mercoledì 30 agosto 2023

HOMILIA DOMENIGO 3 DE SETEMBRO 2023

 







XXII DOMINGO DO HORÁRIO COMUM

Jr 20, 7-9; Sal 62; Romanos 12:1-2; Mt 16:21-27

 

Paulo Cugini

Acompanhar o caminho percorrido por Jesus, ouvir as suas palavras, meditar nas suas escolhas, ajuda-nos a compreender o sentido do nosso caminho, a compreender quem somos e para onde somos chamados a ir. O que chama a atenção em Jesus é a clareza de suas posições, a serenidade que o leva a enfrentar cada obstáculo. É também impressionante a capacidade de dizer a verdade não só às pessoas que lhe são hostis, como os fariseus e os líderes religiosos, mas também aos amigos e, de modo particular, como acontece no Evangelho de hoje, aos seus discípulos. Seguir Jesus significa estar aberto a uma mudança contínua de mentalidade, a questionar a própria experiência para dar lugar ao novo. O segredo do sucesso da nossa vida está nas mãos dele: vamos ouvir o que ele tem para nos dizer hoje.

Naquele momento, Jesus começou a explicar aos seus discípulos que deveria ir a Jerusalém e sofrer muito com os anciãos, principais sacerdotes e escribas, e ser morto e ressuscitar no terceiro dia. Jesus está consciente das consequências das palavras e das escolhas feitas até agora. Ele sabe muito bem que se chegar a Jerusalém, como pretende, será preso e sofrerá violência até a morte. Se ele sabe dessas coisas, por que continua o caminho? Por que ele não vai para outro lugar? Jesus sabe muito bem que a bondade das suas palavras e das suas escolhas, o próprio sentido do que disse e fez, só pode ser compreendido se Ele for coerente consigo mesmo até ao fim. É precisamente isto que diz o evangelista João quando, antes dos trágicos acontecimentos da última ceia, que conduzirá à morte de Jesus na cruz, afirma: «tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim" (Jo 13,1). Este é o segredo da vida de Jesus, que nos é dado com a sua trágica morte: para dar fruto no coração das pessoas, a semente lançada na existência dos amigos só dará fruto se Ele morrer, só se for coerente até ao fim (cf. Jo 12). É de como morremos que depende a bondade ou a negatividade de nossas escolhas.

Pedro chamou-o à parte e começou a repreendê-lo dizendo: «Deus não permita, Senhor; isso nunca vai acontecer com você. Mas ele, virando-se, disse a Pedro: «Vai atrás de mim, Satanás! Você é um escândalo para mim, porque não pensa segundo Deus, mas segundo os homens!». Deste diálogo resulta claramente que Jesus tinha razão quando, no trecho ouvido no domingo passado, disse que a afirmação de Pedro sobre a identidade de Jesus era fruto de uma revelação do alto e que não dependia diretamente dele. No trecho que acabamos de ouvir emerge o que Pedro tem no coração e que não é muito diferente das expectativas dos outros discípulos: um messias poderoso e a possibilidade de reinar politicamente com ele. O discurso do sofrimento e da morte não entra na perspectiva de quem segue o Senhor cultivando sonhos humanos. Nem entra em todos aqueles que procuram o templo para obter favores pessoais.Há muita idolatria nos caminhos religiosos, muito paganismo, que Jesus veio purificar. Por isso o Senhor afasta Pedro com palavras muito duras. Pensar segundo Deus significa procurar todos os dias a sua vontade, acolher o seu Espírito que nos permite viver em conformidade com o caminho percorrido, apesar de tudo. Pensar segundo Deus, manifestado em Jesus, significa deixar de buscar favores pessoais, usando a religião para se promover.

Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo , tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas quem perder a sua vida por minha causa, encontrá-la-á. Este é o Evangelho, a boa notícia, o acolhimento da vida que vem de Jesus, do seu amor, da sua sede de justiça. O seguimento que iniciamos desde a juventude deve ajudar-nos a abrir-lhe espaço, a amadurecer uma escolha definitiva a ser renovada a cada dia, aproveitando as riquezas que encontramos ao longo do caminho. Decidir acolher o amor do Senhor implica renunciar a tudo o resto, negar aqueles projetos infantis que ficaram a crescer na alma no período em que Ele ainda não estava no horizonte.

Aprender a fixar o olhar no Senhor, assimilar a sua Palavra, acolher O seu Espírito, para fazer com que tudo na vida seja orientado para Ele e a partir Dele, permite-nos permanecer firmes no caminho, especialmente nos períodos mais difíceis. De fato, quando a tensão espiritual enfraquece, se abre o espaço dentro de nós para que as ilusões entrem e estas, progressivamente, enfraquecem as motivações. É precisamente nestes momentos em que se sente o peso negativo da renúncia, em vez do valor do amor livremente aceito do Senhor, que é necessário trabalhar o desejo, redirecionando-o para o Senhor, não permitindo assim a frustração. que a ilusão gera, fazendo-nos querer o que não temos, é removida pela raiz.

O sentido da oração pessoal, do tempo que dedicamos à reflexão sobre as palavras de Jesus tem o objetivo de nos lembrar de onde viemos: atraídos pelo seu amor. Não é por acaso que hoje a liturgia da Palavra nos oferece uma página do diário de Jeremias, o jovem profeta que teve que enfrentar tantas opressões por causa do anúncio da Palavra de Deus. Enquanto o profeta lamenta a situação que considera insuportável e medita em seu coração para desistir de tudo, ele confidencia os sentimentos que surgiram em seu íntimo: “ Eu disse a mim mesmo: «Não pensarei mais nele, não falarei mais em seu nome!». Mas no meu coração havia como um fogo ardente, guardado nos meus ossos; Tentei conter, mas não consegui”. É este fogo que somos chamados a cultivar, o fogo do amor do Senhor que molda a nossa alma e nos dá forças para enfrentar os momentos difíceis do caminho, que são a nossa cruz.

Que bem terá um homem se ganhar o mundo inteiro, mas perder a vida? Esta é a frase que devemos repetir constantemente para nós mesmos sempre que as motivações parecem ceder à violência das ilusões. Qual é a utilidade de ganhar o mundo se depois perdermos a nossa alma: esse é o problema. Façamos, portanto, nossas as palavras do salmo hoje ouvido, que nos convida a procurar sempre o nome do Senhor, para manter viva a sede dele: Ó Deus, tu és o meu Deus, desde o amanhecer te procuro, ele tem sede da minha alma, a minha carne te deseja em terra seca, com sede, sem água.

venerdì 25 agosto 2023

HOMILIA DOMINGO 27 AGOSTO 2023

 



XXI DOMINGO HORÁRIO COMUM

Is 22:19-23; Sal 137; Romanos 11:33-36; Mt 16:13-20

 

Paulo Cugini

 

Estamos no meio do caminho rumo a Jerusalém que Jesus faz com os seus discípulos. Muitas situações já foram vividas, juntamente com muitas palavras, discursos novos que Jesus pronunciou e que provocaram diversas reações nos ouvintes. Especialmente os líderes religiosos de Israel, como os fariseus, os saduceus, os escribas são aqueles que questionam não só a qualidade da proposta de Jesus, mas também a sua identidade. Até mesmo os próprios familiares de Jesus expressaram desconforto com o seu modo de agir. Por estas razões, Jesus pergunta aos seus discípulos sobre a sua identidade: terão compreendido quem é? Compreenderam a identidade daquele que seguem e por quem fizeram escolhas importantes e radicais?

Naquele tempo, Jesus, tendo chegado à região de Cesaréia de Filipe, perguntou aos seus discípulos: “Povo, quem diz que é o Filho do homem?”. Existe um primeiro nível de compreensão da identidade de Jesus que diz respeito às pessoas, àqueles que testemunharam os seus milagres e os seus discursos. O que as pessoas entenderam sobre Jesus? Pelas respostas dos discípulos entendemos que as pessoas o identificam com os profetas, especialmente com aquele tipo de profeta perseguido pelo poder. Tanto João Batista, como Elias e Jeremias, durante a sua atividade profética, tiveram que lidar com os gestores do poder da época, que não apreciavam as suas posições polêmicas e radicais. João Batista criticou Herodes por seu adultério. A pregação de Jeremias que, em anos de prosperidade, anunciou o exílio do povo de Israel para a Babilônia, foi alvo do rei Zedequias, que julgou derrotista a pregação do profeta. Finalmente, Elias teve dificuldades com o rei Acabe e, acima de tudo, com a rainha Jezabel, que o ameaçou de morte depois que Elias exterminou os 400 profetas do palácio. A pregação de Jesus foi alvo dos líderes do povo de Israel porque, segundo eles, atiçava as tradições religiosas, criando confusão entre o povo. Na realidade, Jesus mostrou o engano dos sacerdotes que, para manterem os seus privilégios, substituíram a Palavra de Deus pelas suas tradições (Mc 7,9). A opinião do povo sobre Jesus mostra um aspecto importante do anúncio do Evangelho: a profecia capaz de desmascarar os erros daqueles que, em nome de Deus, exploram o povo. Jesus desmascara os lobos vestidos de cordeiros e faz isso publicamente: por isso tentaram matá-lo (Mc 3,6). Se quiser ser fiel ao Evangelho, a Igreja deve manter viva a profecia, ajudando assim o povo a não cair na armadilha preparada pela mesquinhez do poder do momento.

Ele lhes disse: “Mas vocês, quem dizem que eu sou?” Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. E Jesus lhe disse: “Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne e o sangue que to revelou, mas meu Pai que está nos céus. Jesus procura, num segundo momento, a opinião dos discípulos, daqueles que deixaram tudo para segui-lo. A resposta de Pedro é como uma revelação do alto. Na verdade, não foi Jesus quem indicou quem seria o guia do pequeno grupo de discípulos, mas fez com que fosse entregue. É nesse momento que Jesus entende quem era aquele que o Pai havia indicado para a sucessão: porque nem a carne nem o sangue te revelou, mas meu Pai que está nos céus. Com efeito, compreender a verdadeira identidade de Jesus, o seu ser o Filho amado do Pai ou, como dirá João, aquele por quem tudo foi feito e sem ele nada do que existe foi feito (Jo 1,3), não é fruto da compreensão humana, mas dom que vem do alto. Nestas palavras de Pedro, Jesus compreende a ação do Pai, a sua designação.

E eu te digo: você é Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e os poderes do inferno não prevalecerão sobre ela. É Jesus quem nomeia Pedro como responsável pela comunidade. Aqui vemos a inteligência do líder, que vive o seu mandato não como um mérito, mas como um serviço a Deus e à comunidade. Aqui apreendemos o critério para compreender a qualidade de um líder: a preocupação sobre como a comunidade continuará depois que ele partir. A partir das palavras proferidas logo após a investidura de Pedro, podemos captar a percepção de Jesus sobre a sua própria morte iminente. Jesus se preocupa com o que semeou, para dar continuidade à obra realizada. O líder é inteligente quando avança a tempo de ser seu sucessor e, ao fazê-lo, demonstra seu amor pela comunidade e valoriza as pessoas que conhece. Quando, por outro lado, o líder vive o mandato como mérito, tudo fará para ficar até o fim e, depois dele, tudo morrerá.

Eu lhe darei as chaves do reino dos céus. Não é um discurso dirigido a um futuro distante, porque Jesus não fala de vida eterna, de vida além da morte. Pelo contrário, Jesus fala do presente, do destino da ecclesia dos discípulos e da sua possibilidade de experimentar a bondade da vida nova proposta por Jesus e que encontra valor na expressão: reino dos céus. Isto servirá a Pedro e a todos aqueles que receberão esta tarefa: fazer tudo com amor e espírito de serviço gratuito, para que as pessoas que se aproximam da ecclesia se sintam acolhidas, rodeadas daquele amor fraterno e daquele espírito de justiça e de paz emanados por Jesus. Podemos então invocar o Espírito Santo com a intenção expressa no salmo de hoje: não abandones a obra das tuas mãos (Sl 137). Ó Senhor, que nenhum daqueles que colocaste ao serviço da comunidade nos abandone. Ajude-os em momentos de angústia e encha seus corações com o seu amor. Amém.

mercoledì 23 agosto 2023

SAIU DE NOVO

 




Paolo Cugini

Ele saiu de novo... saiu ainda” (Mt 20, 3f). Há um constante movimento exterior na parábola de hoje. Há um senhor que sai continuamente em busca de trabalhadores para a sua vinha. Saindo da parábola: qual é o significado? A vinha é a Igreja, o mestre Jesus. A Igreja não é uma seita de poucos, mas uma comunidade viva que sai continuamente para chamar outros a fazerem parte da comunidade. É o dinamismo da evangelização. Se a experiência comunitária for considerada positiva, provoca o desejo de partilhá-la. A natureza missionária da comunidade revela a sua bondade. A Igreja que sai não é um slogan, mas um dinamismo que revela a identidade da comunidade cristã. Este dinamismo requer uma comunidade de discípulos que amam o Senhor e a vida da comunidade.

“Quando chegaram os primeiros, pensaram que iriam receber mais”. São as dinâmicas das comunidades, nas quais as pessoas que não trabalham a própria espiritualidade, ou seja, a internalização dos valores do Evangelho, trazem de volta aos dinamismos comunitários a lógica do mundo, dominada pelo instinto de sobrevivência. Toda a parábola é um texto que deve ser meditado na comunidade, porque é um vislumbre profundo dos vários típicos e dos dinamismos que entram em jogo nas relações e na atividade das mesmas. A moral da parábola é que, na vida da comunidade cristã, tudo deve estar na lógica do dom gratuito, que gera doação e gratuidade. Não por acaso, é a Eucaristia que faz a Igreja e, quando isso acontece, a comunidade reproduz nos seus dinamismos e atividades internas, o estilo gratuito de Jesus, a sua busca de justiça e de paz, colocando os pobres e os excluídos.

mercoledì 16 agosto 2023

HOMILIA NA ASSUNÇÃO DE MARIA - 20 AGOSTO 2023

 



(Ap 11,19a; 12,1–6a.10ab; 1Cor 15,20–27a; Lc 1,39-56)

Paolo Cugini

 

Embora o dogma da Assunção de Maria seja recente (1950: é o último dogma formulado pela doutrina católica), a reflexão sobre este mistério de fé é muito antiga. De fato, a literatura apócrifa sobre a Assunção da Virgem Maria ao céu é abundante. São cerca de sessenta obras, transmitidas em manuscritos que datam do século Vo em diante e escritas em diversas línguas: grego, latim, etíope, árabe, armênio, copta, siríaco, eslavo e gaélico. Além disso, a produção sobre o tema em questão durante a Idade Média é riquíssima, atestada em vários idiomas. Segundo os estudiosos, o início da tradição da Assunção de Maria remonta ao século IIo a. C na esfera gnóstica.

A tradição da permanência de Maria em Jerusalém no último período de sua vida é bastante sólida, atestada pela Escritura (Jo 19,25; At 1,14; Gl 2,9) e a história se baseia em um fato bastante certo do ponto de vista da crítica histórica. É natural pensar que, nos últimos anos de sua vida, Maria viveu protegida pela comunidade cristã de Jerusalém em uma das casas que ocupou. Os apóstolos tiveram que cuidar de seu sepultamento, com atenção especial, e ela teve que ser sepultada na área funerária de Jerusalém, perto da torrente do Cedron, na parte oriental da cidade. Esta zona sepulcral já se encontrava em funcionamento no século I, conforme recentes escavações arqueológicas.

A elaboração da narração do fim da vida de Maria se inspira e até certo ponto segue o fim da vida de Jesus, com base nos Evangelhos e na tradição cristã que se desenvolveu posteriormente. Esta é a sequência: um anjo consola Maria nos momentos de angústia e tormento antes de sua morte e anuncia o que vai acontecer, assim como um anjo consolou Jesus algumas horas antes de sua morte (cf. Lc 22,43-44). Todos os apóstolos, inclusive Paulo, acompanham Maria durante sua morte e sepultamento, o que não aconteceu no caso de Jesus. Maria é acompanhada por três virgens que a auxiliam, assim como Jesus foi acompanhado e vigiado na cruz por três mulheres ( Jo 19:25). Maria não será vítima de nenhum ataque do demônio e, como aconteceu com Jesus, não cairá nas mãos de Satanás, mas o vencerá protegida pela força divina. Finalmente, Maria é colocada em um novo túmulo fora de Jerusalém e no terceiro dia seu corpo e alma, como para Jesus, são glorificados.

A história da Assunção, tal como se encontra nos textos apócrifos dos primeiros séculos da Igreja, não se limita a narrar o fim da vida de Maria, mas procura também explicar o sentido da sua passagem e a recompensa celestial que ela se fez merecedora. A narrativa visa afirmar que Maria realmente morreu (apesar da discussão dos teólogos sobre esse ponto) e que ela realmente foi glorificada (a modalidade também é passível de discussão).

Irmãos, Cristo ressuscitou dos mortos, sendo ele as primícias dos que morreram (1 Cor 15,20).

A segunda leitura de hoje pretende ajudar-nos a refletir sobre o significado da Assunção de Maria e a sua importância no caminho da fé. A Assunção de Maria torna verdadeiro o discurso de Paulo que nos recorda na primeira carta aos Coríntios, que a ressurreição de Cristo não é um acontecimento isolado, limitado apenas a ele, mas é «as primícias dos mortos». Jesus, portanto, é o primeiro de uma longa série e Maria é o exemplo da verdade do que Paulo afirma. Jesus com a sua paixão, morte e ressurreição abriu uma passagem no céu, para que nela possam entrar todos os que seguem o seu caminho. “Ele baixou os céus e desceu”, diz o Salmo 18. Com a sua Ressurreição, Jesus não baixou os céus, mas abriu uma brecha para todos aqueles que ouvem a sua Palavra e a põem em prática.

O que nos diz o trecho evangélico desta solenidade sobre o caminho terreno percorrido por Maria, que a conduziu nas pegadas de seu Filho? Que características da espiritualidade mariana podemos delinear a partir desses versículos?

Ele olhou para a humildade de seu servo. A primeira é esta. O Pai olhou para esta menina do povo de Israel, não sua grandeza, fama, beleza, mas sua humildade. O Pai viu que havia espaço na alma daquela menina para entrar. Maria não busca a si mesma, seus próprios interesses, mas exclusivamente a vontade do Pai. Ela entendeu que o motivo de sua eleição não provinha de nenhum mérito pessoal, mas exclusivamente do espaço criado dentro dela como resultado de sua busca constante e diária pela vontade do Pai.

De geração em geração a sua misericórdia para com os que o temem. Maria recebeu do Pai a dimensão da misericórdia, que envolve todos os que o temem, que o procuram. Viver no horizonte do Senhor significa experimentar a sua misericórdia, que se traduz na constante possibilidade de recomeçar, apesar das quedas e dos erros. Antes de qualquer reprovação, há no Pai a oferta dada aos filhos para que se levantem e continuem seu caminho. Ternura, amor, misericórdia, doçura, mansidão: são palavras que falam d'Ele, do Pai, percebidas apenas por quem o procura com coração sincero em todos os momentos da vida. A misericórdia do Pai produz em quem a recebe um sentimento de paz que se transmite naturalmente a quem encontramos pelo caminho.

Ele dispersou os orgulhosos nos pensamentos de seus corações; ele derrubou os poderosos de seus tronos, ele exaltou os humildes; encheu de bens os famintos, despediu de mãos vazias os ricos.
Precisamente porque abriu espaço para Deus na sua própria vida e Deus nela entrou, Maria compreendeu de que lado Ele estava: do lado dos pobres, dos aflitos, dos perseguidos. Só quem deu lugar ao Senhor pode compreender este fato, ela, como Maria, que se fez pequena e humilde para acolher o amor do Senhor, que ama os pequenos e os humildes da terra. Na história da salvação, o Pai sempre interveio em defesa dos pobres, para protegê-los da arrogância dos ricos. Esta escolha é bem visível em Jesus que: "como era rico, tornou-se pobre" (2 Cor 9, 8) e percorreu as ruas da Palestina de forma simples e rodeado de pobres. Nesse caminho também há espaço para os ricos que decidem compartilhar sua riqueza. Maria viu esta escolha radical e irreversível de Deus realizada no seu Filho e vivida pela primeira comunidade cristã.

Invoquemos, portanto, Maria para que nos ajude todos os dias a viver como seu Filho e assim também a passar com ela deste mundo de morte para o mundo da vida.

 

lunedì 7 agosto 2023

HOMILIA DOMINGO 13 AGOSTO 2023

 


 

XIX DOMINGO HORÁRIO COMUM

1 Reis 19,9a.11-13a; Sal 84; Rm 9,1-5; Mt 14:22-33

 

Paolo Cugini

Enquanto acompanhamos o caminho que Jesus faz de Norte a Sul, de Nazaré a Jerusalém, a incompreensão dos discípulos perante a proposta do seu anúncio, torna-se cada vez mais clara e, ao mesmo tempo, constrangedora. Afinal, os discípulos, mesmo com toda a boa vontade, eram portadores do ideal messiânico cultivado na tradição judaica, ou seja, um poderoso messias que viria com seu exército para destruir os inimigos. Jesus, pelo contrário, apresenta-se como o portador da paz, encarnando as profecias messiânicas de Isaías, que anunciava a chegada de um mundo sem violência: «já não aprenderão a arte da guerra » (Is 2,4). Vamos ver a página do Evangelho de hoje.

Jesus obrigou os discípulos a entrar no barco e precedê-lo para o outro lado. Verso estranho, mas muito revelador. Por que Jesus teve que forçar seus discípulos a entrar no barco? A resposta mais imediata é: porque não queriam ir. Aqui, então, surge um problema: por que os discípulos não queriam ir com Jesus para o outro lado? O que há do outro lado? Existem os pagãos e, os discípulos, não querem ouvir o anúncio de um amor universal, de uma misericórdia infinita também para eles. A mensagem de Jesus é chocante e, antes de tudo, chocou os ouvintes de seu tempo e, entre eles, os próprios discípulos. De fato, eles estavam acostumados a ouvir palavras de ódio contra seus inimigos e, em vez disso, Jesus os convida a amá-los e a rezar por eles. Jesus está anunciando um Deus totalmente diferente daquele a que não só os discípulos estavam acostumados, mas todo o povo. A de Jesus é uma novidade tão grande que gera resistências, rejeições, polêmicas sem fim.

Tendo despedido a multidão, subiu sozinho ao monte para orar. Ao anoitecer, ele ficou lá em cima, sozinho. Há muita solidão na vida de Jesus, fruto da incompreensão de quem o segue. O anúncio do Evangelho, quando autêntico, cria este tipo de situação existencial. É precisamente nestes momentos difíceis que encontramos Jesus em oração. Se quisermos aprender a rezar como Jesus rezava, devemos olhar para estes momentos. A oração de Jesus não é feita de repetição de palavras, de fórmulas, de pedidos pessoais. Há muito silêncio em torno da sua oração, um silêncio que fala de uma escuta profunda e prolongada do Pai. Na oração Jesus mergulha no amor do Pai. Sem dúvida, existe uma oração comunitária, que tem seu próprio valor intrínseco. A própria oração comunitária, porém, perde muito do seu sentido se não for acompanhada de preparação, de prolongados momentos de oração pessoal, com o estilo que Jesus ensinou no Evangelho.

Enquanto isso, o barco já estava a muitos quilômetros da terra e era agitado pelas ondas: na verdade, o vento era contrário. No final da noite, ele veio até eles caminhando sobre o mar. Quem anda sobre as águas, na tradição judaica, é um só: Deus. As águas do mar são o símbolo do desconhecido, mas também da morte, porque sob as águas vivem os predadores, mas também aqueles peixes que, como o Leviatã ou o hipopótamo, podem destruir o homem. Quem, então, pode caminhar calmamente sobre as águas sem ser dominado pelo medo? Neste versículo há uma indicação profunda da vida espiritual que é tal, quando nos permite enfrentar os problemas mais dramáticos da vida sem perder a calma e o equilíbrio. Nisto se manifesta a divindade de Jesus: é a sua humanidade que contém traços divinos, que estão ao nosso alcance, porque Jesus assumiu a nossa própria natureza humana e a redimiu.

 Ao vê-lo andando sobre o mar, os discípulos ficaram chocados e disseram: "É um fantasma!" e eles gritaram de medo. Mas imediatamente Jesus lhes falou dizendo: «Coragem, sou eu, não temais!». Os discípulos não conseguem ver a presença de Deus em Jesus, estão cegos pela ideia do Deus do Antigo Testamento, o Deus poderoso e glorioso, o Senhor dos Exércitos, para usar uma expressão de Isaías e, por isso, eles estão com medo, justamente porque o Deus da antiga aliança é assustador. Diante do Deus manifestado por Jesus, não há mais o que temer, porque ele é o Deus verdadeiro, o Deus misericordioso, que veio trazer amor a todos, que nos acolhe e se ajoelha diante de nós para nos lavar os pés. São as nossas ideias que nos afastam de Deus, ideias assimiladas na infância e nunca aprofundadas, sobretudo, nunca verificadas seriamente à luz do Evangelho. O caminho que Jesus nos convida a percorrer exige a vontade de mudar de opinião, de nos deixarmos transformar para dar lugar ao amor do Pai, que vem em nós para nos fazer sentir o seu amor e nos ajudar a redescobrir a nossa natureza de filhos e filhas.

Os que estavam no barco prostraram-se diante dele, dizendo: "Verdadeiramente tu és o Filho de Deus!" Os discípulos que testemunharam o prodigioso acontecimento chegam a uma solene profissão de fé. Do jeito que as coisas aconteceram, sabemos que a mudança de perspectiva só acontecerá depois da ressurreição de Jesus.A conversão, a mudança de mentalidade é um processo lento que exige paciência e atenção aos acontecimentos. Só o Senhor da história e da vida nos pode ajudar neste caminho: permaneçamos fiéis ao Evangelho que, como diz São Paulo, é o caminho da nossa salvação (cf. Ef 1, 13).

martedì 1 agosto 2023

HOMILIA DOMINGO 6 AGOSTO 2023

 



A TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR

Dn 7,9-10.13-14; Sal 96; 2 Pd 1,16-19; Mt 17,1-9 See More

 

Paolo Cugini

 

A solenidade da Transfiguração do Senhor conduz a comunidade cristã no caminho da contemplação do Mistério manifestado na pessoa de Jesus.Os temas que envolvem esta solenidade muitas vezes nos encontram despreparados e nos deixam perplexos. Com efeito, como dizia o teólogo ortodoxo Vladimir Lossky, a mística da Igreja Católica centra-se no tema da imitação de Cristo, procurando reproduzir na vida quotidiana os traços da humanidade de Jesus, o seu estilo simples e essencial, a sua solicitude pelos pobres e excluídos. A mística ortodoxa, por outro lado, sempre acentuou o tema da contemplação e da teologia apofática: diante do mistério de Deus feito homem, só podemos silenciar e contemplar. Não é por acaso que a solenidade da Transfiguração, que na Igreja Católica passa um pouco às escondidas, é de grande importância na Igreja Ortodoxa. Aproximemo-nos, então, deste mistério e procuremos partilhar algumas reflexões.

Naquele tempo, Jesus levou consigo Pedro, Tiago e seu irmão João. Qual é o significado da escolha de Jesus de levar apenas três discípulos com ele e por que eles? Uma primeira resposta simples consiste em entender que a manifestação do reino dos céus na humanidade de Jesus não é um fenômeno de massa, como aliás o caminho cristão. Pedro Tiago e João não são escolhidos porque são considerados os melhores: pelo contrário. Pedro, cujo apelido significa cabeça teimosa, havia sido repreendido por Jesus de forma muito dura no capítulo anterior, chegando a chamá-lo de Satanás, por não aceitar que, o caminho de Jesus, envolvesse sofrimento e morte. Tiago e João foram apelidados de filhos do trovão, devido à sua veemência. Em todo caso, Jesus os escolhe para serem testemunhas de um acontecimento sem precedentes.

E ele os conduziu sozinho a uma alta montanha. Sempre que no Evangelho de Mateus encontramos esta expressão: conduzir à margem, ele está nos sinalizando que as coisas vão se meter mal, que Jesus encontrará resistência em sua proposta. Sabemos que a montanha simboliza o sentido da busca de sentido e, de maneira especial, da busca de Deus.Quem busca a Deus aprende a ver a terra e o que lhe pertence de uma forma diferente: de cima para baixo. É uma nova perspectiva que assimila todos aqueles que buscam a Deus, e aprendem a ver os bens da terra não como realidades por si mesmos, mas como dons oferecidos pelo Senhor para nossas vidas. O monte da transfiguração, portanto, no Evangelho de Mateus, corresponde ao das tentações. Não é com poder que conhecemos a Deus e a nós mesmos, mas com o dom gratuito de nossas vidas, assim como Jesus fez.

E transfigurou-se diante deles: o seu rosto brilhou como o sol e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz. Há um acontecimento extraordinário diante dos olhos dos três discípulos escolhidos para assistir, que não é fácil de explicar. De fato, são usadas expressões típicas da literatura apocalíptica. Não surpreendentemente, como passagem paralela, o capítulo 7 do profeta Daniel nos foi proposto na primeira leitura, repleta de referências apocalípticas. Diante do Mistério e de suas manifestações, não há palavras humanas. O que podemos dizer sobre este evento e por que ele pode ser significativo em nosso caminho de fé? A transfiguração fala de uma transformação. Na montanha, em contacto com o divino, Jesus manifesta a sua identidade de Filho de Deus. O seu rosto e as suas vestes revelam que Deus se manifesta na sua humanidade. Nos gestos de Jesus, no seu jeito de ser, na sua simplicidade, humildade, empatia, atenção aos mais pobres, em ter construído uma comunidade de discípulos iguais, em lavar os pés dos discípulos: Deus está aí, é um dos aspectos revelados no mistério da transfiguração do Senhor. Se isso for verdade, então também tem um valor importante para nós. O caminho cristão, que passa pelo encontro constante com Jesus, deve provocar a transformação da nossa humanidade. De pessoas difíceis e incapazes de perdoar, devemos nos tornar pessoas capazes de misericórdia. Das pessoas presas às coisas e ao dinheiro, o Espírito do Senhor que recebemos, deve nos transformar em pessoas capazes de compartilhar o que temos. A transfiguração do Senhor indica o sentido do nosso caminho: uma humanidade transformada.

E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, conversando com ele. Que ferramentas temos para realizar este caminho de transfiguração da nossa humanidade. Na passagem de hoje, recebemos a mesma pista duas vezes: a Palavra. Moisés simboliza a Lei, o Pentateuco e Elias a profecia: a Lei e os profetas, ou seja, a Antiga Aliança. Não é por acaso que a voz de Deus dirá da nuvem que se forma: Este é meu Filho, meu amado: nele me comprazo. Ouça-o. Não há outra coisa a fazer senão ouvir a voz do Filho amado pelo Pai. Escutar significa assimilar, interiorizar, para reconhecer a voz do amado para se tornar, assim, também amados pelo Pai.

Tomando a palavra, Pedro disse a Jesus: «Senhor, é bom estarmos aqui! Se você quiser, farei três cabanas aqui, uma para você, uma para Moisés e outra para Elias”. Destas palavras entendemos como para Pedro Moisés ainda é o centro de sua fé e não Jesus, de fato, ele o coloca no meio, entre as tendas. Pedro, como o resto dos apóstolos, ainda não entendeu a essência da presença de Jesus na história. Ele não veio com um poderoso exército para derrubar o inimigo, mas veio anunciando o amor do Pai para todos, principalmente para todos aqueles que sofrem discriminação, aqueles que são humilhados pelos poderosos deste mundo. Há decepção nos três discípulos que testemunharam o misterioso evento. Desilusão relatada pelo evangelista quando diz: Olhando para cima não viram ninguém senão somente Jesus. Provavelmente teriam preferido a força de Moisés ou a violência de Elias para impor a religião. Ao contrário, tudo desapareceu e só ficou Jesus, cujo único poder é o do amor gratuito e altruísta.