. O exemplo daquilo que estamos falando é Maria a mãe de Jesus acostumada a escutar o Seu Filho, a silenciar e meditar tudo no seu coração. Se quisermos de verdade ver e pensar a realidade como Deusa pensa, precisamos muito desta docilidade, desta atitude paciente e constante de buscar ao poço daquela água autentica que somente Deus pode nos oferecer.

3.Ou está com inveja porque estou sendo bom. Assim os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos” (Mt 20, 15b-16).
A prova daquilo que acabamos de comentar é a parábola de Jesus do Evangelho deste domingo. O dono da parábola é questionado sobre a sua bondade, sobre o fato que ele decide de pagar para todos os obreiros da vinha o mesmo preço, seja aquele que chegaram por primeiro que os últimos. É um verdadeiro choque entre a mentalidade dos homens e mentalidade de Deus. De um lado a mentalidade do mundo que olha o proveito, a força, o mérito; do outro a mentalidade de Deus que olha o coração, a disponibilidade, a obediência. São critérios diferentes que se chocam continuamente. Na realidade nascemos imbuídos desta mentalidade materialista que o mundo coloca na nossa cabeça e dificilmente conseguimos nos livrar. Crescemos com o desejo de sermos os melhores em qualquer momento e situação e aprendemos a julgar o nosso próximo com estes critérios materialistas. Por isso quem se acha primeiro neste mundo e faz de tudo para deixar por trás os outros, torna-se o ultimo no reino de Deus. É a lei de Deus que não olha o externo das coisas, mas sim o interno; não olha o resultado de um ponto de vista humano, que é sempre um ponto de vista egoísta, mas o olhar de Deus penetra na profundeza do ser, naquele espaço que somos acostumados a esconder aos outros. Só que a Deus nada fica escondido, pois por Ele tudo é descoberto.

4.O patrão saiu de novo a meio dia e ás três horas da tarde e fez a mesma coisa. Saindo outra vez pelas cinco horas da tarde encontrou outros que estavam na praça...” (Mt 20, 5-6).
A parábola de hoje expressa também o cuidado de Deus para conosco, pois a toda hora da nossa vida Ele sai para nos encontrar. Seria interessante ao longo desta semana parar um pouco para vasculharmos na nossa vida e descobrirmos os momentos que Deus passou na nossa vida para nos convidar a segui-lo, a trabalhar na sua vinha. Esta atitude de Deus deve ser também a atitude da Igreja, que não fica somente esperando os fieis entre as paredes da Igreja, mas sai em busca das pessoas para encontrá-las onde elas estiveram e ali dirigir a proposta do Senhor. Uma Igreja mais exposta, mais aberta ao mundo, mais atenta com as pessoas fora do templo é aquilo que o mundo pós-modero precisa. A parábola de hoje questiona os nossos conselhos pastorais, questiona os métodos pastorais que atuamos, questiona os conteúdos das nossas conversas religiosas: será que estamos tendo a mesma preocupação de Deus para com as pessoas de fora, ou somos como sempre preocupados com a nossa misérrima panelinha? Um Deus que arrisca o seu único Filho pela nossa salvação exige uma Igreja mais exposta, mais ousada, menos fechada na retranca.

5.Cristo vai ser glorificado no meu corpo” (Fil 1,20).
Acabamos de falar de ousadia e ali vem Paulo com o seu jeito missionário, sempre atento para quer ninguém perca a oportunidade de ouvir  anuncio do Evangelho. E também neste contexto, como ouvimos no domingo passado, o anuncio do Evangelho para são Paulo não é um problema de papo bonito, mas sim de vivencia, de testemunho. É no seu corpo que Paulo quer glorificar a gloria de Cristo. Isso quer dizer que o anuncio do Evangelho passa pelos marcos dos pregos da cruz de Cristo impressos na nossa carne. Podemos dizer que tudo isso se realiza, sobretudo num sentido espiritual, mas de vez em quanto Cristo quer imprimir na carne viva dos seus discípulos os marcos vivos da sua cruz. A historia da Igreja é amiúde uma historia de sangue, o sangue dos mártires, o sangue dos testemunhos de Cristo.


giovedì 1 agosto 2019

EVANGELHO DE LUCAS CAPITULO 24





Estudo Bíblico para CEBs

Paolo Cugini

1-12. O Evangelho de Lucas acompanha com grande maravilha a presença das mulheres em todas as etapas da vida de Jesus. E assim, também aos pés da cruz e ao tumulo são as mulheres as grandes protagonistas. Um protagonismo discreto, silencioso, mas muito profundo e significativo que vale sempre a pena levar em conta.

13-35. A viagem destes dois discípulos é i símbolo da viagem de todos nós que buscamos compreender o mistério de Deus manifestado na vida de Jesus. Os dois discípulos são tristes porque Jesus morreu. O dialogo dos dois discípulos com Jesus ao logo do caminho manifesta o sentido do itinerário de fé. “Começando de Moisés e de todos os profetas explicou para eles em todas as escrituras tudo aquilo que se referia a eles” (Lc 24, 27). É exatamente isso que a Igreja deve fazer e é este o sentido de uma comunidade, de uma paróquia: explicar através da escritura o sentido da presença de Jesus na historia.

Então se abriram os olhos e o reconheceram”. Somente que tiver uma profunda aproximação com o Senhor pode reconhecê-lo nos gestos típicos, na sua maneira de ser. Se os dois discípulos o reconheceram ao partir do pão é porque estavam presentes na ceia derradeira e isso quer dizer que eram próximos a Ele. A Escritura se abre ao sentido autentico quando dedicamos tempo a Jesus, quando nos decidimos para Ele, quando seguimos os seus passos. A Eucaristia abre a nossa mente ao sentido profundo de Deus somente se somos pessoas de fé, que estão aderindo ao Evangelho. Não basta então, participar de uma missa para entender o mistério de Cristo: é preciso segui-lo.

E eles narravam aquilo que tinha acontecido no caminho”. A verdade do nosso seguimento a Jesus, a verdade da nossa fé se mede na disponibilidade e no entusiasmo do anuncio, no desejo de partilhar aquilo que descobrimos caminhando com o Senhor. É isso que acontece aos dois discípulos que, depois de ter reconhecido Jesus, voltaram as pressas para anunciar aos amigos discípulos aquilo que aconteceu com eles. Quantas pessoas tem nas comunidade que ainda não conheceram o Senhor e aguardam alguém que o anuncie!

36-53. “Então abri a mente dele para compreender as Escrituras”. É Cristo que abre o sentido profundo das Escrituras. É impossível entender o Antigo Testamento se não tiver o conhecimento do Evangelho, da proposta de Jesus.

Jesus no final do Evangelho não envia qualquer pessoa para anunciar a Sua Palavra, mas somente discípulos e discípulas, ou seja, somente pessoas que se decidiram para Ele.



EVANGELHO DE LUCAS CAPITULO 23






Estudo Bíblico para CEBs

Paolo Cugini


1-12. Chegou a hora de Jesus e por isso muitas acusações são trazidas no processo. Jesus é acusado de incitar o povo a não pagar os impostos e de articular o povo contra o império. Na realidade todas as acusações contra Jesus não são nada mais que justificativas para prender Jesus, que nada fez que anunciar a Palavra de Deus. Jesus durante a sua atividade publica era bem consciente que teria chegado o dia em que, todos aqueles que não gostavam dele ter-se-iam articulado para prendê-lo. Este dia chegou.

13-25. É o contraste entre Pilatos, que representava o poder politico de Roma, e os judeus. Pilatos, que não conhecia Jesus e também era leigo nas coisas da religião hebraica não encontrou motivos para prender Jesus e, por isso, queria soltá-lo. Do outro lado os chefes da religião hebraica queriam que Pilatos prendesse e mandasse matar Jesus. Mais uma vez neste relato fica claro que Jesus era inocente e a causa da sua morte foi as consequência das suas palavras e dos seus gestos.

26-32. A falta de piedade do povo que condenou Jesus é impressionante. Jesus alerta as mulheres que estavam perto de tudo aquilo que estava acontecendo. A malvadez do homem chega ao ponto de não olhar nem na cara de Deus.

33-34. As palavras que Jesus pronunciou sobre a cruz são a demonstração da sua divindade. Jesus não era apenas um grande homem, mas também Deus mesmo. Isso se percebe pelas palavras de perdão que Ele pronunciou para os próprios algozes. Quando uma pessoa está perto de morrer, sobretudo se está sofrendo por sangramentos, come era o caso de Jesus, não tem como pensar aos outros. Jesus, pelo contrário, pede ao Pai de perdoar aqueles que o estavam matando: só Deus mesmo!

35-46. Jesus não apenas foi morto, mas também humilhado. Ele foi insultado, espancado, despido e crucificado. Os seus inimigos se vingaram mesmo: quiseram tirar uma satisfação por tudo aquilo que Jesus tinha dito sobre eles. Jesus vive toda esta humilhação como o cumprimento da sua missão. Jesus sabia muito bem que se tivesse mexido na ferida dos fariseus e dos corruptos daquele tempo teria sem duvida nenhuma enfrentado a morte. Mesmo assim, confiando somente no amor do Pai, Jesus não recuou e continuou a pregar o Evangelho, a indicar o caminho da Justiça e da Verdade. A morte de Jesus demonstra que todos e todas aqueles que seguem o caminho do Senhor, são perseguidos e condenados pelo mundo, mas acolhidos nos braços do Pai. Cabe a nós escolher o que queremos ser e quem queremos seguir.

47-56. A morte humilhante do Justo perseguido provoca a consciência das pessoas: “Verdadeiramente este homem era justo”. Tem todo um mundo que se converte somente vendo o sofrimento do Justo.

Interessante observar o papel das mulheres neste quadro do sofrimento e da morte humilhante de Jesus. Enquanto os discípulos homens se mandaram todos por medo, as mulheres, pelo contrario, ficaram até o fim e foram elas que o acompanharam em todos os momentos da sua paixão e morte. Não será, portanto, um caso, se Jesus entregará para elas o grande anuncio da sua Ressurreição.

venerdì 5 luglio 2019

EVANGELHO DE LUCAS CAPITULO 22





Estudo Bíblico para CEBs

Paolo Cugini

1-13. A traição é sempre um movimento do satanás e o dinheiro e o seu instrumento.

14-23. Jesus realiza um jantar antes de morrer. Não é, porém, um jantar qualquer. Jesus escolheu o jantar da Páscoa hebraica, carregando de sentidos os gestos que realizou naquela noite. Dizendo: “Este é o meu corpo que é dado por vocês e este é o meu sangue derramado por vocês” Jesus está expressando o sentido da sua mesma vida, que deveria ser também o sentido da vida de cada discípulo: uma vida doada para os outros. Para podermos viver de amor e amando de verdade os outros, precisamos nos alimentarmos continuamente de Cristo.
24-27. A discussão dos discípulo sobre quem seria o maior deles revela que, apesar de tudo, ainda não tinham entendido a mensagem do mestre. A resposta de Jesus explica que quem se decide a seguir Jesus entra num estilo de vida diferente, aonde as coisas do mundo, as suas seduções não dizem mais nada. Quem busca Jesus não se importa mais com a gloria e o poder do mundo, mas sim com a gloria de Deus, que se manifesta numa vida de serviço humilde. “Eu estou no meio de vós como aquele que serve”.

28-38. No dialogo de Jesus com os discípulos se percebe toda a preocupação de Jesus com eles. Jesus na oração reza para fortalecer a fé dos discípulos. No conteúdo desta oração se percebe o quanto Jesus conhecia os seus discípulos (v.34). Ao mesmo tempo se percebe o quanto Jesus conhecia a si mesmo, o sentido do seu caminho na história. Jesus foi uma pessoa que viveu intensamente, que respeitava a si mesmo e as pessoas que encontrava.
39-53. São sempre muito lindos os versículos que mostram a oração de Jesus. Antes de morrer Jesus passa um tempo nas hortas das oliveiras para se entregar na oração. A oração para Jesus é dialogo com o Pai. Neste dialogo Jesus coloca as suas preocupações e manifesta a própria disponibilidade para que a vontade do Pai seja realizada. Na oração Jesus é lucido: este é um dato importante. Perante o sofrimento Jesus nos ensina a não fugir, a não buscar soluções de fuga, pois tudo na vida deve ser enfrentado com lucidez. A oração permite a nós mesmos de ficarmos lúcidos até o fim, até os últimos instantes da nossa vida, para não desviarmos do caminho da vida.

Judas com um beijo você trai o Filho do homem?”. É sempre assim e ainda hoje é assim. Muitas vezes traímos as pessoas mais próximas de nós utilizando os gestos típicos da afetividade humana para disfarçar, para esconder a verdade. Na oração aprendemos a discernir os falsos sentimentos dos verdadeiros. O contato constante com a Verdade nos permite de detectar as mentiras. Jesus percebeu imediatamente que aquele beijo não era um beijo comum, mas tinha o sabor da traição.

54-71. A traição de Pedro nos ensina que medimos a nossa fé não quando estamos bem, com saúde e dinheiro no bolso, mas quando passamos por provações, quando o mundo nos pressiona e percebemos que na caminhada somos sozinhos., Pedro não aguentou porque ainda não tinha encontrado Jesus ressuscitado. Nós podemos aguentar porque recebemos o Espirito do Senhor ressuscitado.

Jesus foi condenado a morte por causa da própria identidade: ele era Filho de Deus, Jesus era Deus.

sabato 13 aprile 2019

HOMILIAS DO TRIDUO PASCAL







QUINTA FEIRA SANTA/C
(Ex 12, 1-8.11-14; Sal 115; 1 Cor 11,23-26; Jo 13,1-15)

Paolo Cugini

1. Com a celebração da quinta feira Santa a Igreja entra no tríduo litúrgico chamado tríduo pascal. Nestes três dias somos chamados a refletir sobre o âmago da nossa fé, ou seja, sobre o mistério da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Reflexão importante porque também nós, através dos sacramentos da Igreja, fazemos parte deste grande mistério de salvação. Acompanhando a liturgia do tríduo pascal, a Igreja nos permite de regressar na origem da nossa caminhada, para podermos avaliar se a nossa maneira de viver os ritos da fé é conforme ao original, ou seja, á idéia que originou estes ritos. De fato, hoje a Igreja lembra a instituição da Eucaristia e do sacerdócio. Amanhã lembraremos a morte de Jesus, ou seja, a memória do seu amor infinito que recebemos sacramentalmente através do Espírito Santo. Sábado à noite, na vigília pascal celebraremos o mistério da Ressurreição de Jesus, considerada a noite mais importante, a mãe de todas as vigílias (santo Agostinho). Sabemos que era exatamente nesta noite que, na Igreja primitiva, eram conferidos os sacramentos da iniciação cristã: Batismo, Crisma e Eucaristia.

2. Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1).
Porque Jesus instituiu a Eucaristia? A resposta a encontramos neste versículo do Evangelho de João. Jesus proclamou o Reino de Deus, que é um reino de amor e de paz, vivendo ante de mais nada este amor com os seus discípulos. Nesta maneira, a vivencia antecipava e, de uma certa foram, anunciava a mesma Palavra. O conteúdo central do Evangelho é o amor, ou seja, a possibilidade de viver relacionamentos não ditados dos sentimentos negativos do ódio, inveja, ciúme que estragam as relações entre homens e mulheres, mas relacionamentos novos ditados pela abertura e confiança no outro, pela estima recíproca. Jesus veio anunciar a possibilidade real de uma humanidade nova e foi por isso que morreu. Humanidade nova quer dizer que, o centro da vida não sou mais eu, com os meus interesses particulares, a satisfação do meu egoísmo, mas os irmãos e as irmãs que o Senhor coloca no meu caminho, perto de mim. Isso é já um grande ensinamento que deveria nos levar a rever a nossa maneira de nos aproximarmos aos sacramentos. De fato, a Eucaristia não é tanto o Cristo que entra no meu coração, mas o Cristo que me coloca dentro a vida da Igreja, do Seu corpo místico, a nova humanidade. E é exatamente dentro esta nova humanidade que sou chamado a viver a verdade dos sacramentos que recebi. A vida sacramental é vida nova, é o caminho apontado por Deus em Cristo de sair do egoísmo, da vida autocentrada, narcisista fruto do pecado, para a vida verdadeira que é abertura, relação pacifica com os irmãos e as irmãs. Isso quer dizer que, toda vez que encrencamos, brigamos, não damos o braço a torcer, não queremos perdoar estamos negando o nosso batismo, negando a Eucaristia, pois esta é um convite á comunhão. O primeiro profetismo que a Igreja é chamada a viver é a comunhão entre os irmãos e as irmãs, que comungam o mesmo Corpo de Cristo. É desta forma, de fato, que a Igreja anuncia a verdade daquilo que celebra sacramentalmente.  A vida de Jesus foi uma linda e grande história de amor que não desistiu nem perante a morte. Aliás, a morte de Jesus, foi o coroamento desta vida de amor, de doação total, de entrega: esta é vida, a vida verdadeira, que todos nós somos chamados realizar. Perante este imenso amor de Deus para conosco, desmoronam todas as nossas briguinhas corriqueiras, as nossas incompreensões, o nosso orgulho desmedido que nos leva continuamente a nos colocarmos num pedestal para pudermos ver e sentir os outros de cima pra baixo. Pelo Contrario Jesus, com o seu gesto humilde de lavar os pés dos discípulos, mostrou o caminho que devemos percorrer. Caminho difícil, mas necessário. Ninguém deve cultivar em si estes sentimentos de superioridade, pois, em Cristo, nos tornamos irmão e irmãs e, então, perante Deus somos iguais. O verdadeiro cristão, que deixa agir o Espírito Santo dentro de si, não procura na vida demonstrar de ser o melhor, o tal, mas, pelo contrario, procura percorrer o mesmo caminho que Jesus percorreu, que é caminho da humildade, do abaixamento, do serviço.

3. Jesus, sabendo que o Pai tinha colocado tudo em suas mãos... começou a lavar os pés dos discípulos” (Jo 13, 3.5).
É um versículo impressionante e, ao mesmo tempo, revelador. No momento em que Jesus tem consciência que o Pai tinha colocado tudo em suas mãos, o que Ele faz com este poder? Pega uma toalha, uma bacia de água e começa lavar os pés dos seus discípulos. É esta a grande diferença entre Deus e o mundo. É este o estilo novo que a Eucaristia quer realizar entre nós. Todo o poder de Deus, Cristo o escondeu num gesto de humildade. Isso quer dizer que toda vez que servimos os nossos irmãos, irmãs com amor e dedicação, sem querer nos mostrar o sermos os melhores, ali nos experimentamos a gloria de Deus, o seu poder. Gloria e poder que não se encontram, então nos milagres, mas nos atos humildes da vida corriqueira. A santidade de Cristo, a sua divindade a encontramos neste ato humilde, no seu rebaixamento, nos seus gestos de amor, no seu se colocar aos pés da humanidade pecadora, sem nenhuma revanche.  É por isso que precisamos da Eucaristia, que não é apenas um rito, um preceito, mas um estilo de vida, aquele estilo que Deus em Cristo apontou por toda a humanidade. Precisamos da Eucaristia para nos tornarmos mais humanos, mais autênticos. Precisamos da Eucaristia para entendermos que o poder de Deus não está no dinheiro e no poder do mundo, mas na atenção aos irmãos e as irmãs que ele coloca ao nosso lado. Você pai de família, você mãe precisa da Eucaristia para encontrar Deus na dedicação total ao teu parceiro, aos teus filhos. Você filho, você filha precisa da Eucaristia para descobrir que toda a atenção e o respeito para os teus pais será aquilo que irá enriquecer a tua vida.

4. No Domingo somos convidados a celebrar da Eucaristia. Cabe a nós fazer deste ato litúrgico, não um puro e simples rito estéril, que não diz nada á nossa vida, mas um autentico instrumento de transformação da humanidade.  Que esta quinta feira santa posa revigorar a nossa consciência, para conseguirmos a realizar na vida aquilo que no rito celebramos.



 Sexta feira Santa C
Is 52,13-53,12; Sal 31; Hb 4, 14-16.5, 7-9; Jo 18, 1-19,42)

1. A liturgia da sexta feira santa introduz a Igreja no silencio da morte de Cristo. Não precisa, então, esbanjar palavras para comentar as leituras: é um evento que se explica por si mesmo. Tentaremos, assim, buscar nas leituras que ouvimos a resposta do problema que parece ainda hoje bastante enigmático, ou seja, a morte do justo. A final de conta, porque um homem justo come Jesus morreu? O que Ele fez de mal para merecer uma morte tão horrorosa e humilhante?

2. A primeira resposta a encontramos no texto de Isaias. “O Senhor quis macerá-lo com sofrimentos”. Isto quer dizer que a morte de Jesus não foi ao ocaso, mas perfeitamente dentro o plano do Pai. Que plano é este que prevê a morte violenta do Filho? Um plano que Jesus, não engoliu de forma fria, sem vontade quase que estivesse forçado. Pelo contrario, o texto do evangelho de João, que acabamos de ouvir disse que Jesus era “consciente de tudo aquilo que ia acontecer”. Pra fazer a vontade do Pai na nossa vida precisamos ser conscientes e isso pode acontecer somente quando existe um relacionamento de amor. Jesus realiza o projeto do Pai porque Ele é o Filho querido e pra Ele Deus é o Pai. Somente dentro este relacionamento filial é possível viver e fazer a vontade de Deus seja ela o que for.

3.Ele tomava sobre si nossas enfermidades e sofria”. (Is 53, 4).
É isso que o povo e também nós, pare que não entendemos. Cristo morreu por causa nossa, carregou as conseqüências dos nossos pecados. Foi uma morte vigária. Jesus se sacrificou voluntariamente por nós. Sacrificou a sua divindade, os seus projetos para nós. Por isso ficou sozinho na hora da morte porque tudo mundo pensava que Jesus teria salvado o mundo de uma forma diferente, talvez com exércitos, com a força, manifestando o seu poder. Cristo manifestou o seu poder na fraqueza, deixando se matar, atraindo na sua carne a raiva do mundo, se deixando massacrar do egoísmo dos homens. Perante um gesto tão grande é bom mesmo silenciar.

4. “Aprendeu o que significa obediência a Deus, por aquilo que Ele sofreu” (Hb 5, 8).
Se quisermos aprender a viver a nossa vida não como pessoas mimadas e caprichosas, que obedecem somente aos próprios instintos e caprichos, mas como pessoas adultas que seguem projetos elevados como é o projeto do Pai, a escola certa é o sofrimento. É isso que Jesus nos ensina na sua paixão. Enquanto o mundo faz de tudo pra fugir das situações de sofrimento, Jesus nos ensina que, toda vez que estamos sofrendo por causa do nosso batismo, é exatamente naquele momento que Deus nos oferece a grande oportunidade de amadurecer a nossa filiação ao Pai.  Tomamos, então, a ocasião desta paixão de Jesus para crescermos como filhos de Deus, aprendendo a encarar as perseguições da vida, as incompreensões, na certeza que aprenderemos á amar sempre mais a Deus como um Pai.



VIGILIA PASCAL

1. A liturgia da vigília pascal aconselha uma homilia breve. De fato, a liturgia é já bastante rica por sua conta que não precisa aumentar nada. Santo Agostinho considerava a Vigília pascal como a mãe de todas as vigílias que sintetiza a caminhada que cada cristão, junto com a Igreja, deve realizar. Começa fora da Igreja no escuro para simbolizar a situação de pecado em que a humanidade vive. O rito do fogo com o círio pascal aceso é sinal da luz de Cristo que veio para libertar a humanidade do pecado. Cristo é a nossa luz e o Espírito Santo que recebemos no Batismo de transformar a nossa vida em luz, para sermos também nós luz para o mundo. Entrando na Igreja atrás do círio pascal com as luzes que se acendem significa que a Igreja é chamada a espalhar no mundo a luz de Cristo. Devemos ser aquilo que o sacramento realizou em nós.

2. As leituras que ouvimos nesta noite lembram a grande caminhada que Deus realizou com o seu povo. É uma historia incrível de amor que passou através tantos momentos de desavenças, de traição, mas sempre deus cobriu com a sua imensa misericórdia. Nas horas mais tristes da sua historia, o povo de Israel faz a experiência da aproximação de Deus que, como um Pai, cuida dos seus filhos, sobretudo nas horas mais difíceis. A milenaria historia da salvação ensina também um outro detalhe importante. Deus cuida dos seus filhos e, em modo especial, dos mais fracos, pequenos e pobres. Por isso falamos do coração de mãe de Deus. Ele, de fato, age como uma mãe que tem um carinho tudo especial para com os seus filhos. Esta historia bonita chegou a seu pleno comprimento com Cristo, o Filho de Deus, que caminhou conosco anunciando o Reino de Deus e derramando o seu sangue para a salvação do mundo.

3. O rito do Batismo dos catecúmenos, realizado nesta vigília, conforme uma tradição antiguíssima da Igreja que remonta aos primeiros séculos do cristianismo, deve lembrar o nosso batismo na moldura de toda al liturgia que estamos celebrando. Através do batismo somos chamados a continuar a obra de Cristo, ou seja, espalhar o seu amor no mundo. Conforme aquilo que meditamos nestes dias, esta obra passa através de muitos sofrimentos, incompreensões, perseguições, mas no final que foi fiel e perseverante vencerá. O Batismo é fruto também da Ressurreição de Cristo: é sinal de vida nova, vida que deve ser transmitida em cada momento da nossa vida. Por isso nos interessamos com os problemas do povo. Por isso a Igreja entra na luta das conquistas dos direitos do povo, sobretudo dos mais pobres e injustiçados.

4. Pedimos a Deus que esta noite tão maravilhosa, possa produzir para nós a força para continuarmos o testemunho do ressuscitado, sabendo que este testemunho passa também através da cruz.



V° domingo de Quaresma. C




(Is 43, 16-21; Sal 126; Fil 3, 8-14; Jo 8, 1-11)


Paolo Cugini

1. Estamos chegando ao fim da caminhada de quaresma e a liturgia nos oferece a oportunidade de concretizar o sentido daquilo que meditamos ao longo destas semanas. Como já lembramos nestes domingos, o tempo de quaresma é um tempo propicio para aprimorarmos a nossa fé e, assim, tomarmos mais consciência da nossa responsabilidade com o Batismo que recebemos. A final de conta nos tornamos filhos e filhas de Deus, criaturas novas e, tudo isso, deveria ser bem evidente e manifesto nos nossos atos cotidianos, nas decisões que tomamos, nos projetos que queremos realizar. Não é um caso que, na Igreja primitiva, o tempo de quaresma era utilizado pela preparação final dos catecúmenos, ou seja, daquelas pessoas que, na noite de Páscoa, iriam receber o sacramento do Batismo.
 Estamos nos aproximando da grande celebração da Páscoa e a pergunta que deveria nos acompanhar ao longo desta semana é a seguinte: quer dizer que em Cristo nos tornamos criaturas novas? Como é que age no mundo uma pessoa que acolhe o Espírito de Jesus?

2. O Evangelho que acabamos de ouvir nos oferece bastante material para encontrarmos as respostas que procuramos. A cena que ouvimos é uma das mais emocionantes de todo o Evangelho: Jesus, uma mulher adultera e o povo. De um lado o povo enfurecido, que quer apedrejar uma mulher surpreendida em adultério. Do outro lado Jesus que fica em silencio. É sem duvida esta postura de Jesus que chama atenção. Porque este silencio? Talvez porque, perante a arrogância do homem, não sobra que o silencio. Jesus nos convida a silenciar os nossos julgamentos, os nossos pensamentos, as nossas condenações perante um pecador, uma pecadora, porque ela também é filho e filha de Deus. Silencio orante, porque perante o pecador não resta para Igreja outra coisa que esta: rezar.
  Moises na Lei mandou apedrejar tais mulheres”. É triste constatar como a Palavra de Deus às vezes é puxada para justificar os nossos atos horríveis, a nossa estupidez. Por isso Jesus cala. O que precisa dizer perante uma humanidade que não tem nenhuma vergonha de citar a Palavra de Deus pra cometer um crime? Precisa comentar alguma coisa?

3.Quem dentre vós não tiver pecado seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”.
 Jesus não veio para julgar e condenar ninguém. O tempo do julgamento e da condenação será somente no fim dos tempos (Jo 5, 21ss, Mt 25). Isso quer dizer que, até quando não chegará este dia, qualquer momento é importante pela nossa converso. Por isso Deus mandou o seu Filho Jesus no meio de nós, para falar conosco e despertar em nós a imagem de Deus perdida por causa do pecado. Escutando a Sua Palavra, todos deveriam sentir o desejo de abandonar os caminhos negativos e procurar a vida verdadeira, que somente Jesus pode nos oferecer. Para isso acontecer, precisamos entrar em nós mesmos, tomar consciência da nossa vida, da nossa situação. É isso que Jesus tenta fazer com aquela pergunta impressionante: “Quem não tiver pecado...”. E quem é que não tem? Quem é aquele homem e aquela mulher que não tem consciência das próprias faltas? Tudo mundo tem, só que para isso se tornar evidente, o homem deve ter a possibilidade de entrar em si mesmo, para se escutar. A pergunta que Jesus coloca, não julga ninguém, mas oferece a todos a possibilidade de entrar em si mesmo, captar a própria situação, que é uma situação de pecado, de miséria e, ninguém, nesta situação, tem o direito de julgar ninguém.
O Evangelho relata que, depois de Jesus ter colocado aquela pergunta, não ficou ninguém. A pergunta de Jesus surtiu o efeito esperado: ninguém atirou pedras na mulher. Deveria ser esta a postura da Igreja no mundo. Não uma Igreja que julga e condena, que atira pedras, mas uma Igreja que oferece a todos a possibilidades de entrar em si mesmos, para que cada um possa se encontrar a só com Deus e experimentar a sua grande misericórdia. É, de fato, no encontro pessoal com Deus, que a humanidade descobre o caminho de volta para o Pai.

4. “Eu também não te condeno. Podes ir, de agora em diante não peques mais”.
A mulher pecadora encontrou em Jesus uma possibilidade de vida. De certa forma, escapando da condenação à morte do povo, voltou a viver, ressuscitou. Os homens enxergavam na mulher a aparência de pecado e de morte, Jesus enxergou nela uma possibilidade de vida nova. Por isso Jesus não entrou em contato com a mulher com uma condenação, mas sim com palavras de misericórdia. Só a misericórdia permite ás pessoas de abrir o coração, de se disponibilizarem para caminhar atrás do Senhor. O Espírito Santo que recebemos no batismo, deveria formar em nós este olhar diferente, que não esbarra nas aparências superficiais, mas que consegue entrar na profundeza do coração humano, pra vislumbrar nele uma nova possibilidade de vida. É o pecado que fecha os nossos olhos. Quando ficamos escandalizados do pecado dos outros, é porque estamos vendo claramente aquilo que pode produzir o pecado que está em nós. Perante o pecador, Jesus exige silencio e oração. Silencio pra ficarmos constantemente alertados sobre o desastre que o nosso pecado pode provocar. Silencio como necessidade de um continuo estado de conversão. Na perspectiva do Evangelho, o pecado de um nosso irmão, de uma nossa irmã, deveria ser considerado como uma alerta para a nossa caminhada de fé. Perante o pecador, a única coisa que podemos fazer é a oração e oferecer espaços para o pecador se encontrar com Deus.

 5.  Se quisermos que se forme em nós o mesmo olhar puro de Jesus, precisamos modificar o nosso relacionamento com o nosso passado, os nossos sonhos, os nossos projetos. É disso que são Paulo, na segunda leitura de hoje, nos alerta. “Considero tudo como lixo, para ganhar Cristo e ser encontrado unido a ele” (Fil 3, 8).
 Se o pecado dos outros, sobretudo das pessoas mais próximas, nos irrita é porque amiúde atrapalha os nossos projetos. Para termos o olhar puro de Jesus, precisamos ser desprendidos de tudo, sobretudo de nós mesmos. È fácil ser desprendidos das coisas matérias: difícil é nos despojarmos do nosso homem velho, do nosso passado, daquilo que achamos importante na nossa vida. Ser cristão é reconhecer que a única coisa que vale a pena levar conosco na viagem da vida é Cristo: o resto é lixo!
É algo de novo que Deus que realizar conosco através de seu Filho Jesus: é isso que devemos enxergar! “Eu que eu farei coisas novas e que já estão surgindo: acaso não as reconheceis?” (Is 43, 19).
Este tempo de quaresma deveria nos ajudar a chegar á Páscoa com o coração totalmente desprendido de tudo, pra deixar a luz da ressurreição de Cristo entrar e nos conduzir aonde Deus quiser.