(Ez 2, 2-5; Sl 122; 2 Cor 12,7-10; Mc 6,1-6)
Paulo Cugini
A
liturgia de hoje oferece-nos uma reflexão sobre alguns temas interligados, que
dizem respeito à dificuldade que Jesus encontrou no seu ministério e, em geral,
à dificuldade encontrada por todos aqueles que desejam orientar espiritualmente
a sua vida, tendo como marco Deus e a sua Palavra. É uma dificuldade que não
diz respeito a um povo ou período histórico específico. É, de facto, um
problema que encontramos em todas as épocas e em todos os tempos. Claro, é
notável a resistência que Jesus teve de mostrar à sua proposta, especialmente
por parte daqueles que deveriam ter aceitado esta proposta, ou seja, as pessoas
religiosas.
“Quando
chegou o sábado, ele começou a ensinar na sinagoga. E muitos, ouvindo, ficaram
maravilhados e disseram: «De onde vêm estas coisas?” (Marcos 6:2). No
Evangelho de Marcos, Jesus entra três vezes na sinagoga. No primeiro foi
interrompido. No segundo foi pior porque tentaram matá-lo porque Jesus curou
uma pessoa no sábado, despertando a ira dos fariseus. Para Jesus o bem da
pessoa vem antes da observância da lei, aliás a observância das leis de Deus
está a serviço do bem do povo. O terceiro tempo corresponde ao episódio do
evangelho de hoje e há todas as premissas positivas de um encontro que deverá
correr bem pelo fato de ele ir a Nazaré, sua cidade natal, entre seus parentes
e amigos. Mas mesmo aqui Jesus encontra fortes resistências, porque o seu
ensinamento não é como o dos escribas que repetem fórmulas e realizam rituais
pré-estabelecidos sempre da mesma maneira. Pelo contrário, o ensinamento de
Jesus é a proposta de uma nova relação com Deus, que não se baseia na
observância das suas leis, mas na aceitação do seu amor, que exige novas
relações com os irmãos e irmãs da comunidade. É precisamente esta novidade que
causa espanto entre os que estão na sinagoga, a ponto de questionarem o seu
ensinamento.
“De onde vêm essas coisas?” Uma
questão que expressa todo o ceticismo em relação às palavras de Jesus
Questiona-se a proveniência divina e a investigação do ambiente de origem da
sua doutrina apontada como feitiçaria. A referência, de fato, às mãos - as
maravilhas como as realizadas por suas mãos - indica uma origem mágica ou
mesmo de feitiçaria e, consequentemente, uma pesada acusação de um impostor, de
um vigarista, de alguém que quer chamar a atenção das pessoas enganando-as. com
alguns truques. Os homens da sinagoga, da religião do templo, ficam incomodados
com a forma gratuita e desinteressada da ação do Mestre Jesus, atento aos
fracos, que dá lugar aos pobres. Muito pelo contrário dos líderes religiosos,
interessados em dinheiro, em serem homenageados pelo povo, que se vestiam
luxuosamente. O estilo de Jesus desmascara a hipocrisia dos líderes religiosos
que, para se defenderem, não têm outro instrumento senão a calúnia e a mentira.
“Não é
ele…”. Embora Jesus esteja no seu país e, portanto, seja conhecido, os
líderes religiosos não o mencionam, mas insultam-no. Ao defini-lo, de facto,
como filho de Maria, os líderes religiosos insinuam que Jesus, por um lado, não
é digno do seu pai e, por outro, que não presta. Nunca em Israel o homem é
definido como filho da mãe, mas sempre do pai, em virtude da cultura patriarcal
que considerava o homem como o verdadeiro e autêntico transmissor da
paternidade.
“Um
profeta não é desprezado exceto em sua própria terra, entre seus parentes e em
sua própria casa”. Este é o problema subjacente. Jesus, de facto, não se
identifica com o sacerdócio, que era dominante na sua época. Jesus identifica a
sua pessoa e a sua missão na linha profética, no caminho de quem viveu a
religião, a relação com Deus não como uma profissão, ou como um conjunto de
preceitos a serem obedecidos, mas como uma profunda experiência de amor com o Mistério,
que tentaram transmitir aos seus discípulos.
“E lá
ele não conseguiu fazer nenhum milagre”. A conclusão é terrível e
muito triste. Onde há religião, Jesus não pode se manifestar. Onde a relação
com Deus é mediada por ritos, tradições humanas, doutrinas e dogmas que não
conseguem captar o verdadeiro bem das pessoas, Jesus e o seu espírito não podem
agir. A tarefa da Igreja é, portanto, libertar os homens e as mulheres da
religião, ajudá-los a entrar numa relação profunda de confiança com Deus, num
estilo de vida essencial e simples, sinal autêntico da presença do Deus de
Jesus Cristo no mundo.
Belíssima reflexão👏
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