Lucas 13,22-30
Paolo Cugini
Nos Evangelhos que ouvimos no domingo, é difícil
encontrar Jesus em lugares e espaços estáticos: ele está sempre em
movimento. Jesus passou por cidades e aldeias ensinando enquanto
caminhava em direção a Jerusalém. No Evangelho de hoje, Jesus também
passa para ensinar, e seu ensinamento está intimamente ligado ao seu movimento.
Ele ensina o que vê no caminho, o que encontra na realidade, e interpreta isso
à luz de sua relação com o Pai. É uma jornada com direção, porque Jesus sabe
para onde quer ir. Esta é a primeira lição de hoje: aprender a caminhar atrás
de Jesus, a ver a realidade no caminho e não através de uma tela — uma
realidade que, se ouvida, revela aspectos do Mistério.
“Senhor, serão poucos os que serão salvos?” Ele lhes
disse: “Esforcem-se para entrar pela porta estreita, pois eu lhes digo que
muitos tentarão entrar e não conseguirão.
O tema da passagem de hoje é a salvação. A pergunta
feita a Jesus revela uma crença generalizada entre os judeus, que acreditavam
que somente o seu povo estava destinado à salvação. Em sua resposta, Jesus
subverte toda a abordagem clássica, afirmando que pertencer a um povo não
determina a salvação. Para entender as palavras de Jesus, precisamos
compreender a natureza de seu discurso. Estamos, de fato, diante de uma
passagem escatológica, que fala do fim dos tempos. Na parábola que Jesus conta,
o dono da casa se levanta para fechar a porta. A porta é estreita porque já
está fechada. O problema, neste ponto, é entender como se pode estar dentro
antes que a porta se feche e quem fica de fora.
Quando o dono da casa se levantar e fechar a porta,
vocês ficarão do lado de fora e baterão, dizendo: ‘Senhor, abre-nos!’. Mas ele
responderá: ‘Não sei de onde vocês são’. Então vocês começarão a dizer:
‘Comemos e bebemos na sua presença, e você ensinou em nossas ruas’. Mas ele
responderá: ‘Não sei de onde vocês são. Afastem-se de mim, todos vocês que
praticam a iniquidade!’
Quem é que permanece do lado de fora da porta estreita
porque ela já está fechada? Sensibilidades religiosas comuns poderiam
identificar as categorias clássicas identificadas como pecadores, a saber,
ladrões, traficantes de drogas, prostitutas, etc. Jesus, no entanto, mais uma
vez nos surpreende e nos deixa atônitos. Do lado de fora da porta, de fato,
estão pessoas que participaram da Missa e ouviram sua Palavra. Àqueles que
reivindicam diante de Deus os direitos adquiridos pela vida religiosa, pela participação
nos serviços litúrgicos, o Pai da parábola responde de forma surpreendente: Não
sei de onde vocês são. Afastem-se de mim, todos vocês que praticam a injustiça!
Por que tal resposta? Por que os religiosos que participaram da Missa e ouviram
a Palavra de Deus permanecem do lado de fora da porta? A pergunta é
perturbadora e exige uma resposta. Se a vida litúrgica, nossa relação com Deus
que cultivamos no culto, não se transforma em uma relação autêntica com nossos
irmãos e irmãs, significa que algo está errado. Os profetas também disseram
isso, palavras que Jesus então repete em várias ocasiões: Eu quero
misericórdia, não sacrifício ! Participar de cultos e liturgias deve
nos ajudar a transformar as palavras de Jesus em amor e cuidado pelos outros,
especialmente pelos mais pobres.
Não é este o jejum que escolhi:
soltar as ataduras da impiedade,
desfazer as ataduras do jugo,
pôr em liberdade os oprimidos
e desfazer todo jugo?
Não é repartir o teu pão com o faminto,
acolher em casa o pobre sem
abrigo, cobrir o nu que vires
e não te esconder do teu próximo?
Então, a tua luz romperá como a aurora,
e a tua cura se completará em breve.
A tua justiça irá adiante de ti,
e a glória do Senhor será a tua retaguarda (Isaías 58:6-8).
Em suas parábolas, Jesus retoma e expande o que os
profetas já estavam dizendo.
Pessoas virão do oriente e do ocidente, do norte e do
sul, e se sentarão à mesa no Reino de Deus. E eis que alguns são últimos e
serão primeiros, e alguns são primeiros e serão últimos.
A conclusão da parábola é um convite a não nos
determos nas aparências, mas a olhar para as situações históricas com os olhos
da fé. Aqueles que, de uma perspectiva humana, poderíamos considerar fora do
Reino de Deus, como ladrões e prostitutas, serão, na verdade, os primeiros a
entrar, porque sua condição lhes permite pedir perdão e se abrir à misericórdia
do Pai. Por outro lado, aqueles que consideramos primeiro por serem religiosos
serão, na verdade, os últimos no Reino de Deus, porque são tão arrogantes e
presunçosos que não dão espaço à Palavra de Deus, acreditando-se já
salvos.
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