(Ap 7, 2-4.9-14; Sal 24; 1
Jo 3, 1-3; Mt 5, 1-12)
Paolo Cugini
1. A Igreja celebra hoje a solenidade de todos os santos, nos
convidando a refletir sobre o sentido da nossa caminhada de fé. Se fomos
batizados é porque Deus nos chamou desde a eternidade para sermos santos (Cf.
Ef 1,4), pra sermos pessoas diferentes, pessoas cujo objetivo não seja enganar
os outros, mas fazer da nossa vida uma total oferenda a Deus. O problema pra nós hoje é entender o sentido
desde chamado, ou seja, quer dizer que Deus nos chama a sermos santos? Qual é o
sentido da santidade no mundo de hoje? Como se realiza, o que implica? É para
as leituras da liturgia de hoje que dirigimos estas perguntas para obtermos aquelas
respostas tão necessárias para a nossa vida de fé.
2. “Esses são os que vieram da
grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do cordeiro”
(Ap 7, 14).
A santidade é o caminho aqui na terra atrás de Jesus, seguindo os
passos dele, que é o caminho do amor. Amar aqui na terra do jeito que Jesus
amou, ou seja, de forma desinteressada, despojada, dedicada totalmente aos
outros, traz consigo uma grande tribulação. Jesus, que é o amor perfeito do
Pai, sofreu o pão que o diabo amassou por causa do ódio do mundo, que não
agüentava a sua liberdade, a sua gratidão, o seu jeito simples de lidar com os
mais pobres, os mais fracos, a sua sinceridade que não media palavras contra os
hipócritas da vez. O caminho do cristão que se esforça de imitar a Jesus,
seguir as suas pegadas leva exatamente aonde Jesus chegou: a cruz. A cruz, do
ponto de vista espiritual, é o símbolo da vitória do amor sobre o ódio, da verdade
sobre a hipocrisia, da humildade sobre o orgulho. Só que para conseguir esta
vitória o cristão, assim como o mesmo Jesus, paga um preço altíssimo, o preço
da própria vida. A existência cristã torna-se neste mundo de ódio uma
verdadeira tribulação, dificílima de agüentar. Este é o sentido autentico da
santidade, que é uma vida diferente, uma vida separada do mundo. Santo é aquele
que é impelido pelo amor de Jesus e que deixa o espírito do Senhor agir na sua
mesma vida, história. A santidade, então, não é um simples esforço pessoal, uma
luta que o homem a mulher deve travar sozinho. Pelo contrario, é a
disponibilidade a fazer com que, aquele amor total e pleno que se manifestou na
história dois mil anos atrás, possa continuar se manifestando através da nossa
mesma humanidade. Santidade é docilidade ao plano de Deus, um plano que não é
escrito uma vez para todas e que deve ser simplesmente executado, mas que exige
constantemente a nossa disponibilidade, o nosso desejo renovado em cada
circunstância a deixar o Espírito de Deus passar na nossa história.
3. “Vede que grande presente de
amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus” (1 Jo 3,1).
No caminho terreno atrás de Jesus que, como vimos até agora, é o
caminho da santidade, o cristão não vive apenas de lutas e não enfrenta somente
tribulações, mas experimenta a bondade do Pai que se manifesta como vida
filial. É aquilo que são João tenta de nos dizer na segunda leitura de hoje. O
caminho cristão é um caminho aonde devemos experimentar a paternidade de Deus.
Por isso uma pessoa agüenta sofrimentos terríveis, sofrimentos que a maioria
das vezes são espirituais, sofrimentos que derivam da posição difícil que o
seguimento ao Evangelho de Cristo nos leva. Só quem experimenta o afeto de
Deus, a sua presença paterna, o seu amor total e abrangente, consegue encarar a
estupidez do mundo, a sua hipocrisia sem vacilar nem de um lado nem do outro.
Ao mesmo tempo, a verdade da experiência filial que estamos vivendo se
manifesta na capacidade de correr logo entre os braços do Pai quando na luta
com o mundo sofremos uma derrota, uma queda, quando vacilamos. Estou escrevendo
isso a partir da sugestão que a mesma Palavra de Deus nos oferece. Se, de fato
o santo é um filho de Deus, agora não existe filho no mundo que não apronte,
não faça algo que não agrada o pai. O filho autentico e verdadeiro não é o
perfeitinho, que nunca cai (quanto orgulho espiritual encontramos nestas
tentativas de aparecer com inquebrantáveis! Como se Deus não conhecesse a nossa
natureza fraca!), mas aquele que cai e logo grita ao Pai para que o levante e,
assim, poder continuar o caminho. “Todo o
que espera nele purifica-se a si mesmo” (1 Jo 3, 3) O caminho da santidade
é um caminho de cotidiana purificação e isso quer dizer que a perfeição é um
fruto que o Espírito produz em nós e que pode ser alcançado somente com a
disponibilidade humilde a ficar a vida toda atrás de Jesus, em qualquer momento
e situação.
4. “Bem aventurados os pobres em
espírito... os mansos... os que tem fome e sede de justiça... os
misericordiosos... os puros de coração...” (Cf Mt 5, 3-11).
Nesta ultima parte da nossa reflexão podemos nos perguntar: como
podemos saber se também nós estamos fazendo parte daquela multidão narrada no
livro do Apocalipse (1° leitura) que participa da gloria dos santos? E também
como podemos ter a certeza que a nossa experiência cristã está sendo uma experiência
filial, que é fundamental para vivermos o nosso batismo como caminho de
santidade? A resposta a estas perguntas encontra-se no Evangelho de hoje. De
fato, as bem-aventuranças que Jesus proclama perante o povo, não são outra
coisa que os elementos visíveis da mesma humanidade de Jesus. Ele é o Filho
querido do Pai. Como é que se manifestou a sua filiação aqui na terra? No seu
carinho para com os pobres, na sua sede e fome de justiça, na sua misericórdia,
mansidão, na sua busca da paz, na sua capacidade de enfrentar as perseguições e
assim em diante. Agora é isso mesmo que o Espírito Santo, que recebemos nos
sacramentos, está querendo formar em nós. Santo, então, não é aquela pessoa que
fica de joelho com a cabecinha dobrada mandando os beijinhos a Maria. Santo é
aquela pessoa que olha os outros não com um duplo pensamento, que perante as
injustiças do mundo sente o desejo que se manifeste a justiça de Deus que é misericórdia.
Santo é a pessoa que, no mundo de divisões e de ódios terríveis, faz de tudo
para encontrar caminhos de paz. Santo é aquele que sente um aperto no coração
perante um pobre, um mendigo e transforma este aperto num caminho que possa
ajudar o irmão carente. São estes sentimentos que o Espírito está querendo
formar em nós: os mesmos sentimentos que eram bem visíveis na humanidade de
Jesus. Pedimos a Deus que esta Eucaristia possa colocar na nossa alma o desejo
e uma santidade autentica e verdadeira, aquela santidade que se manifestou em
Jesus, a única que pode transformar o mundo do ódio em amor.