lunedì 20 luglio 2015

DO MINISTERIO AO MISTERIO



Paolo Cugini


1. 1 Reis 19, 1-18. É um texto tirado do ciclo de Elias.

O texto lido começa com a ameaça de Jezabel na forma de juramento. É importante lembrar que o nome de Elias quer dizer “O meu Deus é Javé”. Toda a vida de Elias foi um luta para o Javismo, uma luta contra toda qualquer forma de idolatria e de sincretismo.

2. A fuga e Elias.

Este trecho diz, antes de tudo, que a fuga de Elias é uma fuga para salvar-se, mas no contexto do caminho, percebe-se que á Elias desapareceu a vontade de viver. Isso é estranho, pois a Bíblia apresenta Elias como um grande lutador, que nunca desiste, com um espírito de valente. Apesar disso, neste trecho, parece que Elias não tenha mais vontade de viver.
Agora basta Senhor”. Deixou o seu servo por esta vontade de morrer, de se deixar morrer.

“Não sou melhor que meus pais”. Esta é a motivação que Elias coloca pra pedir a Deus a morte. È a incapacidade de ver um futuro na própria vida. A vida tem sentido quando é um caminho de crescimento, de enriquecimento; a vida é pensada assim: é feita de transformações e, a transformação, deve ir inevitavelmente rumo ao melhor. Quando esta esperança d melhorar ávida desaparece, desaparece também a vontade de viver. Elias, então, parece ter chegado ao topo da vida, a este ponto aonde não consegue enxergar mais nada na frente. Se deita e dorme: este sono é como uma sorte de antecipação da morte. É uma maneira de aplacar a consciência, de adormecer o sentido de falimento, de fracasso total da vida que Elias está sentindo. Este sentimento negativo está tirando á Elias toda a energia psíquica e espiritual para continuar a viver.

Levanta-te e come”. Se Elias não morreu é porque Deus entrou no meio da historia. Por duas vezes o anjo do Senhor convida Elias pra se levantar e comer. A segunda vez o anjo acrescenta uma motivação importante: “O caminho te será longo demais”. Claramente a referencia não é apenas ao caminho físico que Elias deve realizar, mas ao mesmo caminho da vida, á vocação de Elias, ao seu ministério. É por isso que Elias deve aceitar de se alimentar, alias, que o anjo de Deus o alimente. Nessa altura a fuga se torna uma romaria com uma meta bem precisa: o monte de Deus, o Horeb. É nesta montanha que Moises encontrou o Senhor (Ex 33, 23). De uma certa forma a romaria se transforma em uma viajem á busca da fonte do Javismo e, então, da mesma vocação de Elias.

3. A teofania.

“Que fazes aqui Elias?”. É uma pergunta que parece ser uma reprovação. É uma pergunta que deve provocar a reflexão de Elias, sobre o motivo do próprio fracasso, da fuga que o levou ao deserto do Sinai. É uma pergunta que deve ajudar Elias a entender a origem de todos estes sentimentos que o levaram tão longe do seu ministério, descobrir a fonte do seu medo. Elias foi longe do lugar do seu ministério, pois o seu ministério não é ali, não é no Sinai, mas é em Israel, pois é em Israel que está sendo travada a luta entre o Javismo e o baalismo. Esta é a luta pela qual Elias foi chamado por Deus e é exatamente ali que Elias deve se encontrar.
Os Israelitas abandonaram a tua aliança”. É a desculpa de Elias. De uma certa forma a desculpa de Elias é uma mentira. De fato não é verdade que Israel esqueceu Javé, pois no cap 18, 39 ouvimos este grito: “Javé é Deus!”. Também não é verdade que “demoliram os altares”, porque no Carmelo foi reconstruído o altar do Senhor (18,30). Isso é normal pois quando uma pessoa vive uma crise existencial não consegue enxergar as coisas de uma forma real, autentica, ma muito distorcida. É a amargura que fecha os olhos de Elias, o seu medo de Jezabel que provoca estes sentimentos negativos e um julgamento excessivamente pessimista sobre a realidade que o rodeia.

“Sai e fica na montanha diante de Javé”. No começo do ciclo de Elias oprofeta tinha-se apresentado assim: ”Pela vida de Javé, o Deus de Israel, que eu sirvo” (17,1). Neste contexto é confirmada a vocação, a identidade do profeta.
vv. 12-13: Não é possível identificar o Senhor com as forças da natureza. Quando o Senhor vem podem chegar relâmpagos, como já aconteceu na teofania do Sinai com Moises (Ex 19,16). Só que não podemos identificar o Senhor com a natureza e as suas forças. É por isso que o Senhor se manifesta perante Elias de uma forma surpreendente, inesperada, como “o ruído de uma leve brisa”. A tradução literal seria: “Uma voz do silencio leve”. Voz e silencio são duaspalavras contrarias. Isso quer dizer que não é possível definir a Deus. È de uma certa forma aquilo que afirmava a teologia negativa de Cusano. Deus, apesar de tudo, permanece um mistério para o homem e qualquer tentativa de defini-lo, identificá-lo, como, por exemplo, com as forças da natureza, é sempre um caminho errado. Deus é um mistério inexprimível, que a Bíblia para dizer algo sobre Ele utiliza dois contrários: voz e silencio. Que Deus seja voz, ninguém tem nada a dizer contra: a Bíblia é sem duvida nenhuma a expressão plena desta voz. Deus porem é também silencio, no sentido que é inexprimível, inefável. Claramente esta que encontramos é uma maneira de expressar a diversidade de Deus, no confronto de todas as imagens que o precederam e de colocar o homem perante á aceitação do mistério, do fato que o homem não pode nunca tentar de encaixar nos próprios esquemas as intervenções de Deus.

“Que faz aqui Elias?”.A resposta é a mesma de antes. E Deus convida Elias a voltar atrás, lá aonde acontece a luta, aonde tem que servir, aonde precisa testemunhar o Senhor, aonde precisa se opor a todas as alterações e deformações do nome do Senhor. (O ministério é também isso. É testemunhar o Senhor num mundo que não o conhece sabendo que este mundo é amiúde no mesmo contexto eclesial). Deus pede Para Elias não ter medo, não e deixar vencer do medo. A historia não se tornou aquele caos insuportável que Elias reclamava: pelo contrario, a historia está bem firme nas mãos de Deus. Elias pode voltar tranqüilo, pois a vida é assim mesmo, é um continuo contraste, conflito que se vence somente se  aprende a viver constantemente em Deus.

Ungiras Eliseu”. É anunciado o fim de Elias, o fim da sua profecia, do seu ministério. Elias deve aceitar também de desaparecer. A final de conta ele, como todos os profetas, é apenas um enviado de Deus, um instrumento nas suas mãos. O fim de Elias não significa que Elias perdeu, mas pelo contrario que a causa pela qual ele lutou continua. Ser ministro de Deus pressupõe aprender a viver despojado, a não se apegar demais as próprias idéias, a própria força,aquilo que se constrói, pois tudo está nas mãos de Deus. A unção de Eliseu quer dizer que Deus decidiu de dar continuidade ao trabalho realizado por Elias. O designo de Deus é maior do que Elias. Elias é extraordinariamente grande, mas o designo de Deus é uma outra coisa.

“Me pouparei em Israel sete mil homens”. É o famoso resto de Israel. Este grupo de pessoas é o futuro do Javismo, é o futuro do designo de Deus em Israel.

4. A renovação do compromisso profético de missão.

Atualizar este texto na nossa vida, no nosso ministério.
- Quais são as ameaças que hoje estão nos amedrontando?
Quais são os mecanismos de fuga que inventamos? Talvez não estamos fugindo, mas existem vários mecanismos de fuga, como, por exemplo, criar outros interesses, etc.

- Como transformar a fuga em romaria? Não pensar o nosso caminho como determinado pelos fracassos, decepções, mas orientado rumo a que? Uma romaria rumo ao Senhor, aprendendo a colocar nas suas mãos todas as nossas crisis, frustrações. Como encontrar a força para realizar este caminho? Que alimento utilizar?
- A pergunta do Senhor: “Que fazes aqui Elias?” Estou no meu lugar atualmente no ministério? Quais são as minhas justificativas?

- Como reencontrar a confiança no cumprimento do plano de Deus?




sabato 18 luglio 2015

RETIRO ESPIRITUAL





Retiro espiritual 6-7 outubro 2007


Sábado à noite; primeira meditação

O sentido da amizade na vida cristã e as nossas dificuldades (poderia ser feito o histórico da nossa caminhada).

Perguntas:
Quais são os sentimentos negativos que atrapalham a minha vida e que não consigo tirar?
como está sendo o nosso relacionamento?
O que impede um melhor entrosamento entre nós?

Cf. João 13-16; Atos 2,42ss.
Atrás de Jesus para transfigurar os nossos sentimentos negativos.

Temas:
O sentido do discipulado.
             Ser discípulos no contexto da nossa cidade de Tapiramutá
             A Vida no Espírito que recebemos no Crisma.

Idéias sobre a amizade, assim como aparece na postura de Jesus.

- a amizade é um relacionamento particular, a sos com um adulto que me acompanha na descoberta de mim mesmo, para discernir a minha vocação (cf. Mc, 10; Mc 6, 30).

- Neste relacionamento aprendo a abrir o meu mundo, o meu universo interior, por alguém do qual confio, partilho com ele os meus sonhos, anseios, angustias (Mt 19, 16).

- No caminho de discipulado com Jesus, aprendo a minha identidade, a perceber a minha diferença, ou fato que Deus me criou por um compromisso especifico.  Quando entendemos isso deixamos cair as mascaras que construímos pra me defender dos outros. Neste sentido é importante refletir sobre o fato que Jesus escolheu 72 discípulos (Lc 10,1s), entre eles escolheu os 12 (Lc 6, 12), entre os 12 escolheu três (Pedro, Tiago e João) Lc 9, 28 ss., entre os três escolheu Pedro como chefe da Igreja (cf. Mt 16, 18), e João era o discípulo que Ele amava (Jo 19,26). Só na aproximação com Jesus percebemos o sentido da nossa presença na terra, da nossa identidade.



A INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA NA IGREJA




Síntese de Paolo Cugini

            [1] método histórico-crítico

            Histórico: não é porque se aplica a textos antigos, mas também Cristo ele procura elucidar os processos históricos de produção dos textos bíblicos.
            Os textos bíblicos, em suas diferenças.
            Crítico: com a ajuda de critérios científicos tenta tornar acessível ao leitor moderno o sentido dos textos.

            Etapas do método:
1)                          critica textual – procura estabelecer um texto bíblico que seja tão próximo quanto possível do texto original. (mostrar códigos do eu grego).
2)                          Analise lingüística: morfológica, sintaxe (cfr Paulo e cartas pastorais).
3)                          Critica literária: verifica a coerência interna do texto Jo 20, 30; Jo 4, 25 e Is 2(repetições, divergência, inconciliáveis -manifesta o caráter composto do texto); busca a origem das diferentes fontes.
Hinos, Salmos, históricos  4) crítica dos gêneres – ambiente de origem, traços específicos e evolução desses textos.
(J.E.D.P) 5) critica das tradições: situa os textos em correntes de tradição, dos quais ela procura determinar a evolução no decorrer da história.
6) critica da redação: estuda as modificações que os textos sofreram antes de terem um estado fixado.
7) critica histórica: se aplica quando o gênero literário é em relação com acontecimentos da história. (Isaías e Profetas).

Objetivo deste método: colocar em evidência o sentido expresso pelos autores e redatores.

Sentido da Escritura inspirada

Sentido literal: não é suficiente traduzir um texto palavra por palavra para obter seu sentido literal.
É aquele que foi expresso diretamente pelos autores humanos inspirados. Sendo o fruto da inspiração, este sentido é também desejado por Deus, autor principal.
Ele é discernido graças a uma análise precisa de texto, situado no seu contexto literário e histórico.
Geralmente o sentido literário de um texto é único, mas não se trata de um principio absoluto (ex Jo 11, 50).
Aspecto dinâmico: ex. Salmos rei – instituição verdadeira
                                                       - visão ideal da realeza.

Um texto escrito tem a capacidade de ser colocado em circunstâncias novas que o iluminou de forma diferente, acrescentando ao seu sentido novas determinações.
Sentido literal – é desde inicio, aberto a desenvolvimento culturas, que se produzam graças a “releituras” em contactos novos.

Sentido espiritual: o acontecimento pascal, morte ou ressurreição de Cristo, deu origem a um contexto histórico radicalmente novo, que ilumina de maneira nova os textos antigos e os faz sofrer na imitação do sentido.

Sentido expresso pelos textos bíblicos, logo que são lidos sob influencia do Espírito Santo no contexto do mistério pascal de Cristo e da vida nova que resulta dele. É então normal reler as Escrituras à luz deste novo contexto, que é aquele da vida no Espírito.
O sentido espiritual não pode ser confundido com as interpretações subjetivas ditadas pela imaginação ou a especulação intelectual.

3 níveis de realidade;
a) texto bíblico
b) mistério pascal
c) circunstâncias presentes de vida no Espírito.

Aspecto dipológico – Adão figura de Cristo (Rom 5, 14)
Dilúvio figura de Batismo (1 Ped 3, 20-21)

Sentido pleno: trata-se ou do significado que um autor bíblico atribui a um texto bíblico que lhe é anterior, quando ele o retoma em um contexto que lhe confere um sentido literal novo, ou ainda do significado que a tradição doutrinal autêntica ou uma definição conciliar dão a um texto bíblico.
Ex: 1) M 1, 23 dá um sentido pleno ao oráculo de Is 7, 14
      2) dogma trindade.
      3) dogma do pecado original Rom 5, 12-21

Seu fundamento: o Espírito Santo, autor principal da Bíblia, pode guiar o autor humano a escolha de suas expressões de tal forma que estas últimas expressam uma verdade da qual ele não percebe toda a profundidade.



A interpretação da Bíblia na vida da Igreja

Atualização
Já no interior da própria Bíblia pode –se constatar a prática da atualização.

Princípios:
1.      a at. é possível, pois a plenitude do sentido do texto bíblico dá-lhe  valor para todas as épocas e todas as culturas (Is 40, 8; 66, 18-21)
2.      a atualização é necessária: os textos foram redigidos em função de circunstancias passadas  é necessário aplicar a mensagem desses textos às circunstâncias presentes e exprimi-las uma linguagem adaptada a época atual.
3.      a atualização afetua-se levando em conta a  confimidade  A.T/ N.T.
4.      a atualização realiza-se graças ao dinamismo da tradição viva da comunidade de fé.
5.      o magistério da Igreja não está acima da Palavra de Deus, mas ele a serve ensinando só aquilo que foi transmitido.

Métodos:
A –at pressupõe um correta do texto.
A interpretação da Escritura pela Escritura é o método mais seguro – cfr: ex 16; sb 16, 20-29; Jo 6

Três etapas:
1)      escutar a palavra a luz da situação presente.
2)      Discernir os aspectos da situação presente que o texto bíblico ilumina.
3)      Tirar da plenitude de sentido do texto bíblico os elementos suscetíveis de fazer evoluir a situação presente de maneira fecunda.

Dimensões e características da interpretação Católica da Bíblia

·         A exegese católica não procura se diferenciar por método científico particular. (explicar).
·         Ele utilizou todos os métodos que permitam melhorar aprender o sentido do texto.
·         O que caracteriza a interioridade católica é que ela se situa conscientemente na tradição viva da Igreja, cuja primeira preocupação é a fidelidade à revelação atestada pela Bíblia.

1-      Releituras
 O que contribuiu para dar a Bíblia sua unidade interna, é o fato de que os escritos bíblicos posteriores apóiam-se muitas vezes sobre os escritos anteriores.
a) A herança de uma terra: gen 15, 7-18 – enredo no santuário Ex 15, 17 – participação ao repouso de Deus (Sl 132, 7-8) enredo no santuário celeste (Hb 6, 12. 18-20).
b) O oráculo do profeta Natã 2 San 7, 12-16 – 2 Sem 23,5; 1 Rs 2,4,3,6; 1 Cr 7, 11-14; Sl 89, 20-38; Sl 2, 7-8; Am 9, 11; Is 7, 13-14; Jr 23, 5-6; Os 3,5; Jr 30,9; Mc 11,10.
O reino prometido torna-se universal – Sl 2, 8; Dn 2, 35-44; 7,14; Mt 28, 18.
Ele realiza plenamente a vocação do homem. Gen 1, 28; Sl 8, 6-9; Sb 9, 2-3; 10,2.
c) Oráculo de Javé sobre os 70 anos de castigo. Jr 25, 11-12; 29, 10 é lembrado em 2 Cr 25, 20-23. é reme ditado de muito tempo Dr 9, 24 ss.
d) A afirmação da justiça retributiva de Deus (Sl 1, 1-6; 112, 1-10; Lv 26, 3-33) chocasse com a experiência imediata. Protesto – Sl 44; Jó 10, 1-7; e aprofunda regressivamente o mistério (Sl 37; Is 53; Sb 3-5).

2-      Relações entre A.T e N.T

·         As relações intertextuais assumem uma densidade extrema nos escritos do N.T, todo ferroado de alusões ao A.T.
Os autores do N.T, proclamou que a revelação encontram sua realização em Cristo – 1 Cor 15, 3-5; 1    Cor 15, 11 – segundo as escrituras.
·         A forma de Jesus viver manifesta não um capricho, mas uma fidelidade mais profunda à vontade de Deus – Mt 5, 17; 9, 13; Mc 7, 8-13.
·         A morte e a ressurreição de Cristo provocaram em alguns peitos um rompimento completo e ao mesmo tempo uma abertura inesperada de nomes (Mc 15, 26) provocou uma transformação na interpretação terrestre dos salmos reais. Sua ressurreição e sua glorificação celeste deram a estes mesmos textos uma plenitude de sentido inconcebível anteriormente, expressões que pareciam hiperbólicas devem doravante ser tomadas ao pé da letra.


              O Senhor – Sl 110,1
              No sentido mais forte: At 2, 36; Fil 2, 10-11; Hb 1, 10-12
   Jesus é realmente              Filho de Deus Sl 2, 7; Rom 1, 3-4
                                            Deus com Deus: Sl 45, 7; Hb 1, 8; Jo 1,1
                                            Seu reino não terá fim Lc 1, 32-33; Sl 45,7; 1 Cor 17, 11-14
                                            Sacerdote eterno Sl 110, 4; Hb 5, 6-10; 7, 23-24
                                        

            - Foi a luz dos acontecimentos da Páscoa que os autores do N.T releram o A.T.
           - O Espírito Santo os fez descobrir o sentido Espiritual. Foram assim conduzidos a afirmar o sentido profético do A.T, mas também a tornar fortemente relativo seu valor de instituição salvífica. (Mt 11, 11-13; Jo 4, 12-14; 5, 37; 6, 32)

             Paulo e o autor da carta aos Hebreus demonstram que a terá enquanto revelação, anuncia ela mesma seu próprio fim como sistema legislativo (Gl 2, 15-5,1; Rm 3, 20-21; Hb 7, 11-19; 10, 8-9;) – (ler p 109).
Conclusões:
  • A Bíblia é ela mesma uma interpretação.
  • É segundo a interpretação das comunidades e em relação àqueles que foram reconhecidos como Santa Escritura – ler p 111-112.
  •  

A interpretação na Tradição da Igreja

  • Os primeiros discípulos de Jesus sabiam que não estavam à altura de compreender imediatamente a totalidade da Palavra que tinham recebido.
  • Na vida da comunidade, faziam experiências de uma explicitação progressiva da revelação recebida. Eles reconheciam nisso a influencia e a ação do Espírito Santo ( Jo 16, 12-13; Jo 14, 26)


   Formação do cânon
  • Guiada pelo Espírito à luz da tradição, a Igreja discerniu os escritos que devem ser olhados como Santa Escritura.
  • O discernimento de um cânon das Santas Escrituras foi a conclusão de um longo processo.


[1] As comunidades da Antiga aliança reconheceram um certo número de textos a Palavra de Deus que lhes suscitava a fé e os guiava na vida, eles receberam estes textos como um patrimônio a ser guardado e transmitido.

O N.T. atesta sua veneração por estes textos: Rm 1,2; 2 Tm 3, 16; 2 Pd 1, 20s; Jo 10, 35; 2 Cor 3, 14.

[2] Esses textos a Igreja uniu os escritos que ela reconheceu.
a) de um lado o testemunho autentico proveniente dos apóstolos ( Lc 1, 2; 1 Jo 1, 1-3) e garantido pelo Espírito Santo (1 Pd 1, 12) sofre todas as coisas que Jesus fez (At 1,1).
b) do outro lado instituições dadas pelos apóstolos mesmos.

[3] Nesse processo numerosos fatores tiveram um papel:
a)  a certeza de que Jesus tinha reconhecido o A.T. e que esta recebia sua realização na Páscoa.
b) a convicção de que os escritos do M.T. provêm da pregação Apostólica.
c) a constatação da sua conformidade com a regra da fé e da sua utilização na liturgia Cristã.
d) a experiência da conformidade deles com a vida eclesial das comunidades.








venerdì 10 luglio 2015

RETIRO ESPIRITUAL DE QUARESMA (JOVENS)







Tema: Escolhes, pois, a vida (Dt 30,19)
A vida como saída da terra do pecado, caminhando no deserto rumo a terra prometida



 Paolo Cugini



Primeira meditação: sair de que Egito?

O tempo de quaresma, de um ponto de vista espiritual, é um caminho de saída do mundo do pecado rumo á uma vida mais autentica, aquela vida que se manifestou em Cristo e que recebemos nos sacramentos. Não é um caso que o livro por antonomásia deste período litúrgico seja o Êxodo, que narra a historia da saída do povo de Israel do Egito para a terra prometida. Neste caminho, que é ao mesmo tempo uma fuga, o povo de Israel passa paro o deserto. Nesta primeira reflexão fitaremos a nossa atenção sobre a situação do povo de Israel no Egito.
O Egito é o que? Folhando as paginas da Bíblia percebe-se que o Egito é considerada ao mesmo tempo uma tentação e uma queda constante do povo de Israel, pelo menos até quando o Egito foi uma potencia, que podia oferecer segurança para os povos vizinhos[1].

“Ai dos que descem ao Egito,
à busca do socorro.
Procuram apoiar-se em cavalos,
Põem a sua confiança nos carros, porque são muitos,
E nos cavaleiros, porque são de grande força,
Mas não voltam os olhares para o Santo de Israel,
Não buscam a Iahweh. (Is 31, 1).

Este é o problema espiritual de base: aonde Israel busca as próprias seguranças? É um problema central porque o âmago da vida de Israel é a Aliança com Iahweh, realizada na época de Abraão e renovada varias vezes. Uma aliança é um pacto entre dois parceiros que exige ser respeitado. Ainda mais uma Aliança como aquela que Israel realizou com Iahweh, pois é uma aliança cheia de promessas (cf Gen 15; Josué 24). Aliança com Iahweh significa para Israel buscar em Deus o próprio amparo, o próprio refugio. É esta idéia que é varias vezes repetida nos salmos (cf. Sal 18, 1-9). O problema da busca do amparo naquilo que não é Deus, na realidade começa já nas narrações do Gênesis. A Historia de José (Gen 37-50) pode ser lida já nesta perspectiva, apesar de o texto mesmo oferecer uma outra interpretação (Gen 45, 5). A busca de seguranças naquilo que não é Deus é um tema que perpassa todo o Antigo Testamento.

Ele me abandonaram a mim, fonte de água viva,
Para cavar para si cisterna,
Cisternas furadas, que não podem conter água. (Jer 2, 13).

A mesma atitude a encontramos em Saul (1 Sam 15), quando em vez de obedecer a Deus, por medo do povo, utiliza os animais da vitória para sacrificar a Deus.

“A obediência é melhor do que o sacrifício,
a docilidade mais do que a gordura dos carneiros” (1 Sam 15, 22).

A aliança é um compromisso que requer a confiança total no parceiro. Nessa altura, um sentido espiritual, podem afirmar que o pecado é sempre uma falta de confiança em Deus, na sua possibilidade de ser o nosso escudo, o nosso amparo. Se buscarmos refugio em outras fontes que não são Deus isso quer dizer que não confiamos mais nele, apesar das aparências (cf. o sacrifício de Saul). Mas porque o homem busca amparo em algo? Este dato que podemos chamar de antropológico, revela um elemento importante: o homem, a mulher manifestam uma fraqueza que necessita de uma ajuda. O homem é um ser dependente, cuja existência é dominada pela fraqueza. O instinto de sobrevivência empurra o homem para buscar algo que possa ampará-lo das ameaça, dos perigos da vida. É nesse pano de fundo ao mesmo tempo psicológico e antropológico que podemos entender a historia entre Deus e o seu povo. Uma historia feita de uma continua busca da parte de Deus de um povo que sente-se arrastado pelas necessidades humanas, que exigem respostas imediatas ás próprias necessidades, ás próprias carências. Iahweh pede para o homem a paciência de esperar a sua passagem, de confiar nas suas promessas, para aprender a não se deixar arrastar pela força espantosa dos instintos. A fé é a confiança na Palavra de Um Deus que promete de nos salvar da escravidão dos instintos egoístas que arrastam a nossa vida. O preço que devemos pagar é aprender a esperar, agüentar o sofrimento na hora que o instinto aperta a nossa vida. Confiar em Deus, na sua Palavra, nas suas promessas é o sentido do caminho da fé exigido no tempo de quaresma.

Voltando ao tema do Êxodo: o povo de Israel não agüenta mais a perseguição do Egito e grita para Iahweh. O grito do povo de Israel expressa uma vontade. Esta vontade é estimulada pelo peso da opressão (cf. Ex 1-3).
Este dado, que em aparência pode ser visto como negativo, na realidade aparenta elementos positivo. Somente que experimentou por um pouco, por alguns instantes a paz que vem de Deus, antes ou depois a procura. Além disso, somente quem fez a experiências de uma Aliança, que em outras palavras pode ser considerada uma vida com regras para serem respeitadas, sente o peso do negativo. Dizia um padre da Igreja antiga que, até quando a alma de uma pessoa é como uma praça aberta aonde quem quiser pode entrar, o mal não é percebido. O pecado é percebido como tal quando a pessoa começa a colocar algumas portas na própria alma: ali começa a ser percebido o pressionamento. No Evangelho de João Jesus mesmo se apresenta como a porta (cf Jo 10). A Palavra de Deus, a sua proposta de vida, a Aliança é sem duvida uma porta bem firme posta na alma contra todo o tipo de mal que pode devastá-la, saqueá-la. E esta porta quanto mais é colocada firmemente na alma, tanto mais é sacudida pelas forças externas que tentam a toda hora de derrubá-la. Este é o sofrimento da alma, a luta interior da qual sempre fala Santo Agostinho e que se tornou um dos temas da mística cristã.

Do ponto de vista espiritual, sendo que somos no interno de um retiro espiritual, podemos nos perguntar:
Será que queremos mesmo sair da nossa terra do Egito? O estamos vivendo nela a vontade? Estamos percebendo o peso do desastre que a convivência nesta terra está provocando em nós? O devemos esperar que a nossa alma esteja toda esfacelada?
A pergunta é importante também porque no Evangelho, os milagres de Jesus acontecem amiúde atrás de uma vontade da pessoa doente:

“Que queres que eu te faça? O cego respondeu: Rabbuni!
Que eu possa ver novamente” (Mc 10, 51)[2].

Nesta primeira parte do retiro, no tempo de silêncio que teremos a disposição deveríamos nos perguntar: queremos de verdade ser curados? E de que? Sabemos quais são os males que estão devastando a nossa alma? Ou somos com o rei Acaz (cf. Is 7,7ss) que, procurado pelo profeta Isaias para pedir um sinal, ele respondeu que não queria não, que queria deixar em paz o Senhor?
Além do mais se o pecado, como vimos mais acima, é buscar segurança naquilo que não é Deus, em quem ou em que estamos colocando a nossa confiança? Quem são os nossos talismãs, os nossos feitiços?
A resposta a estas pergunta exige um conhecimento de nós mesmos que talvez não temos. Por isso é importante o retiro, a experiência do silencio, para aprendermos a lidar com nós mesmos, a conhecer o que está dentro do nosso coração, conhecer quem de verdade está dominando a nossa alma.
O pecado é uma doença espiritual que atrapalha o nosso desenvolvimento não apenas religioso, mas sim existencial. Colocando, talvez implicitamente (é isso que deveremos descobrir nestes dias!) a nossa segurança em algo que não é Deus, é toda a nossa existência que fica desnorteada chegando até ao ponto de se perder, perder o seu rumo e, com isso, a alegria da vida.


Segunda meditação. Os passos no deserto: para onde ir?

A viagem sempre foi uma metáfora da vida que encontramos em muitas literaturas. O Êxodo, porém, é muito mais de uma viagem, pois é uma viagem no deserto. Podemos pensar, sem forçar demais a metáfora, que o deserto seja o período da vida aonde a pessoa é convidada a escolher e, então se identifica com a adolescência e a juventude. Por isso, podemos dizer que até quando uma pessoa não encontra o rum da própria vida, até quando não percebe a própria vocação, vive no deserto, com o perigo de não sair nunca daí. No deserto o povo entra, mas não sabe se sairá vivo. Por isso a angustia dos primeiros dias e a continua murmuração contra Moisés.

Depois da passagem do mar Vermelho o povo de Israel é conduzido no deserto rumo á terra prometida. É no deserto que o povo experimenta a dificuldade de uma vida em liberdade. Este é o grande paradoxo: o povo no Egito se queixava da opressão e agora no deserto se queixa do preço da liberdade.

“O povo murmurou contra Moisés dizendo: que havemos de beber?” (Ex 15, 24).

A viagem do povo de Israel no deserto, do ponto de vista espiritual, é uma grande metáfora sobre o sentido da vida, sobretudo sobre ás dificuldades que o homem de todos os tempos encontra para passar de uma mentalidade material á uma espiritual. No deserto o homem experimenta a fraqueza da própria vida, dos próprios limite humanos. Vida espiritual é deixar as falsas seguranças mundanas, para aprender a confiar em Deus, na sua Palavra. No deserto o povo de Israel sente fome, sete, depara assim com o nada do próprio ser, percebe que é um ser que depende de tudo, que não é autônomo, mas que precisa de algo, de alguém pra sobreviver. É neste contexto de sofrimento e de luta que o povo aprende a descobrir a sua verdadeira identidade. O primeiro inimigo que o povo encontra no deserto é a saudade.

Antes fossemos mortos pela mão de Iahweh na terra do Egito, quando estávamos sentados junto á panela de carne e comíamos pão com fartura! Certamente nos trouxestes a este deserto para fazer toda esta multidão morrer de fome” (Ex 16,3).

A saudade do tempo passado, idealizado como se fosse a época do ouro, é o primeiro grande obstáculo que encontra o povo de Israel saindo da terra de escravidão. O preço que a liberdade exige na primeira fase é a capacidade de agüentar os apertos da vida, para não se entregar aos primeiros benfeitores. Quem é acostumado a ter satisfeito o mínimo necessário de sobrevivência acha isso, ao longo dos tempos, uma delicia, sobretudo quando passa por alguns apuros.  Transferindo isso no plano existencial como podemos chamar estas fomes e sede? O homem sente fome e sede de que? Fome de sucesso, de ser considerado; sede de dinheiro, de fama, de gloria humana; necessidade de se sentir alguém, procurando no mundo o respaldo pela própria gloria. No deserto, no silencio e na solidão do deserto o homem, a mulher, aprende que tudo isso é fumaça, é ilusão, que não são estas coisas que podem oferecer uma identidade á pessoa e que precisa buscar além, mais em profundeza. No Egito os israelitas tinham pão e carne, mas não tinham a liberdade. No deserto o povo de Israel tem a liberdade, mas a um preço muito caro que eles mesmos não estão querendo pagar.  Jesus mesmo alertava as pessoas a não buscar a própria gloria nos homens.

Se ouvires atento a voz de Iahweh teu Deus e fizeres o que é reto diante dos seus olhos, se deres ouvido aos seus mandamentos e guardares todas as suas leis, nenhuma enfermidade virá sobre ti” (Ex 15, 26).

No caminho do deserto o povo é convidado a confiar em Deus, na sua Palavra, a fazer a experiência da presença de Deus. Sem esta experiência e sem esta confiança é impossível passar o deserto da vida. Infelizmente já conhecemos o êxito triste desta historia: nenhuma das pessoas que saíram do Egito entraram na terra prometida, pois todos morreram no deserto como conseqüência da falta de confiança em Deus e na sua Palavra.

Eu ouvi ás murmurações dos israelitas; dize-lhe: ao crepúsculo comereis carne, e pela manhã vos fartarei de pão: e sabereis que eu sou Iahweh vosso Deus” (Ex 16, 12).

No deserto o povo deve aprender a se alimentar com a comida que Deus mesmo oferece, a se desligar da comida do mundo. A carência do homem se não preenchida produz um vazio, que provoca aquela angustia que o homem não agüenta. O homem que vive no Egito se acostumou a preencher o vazio com as poucas migalhas que o poder oferecia. Aprender a se alimentar com a comida de Deus significa também sair de um estilo de vida egoísta e auto-suficiente, que provoca desigualdades. No deserto ao longo da caminhada o povo de Israel aprende que perante Deus ninguém é melhor de ninguém: todos comeram do mesmo pão e da mesma carne e beberam da mesma água. Além disso, o povo aprende que quem dá dignidade á uma pessoa não a quantidade das coisas que possui, nem a quantidade de dinheiro eu pode conseguir: no deserto não existe rico. O deserto nivela as pretensões humanas: é ali que aprendemos o nosso verdadeiro valor, que não se mede com o numero de coisas que temos, mas pela graça de estarmos á presença de Deus.
A lógica do deserto é a lógica da essencialidade. É através de uma vida essencial que aprendemos a medir o nosso valor pela nossa dignidade de filhos e filhas de Deus, e não pelas coisas materiais que possuímos. No deserto Deus nos ajuda a ter um olhar diferente sobre o mundo e sobre nós mesmos.

As provações de Deus é antes de mais nada a luta cotidiana que o homem deve enfrentar no meio das dificuldades e obstáculos sem perder a confiança e a esperança. As provas do povo de Israel livres são: o cansaço, a saudade do passado, o medo dos inimigos, a segurança da casa do Egito. Tudo isso se traduz nas tentações da fome, da sede.

Através de Moisés Deus oferece alguns sinais da sua presença que o povo nem sempre percebe.


Terceira meditação: a dificuldade de viver em liberdade

Problema inicial: Porque o povo de Israel teve tantos problemas no deserto? Porque não conseguia agüentar o aperto do deserto? Porque na realidade nos anos do Egito o povo não viveu, mas entregou a própria vida ao Egito. A vida é liberdade e é na liberdade que uma pessoa experimenta a capacidade de ser criativo. É num clima de liberdade que uma pessoa aprende a tomar decisões e a levar o poso das mesmas. É na liberdade que uma pessoa experimenta que a vida não é só alegria, mas é também sofrimento, dor. É na liberdade que as pessoas aprendem a amar: sou uma pessoa livre ama, ou seja, se doa ao parceiro de uma forma desinteressada, não apenas para tirar um proveito, uma lasquinha pra sim, um interesse. Somente na liberdade amamos gratuitamente. É por isso que o povo de Israel no aperto do deserto vive o tempo todo se queixando e desejando voltar atrás. Na realidade o povo de Israel até então nunca tinha experimentado o sabor da vida, o gosto de viver, de pensar autonomamente, de criar algo de novo, de decidir, de pagar o preço dos seus atos. A historia do deserto é a Historia de Deus que tenta educar o seu povo para que se torne livre, adulto, capaz de enfrentar a vida, de encará-la. O êxodo, neste sentido, é também a historia de um grande fracasso, pois Deus não conseguiu a criar o seu povo: todos morreram por causa das suas infidelidades.

Entrando no deserto, aprendendo a não confiar mais nas seguranças humanas, percebo a verdade das palavras de Jesus que me convida a renunciar a mi mesmo, a tomar a sua cruz e segui-lo.

Quem ama a sua vida a perde e quem odeia a sua vida neste mundo guardá-la-á para a vida eterna.
Se alguém quem me servir, siga-me; e onde eu estou, ai também estará meu servo” (Jo 12, 25-26).


Êxodo 32-34: o bezerro de ouro.

“... E fabricou com eles uma estatua de bezerro” (Ex 32, 4).
Esta historia revela um outro lado verdadeiro e ao mesmo tempo triste da natureza do homem. O povo precisa de alguém para entregar a própria vida: se não for Deus, deve ser algo de diferente. Por isso é necessário manter um contato constante com a Palavra de Deus, que nos mostra a realidade da nossa existência. Quem não se acostumar a fazer isso, antes ou depois entregará a própria vida ao primeiro ídolo de turno. Nestes dias de silencio poderíamos nos perguntar: quais são os nossos ídolos, os nossos bezerros de ouro? Pra quem estamos entregando a nossa vida?


O povo assentou-se para comer e para beber, depois se levantou para se divertir” (Ex 32, 6).
É disso que o povo mais gosta: se divertir! O povo, por todos os motivos que já colocamos, não agüenta o pressionamento da vida, o sofrimento contido nela. Por isso, logo que chega alguma desavença, o algo de imprevisto que causa angustia, procura logo uma solução. Esta festa do povo não é alegria, mas uma maneira de fugir. É um sofrimento mascarado, é uma gritaria e uma bebedeira pra não sentir o aperto do sofrimento interior.

O teu povo perverteu-se. Depressa se desviaram do caminho que eu lhe avia ordenado” (Ex 32, 7-8).
O caminho espiritual exige tempo e constância. Não basta um retiro espiritual, ou uma experiência forte de Deus. É preciso que a palavra penetre até dividir alma e espírito, junturas e medulas (cf. Heb 4, 12). Até quando a Palavra de Deus não desceu no abismo dos instintos, modificando a estrutura egoísta dos mesmos, é ainda cedo pra falar de conversão. A historia do povo de Israel nos ensina que o nosso coração é duro pra se converter a Deus, resiste á sua Palavra.

Ex 32, 11-14: a mediação de Moisés em favor do povo.

Quando se aproximou do acampamento e viu o bezerro e as danças, Moisés acendeu-se de ira...” (Ex 32, 19s).

O mesmo Moisés que pouco antes tinha feito de tudo para abrandar a ira de Deus, perante a malandragem do povo não agüenta: quebra as tabuas em cima do bezerro de ouro. Porque isso? É o zelo do homem de Deus que não aceita a idolatria, o pecado escancarado. Existe um limite pra tudo: também para o servo do Senhor. Moises é considerado o homem mais manso da terra; apesar disso em varias circunstâncias o encontramos tomado por sentimentos de ira contra o pecado do seu povo. Isso poderia ser uma contradição, mas na realidade não é não. De fato, o amor a Deus passa também por sentimentos negativos contra aqueles que desrespeitam a sua Palavra, sobretudo quando isso acontece de uma forma escancarada.

O povo estava desenfreado... Moisés exclamou: quem for de Iahweh venha até a mim” (Ex 32, 25s).

O pecado deixa o povo fora de sim, a mercê dos seus instintos mais baixos. O pecado é uma foca devastadora que, se não contornado, leva o homem à ruína. O episodio dos filhos dos levitas passando pelo campo dos hebreus matando a todos aqueles que tinham-se envolvido com a idolatria do bezerro de ouro, é uma metáfora que quer nos ensinar que o pecado deve ser  perseguido até arrancá-lo de dentro da nossa alma. O pecado, assim como a Bíblia o interpreta, tem sempre um cunho coletivo. O meu pecado pessoal afeta sempre os meus irmãos e irmãs. Por isso, apesar desta pagina ser extremamente violenta, contem uma sua pedagogia intrínseca. É Deus que tira o pecado: este é um dado importante para ser lembrado. É Cristo o Cordeiro de Deus que veio para tirar o pecado do mundo.

Quando passar a minha gloria colocar-te-ei na fenda da rocha e cobrir-te-ei com a palma da mão até que eu tenha passado” (Ex 33, 22).

Uma das experiências mais dolorosas da historia do povo de Israel se transforma numa das historias espirituais mais profundas de todo o Antigo Testamento. Moisés é o homem que encontro graças aos olhos do Senhor. Além disso, é o homem que Deus conhece por nome. Estes versículos são uma revelação extremamente importante por nós.De fato, nos revelam que o Deus de Israel, não é um Deus anônimo, mas sim um Deus que fala pessoalmente conosco. A Historia de Moisés, neste sentido, é o protótipo da historia do homem, do relacionamento pessoal que Deus quer instaurar conosco. Moisés continuamente procura a Deus, ao longo da viajem no deserto, pra saber o rumo, o itinerário do caminho que deve realizar. Deus não quer como parceiros automas, escravos, mas sim pessoas livres. É este o sentido da peregrinação no deserto. Só um povo livre consegue ser parceiro de Deus e somente na liberdade interior podemos experimentar a presença de Deus. Deus quis liberar o seu povo da escravidão do Egito para que desta maneira tivesse a possibilidade de conhecê-lo e, assim, de amá-lo. É nestas paginas extremamente profundas do livro do Êxodo que encontramos a mística do relacionamento pessoal do homem com Deus. Moisés é chamado por Deus antes de tudo dentro um caminho de aprofundamento do conhecimento de Deus. A sua missão, de fato, não é apenas libertar o povo da escravidão do Egito, mas sim também ajudar o povo a descobrir o rosto de Deus, ou seja a conhecer melhor o Deus que o está conduzindo rumo a terra prometida. Este me parece ser o dinamismo da vida espiritual, que nunca, quando for autentico, se reduz numa experiência isolada e autocentrada. Quanto mais o relacionamento com Deus sai dos mecanismos frios de formulas aprendida mecanicamente para um dialogo pessoal, quanto mais este conhecimento pessoal e aprofundado de Deus leva as pessoas a elaborar caminhos de libertação. Na espiritualidade bíblica o momento subjetivo é sempre interligado com o serviço ao povo.
Quando a Igreja trabalha pela libertação do povo não realiza apenas um trabalho social, mas antes de tudo espiritual. Além disso, poderíamos nos questionar durante estas horas de silencio: como é o nosso relacionamento com Deus? A quaresma deveria ser um caminho de saída de um relacionamento mecânico, frio com Deus, para um relacionamento sempre mais personalizado.


Quarta meditação: escolhe, pois, á vida (Dt 30, 19).

Deuteronômio 28; 30. O caminho do Êxodo tem como objetivo levar o povo na terra prometida. O problema é que Deus que não quer arrastar o povo dentro a terra, mas quer que seja o povo mesmo a querer entrar. A final de conta o povo deve se decidir deve, em outras palavras, escolher. Voltar atrás é tarde de mais: trata-se, então, de continuar o caminho. Só que o povo deve ser bem consciente daquilo que quer.

Pra chegar a uma decisão definitiva são necessários alguns elementos:
                
1.     Dt 29, 1-8: Fazer memória: aprender a lembrar continuamente, ao longo do percurso, os prodígios que Deus realizou na nossa vida. Por isso antes do caminho no deserto Deus realizou a Páscoa pedindo para eles sempre realizar este rito, que é um memorial (cf. Ex 12). Somente fazendo memória continuamente dos prodígios que Deus realizou no meio deles, o povo tem chances de chegar na terra prometida, sem desviar, sem se deixar atrair para outras propostas ao longo do caminho. O pecado do povo nasce sempre de uma falta de memória: o povo esquecendo não lembra mais o motivo da própria saída, da própria vida e se perde atrás de outros deuses.(do ponto de vista espiritual aqui podemos colocar a importância do costume de anotar as própria reflexões espirituais num caderno, pra não perder a riqueza da reflexão do momento e para, depois, reler com calma as mesmas reflexões).

2.     Dt 29, 17-20: limpar o coração de qualquer forma de pecado, de idolatria. Esta é uma exigência fundamental para manter a mente atenta aos mandamentos do Senhor, manter a mente firme na mete que o Senhor quer que alcançamos. Atualizando estes versículos: se o sentido da quaresma é pela Igreja ajudar os fieis a se preparar para celebrar o grande mistério da Páscoa do Senhor, da sua paixão, morte e ressurreição, esta preparação passa através a tomada de consciência do nosso pecado, que impede uma plena adesão á vontade de Deus. Por isso é bom finalizar o tempo de quaresma com uma confissão sacramental, através do sacramento da penitencia.

3.     Dt 30, 1-4: escutar a Palavra de Deus[3]. É impossível chegar na terra prometida sem um esforço cotidiano de meditação da Palavra de Deus. Escutar a Palavra de Deus significa interiorizá-la, fazer com que penetre no coração da gente e influencie os pensamentos, as decisões, os atos da via. Escutar a Palavra de Deus exige uma educação interior que requer tempo e paciência.  Trata-se, de fato, de fazer espaço á Palavra para que ela devagarzinho molde os nossos pensamentos. A Palavra deve encontrar espaço na nossa vida: é esta uma tarefa que cabe a nós resolver. Precisamos planejar tempos e momentos cotidiano para realizar este exercício espiritual, para que de verdade a meditação da Palavra se torne um costume cotidiano e não apenas um sentimento do coração que acontece de vez em quanto.

Estes três elementos são fundamentais para que possamos chegar a uma decisão definitiva, que é o sentido mesmo da vida e do caminho no deserto. Podemos dar a tudo isso um sentido vocacional. De fato, na adolescência e na juventude tudo é feito ou deveria ser feito para chegar a uma decisão definitiva. No deserto da adolescência e da juventude caminhamos para vislumbrar plano que Deus preparou para cada um de nós. Qualquer ele seja, porém, vale salientar que a vida é um chamado ao amor e o homem e a mulher são chamados por Deus no mundo para realizar a grande vocação do amor. Como nos lembra são João[4] se quisermos entender o sentido autentico do amor, que é ao mesmo tempo o sentido autentico da nossa vida, precisamos fitar os olhos em Jesus. É ele, de fato, que mais de qualquer outro manifestou para o mundo o amor de Deus. Jesus veio ao mundo manifestando o sentido do verdadeiro amor se doando totalmente e gratuitamente para Deus e para os irmãos e as irmãs: é este o sentido do amor. Pra chegarmos a vivenciar esta maneira de amar precisamos seguir as pegadas que Cristo mesmo deixou na terra. Também Jesus, como o povo de Israel percorreu o seu deserto, se libertando progressivamente de tudo aquilo que não precisava para viver uma vida autentica de amor. É importante, nessa altura, lembrar alguns versículos que salientam as necessidades espirituais das pessoas que querem aprender de Jesus o jeito de amar.

a.     renunciar aos afetos (Lc 14,25).
b.     Renunciar aos próprios projetos (Jo 12, 25-26).
c.      Renunciar aos bens materiais (Mc 10,23-31)



Claramente precisamos atualizar estes versículos de Jesus na nossa realidade. No ensinamento radical de Jesus um dado é bem claro: ninguém pode sonhar de aprender a amar sem se libertar dos falsos ídolos que atrapalham a nossa existência. Quem quiser ser livre e viver em liberdade, ao longo da vida deve aprender a renunciar. O problema é perceber o que está atrapalhando a nossa capacidade de escolher. Somente uma pessoa reflexiva, acostumada a meditar, a entrar em si mesma meditando a Palavra de Deus, tem chance de captar os problemas que estão afetando a alma. Renunciar é sinal que algo está sendo percebido como mais importante. Somente quem renuncia manifesta que está perseguindo um valor mais alto.

Deus me chama para sair do Egito e me encaminhar rumo a terra prometida, que é a minha vocação, ou seja, a maneira com a qual Deus me convida a viver a minha vocação amar. Pra chegar nesta terra é preciso percorrer o deserto, que pode ser o símbolo, a metáfora da adolescência e da juventude, que é o tempo da vida no qual Deus se manifesta e manifesta o sentido da vida.


Indicações para o dia do deserto
O perigo, para quem não é acostumado a passar algumas horas em silencio, é perder tempo, viajar com a cabeça, sem rumo. Por isso, para valorizar o tempo que Deus nos oferece neste dia de deserto, é preciso organizar o tempo, dividindo-o em momentos, alternando leitura da Bíblia, meditação, reflexão escrita e assim em diante.




[1] Não é um caso que a referência ao Egito se encontra nas profecias do primeiro Isaias, que remonta ao VIII° século a.C., quando ainda o Egito constitutiva uma ameaça constante ao equilibro político de toda a região mediterrânea. Nos grandes profetas do VI° século a.C., como Ezequiel e Jeremias, não se encontra uma referencia sequer ao Egito, a não ser por outros motivos (cf. Jer 42-43).
[2] Cf. o capitulo 8 de Mateus, dedicado aos milagres de Jesus.
[3] Cf. também o famoso texto de Dt 6,4.
[4] 1 Jo 4.