(Is
42,1-4.6-7; Sal 29; At 10, 34-38; Mt 3,13-17)
1. A festa do Batismo do Senhor, que estamos celebrando, encerra as
solenidade do tempo de Natal, tempo litúrgico rico de sugestões e, ao mesmo
tempo repleto de indicações pela nossa caminhada de fé. Celebrando esta festa a
liturgia nos oferece a oportunidade de refletirmos sobre o sentido do nosso
batismo e da nossa caminhada na Igreja. Quase todo mundo foi batizado quando
criança e então o sacramento do Batismo é um assunto que dificilmente encontrou
em nós o tempo necessário para uma reflexão. Isso se constata nas celebrações
do Batismo nesta época do ano, quando muitas pessoas se aproximam á Igreja para
batizar os filhos. Em muitos destes casos percebe-se a quase total ausência de
entendimento sobre aquilo que estão querendo realizar. Os pais pedem o
sacramento do Batismo sem saber bem o sentido do mesmo. Na maioria dos casos o
pedido do batismo é só um fato tradicional, algo que deve ser feito, porque
tudo mundo faz. Cabe ao padre e aos ministros da Igreja saber transformar este
pedido tradicional num caminho de fé. Por isso é importante prestarmos atenção
ás leituras de hoje para juntos refletirmos sobre o valor do Batismo de Jesus
e, assim, entender o sentido do nosso Batismo.
2. “Eu preciso ser batizado por
ti, e tu vens a mim?” (Mt 3, 14).
O questionamento que João Batista faz perante o pedido
de Batismo de Jesus, desvende amiúde o primeiro sentido do Batismo que o mesmo
João pregava no deserto. João pregava um batismo de conversão e quem se
aproximava para ser batizado devia ter clara consciência dos próprios pecados
junto com o desejo de se libertar deles na perspectiva e uma vida nova,
renovada. O mesmo sentido da palavra batismo descortina bastante o caminho que
este sacramento aponta para quem se aproxima á ele. De fato Batismo é uma
palavra grega que quer dizer mergulho e, este mergulho, tinha um dúplice
sentido: de limpeza e de entrada na vida de Deus. Quem se aproxima para receber
o batismo é porque deseja uma vida nova. Este desejo que se manifesta com a
descoberta das próprias faltas, a consciência por assim dizer do próprio pecado
acontece não por acaso, mas como o fruto profundo do encontro com Deus. Quanto
mais a nossa experiência de Deus é profunda, tanto mais é revelativa da nossa
condição humana, que é uma condição de pecado e de morte. Por isso, antes de
batizar as crianças, o padre dirige uma serie de perguntas para os pais e os
padrinhos pra saber se eles são conscientes disso, e se estão dispostos a renunciar
ao pecado. Quem se dirige a Igreja para se batizar ou para batizar os seus
filhos deveria ser movido por este sentimento de uma vida nova em Cristo e pelo
desejo de se libertar de qualquer forma de pecado, que é animado pelo instinto
egoísta. O que significa esta consciência de pecado, do meu pecado? Que a minha
vida é vazia, que os meus projetos de vida sem Deus são destinados ao fracasso,
a morte. Quem desperta isso é o encontro pessoal com o Senhor, o encontro com a
vida verdadeira que se manifestou em Cristo Jesus. Por isso é necessário o
anuncio do Evangelho, para que todas as pessoas possam deparar com a vida
verdadeira e, assim, sair dos caminhos de morte que estão construindo.
É neste sentido que podemos entender o Batismo de Jesus.
Sem duvida Ele quis se batizar por João Batista não porque tinha pecados, mas
para salientar a assunção integral da condição de vida humana, uma vida
estragada pelo pecado, pela desobediência radical a Deus. Através do Batismo,
Jesus se identificou conosco, apontando ao mesmo tempo o caminho para sairmos
das nossas veredas de morte.
3. “Estou compreendendo que Deus
não faz distinção entre as pessoas” (At 10, 34).
Qual é o sentido da vida nova que abraçamos com o
Batismo? Para onde o Senhor nos leva seguindo-o depois do Batismo? A resposta é
muito clara escutando a segunda leitura que foi proclamada. Jesus nos leva para
formarmos uma comunidade de pessoas que se amam e se acolhem do jeito que elas
são. Ninguém, na comunidade do Senhor é melhor do que o outro, porque Deus não
faz distinção de pessoas. O Senhor veio ao mundo para nos tirar da comunidade
mundana feita de divisões, de conflitos, de lutas pelo poder, para se aparecer.
Jesus veio para nos conduzir na comunidade aonde todos são irmãos e irmãs,
aonde todos fazem o esforço corriqueiro de sair do próprio mundo egoísta, de
moldar a própria humanidade estragada pelo pecado e pelo orgulho. Na comunidade
aonde o chefe é o Senhor todos são acolhidos, independentemente da cor, da
raça, do partido.Na comunidade de Jesus não existe nada que divide, mas tudo
une. Se tudo isso é verdade, neste ano de eleições políticas devemos pensar bem
as nossas atitudes. Não existe na comunidade de Jesus, á qual fazemos parte,
que pessoas de um partido não falam com pessoas do outro partido. Se isso
existe no mundo, não pode existir entre nós que comemos do mesmo pão e
escutamos a mesma Palavra. Se Jesus não faz distinção de pessoas, que somos nós
para agirmos diferentemente? Na comunidade de Jesus as pessoas aprendem
devagarzinho a segurar a língua, a não julgar, mas sim a ter somente palavras
de amor e compreensão para com todos e todas. Se Jesus se abaixou para nos
salvar, se humilhou para chegar perto de nós, se fez homem para acolher a
todos, no final das eleições não podemos insultar as pessoas do partido que foi
derrotado. Fora da porta da Igreja neste ano de eleições política cada um faz
campanha pra quem quiser: aquilo que importa é a maneira de fazer isto. Se
entendemos a Palavra de Deus de hoje, torna-se bem claro que para nós batizados
e pertencentes a Igreja de Jesus, nada
deve ser feito que machuque os irmãos; nada deve ser feito que divida,
que exclua.
4. “Não esmorecerá nem se deixará
abater, enquanto não estabelecer a Justiça na terra” (Is 42,4).
Através do Batismo recebemos o Espírito do Senhor, que
impele em nós o desejo de um mundo mias justo e solidário, um mundo com os
traços do Deus do amor que se manifestou em Cristo. Realizar isso neste mundo
estragado pelo mal do pecado necessita de pessoas firme e determinadas, daquela
firmeza que só Cristo pode formar.
Por isso estamos aqui no redor deste altar, para nos
alimentarmos do Seu amor e para continuarmos a realização do seu reino, reino
de justiça e de paz, reino aonde todas as pessoas se acolhem do jeito que elas
são.
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