venerdì 28 giugno 2024

DOMINGO XIII/B - A TRANSGRESSÃO

 




Sab 1, 13-15; 2,23-24; 2Cor 8, 7.9.13-15; Mc 5, 21-43

Paulo Cugini

 

     Jesus é uma presença nova na história, uma presença que cura e cura as feridas da humanidade. É a força de Deus que atua entre nós e o faz através da sua humanidade. Para não perder o fio da história e cair nos becos sem saída dos contrastes espiritualistas ou sociais, é sempre importante manter juntos os dois elementos que em Jesus são uma coisa só, isto é, as dimensões vertical e horizontal, a transcendência e imanência. Jesus, na sua humanidade, representa uma grande novidade, uma lacuna qualitativa imensurável que, no entanto, pode permanecer escondida, ignorada, porque só é possível aceder a Ele, à sua força divina, com fé. Não basta, então, saber quem ele é, conhecer a sua história, ter lido os evangelhos, é preciso acreditar nele, no seu amor, na possibilidade que Ele tem de nos dar a vida, a verdadeira, que nos permite realizar plenamente nossa existência. As histórias que ouvimos no Evangelho de hoje narram precisamente este caminho de fé que abre as portas do céu e permite a entrada de todos.

Paradoxalmente, a narrativa do Evangelho diz-nos que o maior obstáculo para entrar com fé no encontro com o Senhor Jesus é a religião, que embora fale de Deus, fá-lo através de um aparato de leis e doutrinas feitas por mãos humanas. Têm uma aparência de positividade, mas, quando comprovados pelos fatos, constituem o maior obstáculo ao acesso ao Senhor da história: Jesus Cristo. Parece paradoxal, mas, como veremos, é uma realidade que deve ser levada a sério. O risco, de facto, é pensar viver num contexto – precisamente o religioso – que nos aproxima de Deus, quando na realidade nos distancia dele.

As protagonistas do evangelho de hoje são duas mulheres, ambas com sinais de morte: uma mulher que perde sangue e uma menina morta. Ambos estão ligados pelo número 12, que é o número que indica as tribos de Israel e, portanto, o povo. Há todo um povo que está morrendo por causa das leis do Templo, pela obediência à doutrina e ao culto feito pelos homens, manipulando a lei de Deus para controlar o poder. Como podemos escapar dos caminhos da morte da religião dos homens? Que respostas Jesus oferece? Nos dois casos apresentados no evangelho de hoje, a resposta é a mesma: transgredir.

A mulher que sangrou, que absolutamente não podia tocar num homem, porque isso o tornaria impuro, transgrediu a lei mosaica. Esta mulher, que teria necessitado de Deus, devido à perda de sangue que a tornava impura, não pôde ter acesso ao templo. Que religião é essa que proíbe os necessitados de entrar na casa do Senhor? Pois bem, a mulher, ao encontrar Jesus, não pensa duas vezes: transgride a lei e toca-o, tornando-o, por sua vez, impuro. Jesus, porém, em vez de se irar, faz uma declaração surpreendente dizendo: “Filha, a tua fé te salvou. Vá em paz e seja curado da sua doença.” Jesus chama o ato transgressor da mulher, de fé. Da lei que esmaga a humanidade e a impede de viver plenamente não há alternativa: ela deve ser transgredida.

O mesmo acontece na segunda cena, com a narração de uma menina morta de 12 anos. Até mesmo tocar uma pessoa morta tornava a pessoa impura. Jesus, porém, não se detém diante da lei dos homens e, desta vez, é ele quem transgride ao tocar na menina morta.  “Ele pegou na mão da menina e disse-lhe: «Talità kum», que significa: «Menina, eu te digo: levanta-te!». E imediatamente a menina levantou-se e caminhou; ele tinha na verdade doze anos."

Tanto no primeiro caso como no segundo é a situação pessoal que leva à transgressão da lei para encontrar a vida. A mulher toca em Jesus, apesar da imposição da lei, porque já não sabe o que fazer: afinal, é a sua própria vida. No segundo caso é o líder da sinagoga (interessante!) quem se volta para Jesus pela vida da sua filha.

Eles ficaram surpresos.” Há um caminho de libertação que somos chamados a percorrer, um caminho rumo a Jesus, que passa pela libertação dos impedimentos da doutrina e do culto religioso. Este caminho aparentemente impossível torna-se exequível quando ouvimos os acontecimentos cruciais da nossa vida, que nos levam a ousar, ou seja, a transgredir. Quando isto acontece, começa o processo de desmascaramento da falsa religião: cai a máscara da hipocrisia e nós, libertos pelo Senhor, podemos tornar-nos instrumento de salvação para os outros.

 

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