Semana de retiro
espiritual ás irmãs adoradoras do sangue de Cristo
6-12 setembro 2024
– Manaus
Paolo Cugini
O ponto de partida: a presença
Foleando a Bíblia com um
rápido olhar percebe-se um dato que perpassa toda a Sagrada Escritura: a
percepção Misteriosa de uma presença amiga. A diferença dos povos vizinhos que
buscavam a Deus no céu, nas estrelas, olhando no alto, o povo de Israel
percebeu a presença do Mistério, olhando a terra, prestando atenção aos eventos
históricos. De uma certa forma, apesar que seja um pouco ousado falar desta
maneira, Israel percebeu o desejo de Deus de se aproximar ao homem, á mulher.
As narrações que encontramos
nas primeiras páginas da Bíblia relatam esta sensação. A pergunta que pode
nortear esta pesquisa na Bíblia poderia ser esta: quem é aquele que
misteriosamente e aproxima a nós e quer a nossa amizade? Esta pergunta contém
já de antemão uma resposta ao nosso itinerário sobre a amizade. Em toda
experiencia de amizade, existe um desejo, uma vontade que empurra numa direção,
rumo ao outro, outra que desejaríamos fosse amigo nosso. Mais uma vez, este
desejo de amizade é visível em algumas páginas da Bíblia que agora folharemos
juntos.
Ex 3,1-6. A percepção por parte de Moises do Mistério é
paradigmática, ou seja, oferece elementos que encontramos em outras histórias
parecida. Isso quer dizer, que o Mistério se manifesta não sempre da mesma
maneira, mas com algumas características fundamentais. “Lhe apareceu numa chama de fogo do meio de
uma sarça” (Ex 3,2). O Mistério se manifesta na história dos homens e das
mulheres utilizando elementos do mundo sensível, material, ou seja, do nosso
mesmo mundo. É dentro este contexto que Moises percebe algo de novo, estranho:
uma sarça que arde sem queimar. A revelação do Mistério na nossa vida acontece
utilizando um material humano, que nós mesmos podemos reconhecer, porque faz
parte do nosso contexto. Ao mesmo tempo, porém, neste mesmo patamar material existe
algo de diferente, inusitado, que provoca a curiosidade de quem recebe esta
visita.
Jer 1, 4s. Esta história é diferente da primeira, mas contém
dados importantes pela nossa reflexão. Jeremias percebe a presença do Mistério
a nível de consciência. Aquilo que ele realiza é uma experiencia interior. Jeremias
percebe dentro de si algo que o convida para uma missão. É possível
historicamente uma experiencia deste tipo? Olhando a literatura sobre este tema
em outros âmbitos, podemos dar uma resposta positiva. Se pensarmos a Sócrates,
só pra fazer um exemplo, segundo ele a verdade estava contida na alma que
precisava ser libertada das falsas opiniões. Este exercício indica que a
percepção de algo autêntico e, ao mesmo tempo, qualitativamente diferente, é
fruto do esforço humano. Nas páginas de Jeremias, com o em outras páginas da
Bíblia (por exemplo, 1 Sam 3,1-21, que narra a vocação de Samuel), é Deus que
toma a iniciativa e a pessoa percebe como uma voz na própria consciência, uma
voz tão clara e profunda que impele uma resposta.
O Mistério que se aproxima com
a vontade de criar um laço, não é percebido somente por pessoas individuais,
mas também em alguns eventos históricos que envolveram o povo.
Ex 14-15. Um primeiro exemplo deste aspecto ´a experiencia da
passagem do Mar Vermelho. Sem aprofundar como realmente aconteceram as coisas,
um dato é claríssimo na narração do livro do Êxodo: aconteceu algo de tão
estranho e diferente, que chamou a atenção de todo o povo.
Naquele dia JHWH salvou Israel
das mãos dos Egípcios e Israel viu os egípcios mortos á beira-mar. Israel viu a
proeza realizada por JHWH contra os egípcios. E o povo temeu a JHWH” (Ex 14,30s).
É um texto que revela já uma
interpretação por parte do povo, que viu algo de inusitado, ao ponto de
provocar maravilha, espanto. O povo viu, assistiu a eventos históricos de um
porte tal, que era difícil pensar que naquele contexto específico não tivesse a
mão do Mistério. Isso quer dizer, que existem eventos, aos quais Israel
participou, que não é possível explicar de uma forma puramente humana e
natural. Tem algo a mais.
A amizade do Mistério para com
o homem e a mulher se manifesta com o desejo de se aproximar. Um primeiro passo
na nossa reflexão seria ver se na nossa vida já percebemos o desejo do Mistério
que se aproximou a nós para nos conhecer, nos tornarmos amigos.
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