martedì 28 novembre 2023

A LUZ DA VIDA João 7 – 8

 




 

 

 

 pe Paolo Cugini

João 7 – 8

 

7-8     Descreve o ministério de Jesus desde sua partida definitiva da Galiléia até as vésperas da semana que     procede a Páscoa.

Durante a festa das tendas, Jesus está ensinando no templo de Jerusalém.

Segundo o Quarto Evangelho, o ministério de Jesus na Judéia é ao mesmo tempo seu processo de condenação pelas autoridades judaicas, processo que os sinóticos situam após sua prisão.

João situa antes do discurso da vida pública o confronto entre o enviado de Deus e seus juizes: sobre um fundo fanático de hostilidade e de não – fé , Jesus prossegue  a revelação de sua identidade e da missão que recebeu, afirmando a revelação sem igual que o une a Deus, seu Pai, e proclamando um solene EU SOU.

“A pergunta quem és tu?” feita a Jesus pelos judeus (8, 25) subjaz ao texto dos capítulos 7-8 e o ensinamento de Jesus progride ao longo dos capítulos para culminar no EU SOU de 8,58; esta proclamação final responde ao pedido dos irmãos “ Manifesta quem tu és!” (7,4).

 

Alguns dados gerais:

1.           situação da Igreja joanina:

O texto reflete as controvérsias que, na época do evangelista opunham os meios oficiais do judaísmo aos discípulos de Jesus. Desde a queda de Jerusalém sob o poder dos romanos no ano 70 e a destruição  do templo que havia posto fim ao culto tradicional, ortodoxia farisaica permanecia como único garante da identidade judaica e da cesão do joio. Daí seu enrijecimento com relação a todo grupo distinto, em particular o dos cristãos de origem judaica.

Diante da recusa da sinagoga, o evangelista deixa de lado os múltiplos ensinamentos de Jesus que a tradição sinótica relatara, e até o comportamento de Jesus para com os deserdados da terra, para concentrar a mensagem exclusivamente na pessoa do enviado e em seu mistério. Ele mostra em Jesus bem mais que o Messias de Israel; mostra o logos porque o Pai se expressa e em quem os fiéis participam da filiação divina.

 

2.      Situação na narração evangélica -  Jesus já subiu duas vezes a Jerusalém (2,13 e 5,1) mas as breves estradas que o fizeram conhecido na cidade foram marcadas por ameaças contra Ele.

Esperando a chegada da hora, desenvolve-se o processo de condenação de Jesus diante dos Judeus, bem antes da prisão efetiva. Os capítulos 7 – 8 apresentam o primeiro ato, cujo tom já fora dado pelo capítulo 5. Este processo prossegue até o capítulo 10.

        

         3.  No templo: O confronto de Jesus com seu povo passa-se  no lugar sagrado. Após a tentativa de               apedrejamento provocado por seu supremo anúncio, Jesus “sai” do templo (8,59)   como não pensar em YHWH  que abandonou o santuário (Ez 11,23) ?.

              Jesus não ensinará mais no lugar santo, ele vai mesmo deixar a Judéia e retirar-se para além do Jordão (10,40).

 

4.      Na festa da Tendas – A festa das tendas ( das cabanas) é uma das mais importantes entre as quatro festas principais do ciclo anual ( Páscoa, Pentecostes, Tendas, Dia das Expiações) . De origem agrícola, ele corresponde à festa da colheita que se celebrava no outono (Ex 23,16); habitava-se então em cabanas construídas com folhagem, semelhante aos abrigos que se usavam nos vergéis no momento da colheita. Por sua vez, eles recordavam a vida dos hebreus no deserto no momento da saída do Egito ( Lv 23,42 a ) – Na época do Novo Testamento, a festa das Tendas  coroava a do Ano Novo e era celebrada de 15 a 21 tishri, isto é, mais ou menos no fim de setembro.

 

 

 

 

 

 

Se, Segunda a descrição de Lv 23, 34-43), esta festa era em agradecimento pela colheita obtida, sua liturgia, era orientada para o pedido da chuva para o ano que se iniciava. No último dia, ia-se em procissão à piscina de Siloé  tirar a água que um sacerdote derramava  em libação sobre o altar dos sacrifícios, dentro do templo.

        Lembrando a Deus seu compromissos para com Israel, a prece comunitária evocava também o fim dos tempos conforme as profecias que anunciavam, mediante o símbolo da fonte, a renovação espiritual de Sião. (Ez 47,1-12) fala da água que sai do lado direito do templo e Isaías anuncia: Tirareis com alegria a água das fontes da salvação” ( Is 12,3).

 

       No século I, em rito da luz também era celebrado durante a festa. Este de pano de fundo       litúrgico dos capítulos 7 e 8 permite melhor situar o apelo de Jesus para beberem da sua água e também, sua autoproclamação como luz do mundo.

 

5.    Os personagens – sozinho diante dos judeus, na ausência de qualquer discípulo, Jesus aparece perfeitamente livre, iluminado interiormente pela consciência de sua unidade com o Pai e de sua missão.

       Diante dele, os outros atores são representados em grupos: os irmãos, a multidão, algumas pessoas de Jerusalém, as autoridades, os fariseus e os sacerdotes, os guardas do templo e, de modo geral, os judeus.

       Estes grupos estão todos alvoroçados, agitados por sentimentos diversos. No proxênio , a multidão de peregrinos e de pessoas de Jerusalém distribuíam-se em facções de tendências opostas ou então se debatem entre as evidências contrárias a respeito de eventual Messias.

       Entre Jesus e seus interlocutores não haverá diálogo algum porque eles permanecem fechados a todo anúncio que não se enquadra em seu sistema de pensamento (8,43).

      

6.   Dois perigos maiores ameaçam o fiel que se apoia num texto revelado. O primeiro é o tradicionalismo. Os “ judeus” do relato têm certa razão de agarrar-se à tradição da Lei; eles erram ao fechá-la num sistema que não deixa mais espaço ás aberturas que ela mesma contém, nem a Deus, o vivente, que renova sem cessar as leituras que o homem faz da Sagrada Escritura. Eles preferem a letra bem estabelecida ao espírito que nem sempre predomina. Jesus falava de “palavra” e de “ensinamento”; eles se referem às santas Letras, da qual se consideram os depositários: Deus exprimiu-se num texto num texto definitivo. Assim encarado, este não arrisca sufocar a Palavra viva? E eis o tradicionalista resvalando pelo declive do integrismo.

       Um segundo perigo ameaça aquele que, conscientemente, se interessa por levar à prática os preceitos de sua Igreja. Para apreciar a qualidade de um comportamento, ele julga a partir da observação ou da transgressão de uma Lei cujo sentido foi fixado numa prática  precisa, que não admite exceção. Considerando-se fiel a estes mandamentos, o praticante arrisca julgar o comportamento dos outros sob o prisma de sua ótica estreita. Como poderia ele abrir-se, então, ao apelo bem mais abrangente que lhe dirigem os “incrédulos” e os abandonados da terra?

       Na origem destas atitudes deformadas está certa concepção da Lei. A Lei vale na medida em que mostra a vontade de Deus e é o caminho da Palavra viva. Se o decálogo não convida ao diálogo, ele se torna um simples catálogo, colete que pode fazer a pessoa manter-se ereta, mas que paralisa o mensageiro de Deus. Jesus chama todo homem, não a afastar a Lei, mas a ouvir Deus que fala através dela. Enquanto S. Paulo se empenha em mostrar qual é o verdadeiro cristão, João provoca seu leitor para tomar consciência de qual é o verdadeiro judeu, aquele põe em prática as riquezas da Lei.

 

martedì 21 novembre 2023

HOMILIA DOMINGO 26 NOVEMBRO 2023

 





XXXIV DOMINGO DO TEMPO COMUM

SOLENIDADE NOSSO SENHOR JESUS ​​CRISTO REI DO UNIVERSO

Ez 34,11-12.15-17; Sal 22; 1Cor 15,20-26a.28; Mt 25,31-46

 

Paulo Cugini

 

 O trecho evangélico que a liturgia nos oferece hoje na solenidade de Cristo rei do universo, no ano litúrgico A, é o último discurso de Jesus encontrado no Evangelho de Mateus, antes da narração da sua paixão e morte. É, portanto, um texto importante, que não por acaso nos é proposto hoje, no final do ano litúrgico, para nos ajudar não só a verificar o caminho alcançado durante o ano, tanto pessoalmente como na comunidade, mas também a compreender esse tipo de Deus que servimos. As palavras de Jesus, também, nos ajudam a refletir sobre que tipo de pessoas nos tornamos, que humanidade expressam as nossas escolhas e os nossos pensamentos. Ouçamos, portanto, para viver como Ele nos diz.

Quando o Filho do Homem vier na sua glória, e todos os anjos com ele, ele se sentará no trono da sua glória. Todos os povos serão reunidos diante dele. Ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos, e colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda.

A cena inicial da bela parábola de hoje, mais ou menos conscientemente, retoma uma cena da parábola do joio ouvida há alguns meses. Com efeito, enquanto neste último Jesus recomendou aos discípulos que não arrancassem o joio do campo de trigo, para não correrem o risco de arrancar o trigo, no caso da narrativa de hoje, que narra simbolicamente o juízo final, o primeiro ato é precisamente uma separação. A coerência interna dos evangelhos é interessante, pois eles continuamente se referem uns aos outros e nos ajudam a aprofundar o significado das palavras e das narrativas. No Evangelho de João lemos que o Pai deixou a Jesus a tarefa de julgar: Na verdade, o Pai não julga ninguém, mas deu todo o julgamento ao Filho (Jo 5,22). Isto significa que o tempo presente é o tempo em que devemos fazer tudo para nos darmos a conhecer ao Filho, para garantir que, no último dia, ele não nos diga, como às cinco virgens loucas de dois domingos atrás: Não te conheço nem, pior ainda, ao servo da parábola do domingo passado que, em vez de fazer frutificar o talento que recebeu, escondeu-o, foi dito: um servo inútil. O problema, então, neste ponto, consiste em compreender onde encontrar Jesus para conhecê-lo e nos dar a conhecer a ele.

porque tive fome e vocês me deram de comer, tive sede e vocês me deram de beber, eu era estrangeiro e vocês me acolheram, eu estava nu e vocês me vestiram, estive doente e vocês me visitaram, eu estava na prisão e você veio me visitar.

Esta passagem do Evangelho é muito interessante. Ensina-nos, de facto, que no final dos dias seremos testados não na relação puramente religiosa com Deus, que realizamos nos sacrifícios, nos ritos, nas celebrações, mas na relação com os nossos irmãos e irmãs e, em particular, os mais pobres, os excluídos. A grande revelação do trecho de hoje reside no facto de Jesus se identificar com os famintos, os sedentos, os estrangeiros, ou seja, com os invisíveis e excluídos deste mundo. Para o cristão que recebe o Espírito do Senhor e é nutrido por Ele na Eucaristia, o rito é em função do encontro com o Senhor nos pobres. Como disse Santo Agostinho ao comentar o Evangelho de João, o Evangelho é como um colírio que nos ajuda a ver Jesus onde humanamente não poderíamos vê-lo e reconhecê-lo: nos pobres. Para os cristãos, a atenção aos pobres não é, portanto, um facto social, mas muito mais: é um facto sacramental. É na atenção aos pobres, aos excluídos, aos invisíveis do mundo, que demonstramos o nosso desejo de colaborar no projeto do Senhor, que é um projeto de igualdade e não aceita que existam alguns filhos e filhas de Deus que sejam humilhados na sua dignidade e semelhança com o Pai.

Então ele dirá também aos da esquerda: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno. O versículo lembra Gênesis, a maldição sobre Caim (ver Gn 4,11). Todos aqueles que passam a vida acumulando bens e dinheiro estão atraindo sobre si a maldição, porque se tornam colaboradores não do plano de Deus da igualdade, mas do projeto de iniquidade que torna o mundo desigual, obrigando milhares de milhões de pessoas a viver sem dignidade, em condições infames. A maldição de quem despreza os pobres revela o olhar de Deus sobre nós, sobre as nossas comunidades cristãs, que às vezes perdemos por trás das armadilhas litúrgicas, perdendo de vista o essencial. Escutar como a nossa história terminará e de que forma seremos avaliados, ajuda-nos a centrar melhor o nosso caminho de fé pessoal e comunitário e a trabalhar no essencial.

Irei em busca da ovelha perdida e trarei a perdida de volta ao aprisco, farei curativos na ferida e curarei a enferma, cuidarei dos gordos e dos fortes; Eu os alimentarei com justiça (Ez 34,16). É linda esta imagem do profeta Ezequiel ouvida na primeira leitura. Bonito porque nos diz que, neste caminho de vida nova e de reconhecimento do rosto do Senhor nos pobres, não estamos sozinhos: Ele mesmo vem ao nosso encontro. Acreditamos num Deus que vem nos procurar e o faz com os pobres da terra, com os rostos que encontramos nas encruzilhadas, com os tantos estrangeiros de muitas nações que vemos todos os dias. Ele também faz isso com homossexuais, lésbicas, transexuais, que recebem tanto desprezo de pessoas que se sentem com a consciência tranquila porque respeitaram o preceito da mesa dominical. Fá-lo com muitas mulheres que são maltratadas, abusadas, física e moralmente, que revelam a miséria de um mundo machista deformado pela cultura patriarcal. Venha Senhor ao nosso encontro para nos salvar da nossa desumanidade. Amen.

sabato 18 novembre 2023

HOMILIA DOMINGO 19 NOVEMBRO 2023

 



XXXIII DOMINGO TEMPO COMUM

Pr 31,10-13.19-20.30-31; Sal 127; 1 Tessalonicenses 5,1-6; Mt 25,14-30

 

Paulo Cugini

 

O tempo litúrgico é a chave para interpretar as leituras que ouvimos aos domingos. Para compreender, então, o Evangelho de hoje, devemos recordar que vivemos os últimos domingos do tempo litúrgico e isto significa um tempo para verificar o caminho percorrido. Já mencionamos isso no domingo passado, mas vale a pena repetir. Ouviremos, portanto, as leituras com a intuição de que nos é sugerido um material espiritual e existencial para verificar as escolhas feitas durante o ano, para ponderar bem as nossas ações, para garantir que o novo ano litúrgico, que se aproxima, possa ser para nós a possibilidade de viver plenamente o Evangelho, de caminhar com mais harmonia na comunidade. Vejamos, então, o que o Evangelho nos diz.

Acontecerá como a um homem que, partindo em viagem, chamou os seus servos e entregou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois, a outro um, conforme a capacidade de cada um; então ele foi embora. Há um primeiro facto inicial sobre o qual a parábola quer fazer-nos pensar e refletir. Na jornada da vida ninguém saiu de mãos vazias: recebemos algo que nos deveria ser útil ao longo do caminho. Veremos do que se trata mais tarde, mas este é um dado importante, pois devemos fazer a verificação de final de ano exatamente sobre esse material recebido gratuitamente. O texto nos diz que o Senhor partilha seus bens. Isto significa que a atitude do proprietário é a de partilha livre e desinteressada, que deseja comunicar a vida e que esta vida pode ser um instrumento de criatividade para todos. Os talentos são distribuídos de acordo com as capacidades de cada pessoa. Isso significa que o proprietário conhece bem os seus colaboradores. O Deus que Jesus manifestou envolve-nos no seu amor de Pai e revela-nos a nossa verdadeira identidade, que dá dignidade ao nosso estar no mundo: somos filhos e filhas de um Pai que nos ama e nos conhece, este é o nosso ponto de partida e nosso maior talento.

Aquele que havia recebido cinco talentos aproximou-se e trouxe mais cinco, dizendo: “Senhor, tu me deste cinco talentos; eis que ganhei mais cinco”. “Pois bem, servo bom e fiel - disse-lhe o seu senhor -, foste fiel no pouco, eu te darei poder sobre o muito; participa da alegria do teu senhor”. A atitude do mestre é impressionante, o que é muito revelador, no sentido de que diz algo novo e verdadeiramente surpreendente sobre o Deus que Jesus manifestou e que é o oposto daquele apresentado pelos líderes religiosos de Israel. Na verdade, o mestre não pede os talentos devolvidos ou mesmo os frutos, mas na verdade transforma o súdito em senhor e compartilha com ele seus bens. Isto acontece com os dois servos que fazem frutificar os talentos. Se quisermos tirar uma primeira lição que sirva para a nossa verificação, poderíamos dizer que o Evangelho vivido na nossa vida quotidiana, o Espírito Santo deixado atuar na nossa humanidade, já deveria produzir a sensação de viver numa nova dimensão espiritual marcada pelo desejo de justiça, pelo esforço para criar um mundo de paz, por um coração cheio de misericórdia.

Senhor, sei que és um homem duro, que colhe onde não semeou e recolhe onde não espalhou. As palavras daquele que não fez dar fruto o talento que recebeu, mas o escondeu, revelam o tipo de Deus revelado pelos líderes religiosos e que em nada corresponde ao Deus revelado por Jesus e manifestado no conteúdo da parábola. Deus não é duro e não é verdade que colhe onde não semeou, mas, no pelo contrário, ele é pródigo em benefícios com seus filhos e filhas, a ponto de torná-los colaboradores de seu Reino. Este aspecto também é muito importante de verificar no final do ano litúrgico. Devemos nos perguntar: em qual Deus acreditamos? A que Deus servimos? Permitimos que o Evangelho desmorone a falsa imagem de Deus implantada em nós a partir de uma educação religiosa ancorada mais no Antigo Testamento do que no Novo? Estamos no centro da parábola, que nos convida a refletir sobre os métodos implementados este ano em direção ao que Deus nos dá gratuitamente todos os dias: se Deus nos dá o seu amor, que se manifesta na possibilidade de viver com a dignidade de filhos e filhas, isso implica uma responsabilidade. O amor que vem de Deus é um dom gratuito e desinteressado e provoca o desejo de partilhar, de doar-se.

Portanto, tire-lhe o talento e dê-o ao que tem os dez talentos. Pois a quem tem, será dado e terá em abundância, mas a quem não tem, até o que tem lhe será tirado. A conclusão da parábola parece muito estranha e, sobretudo, inconsistente com a mensagem do Evangelho. A quem Jesus está se referindo com essas palavras? Por que ele diz que quem não tem também será tirado do que tem? Não é uma afirmação absurda? Na realidade, o discurso de Jesus é extremamente coerente. Não se trata, de fato, de ter algo de quantitativo, mas qualitativo, isto é, se trata daqueles dons recebidos do Senhor como o Evangelho, o Espírito Santo, os sacramentos, que têm como única finalidade aquelas que nos fazem viver uma qualidade de vida diferente e que não devem ser deixadas de lado. Quem não tem na parábola de hoje são todos aqueles que nunca viveram o que receberam do Senhor e, por isso, são despojados desses dons e entregues a quem os tornou frutíferos com uma vida em que a dignidade de filhos e filhas de Deus.

Bem-aventurados aqueles que temem ao Senhor e andam nos seus caminhos. Você será nutrido pelo trabalho de suas mãos, será feliz e terá todo o bem. As palavras do Salmo 127 com as quais rezamos neste domingo oferecem-nos o conteúdo que dá sentido ao discurso proferido. O caminho que percorremos graças à escuta da palavra do Senhor não é automático e apresenta dificuldades que podem ser superadas. Há um esforço que deve ser feito, que consiste em compreender como viver melhor o que o Senhor nos dá. É precisamente isto que pretendemos esperar ao verificarmos no final do ano, com estas leituras, o nosso caminho de seguimento do Senhor.

 

mercoledì 8 novembre 2023

HOMILIA 12 NOVEMBRO 2023

 



XXXII DOMINGO TEMPO COMUM

Sb 6,12-16; Sal 62; 1 Tessalonicenses 4,13-18; Mt 25,1-13

 

Paolo Cugini

 

Aproximamo-nos do final do ano litúrgico e, como sempre, a liturgia da Palavra oferece-nos leituras que podem ajudar-nos a verificar o nosso caminho de fé pessoal e comunitário. Este é um aspecto que merece ser sublinhado. Somos, de fato, povo de Deus a caminho e, precisamente porque percorremos um caminho novo, que é o apresentado no Evangelho, é possível corrigir os erros cometidos, medir melhor o potencial, identificar os pontos sobre os quais podemos trabalhar, para fazer o Caminho que mais se adapta à proposta de Jesus. Por isso, o tempo de verificação que nos é oferecido é de fundamental importância e deve, portanto, ser levado a sério. O risco é caminhar sem parar e nos perder por aquela falta de humildade que nos faz acreditar que podemos ir sozinhos de cabeça baixa, sem nunca parar. Ouçamos, então, os conselhos das leituras de hoje.

O reino dos céus será como dez virgens que pegaram suas lâmpadas e saíram ao encontro do noivo. Há um primeiro fato geral na parábola que Jesus conta hoje, que orienta todo o nosso caminho cristão. Dizem-nos, de fato, que o caminho que percorremos é caracterizado pela alegria, é como uma festa de casamento. Além disso, os profetas, como o profeta Oséias, já utilizavam a imagem do casamento para simbolizar a relação entre Deus – o noivo – e a noiva, ou seja, o povo de Israel. Esta imagem nos lembra que somos chamados internamente a uma relação de grande intensidade, de pertencimento, que também remete a responsabilidades. Antes de tudo, porém, existe o aspecto da alegria que marca o relacionamento conjugal. A caminho, portanto, com os irmãos da comunidade com uma atitude marcada pela alegria, porque marcada pela percepção de ter encontrado o máximo que poderíamos ter sonhado.

Cinco deles eram tolos e cinco eram sábios; as insensatas pegaram as suas lâmpadas, mas não levaram consigo o azeite; as sábias, porém, junto com suas lâmpadas, também levavam óleo em pequenos recipientes. Esta é uma das passagens que teve muitas interpretações. Na parábola que Jesus conta aos seus discípulos, as lâmpadas e o azeite são dois elementos centrais para a interpretação de toda a narrativa. O que Jesus quis dizer com lâmpada e óleo? Já disse acima que houve muitas interpretações: tentarei indicar uma, a que me parece mais coerente. Para uma interpretação correta é necessário ter em mente que a lâmpada é uma realidade que todas as dez virgens possuem, enquanto o azeite não. Além disso, não só nem todos têm petróleo, mas aqueles que o têm nem podem emprestá-lo.  A lâmpada provavelmente refere-se à escuta do Evangelho, à proposta de Jesus, que todos podem ouvir. Neste nível podemos inserir também a doutrina da Igreja, que amadureceu ao longo dos séculos e que está à mercê de todos. O óleo, porém, diz-nos a parábola, nem todos o possuem. A interpretação deve levar em conta o que indicamos como lâmpada, que é o Evangelho. Se o Evangelho permanecer apenas na fase da escuta, cai no vazio da nossa vida. A lâmpada do Evangelho torna-se luz que ilumina os passos do caminho de todos aqueles que o põem em prática. Aqui está o óleo! São as boas obras inspiradas no Evangelho, que se referem a uma resposta pessoal. Por esta razão, as cinco virgens sábias não podem emprestá-lo às cinco tolas. Há uma sabedoria indicada pelo Evangelho que não se refere ao estudo, ao aprendizado de noções, mas à inteligência que nos impulsiona a viver o que ouvimos da Palavra. Portanto, quem tenta viver o que ouve é sábio. Não é por acaso que na primeira leitura ouvimos um trecho do livro da Sabedoria que diz assim: A sabedoria é esplêndida e não desaparece, é facilmente vista por quem a ama e é encontrada por quem a procura (Sab 6.12). Aqueles que buscam sabedoria a encontram vivendo o que ouvem.

E a porta estava fechada. Mais tarde chegaram também as outras virgens e começaram a dizer: “Senhor, senhor, abre-nos!”. Mas ele respondeu: “Em verdade te digo que não te conheço.” Este versículo narra o drama de quem acredita conhecer o Senhor simplesmente por ter ouvido a sua Palavra, por conhecer alguns versículos. Existe um conhecimento do Senhor que, na realidade, nos distancia Dele. É esse tipo de conhecimento formal e estéril, que nunca se traduz em ação. É um conhecimento doutrinário, feito de noções nunca vivenciadas de fato na vida. Além disso, o Concílio Vaticano II recorda-nos também que, no mistério da Palavra de Deus, os fatos e as palavras estão intimamente ligados, no sentido de que é uma Palavra que só revela o seu conteúdo específico, a sua verdade quando é vivida e colocada em prática. Esta é precisamente a sabedoria que vem do alto e que encontramos revelada cada vez que a experimentamos.

A minha alma tem sede de ti, a minha carne te deseja numa terra seca, sedenta e sem água (Salmo 62). Há um desejo profundo na nossa alma, que anseia o céu, porque cada pessoa percebe que a nossa vida não se reduz à mera matéria: há algo mais. É o Evangelho que nos dá a indicação de um caminho que pode realizar plenamente a nossa vida e é o Caminho que percorrem todos aqueles que vivem e põem em prática o que ouvem no Evangelho.