Mc 1,40-45
Paolo Cugini
Ao ler
o Evangelho e observar atentamente a ação de Jesus na história, na
vida quotidiana dos homens e mulheres do seu tempo, fica claro o significado
das suas ações, que pode estar contido nesta expressão: libertar a humanidade
da lepra da falsa religião. Isto é claramente visível no Evangelho de hoje: Mc
1,40-45. É um Evangelho cheio de estranheza. Por que, de fato, o leproso não
pede para ser curado, mas para ser purificado? Isto é muito estranho. A palavra
purificar é repetida quatro vezes em alguns versículos. É clara a referência
àquela teologia que provavelmente surgiu na época do Javismo, em que a doença é
interpretada como sinal de pecado. Como sabemos, este não será apenas um tema
que encontramos frequentemente nos salmos, mas também o tema central do livro
de Jó.
Nestas
primeiras linhas está o drama do leproso que não é apenas marginalizado pela
sociedade, mas também pela religião. Se a exclusão do contexto social é
compreensível, a exclusão religiosa o é muito menos. Qual Deus, podemos
perguntar, é aquele que exclui os marginalizados? Onde está sua
misericórdia? Como podemos nos aproximar de um Deus assim? A quem recorre o
marginalizado se até Deus o açoita? Sem dúvida, o que se
apresenta aqui não é o Deus da revelação, mas o deus dos homens, o deus dos
poderosos, que têm interesse em manter homens e mulheres subjugados. Na
verdade, enquanto os homens precisarem de se apresentar ao sacerdote, isso
significa que o poder religioso e político poderá controlá-los. Existe toda uma
religião, a falsa religião que escraviza homens e mulheres, tornando-os
prisioneiros de regras e rituais.
Ao
purificar o leproso, Jesus liberta a humanidade da falsa religião, dos
falsos ídolos, da religião dos preceitos, da falsa teologia, daquela teologia
que surge do poder político e religioso para controlar a vida dos homens e das
mulheres. Jesus cura o leproso e o liberta. Purificando o leproso, Jesus
declara que a teologia que aponta a doença como sinal de pecado não vem de
Deus, mas dos homens. Desta forma, Jesus adverte a humanidade contra a falsa
religião, contra a falsa teologia.
Como
entendemos se estamos seguindo uma teologia falsa ou verdadeira? Como
podemos entender se estamos enganados? Assim que o leproso é purificado, ele
sai livre, feliz com seu novo estado de vida. Antes, quando era leproso, teve
que se esconder, foi rejeitado, foi excluído da vida social e religiosa. Quem
vive subjugado pela falsa teologia tem medo de se expressar, de dizer a
verdade. A liberdade que Jesus traz ao mundo, que desmascara a lógica da morte
das supostas teologias e dos supostos ídolos, torna o homem e a mulher ávidos
de liberdade e de comunicar a todos a sua nova situação. Este é o critério para
discernir entre a adesão à verdadeira ou à falsa teologia: a liberdade de
contar a todos o que se vive.
Por
que o leproso não se apresenta ao sacerdote e não se importa com as
prescrições de Moisés, como Jesus lhe havia ordenado? Porque já não precisa,
agora está livre e, consequentemente, não tem contas para ninguém, mas apenas
para Deus. Ao libertar o leproso da sua doença e da sua escravidão, Jesus
quebra o sistema religioso e político opressivo. Estes gestos provocarão a ira
dos fariseus, dos saduceus e dos doutores da lei. Será o caminho de libertação
do homem e da mulher da falsa religião, dos ídolos e da falsa teologia
opressiva que levará rapidamente Jesus à cruz.
Eventualmente
a situação se inverte. Foi Jesus quem purificou e curou o leproso que não
pode mais entrar publicamente numa cidade. Foi Jesus quem se tornou leproso. Por
quê? É o preço que pagamos para nos tornarmos seus discípulos, arautos da
verdade que vos liberta, da verdade que desmascara a hipocrisia e os interesses
do poder. É deste Evangelho que necessitamos se quisermos viver autenticamente,
não passando toda a vida fechados nos nossos pequenos corações por medo do
mundo, mas livres para gritar a todos a beleza da vida em Cristo.
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