Semana
de retiro espiritual às irmãs adoradoras do sangue de Cristo
6-12
setembro 2024 – Manaus
Paolo
Cugini
Parece uma pergunta
estranha, que não tem nada ver com o tema que estamos desenvolvendo e que está
chegando ao fim. Na realidade tem a ver e muito. A história da salvação é uma
narração que se desenvolve em algumas cidades que, por isso, tem um caráter simbólico,
que desvenda alguns conteúdos importantes. O Egipto (Alexandria), Tiro,
Babilônia e Jerusalém: são esta as cidades que acompanharão a nossa reflexão.
O
Egipto.
É a terra onde o povo encontrou alívio na figura de José. Depois da morte do
povo que conheceu José, o Egito se torna um país hostil para o povo de Israel,
que fica escravizado. A intervenção de JHWH na história é para libertar o povo
da escravidão (cfr. Ex 3). O Egito, de terra da salvação se torna terra da
maldição da qual precisa fugir. Os padres da Igreja (por exemplo, Cirilo de
Jerusalém) nas pregações sobre o batismo, identificaram o Egito como a terra do
pecado. De fato, o mar Vermelho, antecipação do Batismo, representa uma
passagem purificadora de uma situação de escravidão do pecado (Egito), para um
caminho de salvação na terra prometida. Nesta perspectiva, fugir do pecado
significava fugir do Egito.
Tiro. Tiro é o símbolo da
cidade arrogante e orgulhosa, que se coloca acima de tudo, se achando a dona do
mundo. Interpreta o próprio sucesso e a própria força como algo que não depende
de ninguém. Usa o poder para pisar e humilhar os outros.
Quem, pois, tomou essa
decisão contra Tiro, essa cidade coroada, cujos mercadores eram soberanos, e os
traficantes, fidalgos da terra? Foi o Senhor dos exércitos quem o decidiu, para
ferir o orgulho da nobreza e para aviltar os mais considerados da terra...
Naquele tempo, Tiro será esquecida durante setenta anos (Is 23, 1s).
Deus
não deixa impune que pisa nos outros. Deus não dá moleza com os orgulhosos que
se acham melhores dos outros. Deus entra na história para restabelecer a
igualdade.
Babilônia. É a cidade símbolo da
exilio do povo de Israel, a cidade cujo rei, Nabucodonosor derrubou Jerusalém,
e levou no exilio, como escravos. Por isso Babilônia assume na história da
salvação o símbolo do mal. Muitas são as páginas dedicada a esta cidade. Sobretudo
os profetas falam dela.
Fugi do recinto de
Babilônia, abandonai a Caldéia! Sede como os cabritos à frente do rebanho,
porque vou suscitar e conduzir contra Babilônia uma coligação de grandes nações
vindas do norte. Contra ela se hão de enfileirar e a levarão de vencida. Suas
setas são as de hábil guerreiro que não dispara sem atingir o alvo (Jer 50, 8-9).
Babilônia
simboliza o mal que parece vencer o bem. Este conflito do bem como o mal é
narrado no último livro da Bíblia, o Apocalipse, simbolizado por duas cidades:
Jerusalém e Babilônia. A dinâmica desta luta é que, até um certo ponto parece
que Babilônia ganhe esta luta, que o mal domine para sempre o bem. Até chegar
ao grito de vitória do capítulo 14 e reiterado no capitulo 18.
Outro anjo seguiu-o,
dizendo: Caiu, caiu a grande Babilônia, por ter dado de beber a todas as nações
do vinho de sua imundície desenfreada (Ap 14, 8).
Clamou
em alta voz, dizendo: Caiu, caiu Babilônia, a Grande. Tornou-se morada dos
demônios, prisão dos espíritos imundos e das aves impuras e abomináveis, porque
todas as nações beberam do vinho da ira de sua luxúria, pecaram com ela os reis
da terra e os mercadores da terra se enriqueceram com o excesso do seu luxo...
Hão de chorar e lamentar-se por sua causa os reis da terra que com ela se
contaminaram e pecaram, quando avistarem a fumaça do seu incêndio. Parados ao
longe, de medo de seus tormentos, eles dirão: Ai, ai da grande cidade,
Babilônia, cidade poderosa! Bastou um momento para tua execução! ... Então um
anjo poderoso tomou uma pedra do tamanho de uma grande mó de moinho e lançou-a
no mar, dizendo: Com tal ímpeto será precipitada Babilônia, a grande cidade, e
jamais será encontrada (Ap
18,1s).
Jerusalém. É a cidade onde foi
construído o templo de JHWH, em cima do monte Sião. Jerusalém a casa de Deus
construída pelos homens não deu certo. Etimologicamente Jerusalém quer dizer
cidade da paz. São interessantes as páginas dos profetas que continuamente
anunciam a destruição de Jerusalém e a sua reconstrução. Muitas páginas são dedicas
seja a construção do primeiro tempo que do secundo. Dramáticas são as páginas
do livro das Lamentações onde o autor descreve, de forma poética, os motivos da
queda de Jerusalém:
Desapareceu
da filha de Sião toda a sua glória. Seus príncipes se tornaram como cervos que
não encontraram pastagens e que fogem, esgotados, diante dos que os perseguem.
Nestes dias de males e vida errante, recorda-se Jerusalém das delícias dos
tempos idos. Agora que seu povo sucumbiu sob os golpes do inimigo e ninguém vem
socorrê-la! Olham-na seus inimigos, e zombam de sua devastação. Graves foram os pecados de Jerusalém: ela
ficou uma imundície. Quem a honrava, agora a despreza porque lhe viram a nudez.
E ela geme e esconde o rosto. Vê-se sua
mancha sobre suas vestes. Ela não previra esse fim. É imensa a sua decadência,
e ninguém vem consolá-la. “Olhai, Senhor, para a minha miséria, porque o
inimigo se ensoberbece (Lamentações
1,1-8).
Nesta
perspectiva, impressionantes são os capítulos 40-48 do profeta Ezequiel.
Jerusalém é também a cidade que vive a história de amor entre a Sulamita e o
seu namorado, símbolo do relacionamento entre Deus e seu povo.
Sou
morena, mas sou bela, filhas de Jerusalém, como as tendas de Cedar, como os
pavilhões de Salomão. Durante as noites, no meu leito, busquei aquele que meu
coração ama procurei-o, sem o encontrar.
Vou levantar-me e percorrer a cidade, as ruas e as praças, em busca
daquele que meu coração ama procurei-o, sem o encontrar. Os guardas
encontraram-me quando faziam sua ronda na cidade. Vistes acaso aquele que meu
coração ama? (Cant.
1,1. 2,1s).
É
importante salientar que a Bíblia termina com a imagem da descida da Jerusalém
celeste.
Vi,
então, um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra
desapareceram e o mar já não existia. Eu
vi descer do céu, de junto de Deus, a Cidade Santa, a nova Jerusalém, como uma
esposa ornada para o esposo. Ao mesmo
tempo, ouvi do trono uma grande voz que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus
com os homens. Habitará com eles e serão o seu povo, e Deus mesmo estará com
eles. Enxugará toda lágrima de seus
olhos e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor, porque passou a
primeira condição. Então o que está
assentado no trono disse: Eis que eu renovo todas as coisas. Disse ainda:
Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras. Novamente me disse: Está pronto! Eu sou o
Alfa e o Ômega, o Começo e o Fim. A quem tem sede eu darei gratuitamente de
beber da fonte da água viva. O vencedor herdará tudo isso e eu serei seu Deus,
e ele será meu filho (Ap
21,1-7).
Conclusão.
A cidade em decidimos de morar é a cidade que se realize com tudo aquilo que
Deus nos oferece. A nossa cidade é terrena, mas a nossa tarefa é humanizá-la. O
Evangelho é a proposta para que este desejo possa se realizar. Cabe a nós
arregaçar as mangas todo dia para que a cidade que construímos seja semelhante
àquela que desce do céu.
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