sabato 24 agosto 2024

DOMINGO XXIII/B

 






(Is 35,4-7a; Sl 145; Jo 2,1-5; Mc 7,31-37)

Paulo Cugini

 

A leitura fundamentalista da Palavra de Deus, ou seja, a interpretação literal, não só não é boa porque não leva em conta o contexto histórico e cultural em que um texto foi escrito, mas sobretudo porque tende a valorizar dados que, tomados no contexto, eles são, em vez disso, marginais. Ouvindo o trecho evangélico de hoje percebemos quão verdadeiramente, como diz São Paulo: “A letra mata, é o espírito que vivifica ” (2 Cor 3,6). Portanto, não basta ler o Evangelho, é preciso dedicar tempo, meditá-lo, deixar que o Espírito nos conduza às profundezas da Palavra.

Jesus, tendo saído da região de Tiro, passando por Sidom, dirigiu-se ao mar da Galileia em todo o território da Decápolis.

O milagre dos surdos e mudos num território pagão como Decápolis vai muito além dos puros dados materiais. O caminho em si é bastante rebuscado. Basta pegar num mapa para perceber que o caminho indicado por Marcos não é geográfico, mas teológico. É, de facto, um pouco estrango passar pelo território da Decápolis para ir de Sidon em direção ao Mar da Galileia, porque não está na estrada, por assim dizer, mas é preciso querer ir para lá. Com este caminho Marcos quer sublinhar que a mensagem de Jesus é para todos, não apenas para um pequeno grupo, para as pessoas habituais que se reúnem na sinagoga. Jesus quer levar a todos a sua mensagem de salvação e, por isso, muda o caminho. Seria interessante aproveitar estes simples versículos para verificar o desejo das nossas comunidades de levar o Evangelho a quem está fora do perímetro da igreja, o que há deste movimento missionário, que pensamentos expressamos para este caminho que Jesus inaugura visitando o território da Decápolis.

Depois, olhando para o céu, Jesus soltou um suspiro e disse-lhe: “Efata”, isto é: “Abre!”. E imediatamente seus ouvidos se abriram, o nó de sua língua foi desatado e ele falou corretamente.

Existe uma cura material que diz algo espiritual. Sem dúvida, Jesus realizou um milagre que, no entanto, na perspectiva do anúncio do Reino que Jesus realiza, significa algo mais. Existe um ouvido da alma, por assim dizer, que precisa ser atendido. Há uma resistência à Palavra de Deus, à sua proposta, que vem de muito longe. Anos de vida arrastados pelos instintos, ao serviço do próprio egoísmo, deixam uma marca profunda, um vício crónico à vida material que já não permite perceber a dimensão espiritual da existência. Não é por acaso que foram os amigos que trouxeram o doente até Jesus para curá-lo. Ele estava tão mal, estava tão entorpecido pelo vício do mal que não ouvia mais, que não ouvia mais ninguém.

Ele o chamou de lado, longe da multidão, colocou os dedos nos ouvidos e tocou sua língua com saliva; então olhando para o céu, ele soltou um suspiro.

Como Jesus cura o surdo-mudo? Levando-o de lado, longe da multidão: por quê? O que isso significa? Há uma relação pessoal que Jesus quer construir para comunicar vida. Sua força dada à humanidade não é um truque de mágica a ser aplaudido, mas um presente a ser acolhido. Também os gestos que Jesus faz na cura são importantes: os dedos nos ouvidos e a saliva com que toca a língua. Gestos que indicam que a cura que Jesus veio trazer é feita do mesmo material de nós. Não há uma intervenção prodigiosa, algo estranho que provoque a cura do surdo-mudo, mas simples gestos humanos, que utilizam elementos humanos. É com a nossa própria humanidade que Jesus nos transforma e nos cura das formas de surdez que não nos permitem compreender a sua Palavra e, consequentemente, dizê-la com a nossa voz e com a nossa vida.

Depois há o último aspecto da jornada de cura e é Jesus olhando para cima e soltando um suspiro, como se dissesse que os elementos materiais não são suficientes, mas precisamos colocar tudo nas mãos de Deus. Este é o significado da oração profunda, que começa com a consciência de si mesmo, do próprio caminho, incluindo as próprias deficiências, para se abrir ao mistério, buscando a vontade do Pai. Isto significa que Deus aparece à nossa vista através da nossa humanidade.

 

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