martedì 14 maggio 2024

PENTECOSTES/B

 




 

Paulo Cugini

       De fora para dentro, do visível para o invisível, da carne para o espírito. Este é o dinamismo de Pentecostes, que revela o desígnio do Pai para acompanhar o homem e a mulher no caminho da vida, permitindo-lhes realizar plenamente a sua humanidade. Jesus mostrou visivelmente o que significa amar, denunciar as injustiças, construir pontes de paz, tecer relações humanas autênticas. O Espírito continua este mesmo caminho agindo no interior da humanidade. Há, portanto, uma relação de continuidade entre a ação do Filho e a do Espírito que procede do Pai, uma continuidade que exige um caminho de interiorização, de cuidado com a vida interior, para poder captar o sopro de o Espírito, para ouvi-lo e segui-lo pelas ruas do mundo.

Línguas como de fogo apareceram-lhes, dividindo-os e repousando sobre cada um deles” (Atos 2:2). O Espírito Santo cria comunhão na diversidade. Esta é uma das formas possíveis de interpretar o versículo citado acima. O Espírito é um, mas repousa sobre cada discípulo, realçando a especificidade de cada um. Embora o caminho no Espírito nos ajude a compreender a nossa identidade em Cristo, ajuda-nos a viver esta identidade no serviço aos nossos irmãos e irmãs. O Espírito produz comunhão na diversidade e na liberdade, opondo-se significativamente ao espírito do mundo que produz unidade na uniformidade com constrangimento e muitas vezes com violência física e psicológica. O Espírito Santo não atua em lugar físico, porque não é possível delimitá-lo; ele é de fato livre como o vento e age como e onde quer. Onde há amor, onde há comunhão na diferença, há o Espírito de Jesus. Por isso encontramos os sinais da sua presença mesmo fora dos recintos físicos da Igreja, que precisamente não tem os direitos autorais do Espírito. Há uma linguagem nova que o Espírito Santo inspira em quem o acolhe, uma linguagem compreensível para cada pessoa que a compreende com as especificidades da sua própria cultura: “nós os ouvimos falar das grandes coisas de Deus nas nossas línguas” (Atos 2, 11). Esta nova linguagem é a linguagem do amor, compreensível por todos, cada um no seu contexto, sem necessidade de traduções ou assimilações uniformes.

“Ele vos dirá o que está por vir ” (Jo 16, 14). Precisamente por isso, lembra-nos o Evangelho de João, o Espírito do Senhor que se realiza no amor, não nos obriga a preencher o nosso presente com o lixo do passado, mas nos impulsiona a pensar sempre em algo novo, a partir de as diferentes situações de vida em que nos encontramos. Nesta perspectiva, o Espírito atua como uma força criativa dentro da história, que cria continuamente coisas novas a partir da disponibilidade de novas criaturas que se tornaram tais pela ação do Espírito. Nisto distinguimos aqueles que vêm do Espírito do Senhor, daqueles que vêm do espírito do mundo: pela capacidade de pensar coisas novas nas novas circunstâncias da vida e não preencher o presente com coisas já feitas. O Espírito anuncia-nos o futuro, põe-nos num caminho rumo ao futuro e, por isso, requer pessoas atentas, ouvintes, com a mente livre das memórias do passado ou das ilusões resultantes das nossas frustrações.

“Andai segundo o Espírito e não estareis inclinados a satisfazer os desejos da carne ” (Gl 5, 16). 

Neste caminho de construção da realidade com os olhos postos no futuro, o Espírito ajuda-nos a viver livremente, orientando a nossa vida instintiva na direção que pretendemos tomar. Isto é o que Paulo nos diz quando fala sobre o contraste entre espírito e carne, vida e morte. Segundo Paulo existe um princípio que atua em nós que não nos permite fazer o que pensamos plenamente, um princípio que nos escraviza e nos liga às paixões despertadas pelo instinto. É somente graças ao Espírito que somos capazes de direcionar nossos instintos na direção que desejamos. Caminhar segundo o Espírito exige um esforço diário, que só o encontro com o Senhor ressuscitado pode provocar.

 

domenica 5 maggio 2024

ASCENSÃO/B

 




Atos 1,1-11; Sal 46; Ef 4,1-13; Mc 16,15-20

Paulo Cugini

 

    Estamos a terminar o caminho do tempo pascal, um caminho cheio de ideias para o nosso caminho de fé, que nunca pode ser dado como certo, mas que é chamado a renovar-se todos os dias, porque o Senhor ressuscitado está vivo e, consequentemente, caminha conosco. Aprender a pensar em Deus como um dom presente, ou seja, não como uma relíquia da história, significa disponibilidade para mudar, para nos deixarmos guiar por Ele, onde Ele quiser. Significa também atenção ao presente, para não ficar preso a hábitos construídos ao longo do tempo, que podem se tornar um obstáculo para seguir o Senhor. É com este espírito que podemos perguntar-nos: o que significa o acontecimento da Ascensão do Senhor ao Céu? O que isso tem a dizer sobre a nossa jornada de fé?

 “Mas o que significa que ele ascendeu, senão que ele primeiro desceu aqui para a terra? Aquele que desceu é o mesmo que subiu acima de todos os céus, para ser a plenitude de todas as coisas” (Ef 4:11).

    São Paulo, na segunda leitura do dia, recorda-nos um facto importante, nomeadamente que o caminho de Jesus não parou na terra, pelo contrário. A sua vida de amor, a sua busca de justiça, o seu anúncio de paz e de igualdade através da sua ressurreição e ascensão, entrou para sempre no mundo de Deus. Jesus, com o seu estilo de vida inconfundível, abriu um caminho que todos podem percorrer. Jesus encheu de amor todas as coisas, toda a realidade, a tal ponto que cada situação, cada acontecimento que vivemos, pode tornar-se uma pista da sua presença. Neste ponto, São Paulo oferece-nos um importante ponto de partida no caminho empreendido inaugurado pela ressurreição de Jesus, ou seja, a procura de pistas que nos falem sobre Ele, sobre a sua presença. Pois bem, segundo São Paulo, Jesus preencheu tanto o tempo, a história, a realidade presente com o seu amor, com a sua vida, que tudo fala dele, tudo aponta para Ele. Se Paulo nos dissesse que é impossível não encontrar Jesus na nossa vida: temos realmente que nos esforçar para não vê-lo, para não perceber a sua presença.

«Homens da Galileia, por que olhais para o céu? Este Jesus, que dentre vós foi elevado ao céu, virá do mesmo modo como o vistes subir ao céu” (Atos 1:11).

    É a tentação do homem, da religiosa: olhar para cima, pensar em Deus como uma fuga. Acima de tudo, a tentação é pensar num Deus distante dos homens e das mulheres, um Deus que deve ser implorado para que possa resolver os nossos problemas. O Deus, porém, que Jesus veio manifestar, é um Deus presente na história, que já não encontramos no céu, porque desceu e veio viver entre nós, caminha conosco, conhece-nos e ama-nos. Já não temos que procurar entre as nuvens aquele que desceu à terra e nos dá o seu Espírito cada vez que o invocamos. Esta é a mesma ideia expressa nos evangelhos da ressurreição, quando os anjos dizem às mulheres: “Por que procurais entre os mortos aquele que está vivo?” (Mt 28.6). Crer em Jesus e na sua Palavra significa disponibilidade para ficar maravilhados, para ser conduzido ao encontro com Deus que é Pai e Mãe, misericórdia infinita, que caminha conosco.

Depois partiram e pregaram por toda parte, enquanto o Senhor agia junto com eles e confirmava a Palavra com os sinais que a acompanhavam (Mc 16,20). 

    Neste versículo do Evangelho de hoje está a verdade do nosso encontro com o Ressuscitado, de termos compreendido a centralidade da sua mensagem, que é o amor aos irmãos e irmãs. Um amor que não pode ficar trancado dentro dos muros, mas deve sair, ser anunciado. É a comunidade que anuncia a nova mensagem chocante, do Deus que caminha conosco, que nos ama e nos convida a amar-nos, convidando-nos a realizar gestos concretos que falam da verdade do seu encontro, da possibilidade real de uma vida nova e autêntica. Jesus, entrando definitivamente no amor do Pai, convida-nos a sermos responsáveis ​​pela nossa história de vida plena, que exige dentro dela e como verificação da validade do que vivemos, a capacidade de envolver aqueles que nos rodeiam.

 

mercoledì 1 maggio 2024

VI DOMINGO DE PÁSCOA/B

 





Paulo Cugini

 

    É Jesus quem abre o coração e a mente de quem o escuta e interioriza a sua Palavra. É ele quem permite à humanidade compreender o significado das coisas, tal como o criador as pretendeu. Abrir espaço para a revelação permite à Palavra desmantelar por dentro as ideias erradas, as falsas teologias, as doutrinas desenvolvidas ao longo dos séculos por aqueles que detinham o poder religioso e que usaram a religião para manipular as consciências. O Evangelho, para quem o acolhe, é uma força libertadora, porque permite ver a realidade de uma forma nova, não mais subjugada pelas leis impostas pelos homens, pelas leis aprovadas como se fossem a palavra de Deus, embora não sejam nada mais do que subterfúgio humano para pessoas de controle. O tempo pascal que vivemos, ajuda-nos a captar a presença do Senhor ressuscitado na história quotidiana para continuar aquele caminho de libertação que começou com a escuta da sua Palavra. Com efeito, não basta ouvir a Palavra: é preciso escutar aqueles acontecimentos nos quais se manifesta a novidade que o Ressuscitado manifestou e continua a manifestar.

“Na verdade estou percebendo que Deus não mostra preferência pelas pessoas, mas acolhe aqueles que o temem e pratica justiça a qualquer nação a que pertençam ” (Atos 10, 34-35). Pedro, ao ver a conversão do pagão Cornélio, entende que Jesus é verdadeiramente o Senhor de todos (Atos 10.36), que não exclui ninguém e que qualquer pessoa pode ter acesso à salvação. Pedro compreende que o Senhor ressuscitado atua no coração de quem o acolhe, neste caso específico, o pagão Cornélio. Na conversão de Cornélio cumpriram-se as profecias messiânicas que anunciavam o caminho da salvação para os homens e as mulheres de todos os povos. “No fim dos dias – diz Isaías – o monte do templo do Senhor será estabelecido no topo dos montes e se elevará acima das colinas, e todo o povo fluirá para ele” (Is 2,2) . O profeta Zacarias faz eco disso alguns séculos depois: “Muitos povos e nações poderosas virão a Jerusalém para buscar o Senhor dos Exércitos e suplicar ao Senhor” (Zc 8, 22). É ouvindo a realidade, prestando atenção aos acontecimentos, que Pedro se dá conta de que a força do Senhor ressuscitado atua na história dos homens e das mulheres, uma força que toca os corações e as mentes e é capaz de produzir novos caminhos. A presença do Senhor na história mostrou a Pedro o vazio, a nulidade das doutrinas em que acreditava e a nova possibilidade de uma vida autêntica e livre para construir novas relações humanas abertas a todos porque, como nos lembra São Paulo, ao mesmo tempo linha como a descoberta de Pedro: “Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem e mulher, pois todos vocês são um em Cristo Jesus ” (Gl 3:28). Não se trata, portanto, apenas de uma questão de religião, de crenças, mas da possibilidade de restabelecer uma nova humanidade, não mais medida por uma linhagem, por uma raça ou por uma pertença privilegiada, mas pela pertença única a Jesus Cristo que nos dá que ele fez de todos irmãos e irmãs com igual dignidade.

Isto vos ordeno: que vos ameis uns aos outros” (Jo 15, 17). Tanto o texto do Evangelho de hoje como a segunda leitura seguem as linhas do texto dos Atos dos Apóstolos há pouco comentado, no qual João recorda novamente aos membros da sua comunidade que, como Deus é amor, devemos amar-nos uns aos outros (ver 1 Jo 4,7f). A comunidade que segue o Mestre e que o reconhece como presente na história é chamada a tecer novas relações, não mais baseadas no antagonismo, nas rivalidades mesquinhas movidas pelo instinto de sobrevivência, mas no amor mútuo que não faz distinção entre as pessoas. Estas palavras de Jesus, retomadas posteriormente por João na sua carta, dirigida aos seus discípulos antes da sua morte, são significativas. Não há referência à participação em cultos, ritos, celebrações litúrgicas ou sacrifícios, mas a única preocupação real é o novo estilo de amor mútuo que deve caracterizar os membros da comunidade por Ele fundada. “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros ” (Jo 13,35). Além disso, os próprios profetas recordaram que Deus deseja mais a misericórdia do que os sacrifícios (cf. Os 6, 6), a atenção aos irmãos, especialmente aos mais jovens e mais pobres, em vez de perder tempo com a formalidade dos ritos.