Lucas 18,9-14
Paolo Cugini
Nos Evangelhos, Jesus nunca
convida seus ouvintes a serem santos como Deus, mas a serem compassivos como o
Pai. Aqueles que querem conduzir as pessoas a Deus inevitavelmente deixam
alguns para trás, porque a lógica do mérito recompensa aqueles com meios e
capacidade, enquanto os mais fracos são deixados para trás. Jesus fez algo
diferente: trouxe Deus aos homens e, dessa forma, permitiu que todos tivessem
acesso ao Pai. Enquanto na ascensão a Deus, o que importa são os méritos
pessoais, que consequentemente deixam de fora os mais vulneráveis, na jornada
de Jesus, o que importa é o seu dom de amor, que só requer ser livremente
aceito. O que Jesus nos mostrou é um Deus que ama as pessoas não apesar de seus
pecados, mas precisamente por causa deles. Este é o aspecto chocante da
mensagem de Jesus, que ainda hoje permanece incompreendida, precisamente porque
mina completamente a estrutura da crença religiosa.
Na parábola que Jesus conta no
Evangelho de hoje, duas figuras são contrastadas e, portanto, polos opostos. De
um lado, o fariseu e, do outro, um publicano. Um fariseu é um homem que se
separa dos outros (a palavra fariseu significa separado) através da prática
religiosa. Do outro, o publicano, um pecador considerado impuro que jamais
poderia mudar de profissão, mesmo que quisesse. Observando as orações dessas
duas figuras, entramos em contato com dois tipos completamente diferentes de
espiritualidade. O conteúdo da oração do fariseu é o de um homem cheio de si,
de seus méritos, de suas realizações: O fariseu, de pé, orava assim para
si mesmo:
"Deus, eu
te agradeço porque não sou como os outros homens: roubadores, injustos,
adúlteros, nem mesmo como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e dou o
dízimo de tudo o que ganho."
O esforço para alcançar a
santidade como fruto pessoal dos próprios méritos isola o fariseu, a ponto de
deixar de ver irmãos e irmãs ao seu redor. O fariseu vê apenas o negativo nos
outros, porque a medida não é o amor de Deus, mas ele mesmo, seus próprios
méritos e realizações. O fariseu é um homem que dá tudo de si para alcançar
Deus: ele jejua duas vezes por semana. Na realidade, o jejum obrigatório era
uma vez por ano; bem, o fariseu exagera, porque ele jejua duas vezes não por
ano, mas duas vezes por semana: ele realmente quer chegar ao céu primeiro! O
mesmo vale para o dízimo, pois não se paga apenas o que é prescrito, mas também
por tudo o que se possui. No entanto, Deus nunca pediu regras tão severas. Os
próprios profetas nos lembram que devemos aprender que Deus deseja
misericórdia mais do que sacrifício. Por que então o fariseu embarca nessa
busca pela perfeição religiosa a todo custo? É o caminho da religião que apela
ao orgulho humano e, consequentemente, Deus se torna um instrumento não para um
caminho de conversão, mas de afirmação pessoal.
Mas o publicano, estando de
longe, nem sequer ousava levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo:
“Ó Deus, tem misericórdia de
mim, pecador”.
O publicano é a pessoa que nada tem a oferecer, exceto sua condição de pecador e miséria, que humildemente coloca diante do Senhor. De um lado, portanto, estão os méritos, de outro a necessidade; de um lado o orgulho, a arrogância e, de outro, a humildade. Nos Salmos, encontramos muitas passagens que nos dizem que Deus ama o coração humilde, porque este permite a entrada de Deus e de seu amor. A própria Maria, no cântico do Magnificat, nos lembra que Deus: olhou para a humildade de seu servo . A frase de Jesus é chocante: “Eu vos digo que este homem, diferentemente do outro, desceu justificado para sua casa ”. Por que os fariseus, com toda a sua religiosidade, não são justificados por Deus, enquanto o publicano, cheio de pecados, o é? Não seria isso uma injustiça e também, aparentemente, uma incitação ao pecado? Essas são perguntas legítimas, dado o paradoxo das declarações de Jesus. A resposta encontra-se na frase de abertura do Evangelho de hoje, em que Lucas recorda o motivo da parábola que Jesus contou: Jesus contou esta parábola também a alguns que, confiando em sua própria justiça, desprezavam os outros. Quando a religião se torna um caminho de presunção a ponto de julgar os outros desprezivelmente, significa que algo está errado, que na realidade, mais do que religião, é paganismo, idolatria. Este é o significado da parábola paradoxal de Jesus: o publicano desprezado torna-se justo, enquanto o fariseu não. O Senhor não nos pede para sermos santos, porque isso nos separa de nossos irmãos e irmãs. Jesus nos pede para sermos misericordiosos, capazes de construir relacionamentos amorosos com as pessoas. Esta è a boa nova de Jesus.
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