Paolo Cugini
PRIMEIRA
PARTE
Prólogo: 1, 1-4.
O Verbo da vida.
Nestas primeiras linhas da carta, João quer manifestar a
própria admiração por aquilo que experimentou. A primeira atitude que devemos
resgatar na nossa caminhada de fé é isso mesmo : a admiração por aquilo que
Deus realiza conosco. De fato, um dos maiores obstáculos na vida de fé é o
costume, ou seja, quando entra a rotina no nosso dia a dia da fé. Nessa altura
é preciso resgatar a beleza e a grandeza das coisas de Deus através da
maravilha, da admiração. Se quisermos que a vida de fé permaneça pura, precisamos
todos os dias renovar a nossa decisão para Deus, em qualquer circunstância
estamos vivendo, precisamos renovar a nossa admiração de podermos viver com Ele
e por Ele.
Aquilo que chama atenção é a constatação que quando João
escrevia estas palavras já tinham passado pelo menos 40/50 anos da morte e
ressurreição de Jesus. Apesar disso João continua admirado por aquilo que viu e
experimentou. João expressa esta experiência com esta frase: “A vida se fez
visível”. A vida da qual João fala é a vida eterna, sem limites, a vida
completa, aquilo que o homem busca desde sempre. De fato, a vida que o homem
possui é uma vida limitada, sujeita aos sofrimentos, doenças e, sobretudo, condenada
a morte. A nossa vida é pobre, num sentido existencial, porque vivemos como
condenados à morte. A nossa vida é, de uma certa forma, uma vida pequena,
limitada.
O homem é um ser em busca da vida. Já no Evangelho
encontramos exemplos desta busca (ex: o jovem rico; a mulher samaritana).
Folhando o jornal dá pra entender o que o homem é capaz de aprontar para uma
vida melhor, em todos os sentido ela seja entendida.
João, nestes poucos versículos, afirma que esta mesma
vida que os homens buscam dispostos a pagar preços altíssimos, a encontrou pelo
caminho, a apalpou, a viu, a escutou, a conheceu, a contemplou, a amou.
(mito de Gilgamesh).
Também no livro do Gênesis encontramos o desejo de Adão
de ser como Deus, de possuir a vida eterna de Deus; apesar disso este desejo de
vida eterna e destinado a fracassar por causa da pobreza e do limite da
possibilidade humana (seria importante aprofundar este contraste entre desejo
de vida e possibilidade humana).
É nesse quadro, com estas considerações que é possível
entender a grandeza da mensagem de João: “A
vida se manifestou”. Não fomos capazes de conquistá-la, de alcançá-la, Ela
mesma nos alcançou. Não fomos capazes de subir até Deus, Ele mesmo desceu para
nos encontrar. Não temos a vida nas nossas mãos, foi a mesma vida que veio para
nos encontrar. Deus veio a busca do homem[1]
para comunicar ao homem a sua mesma vida (cf. Jo 10,10).
Este é o sentido da primeira carta de João: é o grito de
vitória do discípulo porque encontrou a resposta á sua busca, que não foi fruto
de uma conquista pessoal mas que recebeu como um dom. João encontrou a vida
eterna como um dom, com uma presente, além daquilo que João mesmo é, daquilo
que ele tem. A vida que em Cristo se manifestou é um dom de Deus que pode ser
somente acolhido.
Claramente em quanto João fala disso pensa ao mistério
da Encarnação, que porem não começou apenas com o nascimento de Jesus, mas teve
a sua origem no A.T., pois Deus veio na busca do homem desde sempre. Toda a
historia da salvação pode ser lida na perspectiva da Encarnação:
- Ex 2, 23-25: Deus escuta o grito do
seu povo.
- Ex 29, 45-46: Deus deseja morar no
meio do seu povo.
- Sal 8: Deus toam conta do homem.
- Sal 113, 4-9: Deus se abaixa para
levantar o homem[2].
- Dt 4: maravilha por
algo que nunca aconteceu.
- Jo 1, 1-4: o Verbo se fez carne.
Carne: débil, fraca, limitada, ou seja, tudo aquilo que pertence á
experiência da humanidade. A humanidade é carne, extremamente pobre na sua
natureza. Então o Verbo se fez carne, a potencia de Deus se fez débil, tão
débil que o seu destino é a cruz, tão débil que pode ser recusada, rejeitada,
traída Uma expressão deste paradoxo se encontra em Is 40, 6-8).
Pelo fato que a Palavra se fez carne permite ao homem de
caminhar rumo a vida. O homem não consegue se tornar Deus, a conquistar a vida;
sendo porem, que a vida se tornou visível, o homem pode agora caminhar para
encontrar a vida.
Jo 1, 18: Agora em
Cristo, é possível ver o rosto de Deus. João, vendo este homem em carne e osso,
Jesus de Nazaré, viu o mesmo Deus, pois o rosto de Deus não é que o rosto de
Cristo. Aquilo que Deus é foi revelado em Cristo. Então o desejo que existe no
nosso coração de buscar, conhecer, amar a Deus, torna-se o desejo de buscar,
conhecer, amar o rosto de Cristo. Nós não temos outros caminhos para chegar a
Deus: “Ninguém chega ao Pai se não por
mim” (Jo 14,6)[3].
Devemos enxergar Jesus com os olhos da fé: só assim
veremos Jesus como alguém que vem de Deus e que revela Deus: em Jesus se
conhece a Deus. Este é o fundamento da vida cristã.
“O que vimos e
ouvimos vo-lo anunciamos”. Para Nós não existe mais
nenhuma outra fora de conhecer a Jesus a não ser através a experiência dos
apóstolos. A Igreja é fundamentada sobre os apóstolos, os quais são os
testemunhos. Se tirarmos o testemunho dos Apóstolos, pode acontecer que Jesus
Cristo se torne uma nossa fantasia, algo que a gente inventa. Aquilo que nos
salva é Jesus assim como ele era[4].
Então devo aprender a conhecer Jesus assim como Ele era e não a deformá-lo
conforme os meus interesses. Como faço a conhecer Jesus assim como Ele era? Escutando o testemunho dos Apóstolos.
“... Para que
estejais em comunhão conosco”. A palavra comunhão
resume o objetivo da vida cristã: ser cristãos é viver em comunhão com Deus, é
viver na comunhão fraterna: comunhão entre nós, comunhão entre o Pai. Este é um
dos temas centrais do Evangelho[5].
O objetivo de todo o projeto de Deus é reunir todos os homens na unidade,
unidade que não é política ou econômicas, mas unidade na mesma vida de Deus, de
uma forma tal que a Trindade se torne o modelo da vida cristã.
João escreveu a carta por isso: porque as pessoas da
comunidade não vivam mais em buscados próprios desejos o das próprias
preferências humanas, mas impelidos do amor de Deus. Só assim serão uma só
coisa, porque o amor de Deus recolhe todos os homens na comunhão.
“E isso vos
escrevemos porque a vossa alegria seja perfeita”.
A alegria da qual João fala, não é a alegria do mundo,
mas a experiência da salvação, do amor de Deus, do ser amados por Deus. É a
alegria de Cristo, que é no coração do Senhor e consiste na perfeição da
comunhão com o Pai. Jesus possui a alegria porque é uma só coisa com o Pai: por
isso é cheio de alegria e por isso promete a alegria para os discípulos, pois a
sua vida transborda de alegria e pode esbanjá-la para quem o seguir no caminho
da vida[6].
Claramente é uma alegria diferente daquela que oferece o mundo, pois se trata
de aprender a viver esta alegria no meio de conflitos e tribulações. É uma
alegria através das tribulações, o sofrimento[7].
DEUS
É LUZ
(1,
5-7)
No prólogo da primeira carta á João são contidos os
princípios fundamentais da vida e da experiência cristã:
1.
O principio cristologico: cada
conhecimento e comunhão com Deus passam através de Cristo. Disso deriva a
importância do Evangelho, da Eucaristia e dos sacramentos.
2.
O principio eclesial: não existe
comunhão com Cristo se não estiver fundada no testemunho dos Apóstolos. Cada
relacionamento com Cristo é um relacionamento que si vive na Igreja.
3.
O principio comunitário: todo
relacionamento com Deus deve se tornar relacionamento com os irmãos.
1, 5-7: Deus é Luz[8].
João, com essa definição não quer dizer aquilo que Deus é em si e por si, mas
aquilo que Deus é por nós: Deus iluminou a nossa vida. Desde que Jesus veio ao
mundo, nos começamos a enxergar. Cada um de nós poderia dizer isso, ou seja,
desde que conheceu o Senhor, escutado as suas palavras, a vida se tornou
luminosa, clara, orientada.
O tema da luz é presente em tudo o A.T.
Sal 119, 105: Lâmpada
aos meus passos é a tua Palavra, Senhor...
Sal 27, 1: O Senhor é
minha luz e salvação.
Toda vez que Deus solta uma Palavra, para nós torna-se
luz.
Hb 1, 1-2: “Deus, depois de ter falado muitas vezes e em
diferentes maneiras... Ultimamente falou para nós por meio do Filho” .
Existe uma estrada que conduz á vida, e os homens não
são capazes de conhecê-la porque aquela estrada foi Deus que a fez. A única
maneira para conhecê-la é que Deus nos permita de conhecê-la, que Deus a
manifeste. Neste sentido Deus é luz, luz porque em Jesus Cristo Ele se revelou.
Aquilo que de esquisito aconteceu é que os homens recusaram a luz. Porque isso?
Para João a luz comporta para o homem uma certa vergonha pelos próprios pecados
e culpas[9].
Então perante á luz, o homem deve realizar uma escolha: o escolhe o bem, o amor
e, então, a luz; o se fecha no seu egoísmo, e se fecha á luz porque a luz o
atrapalha. De fato, de uma certa forma, é mais cômodo não enxergar: se enxergar
sou obrigado a me comportar bem. Mas se enxergo tudo confundido, então
verdadeiro e falso é tudo a mesma coisa. Atrás do relativismo existe uma
vontade que foge do compromisso.A luz de Cristo obriga o homem a tomar uma
posição.
Porque Deus é luz? Porque perante a Jesus as coisas
adquirem um sentido. O mundo é o que? A vida é o que? Que sentido tem a morte?
Que sentido tem a fatiga de trabalhar, de estudar? Que sentido tem a existência
do homem? Que sentido tem os outros, que pra mim são concorrentes?
Resposta: Jo 3, 16. O sentido da nossa vida é
o amor, o dom; todo o resto não tem nenhum valor[10].
Se aceitarmos a manifestação de Deus na historia através
do seu Filho Jesus Cristo, então tudo isso iluminará a nossa vida. Deus é luz:
se isso é verdade, se as aceitarmos então isso iluminará a nossa vida. Não se
trata apenas de palavras, mas da vida concreta de Jesus. Jesus não apenas falou
com palavras que precisamos amar os irmãos, mas ele realizou isso na sua mesma
vida. Na sua carne são visíveis as suas palavras.
Aquilo que quer dizer amar Deus o revela com aquilo que
faz. Então Deus é luz porque me ajuda a entender o sentido verdadeiro do amor,
me ajuda entender que o amor não é apenas desejo, mas consiste no dom da
própria vida[11].
Esta Idea João a repete muitas vezes ao longo desta carta.
O amor existe porque foi Deus que o inseriu no mundo e
desde que Deus o inseriu, este amor continua operando, permanece presente e
transforma também o nosso pobre amor. Neste sentido Deus é luz porque nos diz
que amar é possível.
Se Deus é luz nós não podemos ser sombra, mas também nós
devemos nos tornar luz no mundo[12].
Se Deus é luz precisamos caminhar na luz. Isso quer
dizer que a revelação de Jesus se torna o critério das nossas escolhas. É
preciso viver a própria vida debaixo do olhar de Cristo[13].
“Se dissermos que
estamos em comunhão com Ele...”[14]:
a verdade não é somente par ser conhecida, mas exige ser vivida. Não basta
conhecer Jesus Cristo com o intelecto, mas é preciso conhecê-lo na vida, é
preciso fazer a experiência dele.
“E o sangue de
Jesus nos purifica de todo pecado”[15]:
o pecado é egoísmo e não existe nada que possa derreter o egoísmo a não ser o
amor. Jo 19: do seu lado saíram sangue e água: quer dizer isso? Que a
morte voluntária de Cristo se torna fonte de vida[16].
Por meio do amor de Cristo nós fomos liberados de nós mesmos, porque é a libertação
do amor. Outra cena que pode nos ajudar para entender este mistério: Ap 5,
6-10.
Primeira
condição: romper com o pecado (1, 8-2,2)
O tema fundamental da primeira carta a João é oferecer
as condições para averiguarmos a nossa comunhão com Deus. O primeiro critério é
o reconhecimento do próprio pecado. O encontro com Deus, em Jesus Cristo, nos
ajuda a tomar consciência do nosso pecado. Toda vez que deparamos com a
santidade de Deus, percebemos a nossa diversidade.
a.
È a experiência de Isaias: Is 6 1-5.
b.
Cf a experiência de Pedro: Lc
5.
c.
Nessa altura é significativa a
experiência do jovem rico (Mt 19, 15-22).
d.
Também, os apóstolos, neste
sentido, não manifestaram uma atitude melhor: Lc 14, 7; Mt 16, 23.
e.
Lc 7, 36-48: Simone não consegue entender o perdão de Deus.
f.
Os fariseus: hipocrisia
denunciada em Mt 23.
O primeiro elemento da comunhão com Deus é o
desvendamento do nosso coração, o fato que o nosso coração vem reconhecido por
aquilo que é. Ficando na frente de Deus aparecem os meus pecados, os meus limites,
as minhas misérias (por isso a pouca vontade de rezar, a fatiga na oração, o
cansaço. Por outro lado, quando vejo o meu coração limpo mi dá vontade de
permanecer perante o Senhor). Não querer
ver o próprio pecado, não querer reconhecê-lo é uma maneira de defender a si mesmos,
de se justificar, é querer ficar do lado da verdade. Este é um dos elementos
que estragam uma caminhada de fé: querer ter razão.
Se dentro o nosso coração como espelho da nossa vida
temos a opinião comum, então dificilmente me percebo como pecador. A nossa
comparação, pelo contrario, deve ser com o Senhor Jesus: então saímos sem
duvidas com vencidos, errados.
“Se confessarmos
os nossos pecados...”[17].
Não apenas Deus tira, perdoa os nossos pecados, mas Deus nos libera daquela
tendência que existe em nós, no profundo do nosso coração: a tendência ao
egoísmo, á auto-suficiência no confronto de Deus; Deus nos tira toda raiz do
mal[18]
.
“Se dissermos que
não pecamos, fazemos dele um mentiroso”[19]. Porque? Porque a palavra de Deus acusa o homem do pecado (cf
Rom 3, 9-18). Se dissermos que não temos pecado, com Cristo fazemos o
que? Se o sentido da vinda de Cristo ao mundo é tirar os nossos pecados, então
o primeiro fruto do nosso encontro com Ele é isso mesmo , ou seja a confissão
do nosso pecado. Se Cristo faleceu por
mim, quer dizer que sem Ele eu sou perdido.
“Temos um advogado
junto do Pai”[20].
O intercessor é Jesus Cristo. Agora temos um intercessor perto do Pai, santificado
pela sua obediência, pela dedicação total á vontade do Pai e, por isso, pode
elevar uma oração fiel, crível, aceitável por Deus. Dois textos ajudam a
entender isso:
Rom 8,34;
Hb 7, 24-25; 5,7s.
Existe em Jesus uma capacidade de expiação dos pecados
que é maior dos nossos pecados. Jesus é maior do que nós, a redenção de Jesus é
maior dos nossos pecados, aliás, é maior dos pecados do mundo todo. Nós não
somos tão grandes pra podermos realizar pecados imperdoáveis, que impedem a
Deus de operar com a sua misericórdia.A expiação de Jesus lava os pecados do
mundo todo.
Segunda
condição: observar os mandamentos, sobretudo o mandamento do amor
a. Caminhar como
Jesus caminhou (2, 3-6)
O verbo (observar) quer dizer não uma simples
observância externa, mecânica, mas a ponta para uma obediência ativa[21],
dócil, pronta, uma observância feita pelo coração e que necessariamente deve ir
junta com o amor.
“Mandamentos dele”:
A importância dos mandamentos é isso: A proveniência é Deus e nos leva a sua
vontade, nos leva perante a sua pessoa. Somos convidados a observar os mandamentos
enquanto são expressão do amor desta pessoa chamada Jesus Cristo[22].
È o amor para Jesus Cristo que me permite de observar os
seus mandamentos. Esta ligação entre Jesus e o amor para os seus mandamentos a
encontramos amiúde em João: Jo 14, 15. Não é possível amar a Jesus sem observar
os seus mandamentos. Este ligação intrínseca a encontramos também no A.T., de
uma forma especial no livro do Deuteronômio[23].
Amar a Deus significa servi-lo[24].
Se Deus nos olhou com um amor especial, de predileção, significa que devemos
responder a este amor.
Também em Lv 19,2 se encontra uma palavra parecida com
aquela de Dt 10. Se temos Deus como nosso Deus, devemos nos comportar como seu
povo, como seus amigos. Ser em comunhão com Deus leva consigo a obrigação de
sermos dignos dele. Nessa altura percebemos que acontece com Deus aquilo que
acontece em qualquer relacionamento humano de amizade. Pra fazer amizade com
uma pessoa precisamos aprender a aceitá-la assim como ela é. O Senhor faz isso
conosco, ou seja, nos aceita assim como a gente é. Se o Senhor nos aceita do
jeito que somos, devemos também nós aceitar o Senhor do jeito que Ele é.
Então observar os mandamentos de Deus não significa
simplesmente observar uma lei, mas aceitar uma pessoa, através aquela lei,
aceitar a presença de Deus na nossa vida. Todos os mandamentos se resumem na
Palavra de Jesus[25].
“Aquele que diz
que permanece nele, deve também andar como ele andou”[26].
Jesus se torna o modelo do comportamento cristão. Viver como cristão significa
olhar o Senhor e imitá-lo[27].
Para entendermos isso é preciso lembrar o texto dos lava pés[28].
Os lava pés são uma antecipação, uma profecia daquilo que teria acontecido um
pouco mais tarde, ou seja, a morte de Cristo na cruz. Fazer aquilo que Jesus
fez significa fazer da nossa vida um serviço, seguindo Jesus na sua paixão. É
por isso que no N.T. o tema da imitação a Jesus desemboca no tema do
sofrimento, da paixão. Alguns textos são importantes para entendermos melhor
este assunto[29].
O amor de Deus, a presença do Senhor, a entendemos
quando fazemos a experiência dele, na comunhão[30].
João expressa a comunhão com duas expressões: ser em
Jesus e permanecer nele. Pra ter fé precisa ver Jesus, precisa crer, conhecer,
amar e permanecer nele. Para o discípulo a vida quer dizer permanecer perto de
Jesus[31].
Se acolhermos na Eucaristia a vida que vem de Jesus, a nossa vida não vem mais
do mundo, mas sim de Jesus. Nós vivemos por aquela força que Cristo nos doa,
através daquela vida que Cristo nos oferece. Por isso não podemos mais viver só
para nós mesmos, mas para Deus. “Quem
come de mim viverá por mim”[32].
Através da fé na Eucaristia o homem perde o seu centro, não é mais ele o
centro da sua vida. O fruto de uma vida Eucarística é a saída do próprio
egoísmo, daquela doença espiritual que afeta o homem que é a auto-suficiência,
a busca da autonomia, não como sinal de liberdade, mas sim como desejo de uma
vida sem Deus. O cristão recebe a vida continuamente por Cristo, e a restitui
continuamente para Cristo[33].
NO relacionamento com Deus através de Cristo, o homem aprende a se colocar, a
não pensar de ser o artífice da própria vida, de ser o criador de si mesmo.
Quando uma pessoa chega a manifestar-se desta forma, quer dizer que perdeu
totalmente o sentido da realidade. E tudo isso com aquela totalidade que
caracteriza a vida de Cristo: como Jesus é totalmente dedicado ao Pai, e não
consegue viver fora da perspectiva dele, assim o cristão é totalmente dedicado
a Cristo e não consegue viver fora da perspectiva de Cristo. Por isso João
gosta muito do verbo “permanecer”,
pois resume a experiência cotidiana do cristão que é um permanecer em Cristo, é
atingir em Jesus a fonte da nossa vida.
Neste sentido é extremamente significativa a alegoria da
videira que se encontra em Jo 15. Jesus é a origem da vida dos discípulos. È
nele que recebemos a nossa existência. Na carta a João o fruto que o cristão
deve produzir é a caridade. Quando a vida do discípulo se torna amor, então
está produzindo fruto. Também podemos folhar outros textos significativos para
entendermos melhor este assunto[34].
A Verdade[35] se torna, para João, o principio, a fonte das ações do cristão.
Aquilo que o cristão pensa, aquilo que o cristão vive e decide deve sair da
Verdade. Em João a Verdade tem a função que em Paulo tem o Espírito. O Espírito
era em Cristo, e o fazia viver e pensar como Cristo, era a sua postura
interior. Agora o Espírito é doado aos cristãos e se torna a origem da sua
vida.
“A Verdade vos
libertará”[36]:
nos libertará do nosso egoísmo, de todos os condicionamentos culturais,
ambientais, nos libertará da necessidade de aparecer ao mundo. Nos libertará de
uma maneira que as decisões que tomamos não são condicionadas dos nossos
caprichos, mas tem como única origem o amor, a verdade[37].
“Quem observa as
suas Palavras, nele o amor de Deus é verdadeiramente perfeito”[38].
Isso quer dizer que demonstramos o nosso amor para o Senhor no momento em que
vivemos conforme a sua Palavra. Além disso, este versículo que estamos
comentando, tem um outro sentido, ou seja, o amor de Deus não é apenas o amor
que nós temos para Deus, mas também o amor que Deus tem para nós. Quando
vivemos os mandamentos de Deus, o amor que Deus tem para nós torna-se perfeito.
De fato, quando nos amamos uns aos outros nós estamos abrindo o nosso coração a
Deus.
O amor do Pai, passando através do homem Jesus, fez com
que este homem Jesus, amasse com o mesmo amor do Pai. A amor de Cristo,
chegando a nós, passando através de nós pode fazer com que nós vivamos como
Jesus viveu, caminhemos como ele caminhou.
b. O mandamento
novo (2,7-11).
“Mandamento antigo
que recebeste desde o inicio”[39]:
a referencia é ao batismo, que marca o inicio na vida de um cristão. João não
quer dizer algo de novo, pois a vida cristã é fidelidade ao batismo, é
fidelidade a Jesus Cristo. É um mandamento que ao mesmo tempo é novo porque é
uma realidade escatológica, ou seja, definitiva, que dura para sempre. Isso
quer dizer que não existe nada além do amor. É um mandamento velho porque os
cristãos o conhecem desde o dia do batismo; mas ao mesmo tempo é um mandamento
novo porque nunca é superado. É um mandamento que se torna novo em Cristo,
porque o amor com que Cristo amou é algo de novo no mundo[40].
Aonde existe o amor fraterno, ali Cristo está presente. Não então um amor que
sai simplesmente do coração humano, mas é um amor que sai da presença de Cristo
no coração do homem. O amor que Jesus tem por nós, tem como objetivo que nos
amemos uns aos outros. Jesus nos ama para que o seu amor nos mude, modifique as
nossas atitudes egoístas. Cristo nos ama para nos envolver no seu amor, para
nos transformar com o seu amor.
Uma pessoa pode até ter praticado o amor; só que o amor
fica sempre na nossa frente, pois é algo que devemos conquistar a toda hora.
Quando Paulo fala do amor[41]não
diz que é um dom, um carisma, mas um caminho. Isso é significativo, porque nos
revela que no caminho do amor nunca podemos dizer que chegamos, nunca podemos
sentar, mas sempre somos a caminho, pois a realização do amor verdadeiro está
sempre na nossa frente[42].
Então se este mandamento se tornou verdadeiro em Cristo
e em nós, então é por isso que as trevas estão sumindo e a luz verdadeira
resplandece. Pode ser verdadeiro que o mundo continua indo em frente com o seu
egoísmo e com a sua violência. No mundo, porém, existe também Cristo, o anuncio
do Evangelho, a vida fraterna dos cristãos. Perante esta luz as trevas estão
rarefazendo-se[43].
Aonde o evangelho é anunciado, aonde é presente o anuncio do amor de Deus, as
trevas começam a sumir e aparece a luz. No tempo presente trevas e luz convivem.
Se continuam as trevas no mundo, tem porém ao mesmo tempo a luz. Se uma pessoa
quer ser na luz deve ser no amor. Aonde não tem amor tem ódio: somos obrigados
a escolher. O ódio é treva. O ódio acha de defender a si mesmo, mas na
realidade, é um caminho de destruição de si mesmo.
Aonde existe a caridade não tem ocasião para tropeçar. A
fé se expressa na caridade e a caridade aumenta a abertura a Deus. Se quisermos
amadurecer no nosso relacionamento com o Senhor como relacionamento de fé, se
quisermos que a comunhão nos fortaleça, o caminho é a caridade, a pratica do
amor.
Terceira
condição: guardar-se do mundo
a. Exortação para
os cristãos (2, 12-14).
A comunhão com Deus consiste também em se proteger do
mundo. É preciso escolher entre o amor de Deus e o amor do mundo[44].
Filhinhos: somos todos nós, todos os cristãos. São
remetidos os pecados. Este é o tema da primeira pregação cristã no Evangelho.
Se nos foram remetidos os pecados isso quer dizer que somos livres do nosso
passado. Então o nosso futuro, o nosso relacionamento com os irmãos e com Deus
não é mais condicionado por ninguém. É verdade que vivemos todos os dias num
contexto social, político, econômico, familiar que de uma certa forma nos
condiciona. NA realidade, porém, é somente Cristo que, ao longo dos anos deve
condicionar e dirigir o nosso pensamento e os nossos atos. O Senhor reconstruiu o nosso coração[45].
Isso quer dizer que também da nossa historia de pecado Deus sabe extrair algo
de bom, ou seja, a conversão, o sentimento de pobreza perante Ele, a humildade.
Por isso é preciso acolher com alegria o Seu perdão, pois é um anuncio de
libertação.
Esta expressão: “Vossos
pecados vos foram perdoados”[46]
resume toda a vida de Jesus. Quando depois da ressurreição Jesus apareceu aos
seus discípulos Jesus os envia[47].
O discípulo é um mandado, então um que não tem uma autoridade própria. Tudo
aquilo que o discípulo diz o aprendeu por Jesus. Só desta maneira o discípulo
tem autoridade. De fato, quando o discípulo prega si mesmo, não tem autoridade
e moral nenhuma. É claro que pra fazer isso, para fazer aquilo que Jesus fez,
não basta a nossa boa vontade[48].
Por isso Jesus soprou sobre eles o Espírito Santo[49].
Então “a quem perdoardes os pecados lhes
serão perdoados”[50].
Tudo aquilo que os discípulos são convidados a fazer se resume neste poder, que
é o poder de Jesus de perdoar os pecados, de doar aos homens a vida.
“Por meio do seu
nome”[51]. Sendo
que somos chamados com o seu nome não somos pessoas perdidas, somos o povo de
Deus, temos o seu nome que nos foi entregue no dia do batismo. Receber o nome
de Cristo significa passar de propriedade, quer dizer adquirir uma nova
família.
“Escrevo a vós,
pais: conheceis aquele que é desde o principio”[52],
ou seja, conhecestes Jesus Cristo. Os pais são aqueles que fizeram uma longa
caminhada. O caminho do amadurecimento espiritual requere tempo, paciência.
Conhecer Jesus Cristo: não é apenas um dado intelectual,
mas que envolve toda a pessoa. Cf. Fil 3, 7-11: conhecer Jesus Cristo
significa que Ele se torna a segurança da nossa vida, todo o resto não consegue mais me atrair. Para
chegar á plenitude do conhecimento, é preciso conhecer a ressurreição de Cristo
dos mortos, participando também dos seus sofrimentos.
O coroamento da fé é no conhecimento[53]
e o conhecimento é amizade com Jesus, é passar de servo para amigo. Tudo se
resume no conhecimento. A vida eterna é conhecimento[54]:
então é experiência e comunhão. O Senhor não pode ser uma simples idéia, mas um
amigo familiar. Sou seu discípulo, então o escuto, o entendo, o aceito. Podemos
acrescentar que a comunhão com Jesus é obra do Espírito Santo, pois é o
Espírito que permite ao cristão de aprofundar o seu relacionamento e de chegar
a este conhecimento[55].
O Espírito Santo nos abre para o conhecimento
de um mundo novo, que nasce da morte e ressurreição de Jesus. Entender
que vale a pena perdoar, significa entrar na nova maneira de raciocinar.
“Eu vos escrevo,
jovem, porque venceste o Maligno”[56].
É típica da juventude a luta. A vida cristã é feita de lutas, fadigas, sofrimentos,
riscos. A luta acontece, sobretudo no começo, apesar e ser sempre presente na
vida cristã. São Paulo o descreve muito bem na carta aos Efesios[57].
É uma luta contra forças que são mais fortes do que nós e não temos nenhuma
chance de resistir com a nossa inteligência e com as nossas forças. Tomamos,
então, a armadura de Deus. Os jovens não devem temer, pois a vitória é certa,
sendo que Jesus já derrotou o inimigo. “Esta
é a vitória que venceu o mundo: a vossa fé”[58]
. A vitória dos cristãos reproduz a vitória de Cristo[59].
v. 14: A capacidade de resistir na luta e de vencer é
ligada por João com a Palavra de Deus. Sendo que tendes a palavra de Deus, e
esta Palavra permanece em vós, então já vencestes. É importante parar um pouco,
para refletirmos sobre o valor da Palavra.
Hb 11,3: A Palavra de
Deus Criou o mundo.
Sab 18, 14-17: a
Palavra é poderosa.
Jer 23,29: a Palavra é
como um fogo, um martelo que despedaça a pedra.
2Tim 3,14-16: toda
palavra é inspirada por Deus.
“Não ameis o
mundo”[60].
Se antes amávamos o mundo, agora não devemos mais amá-lo.
b. As três
concupiscências ( 2,15-17).
Mundo: em primeiro lugar é preciso dizer que mundo, nos textos de João,
não aponta para um espaço físico, um lugar, mas sim para uma situação
espiritual. Se não fosse assim seria uma contradição. De fato como é que Deus
primeiro cria o mundo e depois o despreza? Mundo é, então, a criação que vive
separada de Deus, sem o relacionamento com Deus, pois o relacionamento com Deus
é a dimensão fundamental da experiência cristã. O mundo é aquela realidade
apoiada sobre o maligno, aquele espaço cujo príncipe não é Deus, mas sim o
diabo[61].
O mundo é o conjunto de todos os bens passageiros que são oferecidos aos
homens. Existe a tentação constante para o homem de amar o mundo, de apegar-se
as coisas mundanas. Porque isso? Porque o homem é radicalmente frágil, é uma
pobre criatura, é condenado a morrer desde o dia do seu nascimento. O homem precisa de tudo pra viver. Nesta
condição o homem pode fazer o que? Defender-se, buscar proteção, amparo, etc. [62].
Ande o homem encontra esta proteção? No mundo. O dinheiro, por exemplo. As
coisas são uma segurança (o mosteiro pode se tornar uma segurança material,
sobretudo neste contexto). O problema é que o mundo passa com a sua
concupiscência[63].
É preciso, então, vigiar sobre os desejos e os medos que temos. O problema
nessa altura é o seguinte: como podemos vencer a sedução do mundo?
“Se alguém ama o
mundo, o amor do pai não está nele”[64]. Aquilo que garante o homem é o amor do Pai. De fato o Pai garante o
homem perante o futuro, perante os outros, perante a morte, perante os seus
fracassos, os seus pecados, pois Deus é maior dos nossos pecados. Se o amor de
Deus está em nós, não precisamos mendigar seguranças. Aliás, no ser amados por
Deus, encontramos a paz[65].
V. 16. Existem três maneiras através das quais se expressa o amor do
mundo.
Antes de tudo podemos dizer, do ponto de vista geral que
a concupiscência se manifesta como vontade de viver ao contrario a realidade de
Deus.
A primeira maneira é a concupiscência da carne. É a postura de quem enxerga tudo como
instrumento por sim, pelo seu sucesso, pela sua satisfação. Para entendermos
melhor isso precisamos folhar as paginas de Paulo. Gal 5, 16-21: a lista começa
com três palavras que se referem a sexualidade: fornicação, impureza,
libertinagem. Aqui a sexualidade se torna busca do próprio prazer e não dono de
sim[66].
Depois tem duas palavras que falam da religião, aliás a deformação da religião.
Aqui a religião torna-se um meio para se servir de Deus[67].
Depois o texto segue com uma serie de sete palavras que são relacionadas aos
irmãos.
A segunda é a
concupiscência dos olhos. É a vontade de possuir, a
avareza, de querer pra si tudo aquilo que se vê. Santo Agostinho[68]
afirma que a concupiscência dos olhos é a curiosidade: a necessidade de fazer
todas as experiências.
A ultima é o orgulho da riqueza. Quando uma pessoa
possui riquezas não percebe mais que é um pobre homem, que deve acolher a
salvação como um dom e que não pode adquire-lo. O livro de Ezequiel descreve
muito bem esta situação, na famosa historia de Tiro[69].
Por isso o evangelho fala que a riqueza é um perigo enorme no reino de Deus[70].
De fato, a riqueza tende a render o homem auto-suficiente. Pode acontecer como
na parábola contada no evangelho de Lucas[71].
No final de conta, aquilo que vale é exatamente aquilo que somos perante Deus.
O centro da nossa vida deve ser constantemente Deus. Paralelamente ao acumular
o dinheiro, existem outras posturas parecidas: acumular a estima dos homens,
gratificações. Somos pobres pessoas, e nos apegamos a tudo. Quando desfalece a
confiança na proteção de Deus, o homem busca a proteção em outros lugares. A
experiência do mundo não deve se tornar o todo. Devemos aprender a viver cada
experiência aberta a Deus. O mundo não é o tudo do homem. O tudo do homem
permanece Deus, só e exclusivamente Deus. Quando o mundo ocupa o nosso coração,
não tem mais espaço para Deus. Por isso vale aquilo que Jesus dizia: aonde é o
teu tesouro lá é o teu coração[72].
É claro que tudo é bom pois tudo é criação de Deus. O
problema é que se as coisas são dom de Deus devem ser vividas como dom de Deus.
Então é o Senhor que buscamos, também através das coisas, das quais precisamos
pra viver, sem ligar o coração.
Quarta
Condição: guardar-se dos anticristos (2,18-27)
“Esta é a ultima
hora”: é o tempo no qual precisamos vigiar[73].
Precisamos ser prontos para acolhermos o Senhor que vem. O pecado pior que pode
acontecer conosco é adormecer, como as virgens estultas[74].
Neste contexto espiritual é preciso olhar para frente. Esta vigilância deve ser
exercida, sobretudo no confronto dos anticristos. Também Paulo falava disso[75].
O tempo presente da comunidade de João era um tempo de confusão, aonde varias
tentativas eram feitas para confundir a verdade[76].
Anticristo: Cf. Ap 13. Seja o que for o anticristo
designa uma oposição a Cristo. A presença de muitos anticristos revela, segundo
João, a aproximação do fim deste mundo. O tempo no qual vivemos é orientado
para um mundo novo[77].
O sofrimento maior deriva da constatação que estes anticristos não vem de fora,
mas saíram do meio da comunidade, ou seja, são cristãos que pertenciam a
Igreja.
“Nem todos são dos
nossos”: existe uma pertença a Igreja puramente exterior, puramente física,
puramente superficial, que não expressa a verdadeira pertença. Se uma pessoa é
batizada, nem por isso quer dizer que seja Católica[78].
Para que uma pessoa seja dos nossos, é preciso que dentro, no coração, seja
acontecida uma conversão, uma transformação.
É na hora da tentação que se verifica a verdade da nossa
pertença a Igreja.
“Vós, porém,
tendes recebido a unção”[79]:
a unção são duas coisas juntas: a Palavra e o Espírito Santo, a verdade e o
Espírito. Nós recebemos de Cristo a Palavra e o Espírito. A Palavra de Deus se
torna a nossa carne e o nosso sangue. Por meio do Espírito, aquilo que lemos no
Evangelho se torna nossa carne e sangue, da maneira que nós mesmos nos tornamos
com a nossa vida Palavra de Deus. Pelo fato que recebemos a Palavra com a força
do Espírito, nós agora temos a ciência, ou seja, a capacidade de discernir o
verdadeiro do falso, a verdade do erro. Existe uma sensibilidade típica do
cristão que lhe permite de orientar-se na vida, que lhe permite de avaliar as
situações, e de entender para onde deve ir. Nestes casos nós temos a ciência.
“Nenhuma mentira
procede da verdade”: a Verdade é Jesus Cristo, o Filho de Maria, que nasceu
em Belém, viveu em Nazaré, pregou perto do mar da Galileia, percorrendo as
estradas da Terra Santa: este é Jesus, um homem concreto. Além disso, a fé nos
diz que este homem concreto é o Cristo, ou seja, a realização de todas as
promessas de Deus no A.T.. Cristo é a revelação perfeita de Deus, a
manifestação plena da realidade, do coração, do pensamento de Deus. Este é o
grande paradoxo que cria dificuldade as mentes dos homens: que o Deus eterno
possa ser limitado em um homem, que o eterno entre no tempo finito dos homens.
Este é o escândalo, difícil de engolir. Este escândalo golpeou antes de tudo,
os mesmos moradores de Nazaré[80]:
escandalizavam-se pela sua humanidade. Aquilo que conheciam de Jesus era motivo
de tropeço para eles, impedia a eles de acreditar: é o escândalo da carne.
Quando o Verbo se faz carne, o homem deve superar o véu da fraqueza, para
reconhecer a força e Deus[81].
Para conhecer Cristo é preciso ir além das aparências, além da carne, além da
fraqueza humana de Jesus. É preciso entender que conhecer a Jesus é conhecer o
Pai, assim como odiar a Jesus é odiar o Pai. A fé acredita que Jesus é a
revelação plena de Deus, então é o sentido profundo do mundo. Se Jesus é o
Filho e Deus então podemos dizer com João que Deus é amor[82].
Que Deus é amor o entendo olhando a cruz de Jesus: este é o sinal do amor de
Deus. Um Deus que se faz carne, que toma sobre de si a minha fraqueza, que
partilha a pobreza da minha condição, que sofre como eu sou capaz de sofrer,
que conhece a angustia da morte, manifesta plenamente o seu amor para com o
homem[83].
Um Deus assim é sem duvida um escândalo e até os discípulos, na hora da paixão,
ficaram escandalizados[84].
Pela pessoa que ama a postura fundamental não é mais a
defesa de si mesmo, mas é a vida do outro; então a pessoa que ama tende
devagarzinho a tirar as autodefesas, se torna frágil, vulnerável. Esta fraqueza
se chama fraqueza do amor. O amor é fraco, mas ao mesmo tempo é tenaz, pois é
capaz de superar qualquer obstáculo, também a morte. É por isso que em Jesus
encontramos a revelação do amor de Deus.
VV. 22-23: Se Jesus não é o Filho de Deus, Deus não é mais o Pai! Deus não é
mais amor! Se negarmos Jesus, não teremos mais o Pai. O problema é colher que
Jesus vem do Pai, que é esta a sua origem, a sua verdade.
VV. 24-25: “Procurai que permaneça[85]
em vós aquilo que ouviste desde o principio[86]”:
no confronto de Paulo, João sublinha mais a importância da interiorização da
palavra. O Evangelho é dentro de nós: devemos conservá-lo, guardá-lo dentro. A
Palavra deve crescer dentro de nós, deve se tornar minha carne[87].
VV. 28-29: O tempo presente é o tempo da ausência de Jesus. Existe uma vinda
do Senhor que nós esperamos. Esta espera incide no presente: agora vivemos em
função daquela vinda. Agora é o momento da vigilância, é o momento em que
devemos praticar as obras da caridade. Quando o Senhor verá serão estes
talentos da caridade que Ele cobrará de nós. Faz parte da experiência cristã a
espera do futuro[88].
Enquanto esperamos que o Senhor venha, nós andamos ao seu encontro com uma vida
perfeita na caridade. João nos convida a fazer a experiência do Senhor para
podê-lo reconhecer no dia da sua vinda.
Os anos que temos pra viver nesta terra servem para nos colocarmos em
sintonia com Ele. Se permanecermos em comunhão com Cristo desde agora a vida
eterna será só uma mudança de substancia, de modalidade. Devemos viver agora na
maneira que o encontro com o Senhor não queira dizer sermos difamados [89]
.
II°
parte: Viver como filhos de Deus
Filhos
de Deus (3,1-2)
Nestes primeiros versículos da segunda parte da carta,
João nos pede de ficarmos admirados para sermos considerados dignos de nos
tornarmos filhos do mesmo Pai. Aquilo que Jesus é, a sua mesma experiência de
Deus, aquela que acompanhou Jesus ao longo da sua vida, esta mesma experiência
Jesus a comunica a nós. Aquilo que Deus é por Jesus o será também por os
discípulos.
O coração do cristianismo é uma vida, uma vida
comunicada.
É preciso entender o relacionamento que existe entre o
Pai e o Filho, assim como o N.T o revela. Este relacionamento é explicado,
sobretudo na oraçãosacerdotal de Jesus.
Jo 17: tudo aquilo que o Pai tem o dou ao Filho.
Na primeira carta a João este relacionamento entre o Pai
e o Filho é dilatado para compreender também o cristão. Se o Pai é o Pai de
Jesus Cristo, através do mesmo Jesus Cristo se torna Pai de todos os cristãos.
Se o Pai doa a Cristo o seu amor, em
Jesus doa o seu amor a todos aqueles que acreditam. Se doa a sua vida ao Filho,
a doa a todos aqueles que acreditam.
Todo o discurso, no final de conta, se resuma na
percepção da vontade de Deus que em Cristo convida toda a humanidade a entrar
na sua mesma vida, na vida trintaria, através de Jesus Cristo. Jesus vem do
Pai, é enviado pelo Pai, para permitir aos homens de participar do amor de
Deus, de receber o amor de Deus.
Para são João a vida de Jesus consiste nisso: que Jesus
leve para os homens a experiência da sua vida. Todo o Evangelho pode ser lido
nesta perspectiva:
Jo 1,12: crer no nome de Jesus significa receber o poder
de se tornar filhos de Deus.
Se Israel acolherá a experiência de Jesus por si como
dom gratuito do Pai, encontrará a liberdade dos filhos, poderá se tornar aquilo
que devia ser, mas que não conseguiu ser por causa dos seus pecados[90].
O cristão que vive conforme Jesus, se torna alheio ao
mundo, pois o mundo não o reconhece como seu.
1Jo 3,2: o fato que somos filhos de Deus está escondido na realidade da
nossa fraqueza, mas um dia será manifestado na plenitude da sua gloria. Deus se
fez homem para que o homem se tornasse como Deus. Podemos nos tornar como Deus
através de Jesus Cristo[91].
E isso não com um nosso caminho de autoelevação, mas seguindo as pegadas de
Jesus.
“O veremos assim
como Ele é”: ver Jesus nos salmos, quer dizer participar á plenitude da sua
comunhão. Ver Jesus significa reconhecê-lo como Filho de Deus e ser em comunhão
com Ele. Tudo isso é a conseqüência da encarnação, da presença de Cristo no
meio dos homens e para que se abra nos nossos corações a esperança, com a
esperança o desejo e dessa forma a nossa vida se torne um caminhar na direção
de Cristo.
Primeira
condição: romper com o pecado (3, 3-10)
Esta seção é contra as ilusões que o homem produz. A
comunhão com Deus exige uma ruptura radical com o pecado. A ascese cristã
existe porque o cristianismo é comunhão com Cristo e, sendo que Cristo é puro,
sendo que Ele é limpo e santo, todo o caminho cristão é um transformar-se, é
tirar tudo aquilo que nos afasta e nos torna diferente de Cristo, para podermos
ser em profunda comunhão com Ele. Isso quer dizer que a comunhão com Cristo
exige uma ascese, uma purificação interior e exterior[92].
1Jo 3,4: cometer pecado não é somente cometer alguma ação errada, mas é
agir sob o influxo do satanás, é participar da sua oposição a Deus[93].
Este é um tema típico de João que fim do começo do seu Evangelho sublinha o
sentido da vinda de Jesus: “Eis o
Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”[94].
Tirar em grego tem
dois sentidos: tirar e levar. Jesus veio a tirar o pecado do mundo, levando o
peso dele, mesmo como o servo de Javé do qual fala o profeta Isaias[95].
O crucifixo é por João uma fonte para lavar o pecado e a
impureza, para que toda a casa de Israel possa ter a plenitude da graça, da
consolação e do perdão[96].
Segundo João o homem, a humanidade concreta é uma
humanidade mergulhada no pecado e, mesmo por isso, é escrava: “Quem comete
pecado é escravo”[97].
Esta escravidão separa o homem de Deus. A realidade do pecado é aquela de não
pertencer a Deus, ma de ter como pai o diabo, ou seja raciocinar como raciocina
ele, obedecer as suas instigações[98].
Pelo contrario, lembra João, em Cristo não tem pecado[99],
não existe nele nenhuma rebelião á Deus, nenhuma vontade de auto-suficiência,
mas uma perfeita obediência e um perfeito amor.
Segundo s. João a vida de Jesus é uma espécie de grande
processo: Jesus veio ao mundo e o mundo o acusa, o acusa de mentira, de
infidelidade no confronto de Deus, de impiedade, de blasfemar, porque segundo o
mundo Jesus é um pecador. Mas é exatamente nessa altura que entra o mistério da
ressurreição junto com o dom do Espírito. De fato o Espírito Santo terá a
tarefa de mudar a sentença dos homens; os homens acusaram Jesus de pecado e o
condenaram a morte; o Espírito Santo demonstrará que o pecado não foi cometido
por Jesus, mas pelo mundo. A única coisa que Jesus fez no mundo é a justiça. De
fato foi Jesus que subiu ao Pai: este é o sinal que Ele é Justo. Tudo se decide
em cima disso: se Jesus é verdadeiramente a revelação perfeita de Deus, ou se
Jesus é um pecador. Agora por João, entre Jesus e o pecado existe uma oposição
impressionante: Jesus em toda a sua vida não fez outra coisa que tirar os
pecados. A conseqüência disso é natural: “Quem permanece com Ele não peca; quem
peca não o viu e nem o conheceu”[100].
Conhecer Jesus não é um fato de simples inteligência:
aquilo que importa são as obras e se uma pessoa fica com Cristo, não peca. Se
Cristo de verdade se torna o coração da minha vida, não posso pecar, porque
Cristo não suporta o pecado.
Na carta aos romanos, Paulo afirma a mesma idéia[101].
Através do Batismo Deus nos desenraizou do pecado. “Caminhais segundo o Espírito e não sereis levados a satisfazer os
desejos da carne”[102]
.
Todo este discurso é contra os falsos misticismos, ou
seja, experiências de Deus que porém não tem fundamento, porque vivem juntas
com o pecado, com a infidelidade. Contra isso João tem palavras claríssimas e,
ao mesmo tempo duríssimas: “Quem comete pecado vem do diabo, porque o diabo é
pecador dede o começo”[103].
De fato, atrás do pecado está o satanás, pois o pecado está submetido às
instigações do diabo. É o conceito que João aplica a Judas[104].
A má vontade de Judas consiste no ter aceitado a instigação do diabo, ou seja,
no ter reproduzido a postura de Adão e Eva.
V.9: Semente: é a palavra de Deus interiorizada pela força do Espírito[105].
É, assim, a Palavra encarnada na vida do crente. A Palavra de Deus é uma
semente, uma força colocada dentro do coração do cristão que não lhe permite de
pecar. É a mesma idéia que aparece também em Pedro[106].
Também na carta aos Hebreus encontramos uma idéia
aparecida[107].
Claramente o exemplo mais famoso é parábola de Jesus[108].
Então a Palavra de Deus colocada no coração do cristão o
rende impecável, realizando, assim, a profecia dos profetas[109].
Também o Salmo 37 expressa este conceito: “A lei de Deus é no seu coração e os seu
passos não vacilarão”.
Isso quer dizer que, quando a lei de Deus está no
coração, existe obediência plena a Deus.
É o tema da interiorização da Palavra, que é algo que
deve ser “mastigado”, comido[110].
Não é necessário decorar a palavra: aquilo que importa é que aprenda bem
algumas palavras, as repita até sentir o gosto. Esta é a palavra que me salva,
é a Palavra do Senhor que me protege do pecado.
“Guardo no meu
coração a Tua Palavra, Senhor, para não te ofender com o pecado”[111].
O texto de João quer dizer que, se a Palavra de Cristo
permanece no cristão, se o cristão a mastiga, a medita, a interioriza, o
cristão devagarzinho se torna transformado pela Palavra, se torna Espírito e,
então, não pode mais pecar.
Se torna Espírito: cf. o dialogo de Jesus com Nicodemos[112].
Quanto mais a Palavra entra no nosso coração, tanto mais
cresce a liberdade perante o pecado, no sentido que o pecado não exerce mais
aquela força que tinha antes.
Segunda
condição: observar os mandamentos, sobretudo o mandamento da caridade
a. Passar da
morte á vida (3,11-18)
A revelação de Deus foi como uma grande luz que permitiu
aos homens de abrir os olhos, de entender o sentido do mundo, da historia, da
vida. Que compreensão tiveram os homens quando receberam a luz? Compreenderam o
amor: é esta a luz que ilumina os homens.
O exemplo negativo que o texto propõe é Caim. Ele é o
exemplo do mundo que recusou a luz e que fica escravo do diabo. O seu ódio se
dirige contra o seu próprio irmão. É o oposto do amor que encontra no outro um
irmão. O ódio leva as pessoas a considerar os irmãos inimigos. O homem é
arrastado pela potencia á qual se entrega. Existe uma inimizade fatal entre
trevas e luz. As trevas não aceitam de serem desmascaradas no pecado, e a
pessoa honesta, a pessoa que ama, desmascara o mal até sem querer. No livro da
Sabedoria descrito muito bem este dualismo[113].
A vida do justo se torna insuportável para os ímpios porque a sua vida é
iluminada da Palavra de Deus e do amor e condena, também sem querer, só com a
sua presença, a vida dos ímpios. Aonde existe ódio e impiedade o amor não é
suportado. Perante esta situação tem dois caminhos de saída: ou o ímpio se
converte, ou elimine o justo. Caim, por exemplo, escolheu a estrada da
eliminação do amor. Por isso João acrescenta: “Não vos admireis, irmãos, se o mundo vos odeia”[114].
É na lógica do mundo odiar quem ama, odiar os discípulos. O mundo odeia também
através da persecução.
Cf. Ap 13,16-17: quem não se dobra á idolatria, é
impedido de viver. Quem não se adapta ao mundo, é impedido o sucesso, a
carreira. Neste sentido o insucesso no
mundo é sinal da verdade da nossa caminhada cristã. A busca da vida é um tema
central em João: já vimos isso no começo da reflexão[115].
Agora a busca da vida para João termina no encontro com Jesus, pois, ter
encontrado Jesus significa ter encontrado a fonte da vida.
“Nós sabemos que
passamos da morte para a vida porque amamos os irmãos”[116].
A comunidade cristã é o conjunto daqueles que se amam como irmãos, com o amor
que receberam de Jesus. Quem na ama é esmagado pela morte. Esta mesma idéia se
encontra também em Mateus 5, 21-24 e em Mt 25. No contexto do julgamento final
não é dito que estas pessoas que são julgadas negativamente odiaram, mas não
amaram, ou seja, perante á alguém que precisava, fecharam o coração.
“Todo aquele que
odeia seu irmão é homicida”[117]:
o amor é por sua natureza ativo. O amor não se confunde com nenhum gesto.
“Nisso conhecemos
o Amor: ele deu a sua vida para nós e nós também devemos dar a nossa vida para
os irmãos”[118]:
o amor é aquilo que fez Jesus[119].
O amor é aquela revolução na vida da gente que leva a colocar o outro antes dos
meus interesses. Não utilizo mais os outros para alcançar os meus objetivos,
mas coloco a minha vida a serviço dos outros. Tudo isso é bem explicado na
parábola do bom samaritano[120].
No momento que deparamos com o irmão que sofre temos a vocação a nos aproximar,
a criar aquelas dimensões de solidariedade pelos quais se levam os pesos um dos
outros. Então a revolução é de uma vida aonde o centro é o eu, para uma vida
aonde o centro é o irmão que precisa. É isso que quer dizer amar: doar, colocar
o outro no centro: “Também nós devemos
dar a vida para os irmãos”.
O amor é autentico no cotidiano. O amor não é feito de
palavras enfeitadas, mas sim de gestos concretos[121].
Amar com a verdade significa amar com um amor que nasce
da revelação do amor de Deus por nós. Isso quer dizer que o amor com o qual nos
amamos nasce da verdade que interiorizamos, é um amor conforme a revelação de
Deus. Aqui se encontra aquela ligação entre fé e amor, típica de João. A
verdade é a fé, a Palavra de Deus que se tornou verdade no coração do homem; a
caridade está nas obras que são produzidas desta interiorização[122].
b. Nascidos da
Verdade (3, 19-24)
Se uma pessoa quer saber se é na verdade deve fazer um
exame de consciência. Devemos aprender a viver a nossa vida perante Deus, sem
nos preocupar demais com aquilo que os outros pensam[123].
Se trata de uma caridade, de uma santidade que deve ser
tal perante Deus e não perante os homens[124].
A vida de fé é vida perante Deus no meio do mundo. Devo buscar uma serenidade
sobre a minha vida que não deve depender do julgamento dos outros, mas daquilo
que me diz o meu coração. O único caminho pa chegar na paz, na quiete, á
serenidade interior é viver na verdade, no amor. Pra querer bem de verdade não
devemos ser preocupados demais com nós mesmos, com aquilo que os outros podem
pensar de nós. É preciso aprender a esquecer um pouco a si mesmo. Se, de fato,
somos preocupados demais para salvar a nossa vida, corremos o risco de ficarmos
estressados, amedrontados, agoniados. Aquilo que conta não é a nossa agonia,
aquilo que podemos fazer, mas é a sinceridade do nosso coração perante Deus[125].
Receber a salvação de Deus quer dizer conversão e calma, quer dizer abandono
confiante. Em João a conversão significa amor. No momento em que o nosso caminho de fé se torna um caminho de
amor, encontramos a paz, a calma perante Deus.
Rom 5,1: Somos
justificados através da fé, porque Deus nos perdoou, nos rendeu justos e,
através da fé, o temos amado.
V. 22: qualquer coisa pedimos receberemos dele. È a situação da criança
perante o pai. O filho ao pai pode pedir qualquer coisa. Esta é a nossa
condição, não pelos nossos méritos, mas porque Deus nos justificou e, com um
coração cheio de paz, podemos no aproximar de Deus como filhos para pedirmos o
que quisermos[126].
Da angustia para o futuro o discípulo é liberado da
possibilidade de rezar, ou seja não sei se terei um pedaço de pão esta noite,
mas sei com certeza que tenho um Deus que me ama e que é como um Pai para mim,
ao qual posso pedir o que quiser. A condição da nossa oração é a plena harmonia
com Deus.
Modelo da oração cristã é a suplica de Jesus no
Getsemani[127].
“Foi atendido por
causa da sua submissão[128]”:
em que sentido foi atendido? Na realidade a paixão rende perfeito o Filho,
causa de salvação eterna por todos aqueles que obedecem a Ele. Existe um
atendimento de Deus que não é conforme a vontade humana, mas que é escondida na
vontade do Pai[129].
Em cada oração existe este pano de fundo misterioso, que é a sintonia com Deus
que o Espírito cria nos nossos corações.
Terceira
condição: proteger-se dos anticristos e do mundo (4,1-6)
É preciso discernir as profecias e ter critério para
entender quais são os profetas verdadeiros. No A.T. já encontramos alguns
critérios. In Dt 13, 2-6 o critério é a fidelidade ao Senhor. Mt 7,16 fala que
é dos frutos que reconheceremos os verdadeiros profetas. Em 1Jo 4 o primeiro
critério é aquilo da fé, da fidelidade á profissão de fé[130].
III°
parte
ÁS
FONTES DA CARIDADE E DA FÉ
a. Deus é Amor
(4, 7-8)
O cristão é aquele que é amado por Deus. É o amor de
Deus que oferece para o cristão uma nova origem, uma vida nova. O cristão não
deriva simplesmente da vontade da carne, de um homem, mas vem do amor de Deus.
Quem inventou o amor foi Deus. Para Deus amor quer dizer doar a si mesmo. O amor
de Deus é um amor gratuito, criativo. Esta idéia já se encontra no A.T.:
1.
Sal 136.
2.
Dt 7,7-8
3.
Dt 9,6
4.
Is 43, 1-4
5.
Ez 16, 1-63
6.
Os 11,1-9
Este discurso do A.T. está na base de toda a experiência
cristã e também na experiência do N.T.
1.
Lc 15
2.
Mt 20, 1-16
Estas parábolas mostram claramente que não um fato tão
banal assim que Deus seja amor.
b. O amor do
Filho (4, 9-10)
Jesus não pode amar o Pai sem amar os discípulos que são
o dom do Pai a Jesus. Jesus vê nos discípulos o amor do Pai para eles; então
cada resposta no confronto do Pai passa através o amor dos discípulos. Em que
sentido consiste o amor de Deus? No fato que Deus viu uma humanidade submetida
á morte, á miséria do pecado; desta humanidade ele teve compaixão, e por essa
humanidade doou, mandou o seu único Filho.
Atrás da palavra “enviado”[131]
está toda a vida de Jesus. De fato, toda a vida Jesus é um sinal, é a
demonstração, é a realização do amor do Pai por nós: toda a vida de Jesus diz o
dom de vida eterna aos homens[132].
Em todos os sinais que Jesus realiza no Evangelho de João encontramos uma
humanidade pobre que desejaria viver, mas não tem mais a força. De fato, apesar
de toda a ciência o homem permanece pobre naquilo que faz e, sobretudo, no seu
coração. Para esta humanidade Jesus é o amor de Deus; Jesus é o dom da vida, em
tudo aquilo que faz e em tudo aquilo que diz.
O fato que Deus nos doou o seu Filho Jesus quer dizer
que a nossa vida lhe interessa, que toma cuidado com as nossas misérias[133].
Jesus é a presença definitiva de Deus, a presença de um
Deus que salva.
c. Amor fraterno
(4, 11-12).
Como Deus se comportou conosco assim também nós devemos
nos comportar com Ele[134]:
é desta forma que seria lógico dizer. Só que o teor da conversa de João é
diferente. A verdade do amor de Deus que se manifestou em Cristo e que nós
recebemos nos sacramentos, está no nosso amor para com os irmãos e as irmãs. Por
isso devemos aprender a amar os outros não por causa de uma \simpatia humana
que vislumbramos neles, mas em força do amor de Cristo por nós. Por isso devemos
amar sempre e, também, os irmãos e as irmãs que não são muito simpáticos. O
critério, a fonte do nosso amor para com os irmãos não pode ser o mesmo irmão,
mas o amor de Cristo por nós. Devemos aprender a querer bem pelo fato que Deus
nos quis e continua nos querendo bem; a prova maior disso é o seu Filho Jesus.
Esta é grandíssima novidade da mensagem do Evangelho: amamos os irmãos porque o
Senhor nos amou. Este tipo de amor torna livre as pessoas. Quando, de fato,
amamos os outros em virtude de uma simpatia, entramos no relacionamento com
muito cobrança e exigência. Aquilo que acontece é que basta uma desentendida
para fechar a cara e romper o relacionamento. Pelo contrario, se de verdade é
Cristo a fonte do nosso amor, devemos aprender a devolver ao ódio o amor. O
irmão pode até ficar aborrecido conosco, mas nem por isso paramos de amá-lo,
pois a nossa fonte de amor não são as pessoas, mas o amor de Cristo. O amor que
João relata e aponta para os cristão, não é um amor humano, mas sim divino. É
aquele amor que não se cansa nunca de amar, pois é fundado sobre Cristo.
Cf. também Ef 4,32.
A presença de Deus é real no mundo, e é real através o
amor dos irmãos.
Aonde existe o amor fraterno autentico ali existe a
força de Deus[135].
d. O Espírito
Santo (4, 13-16)
A nossa comunhão com Deus se reconhece da obra que o
Espírito realiza nos nossos corações, se reconhece pelo fato que aquilo que
dizemos e fazemos vem do Espírito e não da nossa inteligência.
Quais são as obras que vem do Espírito? João anuncia
três.
A primeira é a
visão da fé e o testemunho de Cristo dos discípulos, que testemunham aquilo que
viram. João viu aquilo que viram os judeus com a diferença que, enquanto os
Judeus não acreditaram á Jesus, aquilo que viram e escutaram pela boca de
Jesus, João acreditou. A diferença é no Espírito, pois é o Espírito que abre os
olhos para ver as coisas escondidas, para ver o mistério de Jesus, da sua
origem, da sua pessoa.
A segunda obra é contida neste versículo: “Aquele que confessa que Jesus é Filho de
Deus, Deus permanece nele e nele em Deus”[136]. O Evangelho de João quer chegar
àqueles que, sem terem visto Jesus, acreditam pelo dom do Espírito.
A terceira obra é dirigido a todos[137]
. O Espírito quer nos ajudar a reconhecer o amor de Deus que se manifestou em
Jesus. É o Espírito Santo que nos ajuda, ainda hoje, a encontrar Cristo na sua
Palavra.
e. A perfeição do
amor (4, 17-21)
Aquele amor que sai de Deus e que, através de Jesus,
chega a nós e nos transforma através do amor fraterno, alcança a sua perfeição
no momento em que se dilata á amar sem limites, á amar com aquela riqueza que
recebemos do amor de Deus. Em outras palavras o cristão que ama é semelhante a
Cristo. O cristão autentico transforma em caridade tudo aquilo que toca.
Transforma em caridade o trabalho, o estudo, a oração, o relacionamento com os
outros. Quem vive assim, como Jesus viveu, não tem medo do julgamento final,
mas vai ao seu encontro com confiança. A caridade pertence ao mondo de Deus,
então, ao mundo futuro. Então, na pessoa que ama existe uma espécie de
antecipação da vida futura[138]
.
O amor que vem de Deus exclui todo temor. A segurança do
amor de Deus deve gerar liberdade.
f. Nascidos de
Deus por fé (5,1-4)
Amar de verdade uma pessoa significa amá-la como Deus a
amou. Quando o amor pelo outro é são, limpo, nós amamos Deus no outro. O amor a
Deus, a obediência a Ele é o critério para amar autenticamente os irmãos. De
fato amar os irmãos, não é apegar-se a eles, grudar neles. Amar os irmãos exige
gratuidade, doação. Quando o amor é autentico amar Deus nos outros é amar Deus
por aquilo que os outros são de verdade. O amor doa uma capacidade
impressionante de levar os pesos[139].
É a fé que vence o mundo, porque vence os medos do homem. De fato, que medo
devemos ter e de quem, quando Deus nos ama? Se derrota o mundo quando o mundo
não tem mais poder de nos atemorizar.
Á
FONTE VDA FÉ (5,5-13)
A vida de Jesus se resume nestes dois pólos que são o
batismo e a morte, intrinsecamente ligados entre eles. De fato o batismo no
Evangelho é prefiguração da morte de Jesus. A morte não é que um batismo para o
Senhor. Batismo e morte dizem o mistério da presença de Deus no meio dos
homens, uma presença de doação e salvação. É o Espírito que nos ajuda a
entender o crucifixo a revelação do amor de Deus. “É o Espírito que dá testemunho”[140],
que nos ajuda a penetrar os mistérios da vida de Jesus.
O Batismo e a morte não são realidades que pertencem ao
passado, mas realidades presentes nos sacramentos da Igreja. Nos sacramentos da
Igreja a via de Jesus é atual. Para João a fé que temos no Senhor não apenas
ligada a fatos do passado, mas á experiência atual da Igreja e dos sacramentos:
hoje o Espírito, a água e o sangue dão testemunha.
[1] Cf. A. J. Heshel, Deus em
busca do homem,
[2] O Deus da revelação não tem medo de se tornar pequeno, de se
abaixar, de tomar conta daquele ser pequeno e pobre que é o homem. Pelo fato da
Sua gloria ser integra, ele pode se abaixar. São os presuntos grandes do mundo
que tem medo de se abaixar, com medo de perder a gloria.
[3] Cf., também Jo 14,9.
[4] Cf. A. Schweitzer,
[5] Cf. Jo 17.
[6] Cf Jo 15,11.
[7] Cf. Jo 16, 20-23.
[8] “Platão deu a esta concepção [que Deus é luz] caráter filosófico
quando ele usou o sol como símbolo da Idéia de Bem... Se a fonte da luz pela
qual conhecemos, é também a fonte da vida, então, na medida que avançamos no
conhecimento rumo a visão da Luz, nós também participamos da Vida” (C.H. Dodd, A interpretação do quarto Evangelho,
Paulus, São Paulo 2003, pp. 270.271).
[9] Cf. Sal 32.
[10] Cf. 1Cor 13
[11] Contextualizando a conversa na vida consagrada: a vida de Deus se
realizou como amor e o amor se manifestou em Jesus. Problema: de que forma
Jesus viveu o amor? Doando a si mesmo. Nisso podemos envolver o discurso sobre
a sexualidade, pois esta deve ser orientada pelo amor. Uma sexualidade separada
do amor leva por caminhos errados. Sexualidade como doação de si mesmo aos
outros: só nesse sentido a sexualidade realiza o plano de Deus; pelo contrario,
quando não é orientada pelo amor, a sexualidade torna-se instrumento a serviço
do prazer egoístico.
[12] Cf. Mt 5, 13-16.
[13] Cf. Ef 5, 1-2. 8-14; Rm 13, 11-14;
1Tsw 5, 4-11.
[14] 1Jo 1,6.
[15] 1 Jo 1,7.
[16] É por isso que Paulo fala que no Batismo, pelo qual renascemos a
vida verdadeira, participamos da morte de Cristo (cf. Rom 6, 1-11).
[17] 1 Jo 1, 9.
[18] Cf Ez 36, 26s.
[19] 1 Jo 1, 10.
[20] 1 Jo 2,1.
[21] Cf. Rom 16,26.
[22] Nisso está o fundamento da ética cristã, que não é fruto do mero
esforço humano, mas sim, participação da vida divina em nós por meio dos
sacramentos. Não basta, de fato conhecer os mandamentos para realizá-los:
precisa da graça de Deus que age em nós para ajudar-nos a viver o amor. Neste
sentido a ética cristã é bem diferente da ética filosófica. Sócrates, por
exemplo, achava que para o homem bastava conhecer o bem para realizá-lo. A
experiência corriqueira nos alerta que na realidade, o homem não consegue
realizar o bem que percebe e conhece. É aquilo que Paulo sustenta na carta aos
Romanos (7, 14s.)quando fala que o homem conhece o bem mas não consegue fazê-lo
porque está dominado pelo pecado. É necessário que Cristo entre na vida do
homem e da mulher para que os seus mandamentos sejam realizados. É claro que
não podemos também cair no erro oposto, ou seja, num determinismo sacramental
como se bastasse participar dos sacramentos para santificar a nossa vida (cf.
Lúmen Gentium 14). O homem, a mulher deve fazer de tudo para que a graça de
Deus possa agir na nossa humanidade e transformá-la. Quem aprofundou este
assunto foi Santo Agostinho. Foi ele que percebeu na vontade uma faculdade do
ser humano, uma faculdade estragada pelo pecado. Por isso, mais uma vez, para
viver a caridade é necessário Cristo. E é por essa razão que são João na sua
primeira carta bate sempre na mesma tecla, ou seja, a prova que Cristo está em
nós é a nossa vivencia do amor, pois somente Cristo viveu o amor de uma forma
perfeita, somente a sua humanidade resistiu á tentação do pecado, que empurra o
homem para o caminho do egoísmo e do ódio de se mesmo e dos outros.
[23] Cf. Dt 10,15.
[24] Cf. Josué 24: a Assembléia de Siquem.
[25] Nessa altura podemos falar do sentido da aliança como compromisso
entre dois parceiros. Quando um dos parceiros é Deus o conteúdo da aliança é a
promessa que, para ser alcançada, exige o respeito da mesma aliança (cf. Gen
12, 1-4; Ex 24; 32).
[26] 1Jo 2,6.
[27] V. Losky acha que seja esta a diferença entre a mística católica e
a mística ortodoxa, mais voltada para a contemplação (cf. ).
[28] Cf. Jo 13, 12-15.
[29]Cf. Fil 2,5-8; 1Pd2, 21; Cor 11,1.
[30] Cf. Jo 10.
[31] Cf. Jo 1,39s.
[32] Jo 6,57.
[33] Cf. Jo 5,26.
[34] Cf. Gal 5,22; Jo 17,26.
[35] “O sentido característico de aletheia no Quarto Evangelho significa
a realidade eterna enquanto revelada aos homens, seja a realidade em si, seja a
revelação dela... É a verdade o conhecimento da realidade, que vem por meio de
Jesus Cristo” (cf. Dodd, cit. Pp.237-238).
[36] Cf Jo 8,32.
[37] Na reflexão de Ratzinger a Verdade cristã se identifica com o amor.
Pra ele este é um dos dados mais elevados do pensamento cristão (cf. ).
[38] 1Jo 2,5.
[39] 1Jo 2,7.
[40] Cf Jo 13, 34-35.
[41] Cf 1 Cor 12,31.
[42] Cf. também: 1Ts 3,12.
[43] Cf Rom 13,12.
[44] Cf. Rom 8. Neste sentido permanece sempre interessante e cheia de
sentido a carta a Diogneto, in modo especial o capitulo 5.
[45] Cf. Ez 36.
[46] 1Jo 2,12.
[47] Cf. Jo 20,20-21.
[48] Cf. Rom 7, 14-8,39.
[49] Cf. Jo 20,22.
[50] Jo 20, 22.
[51] 1Jo 2,12.
[52] 1Jo 2,13.
[53] Cf. Jo 8, 31-32
[54] Cf Jo 17,3
[55] Cf. Jo 16,13.
[56] 1Jo 2,13b.
[57] Cf. Ef 6,10-18.
[58] 1Jo5,4.
[59] Cf Jo 16,33.
[60] 1Jo 2,15.
[61] Cf. Jo 16,11.
[62] Nessa altura abre-se o espaço para uma reflexão de tipo
sóciopolítico.
[63] Cf. 1Jo 2,17.
[64] Ivi.
[65] Cf. Tg 4, 1-5.
[66] A sexualidade do ponto de vista da antropologia bíblica é o ponto mais
alto da possibilidade do conhecimento do outro. A pessoa é ao mesmo tempo carne
e espírito. NA sexualidade este momento de encontro chega ao seu cume.
[67] Cf. a definição que Barth dava de religião como máxima expressão de
ateísmo quando a religião é vista como um meio de tirar proveito de Deus,
quando Deus é cobrado para realizar a vontade do homem.
[68] Cf. Comento a primeira carta á João.
[69] Cf. Ez 28, 1-10.
[70] Cf. Mt 19, 23-24.
[71] Cf. Lc 12, 15-21.
[72] Cf. Mt 6,19-21
[73] O tema da vigilância é um tema importante na primeira comunidade
cristã. Prova disso são as cartas de Paulo que em varias circunstâncias falam
deste tema.
[74] Cf. Mt 25, 1-31.
[75] 2 Tm 4,3-4.
[76] Cf. Gal 1,6s.
[77] Cf. 2Pd 3,8.
[78] Sobre este assunto Cf. Lúmen Gentium 14, e também Agostinho.
[79] Pode se fazer uma menção ao Batismo da Igreja primitiva, aonde a
unção era realizada no corpo todo da pessoa.
[80] Cf. Mt 13, 53-56).
[81] Cf. a heresia de Cerinto.
[82] Cf. Rom 1, 19-20.
[83] Muito diferente é o Deus dos filósofos: cf. Aristóteles: Deus como
pensamento de pensamento, que pode pensar só para si mesmo.
[84] Cf. Mc 14,25.
[85] Cf Jo 15, 1-8. O tema da permanência é um tema querido a João. É o
tema do discipulado que vive na presença do Senhor, grudado nele e na sua
palavra. A verdade desta permanência é a fidelidade.
[86] Cf. 2 Tm 3,14; 2 Tm 1,14.
[87] Cf. o texto de Agostinho que, no comento a estes versículos, fala
do mestre interior.
[88] Cf. Rom 13, 11-12; 1Ts 5,2.5.
[89] Cf. Mt 7, 21-23.
[90] Cf. Ex 4,23; Os 11.1.
[91] Citar Agostinho.
[92] Cf. 1Pd 1,22.
[93] Cf. 2Ts 2,7-8.
[94] Jo 1,29.
[95] Cf. Is 53,4-5.7.
[96] Cf Zc 12,10; Zc 13,1.
[97] Jo 8,34.
[98] Cf. Jo 8,47.
[99] 1Jo 3,5.
[100] 1Jo 3,6.
[101] Cf. Rom 5,20; Rom 6, 2.10-11.
[102] Gal 5,16. Cf também: 1 Cor 6,9-11.
[103] 1Jo 3,8.
[104] Cf. Jo 13,2.
[105] Cf. com aquilo que foi falado sobre a unção.
[106] 1Pd 1,22-25.
[107] Cf. Hb 4,12.
[108] Cf. Mt 13,4ss.
[109] Cf. Jer 31,31; Is 60,21.
[110] Cf Ez 2,8-3,3; Ap 10, 8-11.
[111] Sal 119,11.
[112] Jo 3.
[113] Cf. Sab 2, 9-20.
[114] 1 Jo,13.
[115] Cf. pág 1 deste texto.
[116] 1 Jo 3, 14.
[117] 1 Jo 3,15.
[118] 1 Jo 3,16.
[119] Cf. Jo 10, 11s.
[120] Cf. Lc 10, 30-37.
[121] Cf. Tg 2, 14-17.
[122] Cf Agostinho, V,12.
[123] Cf. 1 Cor 4,3-5.
[124] Cf. Ef 1,14; Mt 6,1.
[125] Cf. Is 30, 15-17.
[126] Cf. Jer 29,11-14; Mt 7,7-9; Jo 14, 13-14.
[127] Cf. Hb 5, 7-10; Mc 14,36.
[128] Hb 5, 7.
[129] Cf. Rom 8,26-28.
[130] Cf. Agostinho VII,4.
[131] É o caminho da Encarnação que um caminho de abaixamento e de
aproximação sem esquecer, porém, que é também um caminho de subida. O fato que
o mistério da Encarnação resume o sentido do amor de Deus, isso no revela e
desvende o sentido bíblico da palavra amor.
[132] Cf. todos os milagres do ev. De João (2,4,5,6,9,11).
[133] Cf Is 43, 10-12.
[134] Cf. Mt 18, 25-35.
[135] Cf Agostinho VIII, 10.
[136] 1 Jo 4,15.
[137] Cf. 1 Jo 4,16.
[138] Cf. 1 Cor 13.
[139] Cf. 1Cor13, 7.
[140] 1 Jo 5,6.
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