Paulo Cugini
Nestes domingos meditamos o
capítulo 6 do Evangelho de João, que nos oferece uma reflexão sobre o mistério
da Eucaristia, o seu significado mais profundo. É um texto complexo, de difícil
compreensão, que exige atenção, vontade de mudar, de questionar. É um texto que
nos diz claramente que Jesus, as suas palavras e as suas ações não podem ser
lidas e compreendidas simplesmente com um olhar humano horizontal: há algo
mais, qualitativamente muito diferente.
Não é este Jesus, o filho de
José? Não conhecemos seu pai e sua mãe? Como então ele pode dizer: “Desci do
céu”?
Este é o problema: pensar que
Jesus é algo que só podemos avaliar do ponto de vista humano. E assim, diante
da novidade da sua mensagem, dos seus gestos, do seu estilo, imediatamente o
esmagamos em direção ao que conhecemos e reduzimos a novidade ao já dado, ao já
conhecido. São as estruturas culturais assimiladas ao longo do tempo, formadas
e consolidadas pela força instintiva que molda a realidade e a própria
consciência, a ponto de não aceitar nada que possa questioná-la, porque sente a
ameaça. A proposta de Jesus de uma comunidade igualitária de discípulos e
discípulas, a sua forma de propor a partilha dos bens, a prioridade da vida
espiritual sobre a vida material: todas propostas consideradas como uma ameaça
às mesmas estruturas religiosas dominadas.
Ninguém pode vir a mim se o
Pai que me enviou não o trouxer
Confrontado com as objeções
dos judeus, Jesus faz esta declaração surpreendente. O encontro com Ele, a
compreensão do seu Mistério, não é mero fruto de pesquisas pessoais, de
sacrifícios, de jejuns, de artifícios meritocráticos, mas é um dom gratuito do Pai.
Estamos, portanto, fora de uma mera busca individual, de uma projeção
antropomórfica: há algo mais, que vai além das especulações racionais, dos
esforços morais. Há este primeiro nível a aceitar para continuar a discussão,
para mergulhar no mistério do Filho que se oferece como alimento para a nossa
vida. Isso significa que não é possível compreendê-lo com a lógica humana, mas
é uma questão de confiar, de se deixar atrair.
Está escrito nos profetas: “E
todos serão ensinados por Deus”. Quem ouviu o Pai e aprendeu com ele vem a mim.
Há uma bela indicação do
caminho a seguir. Como chegar até Jesus? Como ser atraído pelo Pai para ser
conduzido até Ele? A resposta de Jesus é muito clara: ouvir o Pai que falava
aos profetas. O Pai que fala nos profetas, que fala na criação, que fala cada
vez na história acontece uma experiência de amor, de igualdade, de acolhimento
e assim nos sentiremos atraídos por Jesus.
quem crê tem a vida eterna
Confiar em Jesus, na sua
palavra, na sua proposta significa deixar-nos moldar por Ele, pela sua palavra,
que transforma a nossa existência em amor, que nos ajuda a construir a paz onde
há situações de ódio; que nos ajuda a entrar no mundo dos lobos como ovelhas;
que nos ajuda a conquistar o mundo não com arrogância, mas com mansidão. Isto é
a vida eterna: a participação dos mesmos sentimentos, do mesmo estilo que
caracterizou a vida de Jesus, que passou deste mundo de morte para o mundo de
vida do Pai.
Eu sou o pão vivo que desceu
do céu. Se alguém comer deste pão viverá para sempre e o pão que eu darei é a
minha carne para a vida do mundo
Jesus se oferece como alimento
para nos lembrar que precisamos de um relacionamento diário e constante com Ele
se quisermos viver dignamente, fazendo brilhar a imagem de Deus que carregamos.
Comer o pão que é Ele significa mastigar todos os dias a sua palavra, para que
ela se torne uma nova mentalidade, capaz de influenciar os nossos pensamentos,
as nossas escolhas.
Precisamos daquele pão que é
Jesus como o ar quando nos damos conta do vazio que temos dentro de nós e que
foi formado pelos alimentos pobres que comemos, aqueles alimentos com os quais
enchemos a cabeça, mas que nos tornam vazios de sentido e de sentido autêntico.
Viver eternamente significa que as escolhas que faremos em nossas vidas como
consequência do pão do céu que comeremos diariamente, que assimilaremos, nunca
morrerão.
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