domenica 20 ottobre 2024

JOGUE FORA O MANTO

 



DOMINGO XXX/B

(Mc 10, 46-52)

Paolo Cugini

 

No Evangelho da semana passada, o Evangelista Marcos colocou como protagonistas da narrativa dois discípulos, Tiago e João, chamados de filhos do trovão pelo seu ímpeto e exuberância, que demonstram a sua surdez para com a Palavra de Jesus, de facto, o pedido para que avancem sentar-se à sua direita e à sua esquerda revela a incompreensão do conteúdo da proposta de Jesus. A eles aplica-se o ditado: têm ouvidos, mas não ouvem. No Evangelho proposto neste domingo, continua a apresentação das dificuldades que os discípulos têm para compreender plenamente a mensagem do Mestre, dificuldade que se manifesta na incapacidade de se distanciarem do próprio modo de pensar e de projetarem em Jesus expectativas que não pertencem para ele. Mas vamos à história.

Jesus estava saindo de Jericó junto com seus discípulos e uma grande multidão. 

A expressão de Jesus que sai de Jericó é indicativa, porque foi precisamente em Jericó que começou a conquista da terra prometida pelas mãos de Josué. É como se Marcos quisesse sublinhar que aquela terra que representava o sonho de liberdade contra a dominação egípcia se tornou agora uma terra de escravidão a partir da qual é melhor começar, a escravidão daquelas leis que, em vez de libertarem o homem, o aprisionaram.

O filho de Timeu, Bartimeu, que era cego, sentou-se à beira da estrada, mendigando. Ao ouvir que era Jesus de Nazaré, começou a gritar e a dizer: «Filho de David, Jesus, tem piedade de mim!».

Bartimeu é um nome composto por uma palavra aramaica – bar – que significa: filho, e timaios , palavra de origem grega que significa: honroso. Parece, portanto, que se trata de uma repetição do mesmo nome, talvez para indicar os dois discípulos protagonistas da narrativa anterior, nomeadamente Tiago e João. Nome simbólico, portanto, que indica o discípulo que está cego pelas suas ideias a ponto de não poder “ver” a novidade da proposta de Jesus. Com efeito, o cego chama Jesus de filho de David, nome que vem daquela tradição profética que identifica o messias, sucessor de David, como aquele que libertará Israel do opressor com força e violência. No entanto, Jesus, desde o início nas suas palavras e escolhas, manifestou-se como tudo menos violento. Jesus veio anunciar o Reino de Deus, uma possibilidade de vida fora dos moldes do abuso e da violência, mas dominada pela igualdade e pelo amor. Chamar Jesus pelo nome de filho de David significa não ter compreendido a sua mensagem, não ter apreendido a novidade da sua proposta. Esta é a grande cegueira de Bartimeu, que simboliza a cegueira dos discípulos, daqueles que deturpam e não entendem a fala de Jesus, porque estão cegos pelas suas próprias ideologias.

Jesus parou e disse: «Chama-o!». Chamaram o cego e disseram-lhe: «Coragem! Levante-se, ele está ligando para você! Ele tirou o manto, deu um pulo e foi até Jesus. Então Jesus lhe disse: “O que você quer que eu faça por você?”. E o cego respondeu-lhe: «Raboni, posso voltar a ver!».

É o cego que caminha em direção a Jesus, movimento que indica o caminho da conversão, da mudança de mentalidade. Há, antes de tudo, a voz de Jesus que o chama. A escuta da palavra do Senhor é a única que pode nos abalar das nossas certezas, que não nos permitem viver de forma plena e autêntica. Depois é a comunidade que convida o cego a se levantar. Há uma ênfase no papel da comunidade, chamada a ajudar as pessoas no caminho para a compreensão da sua mensagem. Em qualquer caso, nem a Palavra do Senhor nem a comunidade podem produzir qualquer tipo de mudança se não houver envolvimento pessoal do interessado. Antes de saltar, o cego joga fora o seu manto, símbolo claro daquelas ideologias que até agora não lhe permitiram “ver” o Senhor, perceber a bondade da sua proposta. A pergunta de Jesus fala da liberdade necessária no caminho da fé, que é uma proposta e não uma imposição.

Jesus lhe disse: “Vai, a tua fé te salvou”.

São Paulo tem razão quando afirma na carta aos Romanos que é a fé que salva o homem e a mulher de uma vida inautêntica. O que é fé? No caso em questão é o caminho percorrido pelo cego, um caminho que vai da escuta da Palavra, à ajuda da comunidade e, sobretudo, do seu gesto de jogar fora o manto e depois levantar-se e ir em direção a Jesus A fé é a coragem de jogar fora o que nos impede de nos levantar, de ver. O manto é o símbolo daquele manto feito de tradições humanas que não nos permitem captar a beleza do Evangelho. Jogar fora o manto: é isto que o Evangelho nos pede hoje.

 

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