Paolo Cugini
Continuando a reflexão sobre o
relacionamento de amizade na perspectiva bíblica, percebemos que um elemento
fundamental que permite uma relação de amizade é a liberdade. Poderíamos dizer
que, sem liberdade, é impossível tecer laços de amizade autêntica. Esta poderia
ser a chave de leitura da aproximação do Mistério com Moisés. Este encontro
teve com objetivo de propor um caminho de libertação, pois sem liberdade é impossível
amar a Deus. O ato de fundação do povo de Deus é, então, uma libertação. Nesta
perspectiva podemos dizer que a liberdade é dom de Deus.
O Senhor disse: “Eu vi, eu vi a aflição de meu
povo que está no Egito, e ouvi os seus clamores por causa de seus opressores.
Sim, eu conheço seus sofrimentos. E desci para livrá-lo da mão dos egípcios e
para fazê-lo subir do Egito para uma terra fértil e espaçosa, uma terra que
mana leite e mel, lá onde habitam os cananeus, os hiteus, os amorreus, os
ferezeus, os heveus e os jebuseus (Ex 3,7-8).
Este dom de Deus que é a liberdade, que fundamenta a
aliança exige uma resposta do homem, da mulher, do povo. Exemplo disso é a
assembleia de Siquém (Josué 24).
. Nós também, nós serviremos o Senhor, porque ele é o
nosso Deus... Josué disse-lhes: Sois testemunhas contra vós mesmos de que
escolhestes o Senhor para prestar-lhe culto. Somos testemunhas! Responderam
eles (Josué 24, 15.18).
A passagem do Mar Vermelho foi percebida como uma
experiencia de passagem: da escravidão para a libertação (cf Ex 14-15).
Em várias circunstâncias Moises coloca o povo perante
uma escolha: a vida o a morte.
Tomo hoje por testemunhas o céu e a terra contra vós:
ponho diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe, pois, a
vida, para que vivas com a I tua posteridade, amando o Senhor, teu Deus,
obedecendo à sua voz e permanecendo unido a ele. Porque é esta a tua vida e a
longevidade dos teus dias na terra que o Senhor jurou dar a Abraão, Isaac e
Jacó, teus pais (Ex 30,
19-20).
A liberdade é em sintonia com
a vida e, para escolhê-la é necessária uma situação interior de sintonia com Deus,
a sua Palavra, a sua vontade.
Os profetas anunciaram um
caminho de liberdade. Entre eles podemos citar Isaias e Jeremias.
O espírito do Senhor repousa sobre mim, porque o
Senhor consagrou-me pela unção enviou-me a levar a boa nova aos humildes, curar
os corações doloridos, anunciar aos cativos a redenção, e aos prisioneiros a
liberdade (Is 61,1).
Num contexto histórico onde a
situação do povo de Israel tinha voltado a piorar, Deus promete, através do
profeta Isaias, a liberdade dos prisioneiros.
A liberdade não si identifica
com o espontaneísmo: o perigo é nos tornarmos escravos de nós mesmos, os nossos
instintos, os nossos vícios. Por isso Moises oferece uma lei para o povo (cf Ex
20). A liberdade para brotar na nossa via exige uma orientação, um guia: é este
o sentido dos dez mandamento que, como sabemos, não conseguiram a endireitar o
povo. Por isso o profeta Jeremias, no meio do conflito que levou o povo de
Israel no exilio em Babilônia anuncia uma nova aliança:
Dias hão de vir - oráculo do Senhor - em que
firmarei nova aliança com as casas de Israel e de Judá. Será diferente da que
concluí com seus pais no dia em que pela mão os tomei para tirá-los do Egito,
aliança que violaram embora eu fosse o esposo deles. Eis a aliança que, então, farei com a casa de
Israel - oráculo do Senhor: Incutir-lhe-ei a minha lei gravá-la-ei em seu
coração. Serei o seu Deus e Israel será o meu povo. Então, ninguém terá encargo de instruir seu
próximo ou irmão, dizendo: Aprende a conhecer o Senhor, porque todos me
conhecerão, grandes e pequenos - oráculo do Senhor -, pois a todos perdoarei as
faltas, sem guardar nenhuma lembrança de seus pecados (Jer 31, 31-34).
A lei de Deus que será imprimido
no coração das pessoas é o amor e, na forma mais alta, o amor de Deus se
manifesto na pessoa de Jesus. Pensando nisso são Paulo dirá que:
E a esperança não engana. Porque o amor de Deus
foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado (Rom 5,5).
Existe então, um caminho de
libertação que o homem e a mulher são chamados a realizar, caminho que se torna
possível através da ação do Espírito Santo que derrama em nós o amor de Deus
que se manifestou no seu Filho Jesus. Este é um dato importante. Jesus é o homem
livre que age com liberdade, não é condicionado nem de elementos internos nem
externos.
Neste itinerário bíblico chama atenção a grande
liberdade de Jesus nas relações humanas. Se sente livre nas relações com as
pessoas que a lei considerava impuras, como os leprosos (cf. Mc 1,40). Livre,
também, no relacionamento com as mulheres (cf. Lc 8,1-3). Jesus manifestava
grande liberdade no confronto das tradições religiosas como o sábado (cfr. Mc
3,1-6), ou como o adultério (cfr. Jo 8, 1s) e ele explica também o porquê (Cfr.
Mc 7). Grande liberdade Jesus manifestava, também, com aquelas categorias de
pessoas que os chefes religiosos consideravam pecadores, como os cobradores de
impostos (cfr. Mt 9,10-13). Interessante e cheia de significado é a liberdade
de jesus acompanhando o caminho dos discípulos e discipulas. Um exemplo claríssimo
é o dinamismo do discipulado de Pedro, assim como é apresentado no Evangelho de
João. Pedro renega de conhecer jesus e, depois da ressurreição, Jesus se
apresenta para reconstruir o discipulado de Pedro. Jesus não guarda mágoa,
rancor: é uma pessoa livre. Nessa altura podemos nos perguntar: de onde vem a
liberdade de Jesus é nos ensina o que?
Acredito que a grande liberdade interior que permite a
ele de tecer laços de amizades profunda com qualquer pessoa, seja ela que for, é
fruto do seu profundo relacionamento com Deus, o Pai. Mais uma vez é o caminho
da interioridade que o estilo de vida de Jesus aponta. Se quisermos ser pessoas
livres precisamos escolher o caminho da interioridade, do cuidado com a nossa
alma. Somente pessoas livres tecem laços de amizade autenticas, pis, somente
quem é livre pode libertar os outros. Jesus foi Mestre nisso.
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