giovedì 23 dicembre 2021

SANTA FAMÍLIA DE JESUS, MARIA E JOSÉ ; 26 DE DEZEMBRO 2021

 




(Lk 2, 41-52)

 

Paolo Cugini

 

A festa da sagrada família recorda-nos que a dinâmica da fé, o conhecimento dos seus mistérios e as indicações do caminho que somos chamados a percorrer, se realizam na vida familiar. Esta já é uma primeira e profunda indicação. Encontramos Deus, seu caminho para nós, quando vivemos com autenticidade as relações que o Senhor nos deu. Na verdade, não escolhemos o pai, a mãe, os avós, os irmãos e as irmãs, mas os encontramos ao nascer. Não são como os amigos, que encontramos ao longo da vida e que mudamos a partir dos lugares e situações em que vivemos. As pessoas de uma família são o dom que Deus nos dá para crescermos humanos. A atenção às relações familiares é o primeiro passo significativo, não só para o nosso caminho de humanização, mas também espiritual. A compreensão deste aspecto da vida de fé, passa imediatamente pelo compromisso de investir cada vez mais na qualificação das relações familiares, atenção aos que nos rodeiam, àqueles que compartilham o caminho da vida todos os dias.

O segundo aspecto significativo que aparece na festa da sagrada família é a sua pobreza. Deus decide nascer não apenas em uma família pobre, mas também em uma região e território caracterizado pela pobreza. Deus escolheu não nascer rico, em um castelo, mas pobre entre os pobres. Jesus nasceu e foi criado com uma mãe analfabeta, pai carpinteiro, considerado, naquela época, um trabalho infame, uma casa pobre. Jesus cresce vivendo sobre a própria pele o fruto das desigualdades sociais, nas quais poucos detêm a maior parte dos benefícios, enquanto a maioria vive da migalha. Jesus e sua família viveram, como muitos, de migalhas. Este aspecto da pobreza de Jesus, que também encontramos de novo nos anos de maturidade, de sua vida pública, deve ser levado a sério. O que nos ensina esse fato bíblico que, ao mesmo tempo, é escolha de Deus? Diz-nos que a nossa fé ,não amadurece na riqueza, no luxo, no conforto. Ao contrário, uma vida essencial, uma família que se esforça continuamente para compartilhar o que tem, investe não só para responder às próprias necessidades, mas se abre para os outros, para os pobres que encontra ao longo do caminho, se esforçando continuamente para manter um baixo estilo, essencial, cria o terreno para que a fé amadureça, a confiança na justiça de Deus, na sua bondade e misericórdia.

O terceiro aspecto que podemos destacar desta sagrada família é a liberdade de cada membro com a tradição dos pais. Maria aceita a escandalosa proposta de ser mãe antes do casamento, colocando-se imediatamente em uma situação gravíssima do ponto de vista da lei mosaica. Maria se entrega a Deus e aceita o risco de ser morta pela comunidade, porque transgride o preceito. Não menos importante é José, que os evangelos o definem como justo, isto é, um homem que obedece aos mandamentos de Deus. Chocado com a notícia da gravidez de Maria, aceita a proposta do anjo em sonho e transgride a lei mosaica, que previa o apedrejamento em caso de adultério, ele a leva consigo e a guarda, cuidando dela. Finalmente, todos nós sabemos o que o filho Jesus fará, seria melhor dizer aprontará,  quando começará a atividade pública. Desde o início do seu ministério, Jesus transgrediu o primeiro e fundamental mandamento cuja transgressão levava à morte: o respeito pelo sábado. Uma família, portanto, de rebeldes, uma rebelião contra uma lei que sufoca a vida, na busca contínua da vontade de amor do Pai. Também neste caso, como em outros, encontramos na humanidade de Jesus, em seu estilo, os traços marcantes de seus pais, que eram pobres, mas grandes em sabedoria e amor ao Pai.

É a vida essencial que nos leva a apegar-nos à Palavra do Senhor, para buscarmos o seu conforto e descobrir sua delicada presença em algumas experiências pessoais, nas quais nossas forças são testadas até o limite. É precisamente nestas situações extremas, que se torna importante ter alguém familiar que nos possa apoiar, aconselhar e com quem nós próprios possamos falar, partilhar a nossa situação. A sagrada família de Nazaré, vista de perto, ensina tudo isso e muito mais.

 

mercoledì 15 dicembre 2021

DOMINGO 4 DE NOVEMBRO-SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS

 



(Ap 7, 2-4.9-14; Sal 24; 1 Jo 3, 1-3; Mt 5, 1-12)

 

Paolo Cugini

 

1. A Igreja celebra hoje a solenidade de todos os santos, nos convidando a refletir sobre o sentido da nossa caminhada de fé. Se fomos batizados é porque Deus nos chamou desde a eternidade para sermos santos (Cf. Ef 1,4), pra sermos pessoas diferentes, pessoas cujo objetivo não seja enganar os outros, mas fazer da nossa vida uma total oferenda a Deus.  O problema pra nós hoje é entender o sentido desde chamado, ou seja, quer dizer que Deus nos chama a sermos santos? Qual é o sentido da santidade no mundo de hoje? Como se realiza, o que implica? É para as leituras da liturgia de hoje que dirigimos estas perguntas para obtermos aquelas respostas tão necessárias para a nossa vida de fé.

 

2. “Esses são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do cordeiro” (Ap 7, 14).

A santidade é o caminho aqui na terra atrás de Jesus, seguindo os passos dele, que é o caminho do amor. Amar aqui na terra do jeito que Jesus amou, ou seja, de forma desinteressada, despojada, dedicada totalmente aos outros, traz consigo uma grande tribulação. Jesus, que é o amor perfeito do Pai, sofreu o pão que o diabo amassou por causa do ódio do mundo, que não agüentava a sua liberdade, a sua gratidão, o seu jeito simples de lidar com os mais pobres, os mais fracos, a sua sinceridade que não media palavras contra os hipócritas da vez. O caminho do cristão que se esforça de imitar a Jesus, seguir as suas pegadas leva exatamente aonde Jesus chegou: a cruz. A cruz, do ponto de vista espiritual, é o símbolo da vitória do amor sobre o ódio, da verdade sobre a hipocrisia, da humildade sobre o orgulho. Só que para conseguir esta vitória o cristão, assim como o mesmo Jesus, paga um preço altíssimo, o preço da própria vida. A existência cristã torna-se neste mundo de ódio uma verdadeira tribulação, dificílima de agüentar. Este é o sentido autentico da santidade, que é uma vida diferente, uma vida separada do mundo. Santo é aquele que é impelido pelo amor de Jesus e que deixa o espírito do Senhor agir na sua mesma vida, historia. A santidade, então, não é um simples esforço pessoal, uma luta que o homem a mulher deve travar sozinho. Pelo contrario, é a disponibilidade a fazer com que, aquele amor total e pleno que manifestou-se na historia dois mil anos atrás, possa continuar se manifestando através da nossa mesma humanidade. Santidade é docilidade ao plano de Deus, um plano que não é escrito uma vez para todas e que deve ser simplesmente executado, mas que exige constantemente a nossa disponibilidade, o nosso desejo renovado em cada circunstância a deixar o Espírito de Deus passar na nossa historia.

 

3. “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus” (1 Jo 3,1).

No caminho terreno atrás de Jesus que, como vimos até agora, é o caminho da santidade, o cristão não vive apenas de lutas e não enfrenta somente tribulações, mas experimenta a bondade do Pai que se manifesta como vida filial. É aquilo que são João tenta de nos dizer na segunda leitura de hoje. O caminho cristão é um caminho aonde devemos experimentar a paternidade de Deus. Por isso uma pessoa agüenta sofrimentos terríveis, sofrimentos que a maioria das vezes são espirituais, sofrimentos que derivam da posição difícil que o seguimento ao Evangelho de Cristo nos leva. Só quem experimenta o afeto de Deus, a sua presença paterna, o seu amor total e abrangente, consegue encarar a estupidez do mundo, a sua hipocrisia sem vacilar nem de um lado nem do outro. Ao mesmo tempo, a verdade da experiência filial que estamos vivendo se manifesta na capacidade de correr logo entre os braços do Pai quando na luta com o mundo sofremos uma derrota, uma queda, quando vacilamos. Estou escrevendo isso a partir da sugestão que a mesma Palavra de Deus nos oferece. Se, de fato o santo é um filho de Deus, agora não existe filho no mundo que não apronte, não faça algo que não agrada o pai. O filho autentico e verdadeiro não é o perfeitinho, que nunca cai (quanto orgulho espiritual encontramos nestas tentativas de aparecer com inquebrantáveis! Como se Deus não conhecesse a nossa natureza fraca!), mas aquele que cai e logo grita ao Pai para que o levante e, assim, poder continuar o caminho. “Todo o que espera nele purifica-se a si mesmo” (1 Jo 3, 3) O caminho da santidade é um caminho de cotidiana purificação e isso quer dizer que a perfeição é um fruto que o Espírito produz em nós e que pode ser alcançado somente com a disponibilidade humilde a ficar a vida toda atrás de Jesus, em qualquer momento e situação.

 

4.Bem aventurados os pobres em espírito... os mansos... os que tem fome e sede de justiça... os misericordiosos... os puros de coração...” (Cf Mt 5, 3-11).

Nesta ultima parte da nossa reflexão podemos nos perguntar: como podemos saber se também nós estamos fazendo parte daquela multidão narrada no livro do Apocalipse (1° leitura) que participa da gloria dos santos? E também como podemos ter a certeza que a nossa experiência cristã está sendo uma experiência filial, que é fundamental para vivermos o nosso batismo como caminho de santidade? A resposta a estas perguntas encontra-se no Evangelho de hoje. De fato, as bem-aventuranças que Jesus proclama perante o povo, não são outra coisa que os elementos visíveis da mesma humanidade de Jesus. Ele é o Filho querido do Pai. Como é que se manifestou a sua filiação aqui na terra? No seu carinho para com os pobres, na sua sede e fome de justiça, na sua misericórdia, mansidão, na sua busca da paz, na sua capacidade de enfrentar as perseguições e assim em diante. Agora é isso mesmo que o Espírito Santo, que recebemos nos sacramentos, está querendo formar em nós. Santo, então, não é aquela pessoa que fica de joelho com a cabecinha dobrada mandando os beijinhos a Maria. Santo é aquela pessoa que olha os outros não com um duplo pensamento, que perante as injustiças do mundo sente o desejo que se manifeste a justiça de Deus que é misericórdia. Santo é a pessoa que, no mundo de divisões e de ódios terríveis, faz de tudo para encontrar caminhos de paz. Santo é aquele que sente um aperto no coração perante um pobre, um mendigo e transforma este aperto num caminho que possa ajudar o irmão carente. São estes sentimentos que o Espírito está querendo formar em nós: os mesmos sentimentos que eram bem visíveis na humanidade de Jesus. Pedimos a Deus que esta Eucaristia possa colocar na nossa alma o desejo e uma santidade autentica e verdadeira, aquela santidade que se manifestou em Jesus, a única que pode transformar o mundo do ódio em amor.

 

Pe Paolo Cugini, Tapiramutá-BA

 

Domingo 24 de junho: Natividade de são João Batista

 



(Is 49, 1-6; Sal 139; At 13, 22-26; Lc, 1, 57-66.80)

 

Paolo Cugini

 

1. Celebramos, neste domingo, a solenidade do nascimento de João Batista, do homem escolhido por Deus para anunciar ao mundo a vinda de Jesus Cristo, o nosso Salvador. Não é por acaso, então, se a liturgia da Palavra de hoje nos oferece textos os quais nos convidam a refletir sobre o mistério da vocação. A importância de João Batista na economia da historia da salvação é evidenciada pelo mesmo Jesus que define João “o maior entre os nascidos de mulher”, pelo fato que foi escolhido para anunciar a presença do Cristo no mundo. A vida de João Batista se destacará pela dureza de vida que levava, pela sobriedade, pela força da sua pregação e pelo convite á conversão. João Batista se preparou à vinda de Jesus no deserto, batizando as multidões com a água do rio Jordão, batismo que era um convite a mudar de vida, a buscar o caminho de Deus. João nasceu em circunstâncias estranhas, não comuns. A mãe Isabel era estéril e o pai Zacarias já de idade avançada. Desde o nascimento, tudo na vida de João é envolvido no mistério, no ignoto. Aproveitamos, então, das leituras de hoje, para tentarmos penetrar o mistério do chamado de Deus. Pedimos ao Espírito Santo que abra a nossa mente para entendermos o sentido do nascimento e da vida de João Batista pela humanidade e para nós.

 

2.O Senhor chamou-me antes de eu nascer, desde o ventre de minha mãe ele tinha na mente o meu nome” (Is 49, 1).

São estas as primeiras palavras do segundo canto do servo, que narram a vocação de uma personagem misteriosa, que nunca a tradição conseguiu a detectar. Personagem misteriosa como misteriosa é a vida de João. Poderíamos dizer que este mistério envolve a nossa mesma vida. É interessante parar para refletir sobre este dato, ou seja, o fato que a Bíblia apresenta a vida como algo de misterioso, que está escondido nos pensamentos de Deus. Isso é um convite a não abordar a vida de uma maneira superficial, imediata, como se a vida de uma pessoa fosse medível somente pelas características externas, pelos dados materiais. A Bíblia nos ensina que o sentido da nossa vida está em Deus, ou seja, fora do nosso alcance imediato. Para tomarmos conta da nossa existência precisamos de um esforço de interiorização, precisamos entrar em contato com Deus, pois é Ele que conhece o mistério da nossa existência antes do nosso mesmo nascimento. Para quem está tomando a serio a própria vida, esta revelação representa uma grande liberdade e, ao mesmo tempo, um grande desafio. É liberdade porque somos liberados do peso de inventarmos a nossa vida: graças a Deus a nossa vida já tem um sentido e, este sentido, é Deus mesmo que o definiu desde o inicio da criação. É também um desafio, porque devemos aprender a desmaterializar a nossa existência, para aprendermos a buscar o valor da nossa vida aonde ele pode ser desvendado, ou seja, em Deus.

 

3. Estas mesmas reflexões são retomadas no famoso salmo 139, que a liturgia nos convida hoje a rezar. “Senhor vos me sondais e conheceis, sabeis quando me sento ou me levanto; de longe penetrais meus pensamentos” (Sal 139, 1).

Se Deus me conhece e penetra os meus pensamentos, se foi ele que me formou as entranhas e no seio de minha mãe me teceu, significa que não sou sozinho. Quanta angustia leio às vezes nos rostos das pessoas que encontro, por tudo aquilo que acontece na vida delas, que parece até mesmo que Deus não esteja presente, que tudo seja em balia do ocaso e que, de conseqüência, a nossa vida não tenha nenhum sentido. É esta a grande tentação que enche a nossa alma e a nossa mente, confundindo os nossos pensamentos, naquelas horas tristes e dolorosas em que experimentamos uma espécie de abandono de Deus.  Não, Deus não nos abandona e nós não somos forçados a inventar a nossa existência, a produzirmos sozinhos e desesperadamente um sentido da nossa vida, para não escutarmos o vazio que nela percebemos. Aliás, talvez sejam estas as horas melhores que Deus nos oferece, para não fugirmos no vazio das nossas ilusões, dos nossos castelos imaginários, para penetrarmos no mistério da nossa vida e, nessa profundeza, descobrirmos uma Palavra pessoal, única, uma palavra amiga, que somente Deus conhece. Assim, estas leituras que escutamos na festa do nascimento de são João Batista, deveriam produzir em nós o desejo de aprofundarmos o mistério da nossa vida, de entrarmos em nós mesmos e escutarmos a voz daquele que nos chama desde a criação do mundo. Só assim descobriremos quanto, aos olhos de Deus, somos preciosos, que valor imenso tem a nossa existência para Ele, valor tão grande que desde sempre preparou para nós um projeto, um caminho. Somente deparando com este projeto misterioso e fantástico de Deus, os nossos falsos projetos serão desmantelados. De fato, se a tristeza às vezes enche os nossos corações, se a angustia acompanha os nossos dias, é porque vivemos no tempo presente inventando literalmente a nossa vida, nos achando os donos da nossa existência que, desta maneira, torna-se extremamente pobre,fraca, vazia. A auto-suficiência humana é o pior pecado que podemos cometer, porque é uma forma radical de resistência ao plano de Deus. Somos mergulhados numa cultura que nos incentiva todo dia e toda hora a buscarmos o nosso caminho de forma autônoma, independente de Deus e de todos.  Aonde podemos encontrar a luz que nos ilumina? Como percebermos que o Senhor nos conhece no mais intimo (cf. Sal 139)?  Como descobrirmos, assim como aconteceu com João Batista, o sentido do nosso nome, da nossa vocação?

 

4.Ele vivia em lugares desertos, até o dia em que se apresentou publicamente a Israel” (Lc 1, 80).

Não existe melhor resposta ao nosso problema, do que esta. João não teve pressa de se amostrar: esperou até perceber que estava na hora. Até não percebermos dentro de nós a paz de Cristo, é melhor ficarmos escondidos, também porque o mundo não merece a nossa agonia. João esperou a resposta ao sentido da sua vocação no deserto, ou seja, no silencio, na busca interior não desperdiçando palavras com colegas, mas procurando, sobretudo o parecer de Deus. Por isso quando saiu, arrasou! Este versículo é o programa de uma vida. Pode ser pouca coisa, mas para quem está querendo levar a serio a própria única e breve vida, vale a pena escutar o conselho.

 

 

 

Pe Paolo Cugini, Tapiramutá-BA

Epifania do Senhor

 



(Is 60,1-6; Sal 72; Ef 3,2-3.5-6; Mt 2,1-12)

 

Paolo Cugini

 

1. As solenidades do tempo de Natal encerram com a Epifania do Senhor. A Epifania explica de antemão o sentido da vinda de Jesus no meio de nós: ele veio para unir aquilo que estava dividido: “Os pagãos são admitidos á mesma herança, são membros do mesmo corpo” (Ef 3, 6). Se isso é verdade, a solenidade da Epifania desvende também o caminho que a Igreja deve realizar neste mundo: ser sinal de comunhão e instrumento de paz. As comunidades devem se tornar espaços abertos, aonde qualquer pessoa de qualquer povo possa se sentir bem à vontade e acolhido. É claro que essa abertura toda envolve cada um de nós, naquele espaço de mundo no qual é chamado a viver. Mas o mundo que Jesus veio a apaziguar para se tornar instrumento de comunhão é a nossa mesma humanidade: é em nós que deve acontecer a comunhão. Os braços abertos do menino Jesus são os mesmos da cruz: uma humanidade aberta, que sabe somente se doar. Este é o caminho que a Epifania aponta.

Problema: como a nossa humanidade estragada pelo egoísmo, pode conseguir a se tornar aquele espaço aberto aonde as diferenças vivem em comunhão e os antagonistas se reconciliam?

 

2. São membros do mesmo corpo, são associados á mesma promessa em Jesus Cristo por meio do Evangelho” (Ef 3, 6).

 

A nossa humanidade poderá tornar-se espaço aberto somente em Jesus e por meio do Evangelho. Palavras simples, mas amiúde esquecidas. Quantas vezes encontrei nestes anos de sacerdote, pessoas que se massacravam para melhorar as próprias atitudes, mas era evidente que o esforço apoiava tudo sobre eles mesmos, apesar das aparências e das abluções cultuais. Ou, também, quantas pessoas, depois de ter tentado com imediato insucesso de melhorar a própria humanidade, desistem conformando-se á uma vida de baixo nível moral?  Jesus Cristo é o único capaz de sarar a nossa humanidade e faz isso através do Evangelho, porque, segundo são Paulo o Evangelho é potencia de Deus

 (cf. Rom 1,16), ou seja, aquela mesma força que agiu na Ressurreição de Jesus, age no Evangelho. Cabe então a nós fazer espaço na nossa vida ao Evangelho de Jesus para deixar a sua luz entrar e iluminar as nossas trevas; deixar a sua verdade bagunçar a nossa vida mergulhada na mentira. São os braços abertos de Jesus no presépio que apontam o caminho que devemos realizar, que é o caminho da confiança sem opor resistência, sem querer saber de antemão aquilo que não podemos saber. Os reis magos caminharam atrás de uma estrela sem saber aonde os levava: esta é a fé! O Evangelho aperfeiçoará as nossas vidas se o seguiremos assim como ele é, e não como nós queremos que seja. A Epifania do Senhor aponta para uma humanidade de braços abertos, uma humanidade sorridente, que olha constantemente na direção do seu Salvador, uma humanidade que aprende a não se queixar toda hora por coisas fúteis, sem nenhuma importância, mas esbanja esperança por todos aqueles que se aproximam.

 

 

3. “ Ao saber disso, o rei Herodes ficou perturbado, assim como toda a cidade de Jerusalém”( Mt 2, 3).

 

Uma humanidade aberta, disponível e generosa, perturba o juízo dos egoístas e hipócritas deste mundo: os carinhas ficam malucos! Logo que Jesus entrou no mundo, Herodes e os poderosos como ele ficaram doidos, porque? Quem é acostumado a controlar tudo,a controlar a própria vida e a vida dos outros para ficar tranqüilo,  não aceita a novidade. Só que o Espírito é novidade, é criativo, não sabe de onde vem e aonde vai (cf. Jo 3). E os cristãos também são livres, simples, amigos de todos, disponíveis a si doar gratuitamente. Esta é a tarefa da Igreja: ser sinal de contradição (Lc 2, 34), incomodando o mundo (Ap 11,10),tirando o mundo do serio. O ódio de Herodes para com o menino Jesus e de deixar pasmos: porque tanta raiva? O que pode fazer um menino para provocar a morte de tantas criancinhas? A Verdade, a Luz, o Amor, a Justiça se fez carne e veio a morar entre nós: é este o problema! Acolhendo o Evangelho na nossa vida, não apenas estaremos deixando espaço para a força de Deus transformar as nossas vidas, mas também nos tornaremos possibilidade de conversão para os outros. E tudo isso tem um preço: o ódio do mundo. “Não vos admireis, irmãos, se o mundo vos odeia” (1Jo 3,13). A solenidade da Epifania, que hoje celebramos, nos lembra que, quem busca Jesus como os Magos que vieram do Oriente para adorar o Senhor, sofre o ódio do mundo que não gosta de Deus e do seu Filho Jesus. Só que nós sabemos que “Deus nos deu a vida eterna e esta vida está em seu Filho(1Jo 5, 11).

Fitar os olhos no presépio, no menino Jesus não significa permanecer num infantilismo religioso que busca uma espiritualidade ligada a sentimentos passados; pelo contrario preencher os olhos de Jesus menino neste tempo natalino, significa manter viva a esperança que é em nós, para enfrentarmos com mais coragem e força o ódio do mundo.

 

4. “Avisados em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho” ( Mt 2,12).

 

Quem busca a Deus de coração puro não ficará desamparado. Quem entrega a própria vida nas mãos de Deus, descobre o sentido do versículo acima citado. Os Magos deixaram tudo para procurar a Verdade e, apesar de tantas dificuldades, voltaram para a sua terra despojados do ouro, incenso e mirra, mas enriquecidos de um encontro que preencherá as vidas deles para sempre. Esta é a verdade misteriosa da fé, que nos coloca num plano diferente da realidade, o plano do Espírito, das coisas do céu (cf Col 3,1), que pode acreditar somente quem vê, e pode ver somente quem busca e é encontrado pelo Senhor. Pois a realidade é esta: Deus em Jesus se manifestou (Epifania) e nele  colocou a vida: cabe a nós descobri-lo para conhecê-lo e, conhecendo-o, amá-lo e amando-o viver para sempre.

 

 

 

Pintadas-Ba       2011                                                                         Pe Paolo Cugini

 

 

 

 

 

 

Vigília de Natal-2007

 



(Is 9, 1-6; Sal 96; Tt 2, 11-14; Lc 2, 1-14)

 

 

Paolo Cugini

1. Chegamos a esta noite com o coração vibrante de alegria pelo evento que estamos contemplando: nesta noite o eterno entra no tempo, o infinito se faz finito, aquilo que é imperecível se faz perecível. Contemplamos extasiados o mistério do Deus menino, o Onipotente solapado no pequeno corpo de uma criança recém nascida. Ficamos pasmos, sem fôlego por esta aproximação impressionante de Deus para conosco. Aproximação que expressa mais uma vez o grande desejo de Deus de encontrar o homem, a mulher. O Natal é isso mesmo: o cumprimento do sonho antigo de Deus se fazer presente no meio da humanidade, de morar no meio de nós e, para realizar este sonho, Deus se faz homem, o tudo de Deus entra no fragmento pequeno do corpo humano. Mistério sublime que desvende até a que ponto chega o amor verdadeiro de Deus, o amor que pela sua intrínseca natureza exige a doação, a partilha e, por isso, não mede riscos, não calcula as conseqüências.  E, assim, por todos nós neste momento são autenticas as palavras do salmista quando, perante o mistério de Deus contemplado na criação, se pergunta: “É o que o homem para merecer tudo isso?” (Salmo 8). Nós também nesta noite tão luminosa nos perguntamos deslumbrantes: oh Deus porque fez tudo isso? Será que a gente merece um tão grande presente? Será que precisava mesmo que Deus se fizesse menino para nos encontrar? E é o que isso significa? O que Deus quis nos dizer com a sua vinda?

 

2.O povo que andava nas trevas viu uma grande luz” (Is 9,1).

Assim como o profeta Isaias o profetiza, Jesus pela humanidade é uma luz. Deus enviando Jesus quis nos iluminar, ou seja, decidiu de nos tirar das trevas. Neste sentido a vinda de Jesus manifesta o julgamento de Deus sobre a humanidade. Com a vinda de Jesus Deus declara definitivamente derrotado o projeto de mundo que os homens construíram e continuam construindo independentemente de Deus. O mundo sem Deus é obscuro, é treva: é isso que o Natal de Jesus revela pela humanidade toda. O mesmo salmo 95 que foi proclamado hoje aponta o mesmo sentido: “O Senhor vem para julgar a terra inteira”. A luz de Deus que o nascimento de Jesus trouxe ao mundo representa o julgamento de Deus sobre o projeto de mundo que a humanidade desobediente criou e, ao mesmo tempo, é a indicação do caminho que a humanidade toda deve percorrer pra se afastar do projeto errado para entrar na trilha certa. Este me parece ser o sentido primeiro do Natal: a manifestação definitiva do julgamento de Deus sobre o mundo. A partir do evento do presépio, a humanidade toda depara com o pensamento de Deus, com a sua Verdade definitiva sobre nós. Verdade que se manifesta no seu lado negativo de julgamento, sobre tudo aquilo que ao longo dos séculos se ergueu orgulhosamente como projeto autônomo, criando o mundo da morte, dominado pelo egoísmo e pela ganância. Ao mesmo tempo o julgamento de Deus se manifesta como misericórdia por toda a humanidade vitima deste projeto terrível, por toda a humanidade que tenta com todas as forças de permanecer fiel ao projeto de amor de Deus.  Esta misericórdia de Deus que se estende ao mundo é muito bem representada pelos braços abertos de Jesus menino no presépio da manjedoura de Belém, que não é apenas uma cena sentimental, que mexe com o nosso lado sentimental, mas um quadro realista daquilo que Deus está querendo com o mundo.

 

3. Porque nasceu para nós um menino” (Is 9,50).

Esta luz que Jesus com o seu nascimento trouxe ao mundo se manifesta como vida. De fato, aquilo que Deus promete para salvar a humanidade da morte é uma criança. Isso não apenas foi profetizado pela boca do profeta Isaias, mas se cumpriu na historia com o nascimento do menino Jesus. Jesus é a Vida verdadeira que acusa a morte do projeto mundano. Se quisermos viver uma vida que permanece no tempo e nunca desfalece, precisamos nos aproximar do presépio. Jesus menino de braços abertos é o julgamento de Deus sobre o mundo fechado do egoísmo, da ganância, da soberbia. Além do mais, este menino recém nascido de braços abertos nos convida a fazer parte do seu Reino, que é o Reino do amor, da paz, da justiça e da vida autentica.  Aquela vida que todos nós buscamos com todas as nossas forças ao longo da vida e que não conseguimos alcançar, esta mesma vida veio ao nosso encontro, se ofereceu gratuitamente. É isso que devemos aprender a vislumbrar no menino Jesus: A Vida. É Ele que veio para apagar as nossas angustias, veio para preencher o nosso vazio, a nossa falta de sentido. É este menino indefeso que tem nas suas mãos o segredo da vida, a direção que a nossa existência humilde deve tomar. Se nos aproximarmos a este grande tesouro com uma mentalidade humana, material, seriamos tentados a nos perguntar o custo para obter tudo isso. O Evangelho, porém, vem ao nosso encontro com uma resposta simples: “Encontrareis o recém nascido envolvido em faixas e deitado numa manjedoura” (Lc 2, 12). A vida autentica que Deus nos oferece no menino Jesus, não se apresenta com os critérios humanos do poder e da força, mas com os sinais divinos da simplicidade e da humildade. E assim, se quisermos acolher a Vida autentica manifestada no meninoJesus, precisamos nos despojar do nosso orgulho e do nosso egoísmo. A Vida autentica pode ser somente acolhida para ninguém se ufanar de algo que não lhe pertence. É isso que é difícil entender para nós acostumados a medir o valor das coisas pelo peso exterior, pelo preço. Jesus, a vida verdadeira, se oferece gratuitamente, não tem preço: pode ser somente acolhido. Também isso representa um julgamento da nossa maneira de olhar as coisas e medi-las.

 

4. A noite de Natal é uma noite feliz, como somos acostumados a cantar, porque Deus veio a morar no meio de nós, assumindo a nossa condição humana, uma condição estragada pelo pecado e pela morte. É incrível como isso possa acontecer, como Deus possa caminhar e viver conosco, ao nosso lado. Se Ele decidiu isso não foi apenas por um sentimento de solidariedade, mas para nos salvar, ou seja, para transformar a nossa condição humana de morte, numa condição de vida, a nossa condição de sofrimento e conflito numa condição de paz. O Natal de Jesus que hoje celebramos com o maior respaldo possível, pela Igreja quer ser muito mais de uma lembrança passada: deseja ser a indicação de um estilo de vida novo, aquele estilo que produz uma transformação radical em todos aqueles que a levem a serio. Que seja este o sentido do Natal, pelo menos entre nós e nas nossas famílias.

 

 

Pe Paolo Cugini, Tapiramutá-Ba.

martedì 14 dicembre 2021

DOMINGO XXV/C

 



(Am 8, 4-7; Sal 113; 1 Tim 2, 1-8; Lc 16, 1-13)

 

Paolo Cugini

1. Sempre procuramos, pelo menos as pessoas que estão buscando uma vida de fé mais autentica e verdadeira, a essência da vida cristã, aquilo que mesmo deveria ser o foco, o eixo da caminhada, mas nos perdemos em mil riachos laterais sem nuca chegar ao rio. Isso é visível não apenas em nós, mas também em pessoas que há tempo estão no Caminho. Passamos o tempo inventando projetos, organizando eventos, ficando às vezes angustiados porque não saíram do jeito que a gente quis ou, pelo menos, tinha esperado. O tempo vai passando e nós ficando com um punhado de moscas nas mãos, nos questionando se a vida cristã é assim mesmo ou se deveria ser diferente. O grande perigo, nesta fase de angustia, que pode se protelar a vida toda, é ficar repetindo os mesmos erros, as mesmas situações. Quando a insegurança toma conta da gente, ficamos até com medo de pensar, de ousar algo de novo para não sermos criticados, julgados, dedados. Vivemos, assim, uma vida em defesa, sem élan nenhum, sem empolgação. E aqui vem o questionamento das leituras de hoje: o Espírito Santo que recebemos no Batismo e continuamos recebendo nos sacramentos, deve produzir esta vida segura, monótona, rotineira, ou tem algo a mais?

 

2. E o Senhor elogiou o administrador desonesto, porque ele agiu com esperteza. Com efeito, os filhos deste mundo são mais espertos dos filhos da luz” (Lc16, 8).

A parábola que Jesus narra no Evangelho de hoje termina com uma moral, que tão moral não parece. Porque será que Jesus elogia a esperteza do administrador desonesto? Além do mais, porque Jesus elogia uma pessoa desonesta: não é uma grande contradição perante tudo aquilo que ele vem pregando de amor, respeito e tudo mais? Na realidade, se prestarmos bem atenção às palavras de Jesus, Ele não elogia nem a desonestidade nem a esperteza, mas sim a criatividade do homem. De fato, o protagonista da Parábola, usou ao maximo a própria inteligência para se sair bem de uma situação que tinha tudo para ser ruim pra ele. Esta historia traz pra nós um grande ensinamento. O questionamento que Jesus traz por dentro da comunidade dos discípulos, entre os quais estamos hoje também nós, é este: o que estamos fazendo da Palavra de Jesus e do Seu Espírito Santo? O Espírito Santo em Jesus agiu de uma forma que progressivamente transformou toda a sua humanidade em amor, doação, partilha. Alem do mais, o Espírito em Jesus o levava a criar continuamente novas situações para que o reino de Deus fosse anunciado. O exemplo mais claro são as parábolas que ele inventava para chamar á atenção do povo e, assim, induzi-lo a pensar, refletir sobre a própria vida, se converter á Cristo. A verdade do Espírito Santo que Em Cristo agiu desta maneira e que Ele entregou pra nós em cima da cruz (cf. Jo 19, 30), não pode ser desperdiçado, mas deve gerar continuamente amor e, sobretudo, de uma forma criativa. O problema, então, é esse: porque somos tão resistentes á ação do Espírito Santo? O que em nós está bloqueando o Espírito Santo, impedindo que invente algo de novo? Porque somos tão passivos, renunciatarios e preguiçosos a ponto de prejudicar a obra criativa de Deus? Varias poderiam ser as respostas: vou apontar somente algumas.

Em primeiro lugar, aquilo que atrapalha a ação do Espírito Santo na nossa vida é o medo. Este medo se manifesta de muitas formas e maneiras: medo que o outro não goste de nós; medo de dizer algo que fere os outros; medo de não sermos aceitados. Ficamos trancados em nós mesmos para não correr o risco de ficarmos ofendidos, de sofrer por causa de uma magoa: a que ponto chega o nosso egoísmo, não é? E assim perdemos a ocasião de experimentarmos o prazer e a felicidade de uma vida diferente, uma vida de doação aos irmãos e as irmãs, uma vida fora da rotina corriqueira, mais criativa e dinâmica. É o dinamismo do Espírito que impulsiona a nossa vida a criar situações sempre nova para permitir a graça e Deus de moldar a humanidade através da nossa disponibilidade. É a força daquele mesmo Espírito que levava Jesus a enfrentar com coragem os poderosos do tempo, que deve agir em nós para não ficarmos calados perante a injustiça que encontramos no mundo, mas sim inventarmos novas situações para que o povo mais simples possa viver num mundo mais justo e solidário. Somos passivos porque amedrontados daquela diferença qualitativa que o Evangelho nos apresenta e que em Jesus se tornou bem visível. Tememos o julgamento dos amigos, dos colegas, até dos familiares e, por causa disso recuamos, voltamos atrás, preferindo a tristeza da vidinha medíocre da massa, á grande felicidade dos poucos discípulos de Cristo. O cara, deixa de frescura e segue a Jesus: tá?

 

3. Usai o dinheiro injusto para fazer amigos... Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16, 9.13b).

Como é que se manifesta esta novidade, esta criatividade que o Espírito deveria realiza em nós? O exemplo que Jesus traz é em referencia ao nosso relacionamento com o dinheiro. Estes últimos versículos do Evangelho de hoje expressam, de uma forma contundente a economia de Jesus, a teoria econômica que sai com força das paginas do Evangelho. O dinheiro é sempre injusto: esta é a sentença clamorosa e, ao mesmo tempo escandalosa de Jesus.  È claro que não é a qualquer dinheiro que Jesus se refere, o dinheiro que serve para comprar o pão, os remédios, e tudo aquilo que necessita para manter a nossa vida. O dinheiro é injusto quando é acumulado, guardado nos cofres dos bancos, porque este é todo dinheiro tirado do povo, que gera desigualdade e pobreza. Em um mundo ganancioso como é aquilo no qual vivemos, esta proposta de Jesus, que o Espírito Santo deveria produzir na nossa vida real, parece como uma verdadeira provocação. Na realidade, ou seja, na Verdade do Evangelho, esta é exatamente a diferença, a diversidade que o Evangelho, impulsionado pela ação do Espírito Santo, deveria realizar no meio de nós. Vida despojada porque Cristo se despojou de tudo para dar a nós o tudo de Deus.  Vida simples, despojada, porque é o amor de Deus que é derramado em nós pelo Espírito (cf. Rom 5,5) e isso nos basta, é suficiente para vivermos. Só o Espírito Santo pode impelir em nós idéias tão revolucionarias e ousadas como estas pra deixar de queixo aberto todos aqueles que vivem mergulhados no egoísmo do mundo. E nós, então, passamos fechando a boca deles, convidando-os a não desperdiçar a própria única vida se apegando aquilo que passa, mas se doando totalmente aos irmãos e as irmãs, sobretudo mais pobres, para conseguirmos um tesouro no céu, tesouro que sem duvida ninguém vai roubar (nem os políticos corruptos que andam nas nossas cidades).

 

Pe Paolo Cugini, Tapiramutá-BA

 

 

DOMINGO XXIV/C

 



(Ex 32,7-11.13-14; Sal 51; 1 Tim 1, 12-17; Lc 15, 11-32)

 

Paolo Cugini

1.Um homem tinha dois filhos” (Lc 15,11).

Dizia um grande poeta e filosofo francês, Charles Péguy, que quando estas palavras são proclamadas, ninguém agüenta: toda a humanidade chora. A parábola do filho pródigo, que acabamos de ouvir, mexe com as nossas entranhas, com o nosso emocional, porque chega na profundeza da nossa interioridade desvendando a nossa mesma realidade, a verdade de quem somos nós mesmos. Em outras palavras o conteúdo da Parábola do filho pródigo contem uma verdade tão profunda e autentica que ninguém consegue se esconder: arrebenta a nossa alma. Por isso é importante lê-la em silencio, meditá-la no escondido, para saborear aquilo que tem a dizer para mim, pela nossa conversão e, sobretudo, pela autenticidade da nossa seqüela ao Senhor. Se analisarmos com atenção a parábola do filho pródigo tem dois ensinamentos fundamentais. De um lado revela algo sobre a condição humana e do outro a mesma parábola revela algo sobre Deus. OS dois filhos são o símbolo da humanidade: por isso é importante parar a nossa atenção sobre eles pra ver o que a postura deles tem pra nós ensinar.

 

2.O filho mais novo disse ao Pai: ‘Pai dá-me a parte de herança que me cabe’. E o Pai dividiu os bens entre eles” (Lc 15, 12).

Existe toda uma humanidade que sonha a realização da própria vida fora do alcance de Deus. São as pessoas que um dia levantam da cama decidindo que a vida é deles e a ninguém devem prestar conta. É aquela convicção que vem da juventude, da saúde, das condições materiais que nos levam a acreditar que somos os únicos senhores da nossa vida. Perante esta arrogância acho extremamente interessante a postura do Pai: não questiona nada, mas faz aquilo que o filho pede: o deixa livre de realizara sua vida do jeito que ele quiser. É um grandíssimo ensinamento para os pais: a paternidade é fecunda quando é alicerçada na liberdade, pois a liberdade é um reflexo da imagem de Deus. Quando pelo contrario os pais querem fazer de tudo para impedir que os filhos façam besteiras, chegando até a si substituir á liberdade dos próprios filhos, é ali que o bicho pega. Nessa altura podemos questionar: mas porque o pai não disse e não fez nada para impedir que o filho saísse de casa? Ao longo do texto podemos encontrar varias respostas. A primeira é que o pai era tranqüilo na própria tarefa de Pai. Ele sabia que tudo aquilo de bom que tinha semeado no coração do filho na infância e na adolescência, antes ou depois teria surtido efeito. De fato, na hora do grande sofrimento e da grande perdição quando o filho entrou em si mesmo, quem encontrou no fundo do seu coração? O Pai! É na infância e na adolescência que as forças educativas e espirituais devem ser dobradas para colocar os filhos no caminho da realidade. A segunda resposta ao problema sobre colocado é que o pai conhecia muito bem o seu filho e sabia que era daquela raça rebelde de cabeça dura, metido a sabido, que não vai com a cara de ninguém, que se acha o tal e que quando bota na cabeça uma idéia não tem jeito algum para tirá-la. Existe toda uma humanidade que para descobrir a própria identidade, para descobrir o sentido da própria vida parece que deve quebrar a cara. O filho que sai de casa descobre que o tesouro maior que tinha na vida estava exatamente lá aonde tinha decido de se afastar. São os mistérios da vida: às vezes precisamos rodear o mundo para descobrirmos aquilo que está perto de nós. Tem um terceiro ensinamento que podemos tirar da historia deste filho rebelde. Os prazeres da carne, junto com os prazeres materiais que o mundo nos oferece são puras ilusões, não proporcionam a felicidade, mas sim esvaziam a pessoa que entra neste caminho. Tudo mundo sabe disso, mas poucos conseguem ficar de fora do caminho da perdição. Porque? Porque a força dos sentidos é devastadora, e que não aprende a lidar com a própria interioridade desde a infância, para controlar os instintos e assim dirigi-los aonde nós quisermos, se torna escravo deles. É isso que nos ensina esta historia triste: o caminho da liberdade está no amor do Pai, é Ele a fonte da nossa vida.

 

3.O filho mais velho estava no campo... Ficou com raiva e não queria entrar”(Lc 15, 25.28).

A postura do filho mais velho nos ensina que não adianta ficar perto do Pai: depende como ficamos. Podemos, de fato, fugir da nossa realidade, permanecendo no lugar. Quantas vezes nas nossas famílias têm familiares que não ligam com nada, parece que estejam sempre voando. E quando nos distanciamos da realidade, começamos a pensar besteiras, a fantasiar, botando gosto ruim naquilo que é bom. “E tu nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos”. Oh, coitado! Quando perdemos o contato com a realidade, nos fechando em nós mesmos, construindo no nosso imaginário um mundo de fantasia, transformamos o bem em mal, prejudicando assim o nosso relacionamento positivo com os outros, sobretudo com as pessoas que mais amamos.  Interessante é também um outro dato. Foi necessário o filho mais novo se mandar e estragar a sua vida, para que pudesse emergir aquilo que se escondia no fundo do coração do filho mais velho. Quer dizer isso? Acho que esta Palavra nos ensina a não julgar os eventos na sua manifestação factual, mas precisamos sempre colocar tudo nas mãos de Deus, esperando que seja Ele á abrir os nossos olhos para interpretarmos assim a historia do jeito que Deus a está escrevendo. De uma certa forma é a perdição do irmão mais novo que salva o irmão mais velho do abismo do seu egoísmo. Tudo isso é bastante impressionante, porque nos mostra o lado providencial de Deus, que respeita a nossa liberdade e sabe realizar historia bonitas com os pedaços da nossa humanidade esbagaçada.

 O filho mais velho, apesar de ter sido fiel ao pai permanecendo perto dele, precisou sentir uma verdade: “Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu”. Mais uma vez é o Pai que com a sua realidade, que é a mesma Verdade, purifica as ilusões falsas formadas ao longo do tempo na nossa cabeça, restituindo paz e serenidade a alma. É a Palavra do Pai que precisamos escutar para que tudo na nossa vida seja renovado. É o amor do Pai que devemos acolher, amor que purifica e renova constantemente as nossas vidas. Por isso vale a pena estarmos aqui reunidos no redor desta Eucaristia, para nos alimentarmos do pão da Palavra de Deus que alimenta a nossa alma, nos orientando sobre o cominho a ser tomado, e para nos alimentarmos do corpo de Cristo que infunde nos nossos corações o amor de Deus, do pai misericordioso, que almeja a toda hora a nossa salvação. Amém.

 

Pe Paolo Cugini, Tapiramutá-BA.

DOMINGO XXIII/C

 



(Sab 9, 13-18; Sal 90; Filêmon 9-10.12-17; Lc 14, 25-33)

 

Paolo Cugini

1.Ensinai-nos a contar os nossos dias e daí ao nosso coração sabedoria!” (Sal 90).

Este versículo do salmo 90 nos ajuda bastante a entrar na liturgia da Palavra de hoje. É de fato, um versículo que chama a nossa atenção sobre a realidade da nossa vida que é uma e corremos o risco de desperdiçá-la. Aprender a contar os dias da nossa vida significa, então, aprender a viver a vida como um projeto, como um caminho único com uma meta bem definida. Por isso o salmista pede sabedoria, para que ao longo da vida o caminho possa manter-se firme, para não desviar nem à direita nem à esquerda. E é isso mesmo que também nós queremos pela nossa vida: chegar ao final dos dias da nossa vida para agradecermos a Deus de termos conseguido viver fieis ao projeto ao qual Ele nos chamou. No começo desta reflexão, então, nos perguntamos: como é possível uma vida fiel á vocação que Deus nos confiou?

 

2.Se alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até de sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lc 14, 26).

O que Jesus quis dizer com estas palavras duríssimas e quase incompreensíveis?  Será que Ele não exagerou? E, a final de conta, é mais importante ser discípulo que amar a minha mãe? Não é demais isso?

Na realidade o discurso que Jesus hoje puxa no Evangelho é extremamente profundo. Discípulo é uma pessoa que caminha atrás de Jesus, ou seja, é uma pessoa que entendeu que a vida, o amor, tudo encontra-se nele: não existe no mundo todo alguém que possa oferecer aquilo que Jesus oferece. Por isso alguém se coloca em movimento para buscar aquilo que não foi encontrado em lugar nenhum. De fato, se é verdade que minha mãe me deu a vida e que ela merece por isso todo o nosso carinho, é também verdade que ela mesma não pode nos proporcionar uma vida eterna. Assim também é verdade que o amor de uma mulher é algo de sublime, incomparável, mas é também verdade que nunca o amor humano é puro: fica sempre algo de egoístico, de interesseiro que ao longo dos anos emerge e provoca desavenças. Também nas historias de amor mais deslumbrantes existe algo que deve ser purificado para que a confiança possa se tornar total. O problema, então, é entrar em mi mesmo para mi perguntar: eu quero o que? Quero a vida verdadeira, o amor verdadeiro? Então somente Jesus pode me oferecer isso: levanta-te e caminha! Desapega-te dos amores terrenos e anda atrás do Senhor, para que seja Ele a transformar o egoísmo em amor, a desconfiança em confiança.

 

3.Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim não pode ser meu discípulo” (Lc 14, 27).

Somente quem se desapega dos afetos terrenos e se decide com firmeza a caminhar atrás de Jesus descobre um dos maiores mistérios da humanidade: o amor é sofrimento. O símbolo maior do amor é a cruz de Cristo: porque? Qual foi o sentido da Cruz? A cruz é o símbolo do amor extremo, impossível, sobre-humano, divino. A cruz é o símbolo do amor espantoso do homem-Deus de nome Jesus, que não fugiu perante as ameaças da morte. A Cruz é o símbolo do amor de Jesus, que não lançou a esponja perante a traição daquele que Ele amava, os seus discípulos, mas decidiu enfrentar a humilhação e ir até o fim. Nunca teve na historia da humanidade decisão tão sofrida. Amor não é identificável com algo de espontâneo, da forma que o mundo passa, mas sim decisão continuamente renovada. Amor não se identifica com uma paixão do momento, mas é fidelidade extrema, ao projeto que um dia foi vislumbrado como único e não repetível. Além do mais, ninguém consegue carregar a sua cruz, vivendo com fidelidade a própria vocação se não tiver a humildade de se colocar sempre e continuamente atrás do Senhor. A vida, neste sentido, é uma continua caminhada de aprendizagem. Quem se acha o tal, quem acha de ter já entendido tudo sobre a vida de fé, é destinado a quebrar a cara. A vocação seja ela qual for, o matrimonio ou a vida consagrada, é cruz, sofrimento, morte a si mesmo e ao mundo. É isso que Jesus quis comunicar para os seus discípulos. Se quisermos abastecer a nossa alma do amor que vem de Deus e da vida eterna que só Ele pode oferecer, não existe outro caminho que este. Se Deus é eterno tudo aquilo que Ele produz tem este marco de eternidade, marco que aqui na terra é pago ao preço duríssimo da incompreensão, solidão, perseguição. Por isso é necessário manter os olhos constantemente fitos em Deus, para não ficarmos confundidos com as ilusões que constantemente o mundo nos proporciona. É nessa altura que entra no discurso que estamos realizando mais uma pergunta: o que precisa fazer para mantermos a nossa caminhada firme no Senhor? Como podemos segurar a nossa vocação para nunca cair?

 

4.Com efeito, qual de vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro e calcula os gastos” (Lc 14, 28).

 

O seguimento a Jesus exige calculo, ou seja, uma constante atitude a pensar, avaliar, refletir sobre as condições de possibilidade da caminhada. Ninguém pode ser tão ingênuo pra pensar de poder seguir á Jesus dentro este mundo devastado do egoísmo, sem abastecer a própria alma e a própria mente de tudo aquilo que Deus nos proporcionou em Cristo. Este sentar-se e calcular os gastos, podemos interpretá-lo como o tempo da juventude, aonde torna-se fundamental passar muito tempo na reflexão para entender e depois se decidir sobre a vocação á qual o Senhor nos chama. É o tempo do namoro, por exemplo, para os jovens que Deus chama á vocação do matrimonio. É o tempo do seminário ou do convento para os jovens que Deus chama á amar na vida consagrada. Este ato, porem, do sentar-se para calcular, ou seja, para avaliar as condições de possibilidade da caminhada, é sem duvida alguma uma atitude que deve acompanhar toda a nossa vida. Ao longo dos anos, de fato, não apenas mudam as condições de vida, mas mudamos também nós mesmos. Por isso torna-se necessário um continuo entrar em si mesmo para atualizar o percurso realizado, renovando as energias, reintegrando dentro da caminhada as experiências positivas e negativas realizadas.

 A vida entendida como caminhada atrás de Jesus é sim cruz, sofrimento, mas é um sofrimento que surge de uma experiência de amor incomensurável, que é alimentado pelas mesmas provações sofridas ao longo do caminho: é por isso e, só por isso, que a cruz se torna leve. Pedimos a Deus nesta Eucaristia de permanecer sempre conosco e de manifestar o seu amor, sobretudo nas horas tristes e sofridas da nossa vida.

 

Pe Paolo Cugini, Tapiramutá-BA

 

 

VII°DOMINGO-C

 



(1 Sam 26,2.7-9.12-13.22-23; Sal 103; 1 Cor 15, 45-49; Lc 6, 27-38)

 

Paolo Cugini

 

1. O Evangelho que acabamos de ouvir joga na nossa cara um problema radical: a incapacidade de amar o inimigo que, em outras palavras, podemos chamar de ódio. Não existe um cristão sequer que admita isso, mas na realidade se trata disso mesmo: o ódio. E o ódio não vem de fora, mas de dentro de nós (Cf. Mc 7). Por isso não queremos admiti-lo: é duro demais. Ninguém quer ser considerado um monstro, pior ainda se for um cristão conceituado, de respeito. Não posso aceitar algo que, com as palavras e a postura externa, estou negando. A coisa pior que pode acontecer é a justificação do ódio como algo de natural. Quando isso acontecer, quer dizer que a Palavra de Deus não tem mais poder sobre nós. Então, as leituras de hoje são por aquelas pessoas que, perante uma Palavra forte e clara, não ficam resistindo, se justificando, mas se questionam, procurando melhorar a própria existência.

 

2.Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam e rezai por aquele que vos caluniam” (Lc 6,27-28).

Engolir estas palavras não é pouca coisa não. Pensar que a nossa vida cristã deve passar necessariamente pela atitude que Jesus acabou de apontar, requer uma verdadeira mudança de vida. Talvez seja este o fascínio do Evangelho e da proposta cristã: é algo fora das possibilidades humanas, é algo possível somente através de uma intervenção do alto. Só Deus mesmo pode nos ajudar á amar as pessoas que nos odeiam, que infernizam a nossa vida, que cada dia tentam de destruir a nossa existência, que falam mal da gente na rua. O problema, colocado de um ponto de vista humano seria o seguinte: precisa amar estas pessoas? Porque dar ousadia para alguém que me odeia, que não gosta de mim e faz questão de tudo mundo saber disso? Aquilo que nós resolvemos fazer em circunstâncias aparecidas é fechar a cara, não dar ousadia, viver como se estas pessoas não existissem. Na realidade, apesar dos nossos esforços, o ódio das pessoas afeta a nossa alma ,deixa a gente mais fraca, debilitada. O homem, a mulher, não tem poder de enfrentar o ódio. Ignorar o ódio, fechar a cara com os nossos inimigos, não resolve o problema na raiz: vai chegar o dia que estouramos, que não agüentamos mais, pois, o ódio acumulado no tempo destrói e corroe devagarzinho a nossa alma. É como um câncer que, lentamente, afeta o organismo humano.

Amai os inimigos” é a única forma de destruir o câncer do ódio. Só opondo o amor ao ódio, este devagarzinho desfalece, desmorona. O mesmo são Paulo, encerrando a carta aos Romanos, aconselhava de responder com o bem, o mal que recebemos. Somente encontrando o amor, o ódio perde a própria força devastadora, aniquiladora. E aqui entra o nosso problema: aonde encontrar uma força dessa? Como conseguir aquela lucidez que nos leva a retrucar com o amor ao ódio que recebemos, num momento aonde a nossa mente está totalmente confundida, por causa dos golpes mortais do ódio? É fácil falar, escrever, meditar em cima disso, mas quando na vida cotidiana estamos sendo massacrados por alguém, como conseguir a viver o conselho evangélico de Jesus?

 

3. “Então a vossa recompensa será grande e sereis filhos do altíssimo” (Lc 6, 35).

A primeira simples resposta ao problema levantado pelo mesmo Evangelho é esta: não deixar que o mau presente obscureça o horizonte da nossa vida. Manter constantemente a nossa mente, o nosso coração em Deus. É aquilo que nos aconselha o autor da carta aos Hebreus quando no capitulo 12 escreve: “Caminhai fitando os olhos em Cristo, o autor da vossa fé”. Para que a nossa mente fique constantemente em Deus, pensando constantemente aquilo que Deus realiza em nós através de seu Filho, ou seja, a possibilidade de nós mesmos nos tornarmos filhos de Deus, precisa abastecer a nossa alma da sua Palavra. Este é o sentido autentico da oração. De fato, devo aprender a procurar a Deus não apenas na hora do aperto, da dificuldade, mas manter um constante dialogo com Ele. Só assim o mal recebido no momento presente, poderá ser colocado dentro um horizonte de vida e de caminhada bem maior. Quando o ódio me afeta de uma forma tal que não me deixa dormir, é um sintoma claríssimo que não estou imunizado contra isso, e não estou imunizado porque a minha vida não é alicerçada em Deus, mas em mi mesmo. Uma vida embrulhada no egoísmo, em outras palavras uma vida orgulhosamente em busca de si mesma, não agüenta a força devastadora do mal, do ódio. Quem não reza será forçado a sucumbir ao ódio do mundo.

Em segundo lugar, a melhor maneira para aprendermos a viver o Evangelho nestes momentos terríveis, é abastecer a nossa alma com a vida daquele que doou a própria vida para todos nós, perdoando no mesmo momento da morte violenta, os próprios algozes. Por isso a Eucaristia é fundamental nessa caminhada. Na Eucaristia nós comemos o Corpo de Cristo, o Corpo do Filho de Deus, que não apenas nos convidou á amar os inimigos, mas fez ele primeiro aquilo que falou para nós. Alimentando a nossa alma com consciência daquilo que estamos fazendo e não por costume, o amor de Cristo derramado em nós pelo sacramento que recebemos, transformará o ódio que mora em nós em amor. Este é o sentido da nossa fé em Deus e no seu Filho Jesus. A Igreja nos ensina á acreditar que, aquilo que ouvimos e vimos na humanidade de Jesus, se realiza já nesta vida presente em todos e todas as pessoas que se alimentam do seu corpo. Não existe possibilidade de amar a não ser em Cristo, por Cristo e em Cristo.

 

4. Como, então, saber se as Eucaristias que estamos participando, estão surtindo efeito? Qual é a prova que estamos amando os inimigos e não apenas lidando com eles excluindo-os da nossa existência?

“Se alguém te der uma bofetada numa face, oferece também a outra. Se alguém te tomar o manto, deixa-o levar também a túnica. Dá a quem te pedir e, se alguém tirar o que é teu, não peças que o devolva” (Lc 6, 30).

A verdade do amor de Deus na nossa vida, não se esgota num simples sentimento interior, mas se manifesta exteriormente no desapego ás coisas materiais. O amor verdadeiro que vem de Deus e que nós vimos realizado em Jesus Cristo, liberta as pessoas. A verdade desta Eucaristia não é o cumprimento de um preceito, mas a transformação da nossa vida, das nossas atitudes, dos nossos relacionamentos. A verdade de cada Missa, é um pouco mais de liberdade na nossa vida. Comer o Corpo de Cristo no Domingo significa aceitar que seja Ele o principio inspirador da nossa existência. Aquilo que deve acontecer fora da porta da Igreja é uma experiência de vida nova, aquela vida nova moldada pelo amor de Cristo. Pois esta é a verdade: em Cristo somos criaturas novas, homens e mulheres novas. Vivamos, então, conforme aquilo que recebemos.

 

Pe Paolo Cugini, Tapiramutá-BA

 

 

                                                                                                                                             

IV°DOMINGO DO TEMPO COMUM/C

 




(Jer 1,4.5-17;Sal 71; 1 Cor,31-13,13; Lc 4,21-30)

 

 

Paolo Cugini

 

1. Estamos celebrando os primeiros domingos do tempo comum e a liturgia da Palavra nos oferece a oportunidade de aprofundar o nosso conhecimento de Jesus, o Salvador do mundo e da nossa vida. A presença de Jesus na historia é algo de radicalmente novo: nunca houve uma pessoa com um carisma tão grande que até hoje, depois de dois mil anos, influencia a vida de milhões de pessoas. Nunca teve um homem que se declarou Deus e que, nos atos, manifestou a verdade da própria identidade. Escutar essa pessoa, ficar atentos, fitar os olhos nele para captar a sua proposta, que para nós é vida: é isso a tarefa de um Cristão. Para conseguirmos realizar isso, precisamos limpar a nossa mente, a nossa alma, fazer espaço na nossa vida dos falsos conhecimentos, da superficialidade que nos caracteriza. O perigo é identificar a proposta inovadora de Jesus com um programa político, ou com uma proposta humanitária. O grande perigo é puxar Jesus do nosso lado, fazendo dele um ídolo, sem ter entendido nada  da sua proposta, perdendo assim a ocasião de conhecê-lo por aquilo que Ele é: o Santo de Deus.

 

2. No evangelho que acabamos de ouvir Jesus, logo que entra no mundo, que manifesta a sua identidade, provoca uma reação negativa. Isso é já um sinal que deve ser escutado, absorvido: Jesus não veio ao mundo para agradar ninguém. A proposta de Jesus não é política, mas espiritual. Jesus é o Caminho proposto para o Pai para permitir ao homem de sair do seu egoísmo, do orgulho, de uma vida negativa mergulhada na mentira. A vida de Jesus, o seu jeito de ser, de viver, de agir, de falar manifesta isso, descortina a nossa loucura, a nossa vida sem rumo e sem sentido. A vida cheia de Jesus, repleta de sentido, desvende o nosso vazio: existencial, moral, religioso. De fato, quantas pessoas que o mundo apresenta como heróis, na realidade não apresentam nenhuma proposta positiva? E também, quantas pessoas assim chamadas “religiosas”, não representam para nós uma proposta atraente?  Todo este vazio, este nada que o mundo tenta esconder com as suas artimanhas, perante Jesus aparece em toda a sua verdade, ou seja, em toda a sua miséria. Perante a pessoa de Jesus o mundo aparece como miserável e todos aqueles que estão mergulhados nas propostas mundanas aparecem como um monte de miseráveis, perdidos, sem futuro. É isso que doe e que ninguém quer escutar. Por isso logo que Jesus entra no mundo e se manifesta, provoca raiva. É a raiva do mundo.

 

Quando ouviram estas palavras de Jesus, todos na sinagoga ficaram furiosos. Levantaram-se o expulsaram da cidade” (Lc 4, 28-29).

 

Jesus mexe com o alicerce do mundo, com aquilo que fundamenta e, ao mesmo tempo alimenta o mundo, ou seja, a ignorância. O mundo é ignorante, não conhece a verdade porque não conhece a Palavra de Deus. De fato, perante a postura dos judeus que questionavam as palavras de Jesus, ele cita dois trechos do Antigo Testamento que mostram a verdade da sua atitude. O mundo é ignorante e, sendo assim, vive na ignorância, na ausência de conhecimento. Uma pessoa que vive na ignorância não sabe distinguir a verdade da mentira. Desta forma, podemos afirmar que, as pessoas mundanas, vivem na ignorância.  O mundo é interessado a deixar as pessoas na ignorância, para que não vivam da verdade. O mundo egoísta e orgulhoso se alimenta de mentiras, não quer saber de caridade alguma.

 

A Caridade é paciente, é benigna; não é invejosa, não é vaidosa não se ensoberbece, não faz nada de inconveniente, não é interesseira, não se encoleriza, não guarda rancor” (1 Cor, 13, 4-5).

 

São palavras de Paulo que ouvimos na segunda leitura de hoje: a caridade, que é Jesus, a sua vida, a sua maneira de ser é exatamente o contrario do egoísmo do mundo. Entre o mundo e Jesus não tem amizade: precisa escolher. Se na nossa vida estamos tentando amenizar a proposta de Jesus, querendo mostrar que a nossa vida mundana não tem nada a ver com a religião, é porque estamos totalmente mergulhados na mentira do mundo e, quem vive no mundo e do mundo, não, sabe de nada porque não enxerga a verdade.

O fato que sinto raiva de Jesus, não é totalmente negativo: é pior aquele que não sente nada. De fato, se as Palavras de Jesus doem dentro de mim, quer dizer que ainda estou sensível, ainda a verdade mexe comigo. Esta sensibilidade á Palavra de Jesus é o primeiro passo da conversão. Deve acontecer um dia que alguém me mostre a minha real situação espiritual. Se não tiver este encontro com a Verdade de uma forma que descortina de uma vez as minhas maracutaias, dificilmente conseguirei seguir Jesus.

 

3. “ Não tenhas medo, senão eu te farei tremer na presença deles. Com efeito, eu te transformarei hoje numa cidade fortificada, numa coluna Del ferro, num muro de bronze contra todo o mundo” (Jer 1, 17-18).

 

Tudo aquilo que aconteceu em Jesus, em virtude do seu Espírito que recebemos no Batismo, deve acontecer conosco. Quer dizer que como por Jesus, também por nós, a nossa existência deve se tornar tão transparente, tão santa da incomodar as pessoas, até os nossos amigos e parentes. Deus decidiu de salvar o mundo mandando o seu mesmo Filho para que tudo mundo pudesse ter a possibilidade de deparar com a Verdade. Jesus hoje é presente na sua Igreja, é presente nos cristão que se reconhecem pelo fato que incomodam, pelo fato que a vida deles é diferente. De fato a vida do cristão, não é baseada no egoísmo, no desejo de aparecer ou de querer sempre mais, mas, pelo contrario, um cristão, seguindo o exemplo de Jesus, deseja se doar, partilhar com os irmãos, deseja contribuir á realização do Reino de Deus, que é um reino de Justiça, de Paz e de fraternidade. Só que, logo que se esforça de viver isso com entusiasmo e dedicação, o mundo vai encima dele com tudo. É isso mesmo aconteceu também com o profeta Jeremias, cuja historia escutamos na primeira leitura. Perante a sua queixa por aquilo que estava acontecendo com ele, Deus não prometeu de amenizar o sofrimento, mas de fortalecer a sua vida, para que sentindo a presença de Deus, não recuasse de um passo perante a maldade do mundo, ma avançasse sem medo.

 

4. É isso mesmo que pedimos a Deus como fruto desta Eucaristia: de ficar firmes na nossa caminhada, também perante as dificuldades e as criticas do mundo, para sermos sinal de uma vida diferente, mais autentica e verdadeira. Pedimos a Deus que faça de nós não pessoas medrosas, inconsistentes, incapazes de levar em frente a sua proposta de amor, mas, pelo contrario pedimos que esta Eucaristia nos transforme para conseguirmos ser como Jeremias, “cidades fortificadas”, que ninguém poderá derrubar.  Seja, então, o Senhor a nossa única força.

 

Pe Paolo Cugini- Tapiramutá-BA