lunedì 23 settembre 2019

Domingo XXIX°/C



(Ex 17,8-13;Sal 121; 2 Tim 3, 14-4, 2; Lc 18, 1-8)

Paolo Cugini


1. O tema da liturgia da Palavra de hoje é sem duvida nenhuma a oração. É um tema importante porque é algo que nos leva ao coração da vida religiosa. É através da oração eu entramos em dialogo com Deus, experimentamos a sua presença ou, às vezes, a sua ausência. É sempre através da oração que medimos também o nosso crescimento interior, o nosso desenvolvimento espiritual. É aqui entra um grande paradoxo. De fato, se de um lado sabemos da grande importância da oração na vida espiritual, de outro lado se constata a escassa atenção que as mesmas pessoas religiosas oferecem para aprimorar a própria oração, o próprio jeito de rezar. E assim encontramos pessoas que há décadas freqüentam a Igreja, que são engajadas nos trabalhos da Igreja, que são lideranças ativa e participativa da Igreja, mas que rezam como crianças, com o jeito que aprenderam quando criança. O problema é entender o sentido da oração assim como a Palavra de Deus o apresenta, para podermos aprimorar o nosso jeito de rezar.

2.E quando Moisés conservava a mão levantada, Israel vencia; quando abaixava a mão, vencia Amalec” (Ex 17,11).
Este versículo expressa um dado extremamente importante da oração. Se entrarmos em nós mesmos e avaliarmos com atenção o conteúdo das nossas orações, talvez não encontramos nelas outra coisa a não ser nós mesmos, com os nossos problemas. Entramos na oração de uma forma tão egoísta e pensamos que Deus seja como um talismã pronto a atender os nossos pedidos que, na maioria das vezes, são pedidos materiais. O dato que chama atenção neste versículo é que Moisés passa o tempo todo rezando para os outros e não pra si mesmo. Além do mais é uma oração continuativa, ou seja, que dura até quando dura a guerra, mostrando assim fé e confiança em Deus. Nada, então, de formula estereotipada, rápida, impessoal, mas sim uma oração que reflita a intensidade daquilo que na realidade está acontecendo. A oração deve acompanhar a realidade, e deve expressar aquilo que na realidade acontece. Interessante, também, refletir sobre o sentido da realidade que sai do versículo que estamos analisando. A realidade é uma guerra, um constante conflito que podemos vencer somente com a ajuda de Deus. Esta ajuda nos é proporcionada não apenas com a nossa oração, mas também com a oração dos outros. É este o versículo que justifica a espiritualidade contemplativa, a oração das monjas dos mosteiros de clausura, aquela vida de total oração que aos olhos do mundo é absurda, mas que encontra a sua justificação na mesma vida de Jesus.

3.Jesus contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre e nunca desistir” (Lc 18, 1).
Problema: porque esta necessidade de rezar sempre? E como se manifesta esta necessidade? Olhando ao contexto da parábola que Jesus contou para explicar o sentido do seu pedido, na oração constante e ininterrupta buscamos a Justiça de Deus: “E Deus não fará justiça aos seus escolhidos?” (Ivi). A justiça de Deus se manifesta como misericórdia. Por isso é necessário rezar sempre, para abastecermos a nossa alma da misericórdia de Deus e, assim, esvaziarmos da maldade que vem ao nosso encontro da justiça egoísta e interesseira dos homens. Rezar sempre significa também a confiança extrema e irredutível para com Deus, manifestando assim a própria natureza espiritual de filhos. Nunca desistir de rezar para sempre viver em Deus. Quem desiste de rezar é porque quer, ou decide, realizar a própria vida de uma forma autônoma, independente. Por isso a oração é importante na caminhada cristã, porque desvende o sentido autentico e profundo da própria fé. Quem vive uma caminhada de Igreja não pode viver sem a oração. Aliás, quem vive e deseja dar um sentido autentico á própria vida não pode de jeito nenhum pensar de ir pra frente sem manter um dialogo constante e profundo com Deus. Além do mais a insistência na oração manifesta perante Deus aquilo que a gente é: nada. Este é um dos sentidos mais profundos da oração: somos carne e sangue, um punhado de células e nada mais do que isso. É só isso que somos e para dar um sentido á este punhado de células precisamos um Espírito, um contato constante com Deus, o nosso Pai. Acho que é isso que o homem experimenta quando se afasta de Deus, interrompendo a ligação natural com o próprio Pai. E assim, quanto mais alguém interrompe a ligação natural, que é uma ligação espiritual, tanto mais sente-se forçado a alimentar a própria alma de matéria.

4.Toda a escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, para argumentar, para corrigir e para educar na justiça a fim de que o homem de Deus seja perfeito e qualificado para toda boa obra” (2 Tim 3, 16).
Se for verdade, como vimos até agora, que a oração é fundamental para alimentar a fé, é também verdade que as vezes não sabemos como rezar, o que dizer, como orientar as nossas orações. É são Paulo que vem em nossa ajuda nos lembrando que é na Sagrada Escritura que encontramos as palavras certas que nos auxiliam na oração. Existe toda uma tradição na Igreja Oriental que aprendeu a rezar repetindo continuamente breves versículos do Evangelho ou dos salmos. Aprender a preencher as nossas orações com as palavras que encontramos na Bíblia é um ótimo método para sermos escutados pelo nosso Pai. Esvaziar a oração das palavras inúteis e egoístas falando só com versículos bíblicos, rende a oração pessoal mais autentica e verdadeira.

5. A liturgia da Palavra nos mergulhou num grande paradoxo: a oração constante e a nossa pratica inconstante e, sobretudo, inconsistente. Nos declaramos católicos, crentes, mas não fazemos nada para crescermos no dialogo constante com Deus, não cultivamos a pratica fundamental da oração. É no dialogo com Deus que aprendemos ao mesmo tempo a conhecer melhor a Deus e a nós mesmos. É no caminho da oração que aprendemos os segredos da vida espiritual. Somente nos afastando da vida religiosa superficial, feita de formulas repetidas sem pensar muito nelas, e entrarmos em um dialogo profundo e corriqueiro com Deus podemos crescer no amadurecimento da vida espiritual, que é a base da vida de fé.





Domingo da dedicação da basílica do Latrão



(Ez 47,1-2.8-9.12; Sal 46; 1Cor 3,9-11.16-17; Jo 2,13-22)
Paolo Cugini

1. Segundo uma tradição que remonta ao século XII, celebra-se neste dia o aniversario da dedicação da Basílica do Latrão, construída pelo imperador Constantino no IV° séc. d.C. Esta festa é importante porque a Basílica do Latrão é chamada “Mãe e cabeça de todas as Igrejas da Urbe e do Orbe (de Roma e do mundo)” e também como sinal de amor e unidade para com a cátedra de Pedro, que “preside a assembléia universal da caridade” (Inácio de Antioquia). Com esta festa a Igreja nos oferece a oportunidade de refletir um pouco sobre o sentido da mesma e, assim, avaliarmos o sentido da nossa pertença á ela. São as leituras de hoje que nos oferecem o conteúdo para respondermos aos nossos questionamentos sobre a Igreja e a sua natureza.

2. A água corria do lado direito do templo, a sul do altar... Estas águas correm para a região oriental, descem para o vale do Jordão, desembocam nas águas salgadas do mar, e elas se tornarão saudáveis” (Ez 47, 1.8).
Esta imagem do profeta Ezequiel mostra um elemento interessante sobre a Igreja. Interpretando o versículo citado, podemos afirmar que da Igreja sai a água (do batismo) que purifica a humanidade toda. Existe toda uma humanidade “salgada” pelo estrago do pecado que precisa ser lavada, purificada: é este o sentido do batismo. Claramente esta purificação não é feita apenas com a água sacramental, mas também através da ação de todos aqueles que foram purificados, batizados. A Igreja foi inventada por Deus com este intuito: oferecer um espaço para que o mundo seja purificado. A água do batismo purifica qualquer água salgada que encontrar: nada resiste a força purificadora dela. Entender isso é fundamental para descobrir a gratuidade da ação de Deus e, sobretudo, a verdade da sua força, do seu poder. Se Deus criou o homem e a mulher foi com a intenção que eles vivessem para sempre (Cf. Sab 2,3). Se este projeto foi estragado pelos mesmos homens e mulheres, por causa da desobediência, que não é nada mais que uma forma de teimosia, de orgulho, isso não levou Deus a desistir da sua idéia originaria. Pelo contrario, toda a historia da salvação que nós lemos na Bíblia, é a narração do esforço de Deus de consertar, purificar os erros dos homens. O ponto final deste esforço é Cristo, o Filho único de Deus, que veio ao mundo para mostrar a toda humanidade o caminho de saída do mundo do pecado, para entrar na gloria de Deus. O batismo é o sacramento que dá inicio a este caminho, porque deveria marcar o desejo da pessoa de seguir a Jesus e realizar a sua proposta de uma vida nova.

3.Ninguém pode colocar outro alicerce diferente do que está ai, já colocado: Jesus Cristo” (1 Cor 3,11).
A Igreja é aquela realidade espiritual, mística e ao mesmo tempo visível pela ação dos cristãos, que é alicerçada sobre um único fundamento que é Cristo. Se a Igreja é instrumento universal de salvação, deve isso ao fato que Cristo não apenas é o fundador dela, mas também o alicerce que sustenta toda a instituição. Por isso um cristão para ser tal, não apenas deve ser batizado, mas dedicar tempo ao conhecimento de Cristo. A Igreja é o conjunto do povo de Deus que sentiu-se atraído pela Palavra de Deus e que visa viver conforme os ensinamentos do seu Mestre Jesus. O tempo presente para um cristão, é o tempo do aprofundamento da Palavra de Jesus, da sua proposta de vida. Só que para conhecê-lo, para desejar aprofundar o conhecimento da sua Palavra, precisamos amá-lo e para amá-lo precisamos tê-lo encontrado, percebido. Este encontro é possível somente na interioridade da nossa alma, pois é ali que Deus se manifesta. Pessoas superficiais, mergulhadas nos prazeres do mundo, na busca dos bens materiais dificilmente conseguirão encontrar o Senhor, escutar a sua voz e, assim, ser atraídos por Ele. Se Cristo é o alicerce da Igreja, como Paulo nos demonstra hoje, precisamos conhecê-lo melhor, precisamos passar tempo com ele, debruçar na sua Palavra, interiorizar o seu estilo de vida. Somente assim a Igreja se torna o corpo visível de Cristo ressuscitado, que atrai toda a humanidade no Caminho que leva ao Pai.

4. “Jesus fez um chicote de cordas e expulsou todos do templo... E disse: ‘Tirai isso daqui! Não façais da casa do meu Pai uma casa de comercio!’” (Jo 2, 15.16).
Este é um versículo que muita gente não gosta. Até mesmo alguns exegetas, ou seja, estudiosos da Palavra de Deus, escreveram palavras negativas sobe esta atitude de Jesus. Pelo contrario, eu pessoalmente gosto muito deste versículo, porque acho que revela algo de muito importante não apenas da personalidade de Jesus, mas também da sua ação no mundo. Este versículo revela que Jesus não veio para botar a mão na cabecinha do povo, acobertando os seus erros, mas pelo contrario, Cristo veio para ajudar o mundo a sair do erro do pecado. O primeiro efeito da leitura do Evangelho, quando é feita com o coração aberto, é a descoberta da própria vida errada. Cristo é a verdade que descortina a mentira. Perante esta revelação a tentação imediata é acobertar, fingir que está tudo bem. Quem procede assim não está disponível a se tornar discípulo do Senhor, a ser uma pessoa diferente. Pelo contrario, o sofrimento causado pelo descobrimento constante dos nossos erros, é apaziguado somente se tivermos a coragem de aceitar os conselhos e as indicações do nosso Mestre Jesus, cuja intenção não é apenas de nos machucar mas, pelo contrario, de nos salvar da nossa vida errada. Esta violência que Jesus usa no templo de Jerusalém é o símbolo da força e do zelo que Ele mete no comprimento da vontade do Pai. As vezes, para sairmos de situações de vicio, de pecado enraizado na nossa alma, precisamos um pouco desta santa violência, que é força de Deus, que é a determinação que nos leva a sermos pessoas diferentes. Se isso vale num sentido pessoal, ainda mais quando se trata do pastoreio da Igreja. Quem tem uma função de liderança na Igreja não pode vacilar perante o pecado da comunidade, que pode estragar a mesma e comprometer definitivamente a caminhada. Às vezes, pelo amor de Cristo e da sua Palavra, precisamos da força do Espírito Santo para termos a coragem de sermos firmes e até duros perante situações de evidentes erros. Nessa altura, somente o pastor que tem amor a Deus mais de que a si mesmo terá a coragem de realizar atos e tomar decisões impopulares, mas que beneficiam o prosseguimento da comunidade.



Domingo XXVII°/A



(Is 5, 1-7; Sal 80; Fil 4, 6-9; Mt 21, 33-43)

Paolo Cugini

1. Ao longo da vida o Senhor nos oferece ocasiões para crescermos em sabedoria e graça e nem sempre sabemos desfrutá-las. Aprendemos a viver visando o lucro, o sucesso, o interesse pessoal, por isso não conseguimos enxergar tudo aquilo que de bom Deus proporciona por nós. Deus faz de tudo para que as pessoas possam viver de uma forma digna, conforme o projeto que Ele mesmo pensou, mas a ganância do mundo, a cobiça da vida atrapalha de um jeito a alma que consideramos negativo tudo aquilo que Deus prepara para nós. Esta é em síntese a historia da humanidade, que de uma certa forma é a nossa historia.

2.Por isso eu vos digo, o reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos” (Mt 21, 43).
Deus não fica esperando o tempo todo um povo que não dá ousadia por Ele: este é o sentido do versículo. O Reino de Deus deve produzir frutos, pelo contrario não serve ao objetivo pelo qual foi pensado. O problema que ao longo da historia da salvação quem tomou conta do Reino foi um povo que não prestou, um grupo de pessoas, a clássica panelinha da vez que em vez de acolher a Palavra de Deus para se converter e melhorar o próprio estilo de vida, a utilizaram para julgar os outros (cf. Rom 1-2). Furto do Reino de Deus devem ser atitudes que brotam do mesmo Deus e não atitudes que saem dum coração preso ao próprio egoísmo. Por isso não basta a Palavra de Deus, mas necessitas o esforço pessoal para que a Palavra possa encontrar espaço, o terreno propicio para poder brotar os frutos desejados. Para atualizar aquilo que estamos comentando. A Igreja acabou de viver o mês da Bíblia. Então a que adianta este mês, a que adianta os círculos bíblicos, as celebrações bonitas se não se traduzem em ações concretas ditadas pela Palavra de Deus meditada? Chega de encontros, de reflexões bíblicas só para acalmar a consciência ou, pior ainda, para se sentir melhor dos que os outros!  É esta a grande responsabilidade dos católicos, das comunidades cristãs. Pode acontecer conosco aquilo que aconteceu com o povo hebraico comentado no versículo sobre citado, ou seja, de sermos cortados. Em toda missa a comunidade, junto a cada cristão, deveria se questionar sobre a maneira de utilizar os dom que recebeu de Deus. Somente com esta capacidade critica é possível ir para frente no Reino de Deus. É isso que faltou aos fariseus e aos escribas, fechados no orgulho e na ufania, se achando os donos da Palavra e não os servos dela. Este versículo que estamos comentando, que encerra o Evangelho de hoje, apesar de ser muito forte, é extremamente realista, daquele realismo sadio que ajuda a alma a se colocar no próprio lugar, que nos ajuda a não nos empossarmos daquilo que não é nosso, mas que é simplesmente nos oferecido para nos salvar.

3.Certo proprietário plantou uma vinha... Depois arrendou-a aos vinhateiros e viajou para o estrangeiro” (Mt 21, 33).
Na vinha o dono coloca os vinhateiros para trabalhar, para que a vinha possa dar uva. Isso quer dizer, interpretando a parábola, que a Igreja é nos doada para trabalhar e não para mandar. O batismo que recebemos é participação da morte de Cristo, do seu do sofrimento como sinal do seu amor para o Pai. Isso quer dizer que devemos apreender a viver a Igreja com disponibilidade a servir de uma forma gratuita, com muita dedicação, para que a graça de Deus que recebemos nos sacramentos possa brotar frutos de conversão. É interessante, também, na historia narrada da parábola, que o dono entrega a vinha aos vinhateiros e depois viaja. Isso é sinal de confiança e, ao mesmo tempo, sinal de um compromisso que exige responsabilidade. O dono da vinha entrega tudo nas mãos dos vinhateiros e isso exige não apenas confiança da parte do dono, mas também compromisso do lado dos vinhateiros. Se A vinha é a Igreja, o Reino de Deus isso quer dizer que devemos aprender a viver a nossa pertença a Igreja com mais responsabilidade, devolvendo com um compromisso sempre mais fiel á confiança que Deus tem para nós. Além do mais, a maneira de Jesus agir para conosco, parafraseando a parábola, deveria ser aprendida por todos aqueles que assumem tarefas de confiança dentro da Igreja. Para que o reino do Céu possa crescer precisa de pessoas que saibam acreditar nos outros, que tenham a mesma postura de confiança que o dono da vinha teve na historia da parábola. Ajudamos os outros a crescer humanamente, espiritualmente e eclesialmente não segurando-os, não ficando o tempo todo manando neles, mas sobretudo confiando nas suas capacidades. Jesus fez e continua fazendo isso conosco: seria bom aprendermos a fazer isso também nós com as pessoas que o Senhor coloca ao nosso lado. Somente pessoas interiormente livres conseguem viver com liberdade os relacionamentos pessoais e a não querer que todos façam do jeito que ele pensar. Quantas vezes a Igreja, nos trabalhos que desenvolve, se torna espaço para descarregar as próprias frustrações pessoais em vez de ser o terreno propicio do desenvolvimento da liberdade dos outros? Isso, infelizmente, se torna amiúde bem visível toda vez que alguém assume uma tarefa dentro da Igreja, seja ele quem for, clérigo o leigo.  Mais uma vez é bom salientar que a parábola narrada no Evangelho de hoje nos ensina que a vinha do Senhor, o seu reino, Jesus a doou para trabalhar, para servir com humildade, assim como também Ele mesmo fez, que veio para servir e não para ser servido.

4.Irmãos, não vos inquieteis com coisa alguma, mas apresentai as vossas necessidades a Deus, em orações e súplicas, acompanhadas de ação de graças” (Fil 4, 6).
Na Igreja, que é vinha do Senhor, deveríamos aprender a viver assim, em tranqüilidade, sem nos inquietar com nada e com ninguém, em paz com Deus e com os irmãos. Só que para vivermos assim, precisamos entregar tudo nas mãos de Deus, aprender a viver a nossa vida como algo que está totalmente nas mãos de Deus, que seja Ele mesmo a tomar conta de tudo, da nossa vida e da nossa caminhada. É este o caminho da total espiritualização da existência cristã, o caminho feito de ações e de orações interligadas entre elas, caminho na luz de Deus que permite vislumbrá-lo a cada momento e em todo lado da nossa existência. Jesus sem duvida viveu deste jeito a própria existência terrena, com o rosto constantemente dirigido ao Pai, na busca constante da sua vontade, entregando a Ele completamente a sua causa. Pedimos a Deus que nos ensine a viver com sempre mais espiritualidade a nossa experiência de fé.


Domingo XVII°/A




(Is 55, 1-3; Sal 145; Rom 8, 35.37-39; Mt 14, 13-21)

Paolo Cugini


1. Somos mergulhados todos os dias a toda hora em problemas materiais, muitas vezes que exigem uma solução imediata. Percebemos o pressionamento da realidade, que nos encurrala, sentimos o bafo da história, do julgamento dos outros. A tentação é disfarçar, tapear, não enfrentar a realidade, fazer de conta que tudo não passa de um momento e então vivemos arrastando a barriga no chão, concentrando os nossos esforços nos problemas materiais imediatos, esquecendo de refletir sobre as motivações profundas dos nossos atos. E assim, um dia, de repente, acordamos sentindo um grande vazio dentro, uma angustia terrível, um sentimento de traição. Olhamos no espelho e percebemos um sentimento de estranheza, como se o cara na nossa frente fosse alguém de diferente. Deparamos assim, brutalmente, no eterno problema do relacionamento entre externo e interno, espírito e carne, vida espiritual e material. Na nossa vida corriqueira, também entre nossos amigos e parentes, é extremamente difícil encontrar pessoas que vivem a harmonia entre estas duas dimensões. Por isso, antes que seja tarde demais, é bom dar uma olhada um pouco mais atenta às leituras de hoje para aprendermos da Palavra de Deus como é que se vive, sem correr o risco de se esconder, por medo que alguém consiga ver a podridão que está cumulada dentro de nós.

2.Vinde comprar sem dinheiro, tomar vinho e leite sem nenhuma paga. Porque gastar dinheiro com outra coisa que não é pão?” (Is 55, 1-2).
É verdade que devemos comer e beber, só que não podemos fazer da nossa vida um eterno banquete! O nosso perigo é conduzir uma vida só concentrada nas preocupações materiais. Existe um alimento no qual vale a pena investir o nosso tempo e as nossas energias, também porque não custa nada, mas exige apenas disponibilidade. Além disso, é um tipo de comida e de bebida que preenche de um jeito a existência, que orienta até a vida material. Quem é acostumado a medir o valor da vida com o dinheiro, terá grande dificuldade a entender isso. Existe todo um mundo desconhecido, que é a vida espiritual, o mundo do Espírito, que se alimenta com algo de espiritual. Precisamos ser introduzidos dentro este caminho, que é o caminho que a Palavra aponta. Além disso, a mesma Palavra não se abre, não se revela no sentido estrito do termo, para as pessoas materiais. Para que o pão da Palavra seja o nosso alimento que fortalece o nosso caminho neste mundo, precisamos de alguém que coloque na boca o pão mastigado, assim como uma mãe faz com os próprios filhos. Existe um tesouro de vida, de amor escondido no pão espiritual da Palavra de Deus, que se torna alimento para todos e todas as pessoas que são conduzidas dentro dela. Por isso a Igreja nos aconselha de ler os grandes Pais da Igreja, ou seja, aquela época de ouro da Igreja aonde as pregações eram encharcadas de Palavra de Deus, e não de opiniões pessoais. Buscar o alimento espiritual para libertar a nossa vida da escravidão da matéria é o sentido da vida espiritual.

3. Dai-lhes vós mesmo de comer” (Mt 14, 16)
Acho que também este versículo precisa ser interpretado no sentido espiritual. Somos acostumados a fazer uma leitura material do texto que narra a multiplicações dos pães. Sem duvida foi uma ação histórica de Jesus, mas que deve ser colocada dentro o plano de salvação e do projeto do anuncio do Reino de Deus. Então o “dai-lhes vós mesmo de comer” é um mandamento de Jesus que deve ser realizado e que nos envolve em primeira pessoa. Somos nós batizados os novos discípulos aos quais Jesus se dirige pedindo de partilhar o pão da Palavra com as pessoas que encontramos no nosso caminho. Esta deve ser a nossa preocupação, pois se de verdade a palavra de Deus no Evangelho de Jesus salvou a nossa vida do anonimato, do esquecimento, da morte, então faremos de tudo para que as pessoas que encontramos possam receber o alimento que salva. Neste mandamento que Jesus um dia especial colocou para os discípulos, está escondido todo um programa de vida. De fato, como Jesus soube inventar caminhos e meios para anunciar o Reino do seu Pai para a humanidade que encontrou, assim também deve ser por nós.  Isso, porém, exige inteligência, atenção, reflexão, empatia, ou seja, capacidade constante de olhar para os outros. É um caminho progressivo, constante, no qual devemos ficar constantemente atentos não apenas com a realidade circunstante, mas também e, talvez sobretudo, com aquilo que o Senhor quer nos mostrar com isso. É interessante observar com que delicadeza Jesus instruiu os seus discípulos na difícil tarefa de continuar o seu trabalho. Jesus mostrou para os discípulos que partilhar a Palavra com as pessoas que o Pai coloca na nossa frente, comporta um constante olhar ao mesmo Pai (“Então ergueu os olhos para o céu”) e para o povo. Isso quer dizer que em qualquer ato de caridade que a Igreja realiza quem recebe deveria enxergar o rosto do Pai. Partilhar o Pão da palavra de Deus não é uma partilha de versículos, mas sim de vida, de amor, de história. Ergueu os olhos para o céu: em qualquer ação da nossa vida, seja ela qual for, devemos manter vivo e presente este olhar para o céu, para não perdermos o sentido da realidade, ou seja, que tudo vem de Deus e volta para Ele.

4.Quem nos separará do amor de Cristo?” (Rom 8, 35)
É esta a certeza de quem vive alimentado de Cristo, do seu espírito. Este ano, como sabemos, pela Igreja católica é o ano Paulino. Paulo é sem duvida o discípulo em que a força de Deus se manifestou como coragem, vida, capacidade e vontade de partilhar com todos e todas a salvação de Deus recebida por Jesus por meio do Seu espírito. Meditando as suas cartas, e é isso que a liturgia nos oferece todos os domingos na proclamação da segunda leitura, podemos abastecer a nossa alma daquele alimento que preenche as nossas vida de esperança que nos impulsiona a olhar sempre para frente, sabendo que não existe nada que pode nos atrapalhar, pois Cristo com a sua paixão, morte e ressurreição derrotou o inimigo. É verdade que podemos passar momentos de confusão, aonde percebemos a nossa fraqueza, também porque o mundo não dá sossego para aqueles que esperam só no Senhor. Mas alimentados dele, da sua Palavra, do Seu corpo, vivendo com intensidade a nossa pertença a sua Igreja, sabemos que aquilo que Paulo falava é verdade. A final e conta se Cristo é conosco, dentro de nós, nos nossos olhos, na nossa alma, então quem nos separará do amor de Cristo?




sabato 21 settembre 2019

Homilia de Domingo XXV/A





(Is 55, 6-9; Sal 145; Fil 1,20-24.27; Mt 1-16)
Paolo Cugini

1. Deus permanece sempre um mistério. Isso vale seja pelas pessoas que estão se aproximando a Deus nestes últimos tempos, seja pelas pessoas que desde sempre vivem em função da Palavra de Deus. Não podemos nos acostumar a Deus, pensar que já sabemos tudo dele, pois Deus permanece sempre na frente dos nossos pensamentos, das nossas previsões. A fé é um caminho corriqueiro de obediência á Palavra de Deus, no qual ficamos sempre atrás e nunca na frente, no sentido que sempre e em qualquer momento precisamos ser orientados. É com este espírito humilde e singelo que entramos no clima da liturgia de hoje para pedirmos a Deus que nos ilumine no caminho da vida.

2.Buscai o Senhor em quanto pode ser achado; invocai-o enquanto ele está perto... Meus pensamentos não são como os vossos pensamentos e vossos caminhos não são como os meus caminhos” (Is 55, 6.8).
São lindos estes versículos do profeta Isaias porque nos revelam que a vida de fé é uma busca continua. O homem, a mulher de fé é uma pessoa cuja característica é aquela de buscar sempre a Deus em qualquer momento da vida, em qualquer situação e circunstância. Isso exige uma constante atenção no objetivo, naquilo que se quer alcançar. Esta atenção desvende a força da pessoa de fé, a característica que o caracteriza, a diferença no confronto do mundo distraído que se deixa levar por qualquer corrente de doutrina seduzinte. Pelo contrario a pessoa animada pela fé em Deus busca continuamente em tudo aquilo que faz e pensa a vontade de Deus e, nesta busca expressa a própria confiança no Pai. É neste caminho de busca constante de Deus que experimentamos a grande diversidade dos nossos pensamentos com os pensamentos do Senhor. Neste sentido o caminho da fé deveria ser marcado para um processo de lenta, mas necessária mudança dos nossos pensamentos para aprendermos a pensar como pensa Deus.

 Talvez seja isso mesmo o sentido da vida espiritual: aprender a avaliar os eventos, a historia, os acontecimentos corriqueiros com o olhar de Deus. Este olhar não é o fruto do nosso esforço, mas sim o dom que o Espírito de Deus realiza em todas as pessoas que se tornam progressivamente dóceis á Palavra de Deus. Característica da vida espiritual, nesta perspectiva, não é um ativismo vazio na conquista humana de um objetivo, mas sim a lenta e dócil disponibilidade á ação do Espírito Santo. O exemplo daquilo que estamos falando é Maria a mãe de Jesus acostumada a escutar o Seu Filho, a silenciar e meditar tudo no seu coração. Se quisermos de verdade ver e pensar a realidade como Deusa pensa, precisamos muito desta docilidade, desta atitude paciente e constante de buscar ao poço daquela água autentica que somente Deus pode nos oferecer.

3.Ou está com inveja porque estou sendo bom. Assim os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos” (Mt 20, 15b-16).
A prova daquilo que acabamos de comentar é a parábola de Jesus do Evangelho deste domingo. O dono da parábola é questionado sobre a sua bondade, sobre o fato que ele decide de pagar para todos os obreiros da vinha o mesmo preço, seja aquele que chegaram por primeiro que os últimos. É um verdadeiro choque entre a mentalidade dos homens e mentalidade de Deus. De um lado a mentalidade do mundo que olha o proveito, a força, o mérito; do outro a mentalidade de Deus que olha o coração, a disponibilidade, a obediência. São critérios diferentes que se chocam continuamente. Na realidade nascemos imbuídos desta mentalidade materialista que o mundo coloca na nossa cabeça e dificilmente conseguimos nos livrar. Crescemos com o desejo de sermos os melhores em qualquer momento e situação e aprendemos a julgar o nosso próximo com estes critérios materialistas. Por isso quem se acha primeiro neste mundo e faz de tudo para deixar por trás os outros, torna-se o ultimo no reino de Deus. É a lei de Deus que não olha o externo das coisas, mas sim o interno; não olha o resultado de um ponto de vista humano, que é sempre um ponto de vista egoísta, mas o olhar de Deus penetra na profundeza do ser, naquele espaço que somos acostumados a esconder aos outros. Só que a Deus nada fica escondido, pois por Ele tudo é descoberto.

4.O patrão saiu de novo a meio dia e ás três horas da tarde e fez a mesma coisa. Saindo outra vez pelas cinco horas da tarde encontrou outros que estavam na praça...” (Mt 20, 5-6).
A parábola de hoje expressa também o cuidado de Deus para conosco, pois a toda hora da nossa vida Ele sai para nos encontrar. Seria interessante ao longo desta semana parar um pouco para vasculharmos na nossa vida e descobrirmos os momentos que Deus passou na nossa vida para nos convidar a segui-lo, a trabalhar na sua vinha. Esta atitude de Deus deve ser também a atitude da Igreja, que não fica somente esperando os fieis entre as paredes da Igreja, mas sai em busca das pessoas para encontrá-las onde elas estiveram e ali dirigir a proposta do Senhor. Uma Igreja mais exposta, mais aberta ao mundo, mais atenta com as pessoas fora do templo é aquilo que o mundo pós-modero precisa. A parábola de hoje questiona os nossos conselhos pastorais, questiona os métodos pastorais que atuamos, questiona os conteúdos das nossas conversas religiosas: será que estamos tendo a mesma preocupação de Deus para com as pessoas de fora, ou somos como sempre preocupados com a nossa misérrima panelinha? Um Deus que arrisca o seu único Filho pela nossa salvação exige uma Igreja mais exposta, mais ousada, menos fechada na retranca.

5.Cristo vai ser glorificado no meu corpo” (Fil 1,20).
Acabamos de falar de ousadia e ali vem Paulo com o seu jeito missionário, sempre atento para quer ninguém perca a oportunidade de ouvir  anuncio do Evangelho. E também neste contexto, como ouvimos no domingo passado, o anuncio do Evangelho para são Paulo não é um problema de papo bonito, mas sim de vivencia, de testemunho. É no seu corpo que Paulo quer glorificar a gloria de Cristo. Isso quer dizer que o anuncio do Evangelho passa pelos marcos dos pregos da cruz de Cristo impressos na nossa carne. Podemos dizer que tudo isso se realiza, sobretudo num sentido espiritual, mas de vez em quanto Cristo quer imprimir na carne viva dos seus discípulos os marcos vivos da sua cruz. A historia da Igreja é amiúde uma historia de sangue, o sangue dos mártires, o sangue dos testemunhos de Cristo.