Paolo
Cugini
1. 1 Reis 19, 1-18. É um texto tirado do ciclo de Elias.
O texto lido
começa com a ameaça de Jezabel na forma de juramento. É importante lembrar que
o nome de Elias quer dizer “O meu Deus é
Javé”. Toda a vida de Elias foi um luta para o Javismo, uma luta contra
toda qualquer forma de idolatria e de sincretismo.
2. A
fuga e Elias.
Este trecho diz,
antes de tudo, que a fuga de Elias é uma fuga para salvar-se, mas no contexto
do caminho, percebe-se que á Elias desapareceu a vontade de viver. Isso é
estranho, pois a Bíblia apresenta Elias como um grande lutador, que nunca
desiste, com um espírito de valente. Apesar disso, neste trecho, parece que
Elias não tenha mais vontade de viver.
“Agora basta Senhor”. Deixou o seu servo
por esta vontade de morrer, de se deixar morrer.
“Não sou melhor que meus pais”. Esta é a
motivação que Elias coloca pra pedir a Deus a morte. È a incapacidade de ver um
futuro na própria vida. A vida tem sentido quando é um caminho de crescimento,
de enriquecimento; a vida é pensada assim: é feita de transformações e, a
transformação, deve ir inevitavelmente rumo ao melhor. Quando esta esperança d
melhorar ávida desaparece, desaparece também a vontade de viver. Elias, então,
parece ter chegado ao topo da vida, a este ponto aonde não consegue enxergar
mais nada na frente. Se deita e dorme: este sono é como uma sorte de
antecipação da morte. É uma maneira de aplacar a consciência, de adormecer o
sentido de falimento, de fracasso total da vida que Elias está sentindo. Este
sentimento negativo está tirando á Elias toda a energia psíquica e espiritual
para continuar a viver.
“Levanta-te e come”. Se Elias não morreu
é porque Deus entrou no meio da historia. Por duas vezes o anjo do Senhor
convida Elias pra se levantar e comer. A segunda vez o anjo acrescenta uma
motivação importante: “O caminho te será longo demais”. Claramente a referencia
não é apenas ao caminho físico que Elias deve realizar, mas ao mesmo caminho da
vida, á vocação de Elias, ao seu ministério. É por isso que Elias deve aceitar
de se alimentar, alias, que o anjo de Deus o alimente. Nessa altura a fuga se
torna uma romaria com uma meta bem precisa: o monte de Deus, o Horeb. É nesta
montanha que Moises encontrou o Senhor (Ex 33, 23). De uma certa forma a
romaria se transforma em uma viajem á busca da fonte do Javismo e, então, da
mesma vocação de Elias.
3. A teofania.
“Que fazes aqui Elias?”. É uma pergunta
que parece ser uma reprovação. É uma pergunta que deve provocar a reflexão de
Elias, sobre o motivo do próprio fracasso, da fuga que o levou ao deserto do
Sinai. É uma pergunta que deve ajudar Elias a entender a origem de todos estes
sentimentos que o levaram tão longe do seu ministério, descobrir a fonte do seu
medo. Elias foi longe do lugar do seu ministério, pois o seu ministério não é
ali, não é no Sinai, mas é em Israel, pois é em Israel que está sendo travada a
luta entre o Javismo e o baalismo. Esta é a luta pela qual Elias foi chamado
por Deus e é exatamente ali que Elias deve se encontrar.
“Os Israelitas abandonaram a tua aliança”.
É a desculpa de Elias. De uma certa forma a desculpa de Elias é uma mentira. De
fato não é verdade que Israel esqueceu Javé, pois no cap 18, 39 ouvimos este
grito: “Javé é Deus!”. Também não é
verdade que “demoliram os altares”, porque no Carmelo foi reconstruído o altar
do Senhor (18,30). Isso é normal pois quando uma pessoa vive uma crise
existencial não consegue enxergar as coisas de uma forma real, autentica, ma
muito distorcida. É a amargura que fecha os olhos de Elias, o seu medo de
Jezabel que provoca estes sentimentos negativos e um julgamento excessivamente
pessimista sobre a realidade que o rodeia.
“Sai e fica na montanha diante de Javé”. No
começo do ciclo de Elias oprofeta tinha-se apresentado assim: ”Pela vida de Javé, o Deus de Israel, que eu
sirvo” (17,1). Neste contexto é confirmada a vocação, a identidade do
profeta.
vv. 12-13: Não é
possível identificar o Senhor com as forças da natureza. Quando o Senhor vem
podem chegar relâmpagos, como já aconteceu na teofania do Sinai com Moises (Ex
19,16). Só que não podemos identificar o Senhor com a natureza e as suas
forças. É por isso que o Senhor se manifesta perante Elias de uma forma
surpreendente, inesperada, como “o ruído
de uma leve brisa”. A tradução literal seria: “Uma voz do silencio leve”. Voz e silencio são duaspalavras
contrarias. Isso quer dizer que não é possível definir a Deus. È de uma certa
forma aquilo que afirmava a teologia negativa de Cusano. Deus, apesar de tudo,
permanece um mistério para o homem e qualquer tentativa de defini-lo,
identificá-lo, como, por exemplo, com as forças da natureza, é sempre um
caminho errado. Deus é um mistério inexprimível, que a Bíblia para dizer algo
sobre Ele utiliza dois contrários: voz e silencio. Que Deus seja voz, ninguém
tem nada a dizer contra: a Bíblia é sem duvida nenhuma a expressão plena desta
voz. Deus porem é também silencio, no sentido que é inexprimível, inefável.
Claramente esta que encontramos é uma maneira de expressar a diversidade de
Deus, no confronto de todas as imagens que o precederam e de colocar o homem
perante á aceitação do mistério, do fato que o homem não pode nunca tentar de
encaixar nos próprios esquemas as intervenções de Deus.
“Que faz aqui Elias?”.A resposta é a
mesma de antes. E Deus convida Elias a voltar atrás, lá aonde acontece a luta,
aonde tem que servir, aonde precisa testemunhar o Senhor, aonde precisa se opor
a todas as alterações e deformações do nome do Senhor. (O ministério é também
isso. É testemunhar o Senhor num mundo que não o conhece sabendo que este mundo
é amiúde no mesmo contexto eclesial). Deus pede Para Elias não ter medo, não e
deixar vencer do medo. A historia não se tornou aquele caos insuportável que
Elias reclamava: pelo contrario, a historia está bem firme nas mãos de Deus.
Elias pode voltar tranqüilo, pois a vida é assim mesmo, é um continuo
contraste, conflito que se vence somente se aprende a viver constantemente em Deus.
“Ungiras Eliseu”. É anunciado o fim de
Elias, o fim da sua profecia, do seu ministério. Elias deve aceitar também de
desaparecer. A final de conta ele, como todos os profetas, é apenas um enviado
de Deus, um instrumento nas suas mãos. O fim de Elias não significa que Elias
perdeu, mas pelo contrario que a causa pela qual ele lutou continua. Ser
ministro de Deus pressupõe aprender a viver despojado, a não se apegar demais
as próprias idéias, a própria força,aquilo que se constrói, pois tudo está nas
mãos de Deus. A unção de Eliseu quer dizer que Deus decidiu de dar continuidade
ao trabalho realizado por Elias. O designo de Deus é maior do que Elias. Elias
é extraordinariamente grande, mas o designo de Deus é uma outra coisa.
“Me pouparei em
Israel sete mil homens”. É o famoso resto de Israel. Este grupo de pessoas é o
futuro do Javismo, é o futuro do designo de Deus em Israel.
4. A
renovação do compromisso profético de missão.
Atualizar este
texto na nossa vida, no nosso ministério.
- Quais são as
ameaças que hoje estão nos amedrontando?
Quais são os
mecanismos de fuga que inventamos? Talvez não estamos fugindo, mas existem
vários mecanismos de fuga, como, por exemplo, criar outros interesses, etc.
- Como
transformar a fuga em romaria? Não pensar o nosso caminho como determinado
pelos fracassos, decepções, mas orientado rumo a que? Uma romaria rumo ao
Senhor, aprendendo a colocar nas suas mãos todas as nossas crisis, frustrações.
Como encontrar a força para realizar este caminho? Que alimento utilizar?
- A pergunta do
Senhor: “Que fazes aqui Elias?” Estou no meu lugar atualmente no ministério?
Quais são as minhas justificativas?
- Como
reencontrar a confiança no cumprimento do plano de Deus?
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