Gen 9,8-15; Sal 24; 1 Pd 3,18-22; Mc 1, 12-15
Paolo Cugini
No
primeiro domingo da Quaresma do ano B o Evangelho chega até nós com o convite à
conversão.
“O
tempo está cumprido e o Reino de Deus está próximo; convertam-se e creiam no Evangelho”
(Mc 1,15).
Conversão
significa abrir espaço e, para abrir espaço em nossas vidas, devemos retirar
algo para permitir a entrada de uma realidade mais importante e significativa:
o Evangelho de Jesus, que é a alegria de Deus para nós. O Evangelho, de fato,
representa uma nova possibilidade de vida, um novo modo de estar no mundo, a
possibilidade de criar relações autênticas marcadas pela atenção gratuita aos
outros, pela colaboração para um mundo mais justo e sem discriminação. Nesta
perspectiva, ajuda-nos a primeira leitura em que se proclama a Nova Aliança que
Deus estipula com Noé depois do dilúvio:
"Disse
Deus: Este é o sinal da aliança que coloco entre mim e vocês e todos os seres
viventes que estão com vocês, para todas as gerações vindouras. Coloco meu arco
nas nuvens, para que seja um sinal da aliança entre mim e a terra” (Gênesis
9,12-13).
Para
restabelecer a aliança destruída entre o homem e a mulher, Deus escolhe um
símbolo que indica uma direção, um modo de estar no mundo, um sinal da sua
presença na história. Pois bem, este sinal não está na linha de pensamento
único que a filosofia grega começou a elaborar alguns séculos depois, mas está
na perspectiva da pluralidade. De certa forma, através daquele símbolo, é como
se Deus quisesse dizer à humanidade que, para encontrá-lo, era necessário
percorrer o caminho da multiplicidade, o caminho da diversidade. Um mundo
plural reflete o sonho de Deus, o seu pensamento, o que ele quis expressar com
o sinal da aliança: o arco-íris. Multiplicidade de cores, porque a mesma
realidade que Deus criou, que tem muitas cores, não pode ser identificada com uma
só cor. Arco-íris diz naturalidade em habitar a pluralidade, em pensar a
diversidade, em acolher a multiplicidade; significa a com presença de
diferentes elementos sem a necessidade de que tudo se reduza a um só. Arco-íris
significa liberdade de expressão, liberdade de consciência, liberdade de
expressar uma forma de ser diferente do outro sem medo de ser julgado. Se a
nova aliança é o arco-íris, então o caminho que a humanidade é convidada a
percorrer consiste em aprender a conviver com a diversidade, porque a
diversidade é a marca da realidade.
Encontramos
claramente visível em Jesus o estilo “arco-íris” de respeito pelas diferenças,
que nunca se detém nas aparências, mas olha para o coração das pessoas,
percebendo a imagem de Deus, mais do que aspectos externos e superficiais. E
assim, na adúltera, enquanto os homens vêem uma mulher digna de morte, Jesus
capta toda a sua dignidade como mulher com uma história particular. Em Pedro
que, apesar do seu entusiasmo, o trairá três vezes no momento delicado da sua
paixão e morte, Jesus vê alguém a quem pode até confiar a liderança dos seus
discípulos. No leproso, Jesus vê um homem sofredor, necessitado de ser ouvido e
acolhido.
O
Espírito Santo que recebemos continuamente quando o invocamos é o Espírito do
Senhor Jesus, que reproduz na nossa humanidade a atenção a cada pessoa, deve
ajudar-nos a não nos determos nas aparências, a não querermos que todos pensem
como nós, respeitar diferentes caminhos, diferentes histórias, diferentes
identidades culturais e religiosas. A comunidade do Senhor Jesus não é formada
por pessoas que pensam todas da mesma forma, mas por pessoas com sensibilidades
e identidades diferentes que caminham na mesma direção. A comunidade é bela não
porque seja formada por pessoas iguais, mas porque, guiados pelo Evangelho do
Senhor e fortalecidos pelo seu Espírito, aprendemos a caminhar juntos
valorizando cada pessoa, acolhendo quem deseja entrar no Caminho aberto por Jesus.
Para
caminhar assim é necessário seguir o exemplo do estilo de Jesus, reservar tempo
e, no silêncio, deixar penetrar em nós o Evangelho de Jesus, deixar-nos olhar
por Ele, aprender a aceitar-nos como somos. , deixar de nos comparar com os
outros, mas ter como único parâmetro de referência o rosto do Senhor, a sua
existência, o seu estilo de vida. É aceitando deixar-nos reconciliar com o
Senhor que dá paz à nossa alma, que podemos entrar em relações com os outros
propondo caminhos de reconciliação. É porque nos sentimos amados pelo Senhor e
não julgados, que entramos no mundo amando as pessoas que encontramos,
respeitando-as pelo que são, sem pretender mudá-las.
Por
fim, o branco é dado pelas cores do arco-íris. A luz que ilumina o mundo não é
a mistura de cores, mas é composta pela identidade de cada cor que permanece
ela mesma. A comunidade do Senhor Jesus ilumina o mundo quando não produz o
esforço de pensar da mesma maneira e fazer as mesmas coisas, mas quando cada um
de nós com a nossa identidade específica caminha juntos na mesma direção.
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