RETIRO ESPIRITUAL DE ADVENTO-ADULTOS
JEQUIIBÁ-12/12/2010
SALMO 85 (84)
Paolo Cugini
No tempo de Advento somos
convidados a aprender a esperança. Disso precisamos muito. As esperanças que
enchem a vida do dia a dia têm o fôlego curto e acabam logo. Sobretudo põem,
são as nossas decepções, as decepções sobre nós mesmos, sobre aquilo que
teríamos gostado conseguir, mas que por tantos motivos não conseguimos: é isso
que tira devagarzinho a esperança do nosso coração, deixando sentimentos de
amargura e de insatisfação. Por isso precisamos aprender a esperança.
Os salmos que a liturgia
nos propõe neste tempo de Advento nos ajudam neste sentido. O salmo 85 (84) é
um salmo de confiança que anuncia a salvação de Deus que se aproxima. É o canto
de uma volta à vida. O pecado nos colocou numa condição de morte e por isso nos
dirigimos a Deus para que nos torne a doar a vida. Tornar é o verbo da
conversão. Pedimos não apenas de nos converter, mas também a Deus de voltar a
mostrar o seu rosto misericordioso para nós. É a paz que nós pedimos depois de
períodos de sofrimentos e angustias por causa da nossa incapacidade de seguir o
Senhor.
O Salmo 85 é dividido em três
momentos:
1.
Agradecimento
2.
Pedido
3.
Oráculo (proclamação da Palavra por parte de alguém).
Nos salmos muitas vezes a
lembrança daquilo que Deus fez no passado se torna o fundamento da esperança.
“O Senhor nós te agradecemos porque nos libertou dos inimigos, nos perdoou dos
pecados...”. A situação é de um povo que experimentou a salvação, mas ainda
precisa dela. É esta a condição normal do povo. Quando o povo saiu da
escravidão do Egito agradeceu a Deus, mas precisava ainda da sua ajuda. Isso
quer dizer que sempre precisamos da misericórdia, pois a vida é uma continua
caminhada.
Os exegetas colocam o
salmo 85 na época da volta do exílio, que sem duvida foi uma experiência feliz,
ma que teve que deparar com varias decepções. Antes de mais nada com o numero
exíguo das pessoas que voltaram e depois a grande dificuldade de reconstruir o
templo que nunca ficou como o antigo.
“Fizestes voltar os cativos de Jacó”: voltaram em casa, mas ainda
não conseguiram aquela paz almejada; experimentaram ainda a decepção, o
sofrimento, a impossibilidade de viver aquilo que o povo sonhava no exílio.
O tempo de advento é este
tempo de espera, ou seja, desejar algo de diferente daquilo que vivemos, pois
tudo parece ser mesquinho. Desejamos aquela fraternidade, aquele amor e
comunhão que ainda não alcançamos. Cf. sal 126: o salmista pede para Deus de
transformar a sorte do povo de uma condição de aridez por uma de vida plena
como as torrentes do Negheb, que por 11 meses no ano são secos, mas depois
chega a chuva e se enchem de água. É também o sentido da segunda parte do nosso
salmo, que apresenta um clima geral mais calmo e sereno, um clima de paz.
Interessante os versículos finais aonde as virtude são apresentadas com a
maiúscula, come se fossem personificações.
“Amor e Verdade se encontrarão, Justiça e Paz se abraçarão;
Da terra germinará a Verdade e a Justiça se inclinará do
céu”.
É como um mundo
personificado que leva a paz e a alegria nos relacionamentos entre as pessoas.
“Favoreceste JHWH a tua terra...”.
É o inicio do salmo que dá
o tom o todo o resto; e um inicio cheio de gratidão pela percepção que o Senhor
é bom. O povo é consciente da própria miséria e do seu pecado. Neste contexto é
bom lembrar Adão que depois de ter aprontado se escondeu de Deus (Gen 3,10). No
nosso salmo o povo lembrando a experiência do passado lembra do sorriso de Deus
(cf. Jó 8,21). Deus sorriu olhando o seu povo. Na luz do rosto de Deus tem um
mundo cheio de paz (cf. Pr 16,15ª).
Jacó é o símbolo do povo
Israel. A lembrança e a narração daquilo que JHWH fez para o povo se torna uma
confissão. É claro que não precisamos lembrar a Deus aquilo que Ele fez para
nós. O problema é que somos nós que precisamos lembrar, recordar aquilo que
Deus fez para nós, e a lembrança se torna confissão e, ao mesmo tempo,
agradecimento.
vv.5-6: fazei-nos voltar.
É um pedido. Aqui aparece um tema difícil, o tema da ira de Deus (cf. Mt 3,7). Porque
este tema tão desagradável? Porque a ira de Deus expressa a sua reação perante
o pecado e a injustiça. Nós somos acostumados a dar um jeitinho, a fazer de
tudo para esconder, disfarçar. Este não é o jeito de Deus, pelo menos o Deus da
Bíblia que se manifestou em Jesus. Perante o pecado do homem Deus não fica
indiferente, como se nada tivesse acontecido, e não deixa passar a mentira como
se fosso algo de pouca conta. O Deus da Bíblia é o Deus ético: ama o bem e
odeia o mal e toda vez que depara com o mal Deus toma posição contra. O Deus da
Escritura sustenta a Vida e combate a morte e sendo que o pecado é uma potência
de morte, Deus não a deixa passar sem reagir. Na Bíblia esta reação dura tem um
valor terapêutico: quer curar o homem, que tome consciência do seu pecado e da
sua condição de morte. Porque o pecado, que o homem acredite ou não, destrói; o
ódio mata. Deus quer suscitar no homem o horror ao pecado: a ira quer obter isso.
A ira de Deus, sendo terapêutica, é limitada no tempo (cf. Sal 30,6). A vida de
Deus é misericórdia; a sua ira é apenas uma reação ao pecado, mas não é a sua
mesma vida. A misericórdia é eterna, a ira é do momento. Sendo que a ira é do
momento nós pedimos ao Senhor que seja breve.
Às vezes nos salmos
encontramos a queixa de uma ira excessiva de Deus, longa demais: Sal 74,1.
Mostra-nos, Senhor a Tua misericórdia...: em hebraico misericórdia
é a Hesed, ou seja, a fidelidade do
amor de quem assumiu um compromisso. É uma expressão que faz referencia a
ligação de aliança
. Deus estabeleceu uma
relação de aliança e de pertença recíproca. Deus não tem dividas conosco, só
que ele se comprometeu, por isso ele quer mostrar a sua fidelidade. Rezar desta
forma nos dá muita segurança, pois se a gente tivesse que se apelar aos seus
méritos então estaríamos ferrados! Por isso pedimos que Deus mostre a sua
fidelidade consigo mesmo.
Última parte do salmo.
Oráculo. Paz quer dizer o amor e o perdão de Deus, a comunhão com os outros e a
alegria. Deus pede ao homem a conversão. Quando a paz de Deus se espalha no
mundo então podemos admirar o mundo regenerado.
Verdade, Justiça, Paz são
dons de Deus. Esta realidade que Deus possui, a entrega para o homem, assim o
homem se torna justo pela Justiça de Deus.
A presença da Gloria de
Deus se torna a transformação de Jerusalém na cidade aonde o Senhor é presente
(cf. Jo 1,14).
Leitura cristã do salmo
Cf. 1 Cor 1,30; Lc 2,30;
Ef 2,14;
Sobre o tema da
misericórdia cf. Tt 3,4-7
O versículo 12 inspirou os
padres da Igreja que vislumbraram nele o mistério da Encarnação.
Leitura escatológica: cf.
Heb 12,22
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