martedì 10 settembre 2024

A raiz de tudo: viver para os outros

 




Semana de retiro espiritual às irmãs adoradoras do sangue de Cristo

6-12 setembro 2024 – Manaus

 


 

Paolo Cugini

 

A fonte de uma vida fraterna é o Evangelho, pois nele encontramos o caminho de uma vida autêntica, que não se manifesta somente exteriormente, mas nos oferece também os instrumentos para vivermos aquilo que lemos. O Evangelho apresenta uma proposta que exige a disponibilidade a se deixar questionar, a sair dos próprios caminhos, dos próprios projetos, para permitir de nascer do novo, do alto, pela ação do Espírito. Nas nossas relações humanas corriqueiras, que vivemos na comunidade, é fácil ver que tipo de caminho estamos realizando, ou seja, se estamos deixando o Espírito de Deus agir em nós, o se estamos segurando a nossa vida. Mais uma vez o nosso ponto de referência é Jesus, é ele que devemos observar, compreender as suas atitudes, a sua maneira de ser, de se relacionar com as pessoas. Tem algo de diferente nele que deve nosso inspirar e, ao mesmo tempo, provoca uma atração. Jesus é o protótipo da humanidade nova. Jesus manifesta a ideia que estava na origem da criação da humanidade.

Nessa altura do discurso poderíamos nos questionar: qual é a essência da vida de Jesus, da sua humanidade, do seu jeito de ser? Qual é a característica que marca a diferença, que o torna tão especial? Observando com atenção ao estilo de vida de Jesus a resposta não pode que ser uma: Jesus é o homem que vive para os outros, que vive para o Pai. Na existência humana de Jesus não encontramos uma célula de egoísmo, um átomo de individualismo, um fragmento mínimo de fechamento em si mesmo. Vamos então folear o Evangelho para apontar os momentos em que é visível esta atitude.

A sogra de Simão estava de cama, com febre e sem tardar, falaram-lhe a respeito dela. Aproximando-se ele, tomou-a pela mão e levantou-a imediatamente a febre a deixou e ela pôs-se a servi-los. À tarde, depois do pôr-do-sol, levaram-lhe todos os enfermos e possessos do demônio. Toda a cidade estava reunida diante da porta.  Ele curou muitos que estavam oprimidos de diversas doenças, e expulsou muitos demônios. Não lhes permitia falar, porque o conheciam (Mc 1, 30-35).

Esta página apresenta um dia típico de Jesus: mergulhado no sofrimento do mundo, uma vida totalmente dedicada para os outros, sobretudo os doentes, os pobres, os marginalizados. DO outro lado se percebe o desinteresse pela vida de Jesus, as suas exigências. De um lado, então, temos o homem Jesus totalmente despojado se doando totalmente para o próximo. Do outro lado, encontramos a humanidade egoísta, que pensa só em si mesma, na própria doença, fechada na própria dor e exige que Jesus cure. É uma página que desmascara a nossa realidade de humanidade mergulhada no egoísmo, que se torna cega, incapaz de olhar o outro, perceber o cansaço, a fatiga. É importante refletir sobre isso para não ter uma visão de um Jesus sobre-humano, super-homem. Isso acontece com todas as pessoas que se doam de forma gratuita e desinteressada: vivem a contato com uma humanidade cínica e egoísta que, se não tomar cuidado, com o tempo te esgota as energias. Por isso, depois de um dia deste jeito, encontramos Jesus se entregando na oração (Mc 1,36). É impossível aguentar o egoísmo e a superficialidade do mundo sem apreender a preencher a própria alma do amor do Pai. Este é o método de Jesus.

Outro dato interessante que manifesta a atitude a viver para os outros é o jeito de acompanhar os discípulos. Tomamos como exemplo a história de Pedro. No Evangelho de João Pedro é o discípulo que, no contexto da ceia derradeira, declara perante os outros a disponibilidade a morrer para Jesus. Depois de algumas horas, o mesmo Pedro renegará por três vezes de conhecer aquele homem que estava sendo condenado a morte. É de grande importância aquilo que acontece nas aparições depois da ressurreição assim como são narradas em são João.

Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? Respondeu ele: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros. Perguntou-lhe outra vez: Simão, filho de João, amas-me? Respondeu-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros. Perguntou-lhe pela terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Pedro entristeceu-se porque lhe perguntou pela terceira vez: Amas-me?, e respondeu-lhe: Senhor, sabes tudo, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta as minhas ovelhas (João 21,15-17).

Jesus tem uma humanidade que não guarda o rancor, mas é sempre atenta ao outro. Na perspectiva do Evangelho de João, ninguém pode anunciar o Evangelho a não ser os discípulos e as discipulas. Pedro, na noite da paixão de Jesus, tinha renegado o Mestre, rasgando o próprio discipulado. Jesus não pensa aquilo que Pedro fez com Ele mesmo, mas é preocupado com ele, com a sua caminhada de discípulo, a liderança que Jesus mesmo entregou para ele perante o grupo dos discípulos. Depois da ressurreição Jesus dedica tempo para que Pedro possa renovar o próprio discipulado e, assim, exercer o seu ministério de chefe da comunidade.

Tem um outro aspecto que vale a pena apontar na vida de Jesus: como viveu os últimos instantes da vida.

Eram conduzidos ao mesmo tempo dois malfeitores para serem mortos com Jesus.  Chegados que foram ao lugar chamado Calvário, ali o crucificaram, como também os ladrões, um à direita e outro à esquerda. E Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem. Eles dividiram as suas vestes e as sortearam (Lc 23, 32-34).

Quando sofremos e vivemos situações de grande dor, a nossa humanidade tende a fechar-se em si mesma: é a força do instinto de sobrevivência. Em Jesus a humanidade permanece aberta para os outros também num momento de grande dor e sofrimento físico e moral. Este aspecto vale a pena aprofundar, pois é uma grande novidade. Poderíamos afirmar que a verdade do nosso relacionamento com o Mistério se mede na força de dominar o instinto de sobrevivência. Em Jesus isso é visível. A oração é autêntica e verdadeira se chega ao ponto de ser mais forte do instinto. Por isso, nas grades experiencias místicas, se trabalhava muito com a penitência e o jejum, para aprender a dominar os instintos. Jesus nos ensina que o caminho para chegar ao domínio de si, é outro, ou seja, um constate olhar em direção ao Pai. É o amor o único elemento que pode dobrar a força do instinto.

Nessa altura do discurso poderíamos nos questionar: a final de conta, qual é a característica de uma vida evangélica, o que reproduz em nós e como se manifesta na vida corriqueira? Mais uma vez é Paulo que nos oferece a resposta.

 Ele morreu por todos, a fim de que os que vivem já não vivam para si, mas para aquele que por eles morreu e ressurgiu (2 Cor 5,15).

Segundo Paulo a conversão é uma passagem de uma vida para si, concentrada em si mesmo, para uma vida pelos outros, por Deus. A essência da vida de Jesus, de como se manifestou na história é isso mesmo: uma vida para os outros. Quando no dia a dia encontramos fragmentos de vida gratuita e desinteressada, momentos silenciosos de vida doada gratuitamente para os outros, ali é presente o Espírito do Senhor. Por isso Jesus indicava o perfeito caminho do discipulado afirmando:

 Em seguida, dirigiu-se a todos: Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me. Porque, quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas quem sacrificar a sua vida por amor de mim, salvá-la-á. Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vem a perder-se a si mesmo e se causa a sua própria ruína? (Lc 9,23-25).

Este é o versículo que marca o discipulado, a possibilidade de um estilo de vida diferente, liberado totalmente do orgulho e do egoísmo para uma vida de doação gratuita de si, passa através da liberdade no confronto de si mesmo, do próprios projetos humanos, deixando o espaço livre para o Espirito de Deus agir.

 

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