lunedì 14 settembre 2015

JESUS E' A VERDADE




Paolo Cugini

João  8

1.      O Capítulo 8 apresenta a continuação do “ ensinamento” que Jesus iniciou por ocasião da festa das Tendas: “ Jesus proclamou ainda...” (8,12;7,14). O contexto narrativo é lembrado: Jesus ensinava no Templo, e os adversários queriam apoderar-se dele antes da hora (8,20). Tudo se passa, então, no interior do santuário. Os interlocutores de Jesus são agora os fariseus, até aqui mantidos nos bastidores. O auditório entretanto inclui pessoas que freqüentavam o Templo: Jesus está na esplanada contígua à sala do Tesouro e a presença de grande número é assinalada no v. 30: “ Como proclamasse estas coisas, muitos creram nele”.
2.      O capítulo inteiro pode ser intitulado “Eu sou”, mas a expressão deve ser compreendida corretamente. Jesus afirma ser só por Deus, com quem está em relação constitutiva. Por outro lado, o Eu de Jesus torna-se exemplar para todo homem: se a fé requerida envolve não somente a palavra que Jesus pronuncia da parte de Deus, mas a sua própria pessoa, é porque o discípulo deve reconhecer nele o Filho e, por isso, o que ele próprio é chamado a tornar-se.
O texto está também unificado pela freqüência excepcional, na boca de Jesus, de expressões designando o ato da palavra. Isto reflete-se em muitas réplicas dos judeus e nos três comentários do evangelista. O leitor está na presença do Logos de Deus exprimindo-se em Jesus de Nazaré. O capítulo 8 complementa o prólogo.
3.      O texto apresenta uma seqüência de confrontações, ao longo das quais Jesus se choca não somente com mal-entendidos como no diálogo com Nicodemos, mas ainda com oposição sistemática, com incompreensão profunda, embora de ambas as partes a linguagem provenha de uma mesma tradição, a de Israel. Jesus sublinha a derrota da comunicação: “Por que não compreendeis minha linguagem?” (8,43). Uma tensão dramática resulta deste confronto que termina em tentativa de apedrejamento e, com alcance simbólico, na retirada de Jesus, que abandona o Templo. 
4.      O texto é formado por duas grandes partes, a primeira das quais comporta duas sub-unidades. Uma e outra parte começam por um apelo para seguir Jesus: ele é a luz do mundo (8,12); seu discípulo conhecerá a verdade que liberta (8,31). Na junção das duas partes encontra-se uma pequena nota positiva do narrador: “Como proclamasse estas coisas, muitos passaram a crer nele” (8,30); ela condiciona literariamente a retomada do ensinamento de Jesus no versículo 31: “Disse, então, Jesus aos judeus que haviam acreditado...”.
5.      Ao longo da primeira parte (8,12-30), Jesus justifica o testemunho inicial pelo qual ele se proclamou luz do mundo. Ele afirma por isto sua união com o Pai, que manifestará claramente sua “elevação”. A Segunda parte (8,31-59) é constituída em torno da figura de Abraão, aquele que crê, e de quem os ouvintes de Jesus dizem  “filhos”. Na perspectiva deste texto, todo homem é movido em sua conduta por um Outro, que é a fonte dele próprio. Esta origem não é fatalidade, mas escolha. É por isso que Jesus estigmatiza nos ouvintes a rejeição da verdade e a intenção homicida em que se exprime seu alívio: é o diabo que eles escutam, o Divisor por excelência. Seus comportamentos são o inverso do de Abraão, que acreditou na Promessa. Abraão acreditou n’Aquele que agora, por sua perfeita comunhão com o Pai, se define.
6.      Proclamando-se a luz do mundo, Jesus revela aquele que, ainda desconhecido dos homens, estava oculto em Deus para a salvação deles: afirmará que sua palavra, recebida do Pai, é verdade divina (8,45-47) e que guardá-la significa jamais ver a morte (8,51s). finalmente ele falará de seu “Dia” (8,56); este termo evoca o surgimento da claridade na obscuridade da noite.
Enfim, apresentando-se no Templo como a luz, Jesus afirma que se cumpriu em sua pessoa a longa expectativa, existente em Israel, da luz definitiva, aquela que preparava para a Luz da lei, depois para a sabedoria e que se identificaria com a luz messiânica.
7.      Após  as imagens do pão que alimenta para a vida eterna e da fonte que dessedenta para sempre, a da luz exprime a transformação da condição humana, segundo a esperança que já animava o Salmista. A treva que se opõe à luz não é aqui o nada mas, como mostra o texto, o desconhecimento de Deus como Pai.
8.      Jesus afirma primeiramente que seu testemunho vale em razão de seu saber. Ele já proclamou que vem do Pai e que retorna a ele: aqui insiste no conhecimento que tem de sua origem e do seu destino (8,14:


9.      cf.13,13): ele “sabe”, enquanto seus interlocutores permanecem na ignorância a seu respeito. Essa conseqüência pessoal situa Jesus fora do comum dos mortais: estes estão mergulhados num presente que não está imediatamente ligado à origem e ao fim; Jesus não está encerrado no seu espaço, ele domina o tempo e seu próprio ser. Por que, senão por ser do alto (cf. 8,23), perfeitamente unido àquele que o enviou, o Pai?  
De novo, o texto começa por um apelo relativo ao discípulo: Jesus, que chamou a “segui-lo” (8,12), convida agora a “permanecer” na sua palavra. Há progresso, ou pelo menos explicitação: se necessário passar de uma adesão pronta à  interiorização da palavra de Jesus, “guardá-la” (v. 51), é porque o próprio Filho “guarda” a palavra do Pai (v.55).
9.  A liberdade que a verdade (o Filho) dá é concedida aos discípulos de Jesus; tais são os dois pontos a         desenvolver: ser discípulo e tornar-se livre.
O anúncio inicial põe a condição para chegar ao estado de “discípulo” ( palavra que aqui aparece pela primeira vez na boca de Jesus) e de discípulo “verdadeiro”, distinguindo-se dos que abandonaram o Mestre (cf.6,66). Pensa-se no discípulo amado, protótipo daqueles que Jesus chama de “amigos”. O primeiro engajamento deve tornar-se fé autêntica. Não se tratará somente de “seguir”  Jesus (8,12) ou de confiar nele (8,31), mas de “permanecer” em sua palavra, de assimilá-la, de existir por ela e descobrir que ela é a palavra do próprio Deus. Permanecendo na palavra de Jesus, o discípulo “compreenderá”, entrará num conhecimento sempre mais profundo, que é comunhão com o objeto conhecido, a “verdade”.
Segundo sua etimologia hebraica, a palavra “verdade” (émet) expressa aquilo que assegura solidamente no ser; marcando à relação duradoura e sem cessar aprofunda entre dois seres, eqüivale à relação de “fidelidade”, termo que caracteriza o Deus da Aliança. A tradição sapiencial identifica a verdade à Sabedoria, e a apocalíptica, ao “mistério” do desígnio de Deus (Dn 10,21). Em João, a palavra conota o conhecimento imediato que o Filho tem do Pai. A proposição aqui parece nova: se antes da vinda do Filho o chamado a permanecer na palavra anunciada pelo Filho que saiu de Deus. Por isso, o Filho toma no v. 36 o lugar que tinha a verdade personificada (cf.1,14; 14,6.
10.    À guisa de introdução, Jesus diz uma frase surpreendente: “Vós não podeis ouvir minha palavra” (v. 43), o que é mais grave que a reprovação anterior: “Minha palavra não penetra em vós” (v.37); pois Jesus não diz: “Vós não quereis”, mas “vós não podeis”, como se eles fossem vítimas de um determinismo. Parece insinuar alguma predestinação para o mal. Os ouvintes estariam destinados a não compreender? Tal dedução desorientaria o leitor. Se eles não podem ouvir, é porque se tornaram incapazes; endureceram-se por causa deste “determinismo do pecado que se nutre de sua própria  substância”. Tornando-se surdos aos mandamentos de Deus, eles ficam fechados a toda nova palavra.
11.        O Combate de Jesus contra Satã torna-se para os crentes a luta por sua fé e por sua fidelidade a Jesus diante do assalto do “mundo”. Quando, na iminência da Paixão de Jesus, Satã se desencadeou contra ele, Jesus afirmou aos discípulos: “Sobre mim ele não tem poder algum” e “Ele já está condenado” (14,30; 16,11; 1Jo 3,8). Ameaçado nos seus pelo “mundo”, Jesus tem um defensor, o Paráclito, que demonstra ao coração dos fiéis o erro e a culpa do mundo, quer dizer daqueles que recusam obstinadamente a luz (16,7-11).

12.        Alguns preferem continuar a falar de Satã como de um indivíduo nefasto, outros acham que ele é a personificação do Mal universal. Que importa?! O essencial é que Jesus o derrubou quando, por fidelidade ao Pai, abriu definitivamente  aos homens a relação viva com Deus, aquela que Satã se esforçou por impedir ou por destruir. É inerente à nossa condição humana e também à autenticidade de nosso ‘sim’ que Satã nos afronte, pelos desvios do “mundo” fora de nós e em nós, com a sua presença ao mesmo tempo enfurecida e já vencida.

A LUZ DA VIDA







João 7 – 8

Paolo Cugini

7-8     Descreve o ministério de Jesus desde sua partida definitiva da Galiléia até as vésperas da semana que     procede a Páscoa.
Durante a festa das tendas, Jesus está ensinando no templo de Jerusalém.
Segundo o Quarto Evangelho, o ministério de Jesus na Judéia é ao mesmo tempo seu processo de condenação pelas autoridades judaicas, processo que os sinóticos situam após sua prisão.
João situa antes do discurso da vida pública o confronto entre o enviado de Deus e seus juizes: sobre um fundo fanático de hostilidade e de não – fé , Jesus prossegue  a revelação de sua identidade e da missão que recebeu, afirmando a revelação sem igual que o une a Deus, seu Pai, e proclamando um solene EU SOU.
“A pergunta quem és tu?” feita a Jesus pelos judeus (8, 25) subjaz ao texto dos capítulos 7-8 e o ensinamento de Jesus progride ao longo dos capítulos para culminar no EU SOU de 8,58; esta proclamação final responde ao pedido dos irmãos “ Manifesta quem tu és!” (7,4).

Alguns dados gerais:
1.          situação da Igreja joanina:
O texto reflete as controvérsias que, na época do evangelista opunham os meios oficiais do judaísmo aos discípulos de Jesus. Desde a queda de Jerusalém sob o poder dos romanos no ano 70 e a destruição  do templo que havia posto fim ao culto tradicional, ortodoxia farisaica permanecia como único garante da identidade judaica e da cesão do joio. Daí seu enrijecimento com relação a todo grupo distinto, em particular o dos cristãos de origem judaica.
Diante da recusa da sinagoga, o evangelista deixa de lado os múltiplos ensinamentos de Jesus que a tradição sinótica relatara, e até o comportamento de Jesus para com os deserdados da terra, para concentrar a mensagem exclusivamente na pessoa do enviado e em seu mistério. Ele mostra em Jesus bem mais que o Messias de Israel; mostra o logos porque o Pai se expressa e em quem os fiéis participam da filiação divina.

2.      Situação na narração evangélica -  Jesus já subiu duas vezes a Jerusalém (2,13 e 5,1) mas as breves estradas que o fizeram conhecido na cidade foram marcadas por ameaças contra Ele.
Esperando a chegada da hora, desenvolve-se o processo de condenação de Jesus diante dos Judeus, bem antes da prisão efetiva. Os capítulos 7 – 8 apresentam o primeiro ato, cujo tom já fora dado pelo capítulo 5. Este processo prossegue até o capítulo 10.
        
         3.  No templo: O confronto de Jesus com seu povo passa-se  no lugar sagrado. Após a tentativa de               apedrejamento provocado por seu supremo anúncio, Jesus “sai” do templo (8,59)   como não pensar em YHWH  que abandonou o santuário (Ez 11,23) ?.
              Jesus não ensinará mais no lugar santo, ele vai mesmo deixar a Judéia e retirar-se para além do Jordão (10,40).

4.      Na festa da Tendas – A festa das tendas ( das cabanas) é uma das mais importantes entre as quatro festas principais do ciclo anual ( Páscoa, Pentecostes, Tendas, Dia das Expiações) . De origem agrícola, ele corresponde à festa da colheita que se celebrava no outono (Ex 23,16); habitava-se então em cabanas construídas com folhagem, semelhante aos abrigos que se usavam nos vergéis no momento da colheita. Por sua vez, eles recordavam a vida dos hebreus no deserto no momento da saída do Egito ( Lv 23,42 a ) – Na época do Novo Testamento, a festa das Tendas  coroava a do Ano Novo e era celebrada de 15 a 21 tishri, isto é, mais ou menos no fim de setembro.






Se, Segunda a descrição de Lv 23, 34-43), esta festa era em agradecimento pela colheita obtida, sua liturgia, era orientada para o pedido da chuva para o ano que se iniciava. No último dia, ia-se em procissão à piscina de Siloé  tirar a água que um sacerdote derramava  em libação sobre o altar dos sacrifícios, dentro do templo.
        Lembrando a Deus seu compromissos para com Israel, a prece comunitária evocava também o fim dos tempos conforme as profecias que anunciavam, mediante o símbolo da fonte, a renovação espiritual de Sião. (Ez 47,1-12) fala da água que sai do lado direito do templo e Isaías anuncia: Tirareis com alegria a água das fontes da salvação” ( Is 12,3).

       No século I, em rito da luz também era celebrado durante a festa. Este de pano de fundo       litúrgico dos capítulos 7 e 8 permite melhor situar o apelo de Jesus para beberem da sua água e também, sua autoproclamação como luz do mundo.

5.    Os personagens – sozinho diante dos judeus, na ausência de qualquer discípulo, Jesus aparece perfeitamente livre, iluminado interiormente pela consciência de sua unidade com o Pai e de sua missão.
       Diante dele, os outros atores são representados em grupos: os irmãos, a multidão, algumas pessoas de Jerusalém, as autoridades, os fariseus e os sacerdotes, os guardas do templo e, de modo geral, os judeus.
       Estes grupos estão todos alvoroçados, agitados por sentimentos diversos. No proxênio , a multidão de peregrinos e de pessoas de Jerusalém distribuíam-se em facções de tendências opostas ou então se debatem entre as evidências contrárias a respeito de eventual Messias.
       Entre Jesus e seus interlocutores não haverá diálogo algum porque eles permanecem fechados a todo anúncio que não se enquadra em seu sistema de pensamento (8,43).
      
6.   Dois perigos maiores ameaçam o fiel que se apoia num texto revelado. O primeiro é o tradicionalismo. Os “ judeus” do relato têm certa razão de agarrar-se à tradição da Lei; eles erram ao fechá-la num sistema que não deixa mais espaço ás aberturas que ela mesma contém, nem a Deus, o vivente, que renova sem cessar as leituras que o homem faz da Sagrada Escritura. Eles preferem a letra bem estabelecida ao espírito que nem sempre predomina. Jesus falava de “palavra” e de “ensinamento”; eles se referem às santas Letras, da qual se consideram os depositários: Deus exprimiu-se num texto num texto definitivo. Assim encarado, este não arrisca sufocar a Palavra viva? E eis o tradicionalista resvalando pelo declive do integrismo.
       Um segundo perigo ameaça aquele que, conscientemente, se interessa por levar à prática os preceitos de sua Igreja. Para apreciar a qualidade de um comportamento, ele julga a partir da observação ou da transgressão de uma Lei cujo sentido foi fixado numa prática  precisa, que não admite exceção. Considerando-se fiel a estes mandamentos, o praticante arrisca julgar o comportamento dos outros sob o prisma de sua ótica estreita. Como poderia ele abrir-se, então, ao apelo bem mais abrangente que lhe dirigem os “incrédulos” e os abandonados da terra?
       Na origem destas atitudes deformadas está certa concepção da Lei. A Lei vale na medida em que mostra a vontade de Deus e é o caminho da Palavra viva. Se o decálogo não convida ao diálogo, ele se torna um simples catálogo, colete que pode fazer a pessoa manter-se ereta, mas que paralisa o mensageiro de Deus. Jesus chama todo homem, não a afastar a Lei, mas a ouvir Deus que fala através dela. Enquanto S. Paulo se empenha em mostrar qual é o verdadeiro cristão, João provoca seu leitor para tomar consciência de qual é o verdadeiro judeu, aquele põe em prática as riquezas da Lei.
  

NOTAS DE ESPIRITUALIDADE PRESBITERAL



 Jesus é o bom Pastor

Paolo Cugini


Primeira meditação

1. Em primeiro lugar é preciso salientar que existe somente um bom pastor, ou seja, Jesus. Isso quer dizer que bispos e padres são pastores por participação do único pastor que é Cristo. Somos pastores, por assim dizer, em sacramento. Somos instrumentos de Cristo: através da nossa atividade pastoral deveria se manifestar a bondade do pastoreio de Cristo. È uma grandíssima responsabilidade. È nessa altura que podemos pensar ao sentido do sacramento que recebemos. Podemos, então, nos perguntar, qual é a ação do Espírito sobre de nós? Quais são os sentimentos, os sinais de Cristo Bom Pastor que o Espírito Santo reproduz, ao longo dos anos na nossa humanidade?

2. “O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas”. Jesus pastoreou o seu rebanho doando a vida pelas suas ovelhas. Em poucos versículos (11,15,17) esta idéia é repetida três vezes, quer dizer que é bem importante. O jeito de Jesus pastorear o seu rebanho foi de entregar a vida pelas suas ovelhas. Este é o marco característico de Jesus. Quer dizer dar a vida pelas ovelhas? Antes de tudo significa gratuidade, não buscar o próprio interesse, mas dos outros.  A ação de Jesus para com as suas ovelhas foi aquela de buscar o interesse delas, e não o seu. O pastor pra ser bom, deve ter esta atitude: de forma contraria vira mercenário e, assim, não é mais um bom pastor, mas sim ruim. Jesus doou a sua mesma vida pelas ovelhas protegendo-as dos lobos ferozes que, neste caso eram os fariseus, os escribas e os chefes da lei que questionavam continuamente Jesus e os seus discípulos. Jesus protegia as suas ovelhas rezando pra elas (Jo 17), pra elas conseguirem a cumprir a própria missão. Jesus protegeu as ovelhas também explicando pra elas os mistérios do Reino de Deus. Cada vez que Jesus contava uma parábola, depois a só chamava os discípulos para explicar o sentido profundo daquilo que tinha colocado no meio da multidão (Mc 4). Jesus protegia as suas ovelhas não com a força e a violência, mas com o amor, o dialogo a compreensão.
Outra reflexão que podemos realizar é esta. Pensando atentamente sobre aquilo que Jesus coloca como atitude fundamental do seu pastoreio das ovelhas, ou seja, o doar a vida pra elas, dá pra entender que para levar pra frente uma atitude deste jeito é preciso uma concentração total no projeto que se consegue alcançar. Vou me explicar. Uma doação gratuita exige uma motivação enorme. Ninguém faz nada de graça. A característica do pecado que se manifesta no egoísmo humano é querer se apoderar de tudo e de todos. Por isso manipula as pessoas para conseguir os próprios objetivos.  Jesus, pelo contrario, ao longo da sua vida, fica sempre com o objetivo da sua existência bem claro. Também nas horas terríveis da sua morte, Jesus não vacilou, mas, pelo contrario, soube ficar firme e usar palavras e misericórdia para com os seus algozes. Como se consegue tal força? Sem duvida mantendo viva a motivação que anima a própria vocação através do dialogo com Deus, a oração. É aquilo que Jesus fazia.
Jesus pastoreou os seus discípulos mostrando pra eles o sentido da historia, as artimanhas do poder, a hipocrisia o poder religioso.
Jesus pastoreou o seu rebanho se despojando e tudo, servindo as suas ovelhas e não querendo que elas o servissem (cf. Jo 13).
Jesus doou a vida pelas suas ovelhas em cada momento da sua existência, em cada palavra, em cada ato. A vida de Jesus, de fato, foi totalizante. A sua experiência religiosa não foi parcial, feita de momentos. Em Jesus não se percebe a distinção entre sagro e profano: tudo é de Deus e tudo deve ser oferecido a Ele. Em tudo aquilo que Jesus fazia e dizia era implicitamanete presente o Pai, também porque Jesus fazia questão de dizer que a única coisa que buscava era exatamente isso: a vontade de seu Pai.
Morrer pelas suas ovelhas exige, então, umas motivações enormes, que deve ser alimentada e atualizada toda hora, pra não acabar esgotado. Colocando esta reflexão na luz do texto de Isaias 53, o famoso canto do servo onde está escrito que “Javé quis esmagá-lo” (Is 53,7), percebe-se que aquilo que aconteceu na morte humilhante de Jesus parece ser como o método que Deus escolheu para salvar a humanidade. Sendo que o homem mergulhado do pecado não entende mais nada e, além do mais tem a faculdade da vontade totalmente incapaz de obedecer aos comandos de Deus, o único recurso para isso parece ser a morte humilhante e violente do justo inocente.
Se isso é verdade, também o pastor que participa da bondade do único Bom Pastor, deve ser disponível a ser esmagado pelo egoísmo humano personificado nos detentores do poder político de forma corrupta. Este é um elemento importante daquilo que podemos chamar de espiritualidade do padre diocesano e, em geral, de qualquer consagrado a Deus. A unção sacramental produz em nós a capacidade de agüentar o pecado do mundo que, em algum casos, pode chegar até as extremas conseqüências da morte violenta, os seja, o martírio. São Paulo, neste mesmo sentido, nos lembra que, no Batismo, fomos sepultados na morte com Jesus e, então que no Batismo somos sacramentalmente mortos. A vida sacerdotal leva a seu Maximo desenvolvimento esta morte sacramental, produzindo no sacerdote a capacidade de agüentar o mal do mundo.

3. “Conhece as suas ovelhas e as suas ovelhas reconhecem a sua voz”. É a prioridade da relação sobre o conteúdo. Quer dizer que, de uma certa forma a relação precede o conteúdo. É de fato, difícil passar um conteúdo tão profundo e autentico como o evangelho, sem tentar de tecer um relacionamento com as pessoas que se quer atingir com este conteúdo. É a este nível que acho importante resgatar o sentido original da Eucaristia. De fato o que foi a ultima ceia? Foi o ato final de uma historia de amizade, de amor entre Jesus e os seus discípulos. Desejando dar continuidade a este relacionamento, Jesus inventou um instrumento para que os discípulos pudessem ficar com Ele para sempre, também depois da morte. Alem do mais, entregando o pão e o vinho, Jesus profetizou não apenas a sua morte, mas revelou o sentido da mesma. Dizendo “este é o meu corpo, este é o meu sangue” Jesus profetizou a sua morte, os acontecimentos da sexta feira. “Que é dato por vocês”: Jesus quis dizer que ele não estava simplesmente morrendo por causa da maldade dos chefes da lei, mas a sua morte era o ato conclusivo de uma vida vivida como Filho obediente ao Pai, que não recuava perante ninguém, nem a morte. Em Jesus se manifesta o sentido profundo do amor de Deus, que não é um conceito abstrato, filosófico. Amor é doação total de si mesmo: é isso que enxergamos em Jesus e é também isso que os discípulos viram em Jesus, na sua firmeza perante os algozes.
Se tudo isso tem sentido quer dizer que a Eucaristia não é apenas um rito que deve ser celebrado de qualquer maneira. O problema que, como padre, devo sempre colocar na minha frente deveria ser este: como posso criar laços de amizade com as pessoas que participam da missa? De que forma preencher de sentido humano e espiritual a celebração eucarística para que não se torne um rito de lembranças do passado?
É claro que num contexto como o nosso da Bahia, aonde tem paróquias com mais de 50 o até 100 comunidade, esta idéia deve ser repensada, incolturada. Talvez, neste contexto, poderia se privilegiar o relacionamento com as lideranças, com as pessoas que pelo menos tem uma tarefa nas comunidades.

4. Tenho ainda muitas ovelhas que não estão no redil”. O ultimo sentimento que o Espírito Santo deveria formar na humanidade dos padres é tensão missionária. Esta tensão, porém, não pode parar apenas na busca das pessoas batizadas que não freqüentam a Igreja, mas ir além. Sobretudo neste mundo pós-moderno que muda rapidamente e que relativiza qualquer elemento valorial seja moral que religioso, torna-se urgente aprender a inventar de forma criativa projetos que possam alcançar aquelas pessoas de boa vontade que na manifestam nenhum interesse pelas coisas de Deus. É a este nível que é possível elaborar projetos de cunho cultural, político, artístico. Importante é não se fossilizar no simples ritualismo, na desobriga: isso seria a morte do espírito missionário. O fruto da oração sacerdotal deveria ser também isso. Ou seja, produzir nas nossas almas o desejo corriqueiro que tudo mundo se salve e, para isso, a vontade criativa de elaborar projetos para que, de qualquer maneira, a humanidade se encontre com Deus.

5. Jesus se identifica totalmente com o seu ministério: este é o sentido profundo da sua identidade. Nele não encontramos nenhuma separação entre divino e humano. Os seus atos humanos desvendem a sua origem divina e, ao mesmo tempo a sua natureza divina transparece nos seus gestos, atos e palavras. \alem do mais em Jesus não encontramos também nenhuma separação entre sagrado e profano. Jesus veio anunciar o Reino de Deus, mas aquilo que chama atenção é que raramente o encontramos na sinagoga mas, sim, nas praças, ruas, casas.