(1 Sam 16, 1.6.6-7.10-13; Sal 23; Ef
5, 8-14; Jo 9, 1-41)
Pe Paolo
Cugini
1. No caminho que estamos realizando no tempo de quaresma, a
pergunta que deveria nos acompanhar é a seguinte: o que está acontecendo
conosco? Que decisão estamos tomando perante a presença misteriosa e salvifica
de Jesus Cristo na Historia? Todo o caminho do tempo de quaresma visa, de fato,
ajudar os fieis para que se posicionem de uma forma clara perante a proposta de
Jesus. O problema é que não é fácil se posicionar perante o Evangelho. O motivo
desta dificuldade vem da nossa maneira de viver por assim dizer “relaxada”,
desviando continuamente de toda forma de proposta que possa nos comprometer
definitivamente, até quando chega o dia, a hora em que a vida aperta a corda ao
nosso pescoço, até quando os eventos nos colocam com os ombros na parede e ali
percebemos todo o nosso despreparo, toda a nossa superficialidade. O
Evangelho de hoje é interessante porque nos oferece uma panorâmica sobre as possíveis
posições que a humanidade toma perante Jesus. Panorâmica, como veremos,
embaraçadora pois, na maioria dos casos, somos nós com a nossa vidinha “fofa”,
contornada de almofadas, a serem
estigmatizados.
2. “Os Vizinhos e os que
acostumavam ver o cego – pois ele era mendigo – diziam ‘Não é aquele que ficava pedindo esmola?’” (Jo 9, 8).
Quem não presta atenção ao seu vizinho
dificilmente tem chance de perceber a presença de Deus na historia. Este pode
ser a moral daquilo que é narrado nos primeiros versículos do texto do
Evangelho de João que acabamos de ler. De fato, em cada irmão em cada irmã e
contida a imagem de Deus.
Perante o
milagre que Jesus opera aparece com força a superficialidade dos vizinhos. De
verdade consideramos dignos da nossa atenção somente as pessoas que podem
trazer pra nós um beneficio. O cego
mendigo é o símbolo daquela humanidade considerada sem importância e, então,
insignificante, não digna de atenção e por isso fica despercebida pelo povo.
São os invisíveis da sociedade, os excluídos. São estas pessoas invisíveis pela
sociedade que Jesus com a sua presença rende visíveis e cheias de significado.
Tempo de quaresma é tempo para avaliarmos o jeito da gente considerar as
pessoas. Será que também nós fazemos distinção entre as pessoas, dividindo-as
em classes? De que forma, então, consideramos os doentes, os pobres, os
necessitados?
3. “Então havia
divergência entre os fariseus” (cf. Jo 9, 16).
Existe uma
categoria de pessoas que parece saber já tudo, que não tem nada mais para aprender.
Os fariseus são o símbolo daquela humanidade arrogante e autoritária que
ninguém merece encontrar na vida, mas que infelizmente nunca faltam nos
caminhos da historia. No episodio narrado no Evangelho fica até esquisita a
petulância com que perseguem o coitado curado por Jesus. Parece até que ficaram
com raiva dele pelo fato da cura. A insistência é tão grande que até chegam
negar a realidade. É este que o evangelista quer nos ensinar: quem nega Jesus e
a sua obra nega a realidade, pois é Cristo a Verdade, é Ele que manifesta a
toda a humanidade o caminho da vida, da realidade. Ao mesmo tempo, porém, é
importante notar que a presença de Jesus cria divergências. Jesus incomoda:
este é o problema. A presença dele exige sair das falsas seguranças. Nem todo
mundo é disponível para isso. Nem todo mundo é disponível abrir mão do próprio
jeito de crer, da própria maneira de pensar as coisas. Os fariseus são o
símbolo da resistência que a humanidade tem perante a proposta de Jesus,
perante a novidade absoluta da sua mensagem. Existe todo um farisaísmo
disfarçado de religiosidade, que age em nós e se manifesta na tentativa de
aniquilar todas as formas de pensamento diferente do nosso: o importante é não
mudar. Este farisaísmo religioso é sem duvida uma das piores doenças da alma,
de difícil solução e também de difícil cura. É bom lembrar que Jesus morreu por
causa disso.
4. “Os seus pais
disseram: ‘Sabemos que este é o nosso filho e que nasceu cego. Como agora está
enxergando não sabemos...’ Os seus pais disseram isso porque tinham medo das
autoridades judaicas” (Jo 9, 19-22).
Além das
atitudes que já analisamos, existe uma outra que é típica da realidade na qual
vivemos. É o comportamento que não consegue se decidir por Jesus por causa do
medo. Quantas pessoas, na nossa realidade Nordestina, vivem esta situação
constrangedora! Quantas pessoas não conseguem se libertar das amarras do poder
e ficam a vida toda atreladas a um poder que, na realidade não permite de
crescer, de se desenvolver. Este é o grande drama enfatizado na figura dos pais
do cego: o medo atrapalha não apenas a existência corriqueira, mas, sobretudo o
desenvolvimento espiritual. E como é que se manifesta a vida no medo? Com a
incapacidade de tomar uma posição clara perante a realidade, seja ela qual for.
Os pais do cego curado que não querem admitir a evidencia dos fatos, são o
símbolo daquela humanidade que não quer se comprometer nunca por medo de criar
problemas, de atrapalhar o poder instituído e, assim, nunca conseguem desenvolver uma ação que seja fruto de uma
busca pessoal da verdade. Quem quiser passar a vida toda querendo se dar bem
com todo mundo, em modo especial, querendo ser bom com o poder, vai acabar se
dando mal com todos e, de uma forma especial, se dando mal consigo mesmo e com
Deus também.
5. “Acredita no filho do
homem? Quem é Senhor para que eu creia nele? ‘Tu o estás vendo; é aquele que
está falando contigo’. Exclamou ele:” Eu creio, Senhor!”(Jo 9, 36).
Chegamos,
então, a analisar a única e justa atitude que precisamos ter perante Jesus e a
sua proposta. O cego é protótipo da humanidade que vive na frente do Senhor em
obediência á sua Palavra. O cego fica curado porque obedece ao mandamento de
Jesus: este é o primeiro dado importante que é preciso salientar. Não basta a
Palavra de Jesus: é necessária, também, uma tomada de posição clara, que se
realiza na obediência á sua Palavra. Em seguida o cego realiza um caminho
progressivo de libertação que o levará até a bater boca com os fariseus,
vencendo o medo dos pais, e a se posicionar claramente do lado de Jesus,
vencendo a indiferença dos vizinhos. O cego seguindo Jesus, realiza uma
caminhada vocacional saindo de todos os obstáculos que a humanidade vive,
tornando-se assim capaz de um pensamento autônomo perante o Senhor. Esta é a força
liberatória de Jesus: Ele veio para libertar o homem do medo de viver, do medo
de ver, do medo de ser. Só seguindo Jesus, só se deixando tocar por Ele, Só
deixando que ele toque os nossos olhos cegos podermos enxergar a realidade e,
assim, acompanhá-lo no caminho da vida verdadeira. Que esta quaresma, que
estamos vivendo, possa produzir em nós o desejo de ver, a força para abandonar
as amarras do mundo no qual somos atrelados e, assim, acompanhar o Senhor Jesus
no Caminho da Vida. Assim seja.
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