Domingo,
18 janeiro 2009- II do tempo Comum/B
1Sam 3,3-19;1Cor
6,13-20;Jo 1,35-42
Paolo Cugini
1. Terminamos o tempo de Natal meditando sobre o mistério da
Encarnação do Filho de Deus, que se fez homem, expressando o desejo de Deus de
morar no meio de nós, e entramos hoje naquele que a liturgia chama de tempo
comum. Neste tempo, que aliás é tempo da nossa vida que não é feito de eventos
excepcionais, mas do dia a dia, das
coisas corriqueiras, somos convidados pela liturgia a realizar o plano de Deus,
que é um plano de justiça, de amor, de partilha. Por isso o tema de hoje é a
vocação, ou seja uma reflexão sobre o mistério extraordinário de Deus que chama
o homem, cada homem e mulher por nome, para colaborar ao seu Reino de amor.
Vamos, então parar a nossa reflexão sobre este mistério, parando o nosso olhar
primeiro no texto de 1 Samuel e, depois, sobre o Evangelho.
2. “Naqueles dias Samuel estava
dormindo no templo do Senhor, onde se
encontrava a arca de Deus. Então o Senhor chamou: “Samuel, Samuel” Ele
respondeu: “Estou aqui” (1 Sam3, 3-4).
É bom parar um pouco e saborear este primeiro dato do
mistério da vocação: Deus conhece o meu nome! Não é algo de incrível? Nós,
porem, podemos objetar que isso aconteceu mais de três mil anos atrás e que
Deus agora não se manifesta desta forma tão direta. Se a Palavra de Deus não
mente, come atualizar este texto, para quer possa falar pela nossa realidade?
O nome, na mentalidade bíblica, aponta ao ser da pessoa,
á sua mesma identidade. Deus chamando por nome, não está apenas dizendo uma
palavra, algumas letras, mas apontando para o universo pessoal da pessoa
chamada. Deus chama também hoje e faz isso através da sua Palavra. Existem
momentos na vida pessoal, que a Palavra de Deus entra com uma intensidade tão
profunda, que até parece envolver os sentidos. Só que muitas vezes nem
sabemos discernir com precisão aquilo que está acontecendo, pois não somos
acostumados a sentir Deus tão perto. Por isso Samuel precisou de Eli, o
sacerdote do templo de Deus, que o ajudou a destrinchar o sentido da voz que
ouvia no sono. O papel de Eli é hoje o papel do diretor espiritual, do guia
espiritual, que ajuda o jovem a perceber a vontade de Deus, para que a vida dele
se torne uma resposta ao Senhor.
Tem outros dois dados que me parece importante frisar
neste texto. O primeiro é fato que, se Deus chama é para entregar uma tarefa.
Samuel é chamado por Deus para anunciar o desastre de Israel por causa da
idolatria. Quando Deus nos chama é porque quer que colaboramos para a
construção do seu Reino. Deus me chama e me oferece um sentido de vida, um
rumo, um objetivo. Se na nossa cidade tem tanta gente vivendo a toa, sem fazer
nada, estragando a vida dos outros, não é por falta do chamado de Deus, ma de
uma resposta.
O segundo dato que quero frisar é o versículo final: “Samuel crescia, e o Senhor estava com ele. E
não deixava cair por terra nenhuma de suas palavras” (1 Sam3, 19).
Se abrimos mão com facilidade do nosso compromisso com a
Palavra de Deus, talvez é porque falta
aquele experiência sensível e profunda de Deus que marca a vida do cristão.
3.No Evangelho que hoje ouvimos aparecem os mesmos assuntos, com
algumas diferenças, que agora iremos analisar.
A primeira diferença é que no Evangelho encontramos dois
jovens, que são já discípulos de João Batista, quer dizer dois jovens já em
busca do sentido da vida. Atualizando este versículo me parece que é isso o
papel de uma paróquia: ajudar os jovens a descobrir o sentido da própria vida,
colocando-os numa situação de escuta. Este é um trabalho pastoral e espiritual,
que muitas vezes as paróquias esquecem de realizar, dizendo que falta tempo. Na
realidade, na perspectiva do Evangelho, isso deveria ser a prioridade.
Também neste trecho do Evangelho, aparece o mesmo dato
que encontramos na primeira leitura, ou seja a necessidade de um orientador,
que ajude a discernir a vontade de Deus e mostre o caminho para encontrar
Jesus.
“João estava de novo com dois de seus discípulos e, vendo Jesus passar,
disse: “Eis o Cordeiro de Deus!”(Jo 1,35-36).
Mas aquilo que chama mais atenção no Evangelho de hoje é
a resposta de Jesus.
“Voltando-se para
eles e vendo que o estavam seguindo, Jesus perguntou: “O que estais procurando?”.
Eles disseram: “Rabi, onde moras?” Jesus respondeu: “Vinde Ver”. Foram pois ver
onde moravam e, nesse dia, permaneceram com ele”(Jo
1, 38-39).
São estes dois versículos extremamente intrigantes.
Neste caso não é Jesus que chama, mas são os discípulos, que, orientados por
João, seguem a Jesus. O que podemos aprender de importante destes dois versículos?
Antes de mais nada, que a vida cristã não se identifica com a participação de
ritos ou liturgias, mas é convivência com Jesus, partilhar o seu estilo de
vida, as suas idéias, os seus objetivos. Ser cristão, ser um batizado, quer
dizer isso mesmo, desejar que na própria vida se reflita a luz de Cristo. Para
isso acontecer é preciso morar com Ele, viver com Ele. Como é possível realizar
isso hoje? Como o mesmo Jesus disse, quando as pessoas se amam, quando as
pessoas vivem escutando a sua Palavra, Ele está presente. É preciso, então,
fazer com que a nossa vida se torne uma busca constante da vontade de Deus.
4. “Jesus respondeu: “Vinde ver”
(Jo 1, 38).
O que os discípulos viram? Eles sem duvida nenhuma, não
sabiam o que iriam encontrar, mas nos conhecemos a historia completa e então
podemos dizer que os dois discípulos, indo aonde Jesus morava e vivendo com
Ele, viram e conheceram a Cruz. Partilhar a vida de Jesus significa trilhar o
seu caminho, que é o caminho do amor, da doação total e gratuita de si, da
entrega total, que tem um preço altíssimo: a própria vida.
“Quem perder a
própria vida pra mim irá encontrá-la”. São palavras
de Jesus que, ás nossas orelhas acomodadas, podem ressoar um pouco estranhas,
mas é isso mesmo. Se quisermos encontrar a nossa vida, o sentido dela, a
felicidade, não temos outro jeito que caminhar atrás do Senhor Jesus, vivendo
com Ele, participando do Seu sonho de um mundo mais Justo e solidário.
5. Vale a pena, Também, gastar um tempinho para comentar os
versículos da secunda leitura, pois são ligados com o tema vocacional de hoje.
“Fugi da
imoralidade... Ou ignorais que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que
mora em vós e vos é dado por Deus?” (1 Cor 6,16.19).
É impossível para um jovem que vive na imoralidade,
conseguir perceber e realizar a vontade de Deus. Isso quer dizer que o primeiro
passo para um autentico caminho vocacional,
é arrumar a própria vida sexual. Talvez alguém não consegue eliminar
toda a imoralidade da própria vida de uma vez, mas pelo menos é necessário se
colocar no caminho, no desejo que o
Senhor nos liberte para sermos capazes e em condições de ouvirmos a sua vontade
sobre nós.