giovedì 25 giugno 2020

Homilia Domingo XVI°/A




Sab 12, 13.16-19; Sal 86; Rom 8, 26-27; Mt 13, 24-43

Paolo Cugini

1. A Palavra de Deus não tem somente um sentido espiritual, mas também existencial. Isso quer dizer que para entendermos o sentido das paginas da Bíblia e, sobretudo do Evangelho, devemos aprender a entrarmos nela com a nossa vida. A final de conta, a Bíblia é uma Palavra que Deus dirige aos homens e mulheres de todos os tempos para salvar-nos de uma vida vazia, perdida. Se as vezes sentimos a distancia entre nós e a Bíblia é porque não deixamos que ela penetre na nossa existência. 

Por isso as vezes, sentimos indiferença no confronto da Palavra, talvez porque achamos que Ela não tem nada pra dizer a nós de importante e por isso não prestamos atenção. Para que a palavra de Deus possa revelar os seus sentidos pela nossa existência, precisa de duas condições essenciais. A primeira é o tempo. É impossível entender algo de profundo da Palavra de Deus se não dedicarmos o tempo necessário. A segunda é a docilidade ao Espírito Santo. É aquilo que nos aconselho são Paulo na segunda leitura de hoje: “O Espírito vem em socorro da nossa fraqueza” (Rom 8, 26). De que fraqueza se trata? Talvez da nossa capacidade de entender, compreender os conteúdos profundos da palavra de Deus. É com estas atitudes que abrimos as paginas da Palavra de hoje e, para agilizar a nossa compreensão, podemos também formular algumas perguntas. De fato, o pano de fundo existencial das parábolas de Jesus que hoje ouvimos, pode ser referido a nossa maneira de criar laços humanos, de fazer amizades. Por isso podemos nos perguntar: quem são hoje os nossos amigos? Quais são os critérios que utilizamos para discerni-los?

2.Deixai crescer um e outro até a colheita!” (Mt 13, 30).
Na parábola do joio, Jesus pronuncia uma sentença importante. No tempo presente é impossível separar o trigo do joio, porque o perigo imediato seria aquele de arrancar o trigo junto com o joio. Este trabalho de divisão do trigo do joio será feito só no final dos tempos. Qual é o sentido existencial e espiritual destas palavras de Jesus? Jesus está ajudando os discípulos a aprender a conviver com as pessoas ruim. O motivo disso talvez seja contido na outra parábola que Jesus narra hoje no Evangelho. “O reino dos céus é como o fermento que uma mulher pega e mistura com três porções de farinha, até que tudo fique fermentado” (Mt 13, 33).

 Este é o interesse de Jesus: que tudo fique fermentado, ou seja, que nada seja desperdiçado. Por isso Jesus nos convida a aprender a lidar com as pessoas ruim, a rezar e até amar os nossos inimigos, a perdoar sempre, porque a esperança é que tudo se salve, que a semente do Evangelho possa no tempo, nos séculos, fermentar toda a realidade, também a humanidade ruim. Jesus não apenas falou isso, mas viveu aquilo que pregava pelos outros. Olhando a turma dos seus discípulos, Jesus conviveu com pessoas que, enquanto escutavam as suas palavras e partilhavam a sua vida, matutavam outros planos. É o caso de Judá, o discípulo que traiu o Mestre. A mesma coisa podemos falar de Pedro. Apesar de ter sido escolhido como chefe dos discípulos, na hora da perseguição renegou o Senhor por três vezes. Jesus nos ensina que a caridade é paciente, sabe esperar o tempo da passagem do Seu Espírito no coração das pessoas, para que possam mudar. Esta, talvez, seja uma das características da vivencia cristã, que marca a nossa caminhada. Se, de fato, o mundo descarta logo quem julgou que não presta, o cristão sabe que não cabe a ele o julgamento, mas ao Senhor. Tempo presente é o tempo da conversão, da esperança que algo mude. Só Deus conhece os nossos corações, só Ele sabe aquilo que está acontecendo no coração do homem e da mulher. É esta uma grande indicação ao mesmo tempo espiritual e existencial para entrarmos nas nossas famílias, comunidades, grupos de amigos, lugares de trabalho com uma atitude diferente, menos arrogante e mundana e mais cristã e humana, respeitosa dos tempos dos outros.

3.O reino dos céus é como uma semente de mostarda que um homem pega e semeia no seu campo” (Mt 13, 31).

Também nesta breve parábola Jesus nos oferece um ensinamento de grande importância, que vale a pena salientar. O mundo nos acostuma a pensar que vale somente aquilo que se apresenta com as características da grandeza, aquilo que é deslumbrante. Muitas pessoas fascinadas com esta miragem passam a vida toda sonhado conseguir alcançar objetos de valor, dinheiro, fama, gloria. Jesus com poucas palavras revela que a dignidade de uma pessoa não passa por ai. O reino dos Céus, no qual nós batizados somos envolvidos, é como uma semente de mostarda, ou seja, pequeno e não grande. É a menor semente e não a maior. É escondida dentro da terra e não manifestada perante todos. Quer dizer isso para nós? Que a lógica do reino, a lógica do Evangelho é totalmente diferente da lógica do mundo. Quem busca a Deus com todas as forças, não precisa daquilo que o mundo oferece. A sede do poder, do dinheiro, das coisas materiais são sintomas daquilo que está dentro do coração do homem: não precisa falar, se explicar, se justificar. Aonde é o meu coração lá e o meu tesouro. Se o nosso coração é repleto de Deus e do seu amor, na nossa vida, no nosso dia a dia buscaremos aquilo que é menor, escondido, pequeno. Se o Evangelho está preenchendo a nossa alma, então os nossos desejos serão os mesmo desejos de Cristo, que de rico que era se fez pobre para nos encontrar e que, apesar de ser de natureza divina se despojou disso para encontrar a nossa humanidade. 

O cristianismo, o caminho que Jesus traçou não é um punhado de palavras, mas sim um estilo de vida, uma maneira diferente de viver. E este estilo de vida não se expressa apenas na vida consagrada, mas deve brilhar na vida corriqueira das pessoas casadas em Cristo, nas famílias que tem no Evangelho o programa de vida, nos jovens que anseiam o amor de Jesus, nos adolescentes que estão aprendendo os primeiros passos da vida cristã, nos namorados que desejam viver o amor conforme se manifestou na vida de Jesus. A semente de mostarda que é o Evangelho, que é Jesus, quer transformar toda a nossa humanidade, toda a história e o mundo em amor. E o amor não é vulgarmente exposto ao olhar do mundo, mas é escondido nos pequenos gestos da vida concreta. Por isso precisamos da Eucaristia, precisamos que Deus derrame este amor nos nossos corações, para que aprendemos a conviver com todos, também com as pessoas ruim, esperando no julgamento final. Precisamos da Eucaristia para vencermos as ilusões de gloria e grandeza que o mundo coloca na nossa frente, para continuarmos a almejar a vida escondida de Cristo, que da pequena e humilde cidade de Nazaré, transformou e continua transformando a humanidade toda.




Homilia Domingo XV°/A




(Is 8, 55,10-11;Sal 65; Rom 8, 18-23; Mt 13, 1-23)

Paolo Cugini

1. quem é o cristão e como deve ser o seu relacionamento com Deus? Esta é uma das perguntas centrais da vida cristã, pois esta vida é iluminada pelo relacionamento com Deus e muitas vezes, não sabemos como cultivar, alimentar este relacionamento tão importante. As leituras de hoje vêm ao nosso encontro nos tranqüilizando, pois nos lembram dois dados importantíssimos. O primeiro, é que Deus semeou uma Palavra nos nossos corações, cuja força e efeito é indiscutível e não depende das nossas capacidades humanas de compreendê-la. O segundo, é que cada um de nós foi pensado por Deus desde a criação para acolher a Sua Palavra, para que possa brotar frutos positivos. De uma certa forma, podemos afirmar que fomos criados para brotar frutos de vida autentica, para que a nossa vida se tornasse um espaço claríssimo não apenas da presença de Deus, mas também da sua potencia. É sobre isso que as leituras de hoje tentam de atrair a nossa atenção, para avaliar se é isso mesmo que está acontecendo conosco.

2.Assim como a chuva e a neve descem do céu para irrigar e fecundar a terra... assim a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia” (cf. Is 55, 10-11).

Estes são dois entre os versículos mais profundos e impressionantes de todos o Antigo Testamento. É nestes versículos que Deus explica, pela boca do profeta Isaias, o porque o homem, a mulher deve prestar atenção á palavra de Deus. Além do mais, nestes dois versículos o profeta Isaias revela a essência da Palavra de Deus. De fato, o profeta nos lembra que a força da Palavra não está no fato que é compreendida por alguém, mas que é acolhida. Parece um jogo de palavras, mas não é. A Palavra que Deus comunicou, tem por si mesma uma força, um poder. A imagem que utiliza o profeta para explicar isso é do mesmo sentido daquilo que utiliza Jesus no Evangelho de hoje para explicar o mesmo assunto. 

A chuva e a neve são dois elementos que servem para irrigar a terra e fazê-la fecundar, ou seja, não são elementos naturais à toa, mas contêm um objetivo especifico. O mesmo fala Jesus no Evangelho, identificando a Palavra com a semente a qual, quando encontra um terreno fértil, produz frutos. Tudo isso é claramente um convite para levar a serio a Palavra de Deus, o Evangelho de seu Filho Jesus, pois aquilo que escutamos são Palavras que contem um poder e uma força indiscutíveis. A Palavra é proclamada para brotar frutos, isso quer dizer que tudo é feito no plano de Deus para que o seu projeto se realize. O amor, a justiça, a paz e a mesma vida que as vezes parecem serem ausentes do convívio humano, mas que qualificam a presença do homem e da mulher na história, se encontram na Palavra de Deus. Se nós entendêssemos isso de verdade, provocaria duas ações. A primeira subjetiva, ou seja, uma importância sempre maior á escuta desta Palavra de vida, para que a nossa vida assuma um valor, um sentido e seja moldada conforme Deus a pensou desde o principio. A segunda resposta seria eclesial. Ou seja, uma Igreja convencida de verdade de ter recebido de Deus a Palavra que salva, que dá vida, sem duvida nenhuma não perderia mais tempo em coisas que não seja o anuncio explicito do Evangelho. Vivemos em paróquias que muitas vezes sabem fazer de tudo, organizar de tudo, mas que não sabem e não conhecem a Palavra de Deus. Isso é terrível! Por isso, o anuncio é fraco e as pessoas não se convertem e continuam vivendo no mesmismo de sempre. O motivo deste desastre espiritual é porque calamos aquela Palavra que deveria ser gritada nos telhados.

3.A semente que caiu em boa terra é aquele que ouve a Palavra e a compreende. Esta produz fruto” (Mt 13,23).
Versículo simplesmente fascinante. Jesus nos alerta que não basta escutar a Palavra, mas precisamos entendê-la: só assim produz os frutos da qual é capaz. É verdade que, como vimos, a Palavra de Deus tem em si mesma o poder de produzir frutos, só que, para isso acontecer, a Palavra precisa de um terreno fértil: é essa a nossa tarefa. Ninguém nasce já como terreno fértil. Pelo contrario, nascemos como terreno ruim, cheio de pedras, terreno estragado, no sentido espiritual. Ao longo da vida, Deus faz de tudo para provocar a nossa atenção, para que possamos começar a preparar o terreno da nossa vida para acolhermos a semente da Palavra. Uma missa, uma experiência espiritual, o testemunho de uma pessoa, tudo Deus oferece para estimular a nossa atividade, para que possamos trabalhar o terreno da nossa vida para prepará-lo a acolher a sua Palavra. Só assim poderemos compreendê-la, para que brote frutos. 
A Palavra para brotar fruto deve ser compreendida, ou seja, deve estimular a nossa atenção a nossa inteligência para que aquilo que ouvimos dela seja posto em pratica. É assim que a Palavra de Deus se compreende: vivendo-a. Não é um puro esforço mental que o Senhor exige de nós, mas sim a docilidade para obedecer á sua Palavra, para vivê-la, pô-la em pratica. É este o grande segredo da vida espiritual: viver tudo aquilo que ouvimos do Senhor, encarnar as exigências da sua Palavra. Só nesta maneira os dons de Deus, as suas qualidades, entram na história moldando a humanidade, transformando o egoísmo em amor, a injustiça em justiça, a falsidade em Verdade, as trevas em Luz. É isso que a Igreja é chamada a fazer: de um lado semear incansavelmente a Palavra do Senhor. Do outro inventar, criar situações para que as pessoas sintam-se estimuladas a zelar do terreno da própria vida, para rendê-lo dócil e obediente á Palavra de Deus.

4.Eu entendo que os sofrimentos do tempo presente nem merecem ser comparados com a gloria que deve ser revelada em nós” (Rom 8, 18)
São estas palavras de Paulo que podem nos ajudar no caminho que estamos realizando de vivencia da Palavra. Se as vezes achamos duro de mais aquilo que Jesus nos pede, ou se estamos vivendo situações duras, perigosas por causa da Palavra, ou se as indicações da Palavra estão encontrando resistência na nossa maneira de entender a vida, pensamos á gloria que está na nossa frente e que receberemos pelo fato de termos sidos disponíveis e dóceis ao plano de Deus na historia. Pedimos a Deus neste domingo a humildade de não pensar de sabermos mais do que Deus, para podermos continuar no difícil, mas satisfatório trabalho de preparar constantemente o terreno da nossa vida para acolhermos a Palavra da nossa salvação.










Homilia Domingo XIV°/A tempo comum



(Zc 9, 9-10;Sal 145; Rom 8,9.11-13; Mt 11, 25-30)

Paolo Cugini

1. O cristianismo é sem duvida nenhuma um caminho de salvação que oferece para os seguidores um estilo de vida com valores e atitudes especificas. As leituras deste tempo comum que estamos acompanhando nesta época do ano oferecem varias sugestões para refletirmos sobre a nossa vida cristã, para descobrirmos se estamos seguindo o Senhor, ou se estamos simplesmente disfarçando, querendo ser, mas incapazes de viver como Jesus nos pede por causa da nossa incapacidade de abrir mão daquilo que achamos importante na nossa vida mundana. A vida cristã é uma vida espiritual no sentido que é aberta constantemente á ação do Espírito que ao longo dos anos forma na nossa humanidade os mesmos sentimentos que eram no Cristo (cf. Fil 2,5). Entre estes sentimentos tinha a humildade, a simplicidade, a docilidade á uma Palavra que orienta o caminho. É disso que as leituras de hoje nos falam e que queremos aprofundar para que a nossa vida se torna sempre mais aparecida com aquela do nosso mestre o Senhor Jesus.

2.Eis que vem o teu rei ao teu encontro, ele é justo e ele salva; é humilde e vem montado num jumento” (Zc 9,9).

Neste versículo do profeta Zacarias é bem claro que já no Antigo Testamento o Messias, na sua realeza, era anunciado como humilde. Este é já um dado repleto de sentido espiritual que merece a nossa atenção. De fato, na profecia de Zacarias é anunciada a vinda de um rei que se apresentará não com pompas e cavalos, mas sim humilde montado num jumento. Poder e humildade que sempre são apresentados como dois elementos antagônicos, neste contexto são apresentados quase como sinônimos: porque? O messias anunciado, o Salvador da humanidade manifestará o seu poder não na forma que o mundo o apresenta, ou seja, com a força e com a arrogância, mas sim com a humildade. É esta maneira humilde de Deus entrar na historia que torna-se sinal evidente da diversidade de Deus no confronto com o poder do mundo. Isso quer dizer que lá aonde encontramos violência, arrogância, egoísmo Deus não é presente. Pelo contrario aonde encontramos humildade, doçura, simplicidade sem duvida Deus é presente. Tudo isso que foi anunciado pelos profetas se tornou bem visível em Jesus que de rico que era se fez pobre (Cf. 2 Cor 8,9), e que não se apegou á sua condição divina, mas se despojou de tudo para se aproximar a nós. Além disso, o Evangelho de João nos lembra que Jesus, na hora em que percebeu que o Pai tinha colocado todo o poder nas suas mão, se ajoelhou e lavou os pés dos seus discípulos. Verdadeiramente o poder de Deus está escondido nos atos humildes do seu Filho Jesus e hoje este poder se encontra todas as vezes que a Igreja se ajoelha para servir os mais fracos, os mais pobres e necessitados.

3.Eu te louvo, o Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelastes aos pequeninos” (Mt 11,25).

Este é mais um versículo na nova lógica do Evangelho que confunde as nossas idéias. Verdadeiramente para entendermos a proposta de Jesus precisamos de uma conversão, de uma mudança de mentalidade.  É impossível fazer parte do Reino de Deus sem antes se dispor para uma mudança radical. Este é o sentido da docilidade da qual falávamos no começo destas reflexões. Jesus trouxe algo de totalmente novo, totalmente diferente e distante da nossa mentalidade corriqueira para podermos entender o sentido profundo da sua proposta. Porque o Pai escondeu “estas coisas” aos sábios? Podemos tentar uma resposta pensando que Deus não queira que ninguém pense de merecer a salvação. Não existe ninguém no mundo que posa se apresentar perante Deus com ousadia, cobrando dele a salvação. Por isso este mistério da salvação Deus o escondeu aos sábios, no sentido que o Reino de Deus fica fora do alcance das possibilidades humanas e, por isso, é um dom que pode ser somente acolhido. 
A lógica do Reino de Deus não está no mérito, na lógica do mais forte, do mais inteligente. A lógica do Reino de Deus é a lógica da gratuidade, do dom. Somente as pessoas humildes, as pessoas que reconhecem Jesus como o único Senhor da vida percebem nele a fonte da vida e o único caminho da salvação. Por essa razão o caminho que o Evangelho propõe é o caminho da simplicidade, para se tornar como crianças que imediatamente reconhecem o Pai e se jogam nos seus braços. A que serve, de fato, buscar a grandeza do mundo, quando depois se perde a alma! A que serve o poder dos homens, o dinheiro se depois se perde a vida, porque é somente Deus que tem o poder de dar e tirar a vida! Idéias simples como simples é o Evangelho que todo dia nos aconselha de tirar o olhar daquilo que não presta, para aprendermos a fitar o olhar em Deus.

4.Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 28-29).

São lindas estas palavras de Jesus, pois são repletas de humanidade, daquela humanidade que dificilmente encontramos no nosso dia a dia.  São palavras que nos convidam a deixar de lado as preocupações, ou melhor, a entregar nas mãos do Senhor toda a nossa vida. É esta uma grandíssima indicação espiritual. Se tudo vem de Deus e tudo deve ser transformado pela ação do Espírito Santo, então devemos aprender a viver constantemente perante o Senhor, sem nada esconder o guardar somente para nós. Viver perante o Senhor quer dizer transparência, honestidade, sinceridade: todos valores que infelizmente encontramos raramente nos relacionamentos da vida corriqueira. É o Senhor que nos convida a sair da angustias, de uma vida presa em amarguras inúteis, pois Ele é presente na história para aliviar o peso da nossa vida e, ao mesmo tempo, consolar as nossas tristezas. É sempre o Senhor que nos convida a descansar nele, a não considerar a vida religiosa somente nas horas alegres, mas sim a aprender a buscar o Pai quando vivemos mergulhados nos problemas da vida, da mesma forma que Jesus fazia. Aprender a se entregar em Deus, a buscar a sua justiça, a sua misericórdia e compreensão. Fazer a experiência da humildade de coração de Jesus e da sua mansidão, como remédios ao ódio e ao egoísmo do mundo. “Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”.


HOMILIA Domingo XII°/A




Jer 20, 10-13; Sal 69; Rom 5, 12-15; Mt 10, 26-33
Paolo Cugini

1. É interessante notar como o Senhor acompanha os nossos passos indicando o caminho que devemos trilhar. Faz isso às vezes nos falando através de pessoas amigas, ou através de uma liturgia. Sem duvida, porém, a maneira mais explicita de Deus intervir na nossa historia para nos orientar é a sua Palavra. O problema é prestar atenção a esta Palavra como algo de vivo, presente, considerá-la na sua realidade especifica, ou seja, como Palavra que Deus dirige para nós hoje, para iluminar o nosso caminho. De fato, a palavra “é Lâmpada para os nossos passos” (Cf. Sal 119), é Ela que revela o caminho que devemos tomar no meio das trevas deste mundo. E para que a Palavra se torne eficaz na nossa vida precisamos escutá-la, não apenas com as orelhas do corpo, mas sim, sobretudo com as orelha das almas, do coração, para que Ela penetre dentro de nós, modificando as atitudes erradas. A coisa pior que podemos fazer é questionar a Palavra, achar que as nossas idéias sejam melhores daquelas de Deus e por isso não prestamos muita atenção. Pelo contrario todos aqueles que amam a Jesus perante uma pagina do Evangelho deveriam se perguntar: o que Tu Senhor quis dizer? E em seguida: o que esta pagina quer dizer para mim, na minha realidade? É com estas duas perguntas que entramos no Evangelho de hoje.

2.Não tenhais medo dos homens... Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma” (Mt 10, 26.28).
No texto do Evangelho de hoje ouvimos os versículos conclusivos do assim chamado discurso apostólico, aonde Jesus envia os discípulos para anunciar o Evangelho, alertando-os sobe os obstáculos que irão encontrar ao longo do caminho. Um dos perigos que Jesus vislumbra é o medo que pode surgir nos discípulos perante a ignorância do mundo que, não entendendo e não compreendendo o Evangelho, persegue com a força os seu arautos. O medo é um sinal de falta de fé, porque quando confiamos em Deus conseguimos enfrentar qualquer situação. Além do mais estas palavras de Jesus alertam os discípulos sobre a essência da mesma mensagem evangélica, que é a liberdade. 

Por isso nada pode atrapalhar a liberdade dos cristãos, nem a arrogância insolente do mundo, a prepotência dos homens que se sentem o dono do mundo pelo fato de estarem senados nas cadeiras do poder. Por um Cristão é somente a Deus que devemos respeito e a seu Filho Jesus Cristo: é só perante Ele que devemos dobrar o joelho. Pelo resto nada mais que uma consideração humana e, sobretudo, nada deve intervir que possa prejudicar o nosso relacionamento com o Senhor. O Espírito é Liberdade e o Senhor veio para libertar o mundo da toda forma de escravidão. Por isso o Evangelho da liberdade entrando no mundo se choca com as forças do poder das trevas, que se organiza com o único objetivo de prender os homens e as mulheres para que se tornem escravos. O cristão, pelo contrario, não pode ser escravo de ninguém porque Deus pagou um preço salgado para libertá-lo, o sangue do seu Filho Jesus.
Ser cristãos seguidores de Cristo significa ser livres, cujo único Senhor é Cristo: é Ele o Deus da vida. Entender isso significa impostar a própria existência conforme o plano de Deus vencendo o medo que os homens colocam em nós para nos desistir.

3.Temei aquele que pode destruir a alma e o corpo no inferno!” (Mt 10, 28).
Este versículo oferece uma importante indicação pela vida espiritual. Se devermos temer aquilo que pode destruir a alma, significa que é à alma que devemos prestar atenção mais do que ao corpo. Neste sentido o medo dos homens é um reflexo do apego das pessoas pelo corpo ou, num sentido mais geral, pelas coisas materiais. Quanto mais zelarmos da nossa alma, cuidando de viver conforme ao Evangelho, tanto menos sentiremos a atração por aquilo que o corpo oferece. Isso é importante porque, como nos lembrou são Paulo na segunda leitura de hoje, “o pecado entrou no mundo através de um só homem e a morte passou por todos os homens porque todos pecaram” (Rom 5, 12). Zelar da alma significa zelar de nós mesmos, não permitindo que a morte possa entrar na nossa vida. Existe uma experiência de morte que o homem faz também quando é em vida. É a morte espiritual, a morte da alma, a morte causada pelo nosso afastamento de Deus. Quando isso acontece o vazio toma conta de nós e, junto com isso, o apego às coisas materiais, o apego ao corpo toma conta da vida toda. Por isso o medo dos homens é um sintoma de um vazio de Deus, pois na realidade quem ama a Deus de verdade não tem medo de nada e de ninguém, tanto menos dos homens que não tem nenhuma chance de mexer na nossa alma.

4.Eu ouvi as injurias de tantos homens... Mas o Senhor está ao meu lado como forte guerreiro; por isso aquele que me perseguem cairão vencidos” (Jer 20, 11).

Tudo aquilo que ouvimos no Evangelho é bem visível na experiência do profeta Jeremias, assim como é narrada na primeira leitura de hoje. Jeremias é um profeta que foi chamado por Deus na juventude para anunciar a destruição de Jerusalém por causa dos pecados do povo, provocando a ira do mesmo povo. Jeremias passou por muitas perseguições, angustias, mas em tudo experimentou a presença do Senhor. Isso deve nos servir do exemplo. De fato, sabemos que anunciar e viver o Evangelho num mundo que não conhece a Deus e nem se interessa por Ele é difícil e pode provocar muitas situações de tensões além de persecuções. Sabemos, porém, que o Senhor não nos abandona, pois sempre Ele está ao nosso lado, para nos encorajar, para que não esmorecemos perante os homens, aqueles que se acham os poderosos deste mundo, mas que na realidade de Deus não são absolutamente nada porque que manda na historia é Cristo. É em Cristo que Deus colocou toda a plenitude da sua divindade (Cf. Col 1, 19). Isso quer dizer que é somente a Cristo que devemos dar conta da nossa vida e a nenhum outro homem ou mulher que seja. Quando conseguirmos entender isso quer dizer que somos livres, livres dos tiranos deste mundo que no maximo podem matar  o corpo, mas não podem fazer nada à nossa alma, pois quem manda na alma e na historia toda é Deus. O profeta Jeremias nos ensina que a fé em Deus, a confiança na sua presença e no seu amor por nós, se manifesta na nossa maneira de lidar com as forças do mundo que amiúde nos amedrontam e que agora em Cristo foram totalmente vencidas e não tem mais nenhum poder sobre a humanidade.

Pedimos a Deus que nos ajude a viver aquela força que recebemos na Eucaristia para sermos presença viva do mundo da liberdade de Cristo.




venerdì 12 giugno 2020

Solenidade da Santíssima Trindade



(Pr 8, 22-31; Sal 8; Rom 5, 1-5; Jo 16, 12-15)

Paolo Cugini

1. Depois das semanas do tempo pascal, que encerraram domingo passado com a celebração da solenidade do Pentecostes, a Igreja nos convida á entrar no mistério da Trindade. Isso é algo que nos deixa bastante sem jeito, pois, também nós, não conseguimos entender o sentido deste mistério que, aliás, é o mesmo mistério de Deus. A liturgia nos pede humildade para entrarmos neste mistério sem a presunção de entendê-lo, mas, pelo menos, de vivê-lo. Deus é uno e trino: quer dizer isso? Deus é amor e o amor se revelou na historia e continua se revelando de formas diferentes. Em que maneira, então, Deus manifestou o seu amor na historia aos homens e as mulheres de todos os tempos?

2.Quando [Deus] preparava os céus, ali estava eu [a sabedoria]... Quando fixava ao mar os seus limites... eu estava ao seu lado como mestre-de-obras” (Pr 8, 27.29.30).
Conforme aquilo que escutamos na primeira leitura o amor de Deus se manifesta como sabedoria. Deus cria o mundo e a historia não de qualquer jeito, mas com sabedoria. Em tudo aquilo que encontramos na criação podemos perceber com a nossa inteligência vestígios e rastros da sabedoria de Deus. Se o homem e a mulher são criados a imagem de Deus então, um dos traços desta imagem é sem duvida a inteligência, que o instrumento para alcançar a sabedora e, de uma forma indireta, descobrir os traços, os vestígios da sabedoria presentes na criação. Tarefa da Igreja torna-se, então, ajudar as pessoas a crescer na sabedoria de Deus meditando a sua Palavra, prestando atenção á obra da criação. Tarefa da humanidade é sair do estado de estupidez no qual nascemos, mergulhados nos sentidos humanos que ofuscam a nossa inteligência. Por essa razão quando Jesus, o Verbo de Deus, veio ao mundo se apresentou com a Verdade: só um ser inteligente, somente uma pessoa que cultiva a sabedoria, a inteligência pode reconhecer a presença do amor de Deus no mundo através dos sinais inteligíveis da sua sabedoria. Folhando as paginas dos Padres da Igreja dos primeiros séculos do cristianismo, considerada a época de ouro da Igreja, encontramos este grande esforço de colher os sinais da sabedoria de Deus no seu plano de salvação, que se manifestou de uma forma contundente na vinda do seu Filho Jesus. A sabedoria de Deus, com o qual Deus criou o mundo não é apenas uma sabedoria puramente racional, mas encarnada nos fatos, acontecimento históricos. Por isso, para reconhecê-la, necessita de um preparo espiritual que somente a internalização das Divinas Escrituras pode oferecer.

3.Irmãos, justificados pela fé, estamos em paz com Deus, pela mediação do Senhor nosso, Jesus Cristo” (Rom 5, 1).
O amor de Deus não se manifestou no mundo e na historia apenas como sabedoria, mas também com a vinda do Filho Jesus Cristo. Ele encontrou uma humanidade condenada definitivamente á morte por causa da incapacidade de viver a Lei de Deus, incapacidade causada pelo pecado que estragou gravemente a humanidade. Jesus entrou na historia vivendo até o fim o âmago da Lei que é o amor. Na historia da salvação o amor não se identifica nunca como uma teoria, como algo de abstrato, mas é sempre relacionado á alguém. O Evangelho de João, antes da céia derradeira, faz questão de frizar que Jesus “tendo amado o seus que eram no mundo, amo-os até o fim” (Jo 13,1).

A carta de Paulo aos Romanos nos solicita a olhar a Jesus não apenas pelas suas lindas palavras ou os milagres mirabolantes, mas, sobretudo pela sua maneira de viver perante Deus Pai como um Filho querido, em uma obediência filial que o levou a oferecer até a própria vida. Esta morte fruto do imenso amor que Jesus manifestou para com o seu Pai e pelas pessoas que encontrou na historia, é motivo de salvação por todos nós. Olhar a Cristo não para cobrar continuamente favores materiais, mas para expressar a nossa gratidão pelo seu imenso amor que proporcionou a nossa salvação, é este o sentido da nossa caminhada de fé, para sairmos de uma espécie de materialismo religioso e entrarmos, assim, no mistério do amor de Deus que não poupou nem o próprio único Filho por nós. Perante um amor tão grande e eterno como é que podemos continua a nos aproximar a Ele cobrando algo? Não é terrível a nossa atitude?




4.Quando, porém, vier o Espírito da verdade, ele vos conduzirá á plena verdade” (Jo 16, 13).

O Amor de Deus que se manifestou ao longo dos séculos e que se manifestou de muitas maneiras e em muitos momentos (cf. Hb 1,1s) como atenção ao homem nas situações concretas da historia, não parou com a morte de Jesus, mas continuou com a vinda do Espírito Santo. É o Espírito Santo que salva o homem da morte, que se manifesta como vida na mentira (cf. Jo 8,41s), que é o contrario da Verdade, da sabedoria desvendada na obra da criação e na vida e nas palavras de Jesus. Esta Verdade é sugerida ao homem pela ação do Espírito Santo, que age dentro do mesmo homem. É isso que revela são Paulo no mesmo texto da carta aos romanos que citamos pouco acima: “O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rom 5,5).

O amor de Deus que se manifesta como caminho de aproximação ao homem, nesta ultima fase da historia é tão próximo que decidiu de morar dentro de nós. O amor de Deus derramado em nós através do Espírito, nos alerta sobre a verdade, para nos ajudar a destrinchar os caminhos da mentira e, assim, nos afastarmos deles. Em Deus a verdade coincide com o amor: esta é a grandíssima verdade que Deus sempre em todos os tempo quis nos revelar. Só quem ama encontra a Verdade e, ao mesmo tempo, só quem conhece a Verdade consegue á amar e, assim, viver a própria vocação originaria. Esta intuição revelada na Escritura destroça todas as formas mundanas de amor como possesso egoísta do outro. Pelo contrario, na historia da salvação e na vida de Jesus o amor se manifestou como doação total de si. É isso que Espírito nos sugere: fugir da mentira do amor egoísta baseado somente no prazer individual, para buscar o amor que se doa totalmente ao outro, renunciando a si mesmo. É esta a Verdade que o mundo não entende e não compreende porque não conhece a Deus e seu Filho Jesus, e se recusa de escutar a voz do Espírito.

5. Aproveitamos, então, desta Eucaristia para abastecermos a nossa alma do amor de Deus e, assim, derramá-lo aos irmãos e irmãs que encontraremos nos próximos dias.