Lc 21,5-19
Paolo Cugini
Chegamos ao fim do ano
litúrgico e a liturgia, como sempre, nos ajuda a refletir sobre a jornada que
percorremos. O fim do ano litúrgico traz consigo os prenúncios do fim de nossas
vidas e do fim da história. As leituras que acabamos de ouvir refletem os temas
do fim dos tempos. O profeta Malaquias, na primeira leitura, adverte que
"o dia está chegando, ardendo como uma fornalha" (Ml 3,19). O Salmo
97 também ecoa esses temas apocalípticos, lembrando-nos que Deus "julgará
o mundo com justiça e os povos com equidade". Na segunda leitura, São
Paulo exorta os fiéis de Tessalônica a viverem vidas dignas, trabalhando para
ganhar o pão de cada dia. Em seguida, temos o Evangelho, no qual concentramos
nossa atenção.
Naquele tempo, enquanto alguns
falavam sobre o templo, como ele era adornado com belas pedras e oferendas
votivas, Jesus disse: "Quanto a essas coisas que vocês veem, dias virão em
que não ficará pedra sobre pedra que não seja derrubada."
Essa frase resume muito bem a
proposta que Jesus fez durante sua pregação pública. O templo, do qual não
restará uma única pedra e que, consequentemente, será destruído, refere-se ao
tipo de proposta religiosa que o templo representa e aos valores que ele
defende. A proposta de Jesus se opõe radicalmente à religião do templo. O
templo, de fato, é o símbolo de uma religião que considera a relação com Deus
como um mérito a ser conquistado por meio de sacrifícios, ritos mediados pela
classe sacerdotal, que, sobre esse sistema religioso, impõe enormes impostos. É
uma classe sacerdotal que, nos últimos séculos, enriqueceu-se às custas das
classes mais pobres da sociedade palestina. É, portanto, uma religião para
poucos, uma religião que perdeu o significado autêntico da relação com Deus e é
prisioneira de uma classe sacerdotal que construiu uma rede de leis e decretos
que transformam a vida das pessoas em um verdadeiro inferno. De tudo isso,
diz-nos Jesus, nada restará. Jesus, ao contrário, não fala de mérito, mas de
dom; Ele não fala de leis, mas coloca a pessoa no centro. A proposta de Jesus é
o Reino dos Céus, que tornou o amor do Pai acessível a todos, não apenas
gratuitamente, mas também sem distinção. Isso não é apenas chocante, mas
radicalmente oposto e incompatível. O que Jesus diz ao contemplar as pedras do
templo se refere, na verdade, ao que o templo representa. Quem abraça o Reino
dos Céus, quem abre espaço para o amor do Pai dado livremente, deve destruir a
lógica religiosa da religião do templo.
Nação se levantará contra
nação, e reino contra reino. Haverá grandes terremotos em vários lugares, e
fomes e pestes… Mas antes de todas essas coisas, eles lançarão mão de vocês e
os perseguirão, entregando-os às sinagogas e às prisões… e vocês serão odiados
por todos por causa do meu nome.
Jesus usa a linguagem
apocalíptica dos profetas que anunciaram o fim dos tempos, como Joel, Ezequiel
e Zacarias. Portanto, não devem ser tomadas como indicações historicamente
verificáveis, mas como pistas para uma jornada profunda a ser buscada no âmago
da história, na vida de cada um de nós. Há, contudo, uma certeza naqueles que,
atraídos pela palavra do Evangelho, decidem abraçar a proposta do reino dos
céus e abandonar a religião do templo, destruindo-a em si mesmos: pagarão caro.
Substituir a lógica do Deus temível pelo amor do Pai; substituir a lógica da
nação forte e poderosa que destrói outros povos pela lógica do reino dos céus
baseada na igualdade e na justiça para os mais fracos; substituir a ideia da
família patriarcal pela proposta de uma comunidade de discípulos que fazem das
relações de amor livre e altruísta o sentido de sua convivência. Como disse
acima, uma substituição tão clara e radical não é indolor, mas causa profundas
lacerações em todos os níveis. O convite de Jesus é para que se preparem para o
violento choque que todos os discípulos experimentarão: vocês serão
odiados por todos por causa do meu nome. Essas palavras são semelhantes às
que Jesus dirá na Última Ceia, no Evangelho de João: todos os odiarão (João
15). A espiritualidade dos discípulos do Senhor, que desenvolvem essas escolhas
ao longo do caminho, que os colocam em conflito com o mundo, deve ajudá-los a
resistir.
Mas nenhum fio de cabelo de
vocês se perderá. Pela sua perseverança, vocês garantirão a sua vida.
Esta é a certeza que o Senhor
oferece: Ele não nos abandona. Para sentirmos a Sua presença, que nos encoraja
nas escolhas que fazemos, devemos passar do plano externo para o interno, ou,
como diria Paulo, trabalhar para fortalecer cada vez mais o homem (a mulher)
interior. É a perseverança que nos salva do vazio da religião do templo. A
perseverança fala de liberdade pessoal, da capacidade de organizar a nossa vida
espiritual, de modo a não permitir que nada nem ninguém nos prive do grande
tesouro que o Pai nos comunica no Filho e nos dá com o Seu Espírito: o
amor.
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