Jesus é o bom Pastor
Paolo Cugini
Primeira meditação
1. Em primeiro lugar é preciso salientar que existe somente um bom
pastor, ou seja, Jesus. Isso quer dizer que bispos e padres são pastores por
participação do único pastor que é Cristo. Somos pastores, por assim dizer, em sacramento. Somos
instrumentos de Cristo: através da nossa atividade pastoral deveria se
manifestar a bondade do pastoreio de Cristo. È uma grandíssima
responsabilidade. È nessa altura que podemos pensar ao sentido do sacramento
que recebemos. Podemos, então, nos perguntar, qual é a ação do Espírito sobre
de nós? Quais são os sentimentos, os sinais de Cristo Bom Pastor que o Espírito
Santo reproduz, ao longo dos anos na nossa humanidade?
2. “O bom pastor dá a sua vida
pelas ovelhas”. Jesus pastoreou o seu rebanho doando a vida pelas suas
ovelhas. Em poucos versículos (11,15,17)
esta idéia é repetida três vezes, quer dizer que é bem importante. O jeito de
Jesus pastorear o seu rebanho foi de entregar a vida pelas suas ovelhas. Este é
o marco característico de Jesus. Quer dizer dar a vida pelas ovelhas? Antes de
tudo significa gratuidade, não buscar o próprio interesse, mas dos outros. A ação de Jesus para com as suas ovelhas foi
aquela de buscar o interesse delas, e não o seu. O pastor pra ser bom, deve ter
esta atitude: de forma contraria vira mercenário e, assim, não é mais um bom
pastor, mas sim ruim. Jesus doou a sua mesma vida pelas ovelhas protegendo-as
dos lobos ferozes que, neste caso eram os fariseus, os escribas e os chefes da
lei que questionavam continuamente Jesus e os seus discípulos. Jesus protegia
as suas ovelhas rezando pra elas (Jo 17),
pra elas conseguirem a cumprir a própria missão. Jesus protegeu as ovelhas
também explicando pra elas os mistérios do Reino de Deus. Cada vez que Jesus
contava uma parábola, depois a só chamava os discípulos para explicar o sentido
profundo daquilo que tinha colocado no meio da multidão (Mc 4). Jesus protegia as suas ovelhas não com a força e a
violência, mas com o amor, o dialogo a compreensão.
Outra reflexão que podemos realizar é esta. Pensando atentamente
sobre aquilo que Jesus coloca como atitude fundamental do seu pastoreio das
ovelhas, ou seja, o doar a vida pra elas, dá pra entender que para levar pra
frente uma atitude deste jeito é preciso uma concentração total no projeto que
se consegue alcançar. Vou me explicar. Uma doação gratuita exige uma motivação
enorme. Ninguém faz nada de graça. A característica do pecado que se manifesta
no egoísmo humano é querer se apoderar de tudo e de todos. Por isso manipula as
pessoas para conseguir os próprios objetivos. Jesus, pelo contrario, ao longo da sua vida,
fica sempre com o objetivo da sua existência bem claro. Também nas horas
terríveis da sua morte, Jesus não vacilou, mas, pelo contrario, soube ficar
firme e usar palavras e misericórdia para com os seus algozes. Como se consegue
tal força? Sem duvida mantendo viva a motivação que anima a própria vocação
através do dialogo com Deus, a oração. É aquilo que Jesus fazia.
Jesus pastoreou os seus discípulos mostrando pra eles o sentido da
historia, as artimanhas do poder, a hipocrisia o poder religioso.
Jesus pastoreou o seu rebanho se despojando e tudo, servindo as suas
ovelhas e não querendo que elas o servissem (cf. Jo 13).
Jesus doou a vida pelas suas ovelhas em cada momento da sua
existência, em cada palavra, em cada ato. A vida de Jesus, de fato, foi
totalizante. A sua experiência religiosa não foi parcial, feita de momentos. Em
Jesus não se percebe a distinção entre sagro e profano: tudo é de Deus e tudo
deve ser oferecido a Ele. Em tudo aquilo que Jesus fazia e dizia era implicitamanete
presente o Pai, também porque Jesus fazia questão de dizer que a única coisa
que buscava era exatamente isso: a vontade de seu Pai.
Morrer pelas suas ovelhas exige, então, umas motivações enormes, que
deve ser alimentada e atualizada toda hora, pra não acabar esgotado. Colocando
esta reflexão na luz do texto de Isaias 53, o famoso canto do servo onde está
escrito que “Javé quis esmagá-lo” (Is
53,7), percebe-se que aquilo que aconteceu na morte humilhante de Jesus parece
ser como o método que Deus escolheu para salvar a humanidade. Sendo que o homem
mergulhado do pecado não entende mais nada e, além do mais tem a faculdade da
vontade totalmente incapaz de obedecer aos comandos de Deus, o único recurso
para isso parece ser a morte humilhante e violente do justo inocente.
Se isso é verdade, também o pastor que participa da bondade do único
Bom Pastor, deve ser disponível a ser esmagado pelo egoísmo humano
personificado nos detentores do poder político de forma corrupta. Este é um
elemento importante daquilo que podemos chamar de espiritualidade do padre
diocesano e, em geral, de qualquer consagrado a Deus. A unção sacramental
produz em nós a capacidade de agüentar o pecado do mundo que, em algum casos,
pode chegar até as extremas conseqüências da morte violenta, os seja, o
martírio. São Paulo, neste mesmo sentido, nos lembra que, no Batismo, fomos
sepultados na morte com Jesus e, então que no Batismo somos sacramentalmente
mortos. A vida sacerdotal leva a seu Maximo desenvolvimento esta morte sacramental,
produzindo no sacerdote a capacidade de agüentar o mal do mundo.
3. “Conhece as suas ovelhas e as
suas ovelhas reconhecem a sua voz”. É a prioridade da relação sobre o
conteúdo. Quer dizer que, de uma certa forma a relação precede o conteúdo. É de
fato, difícil passar um conteúdo tão profundo e autentico como o evangelho, sem
tentar de tecer um relacionamento com as pessoas que se quer atingir com este
conteúdo. É a este nível que acho importante resgatar o sentido original da
Eucaristia. De fato o que foi a ultima ceia? Foi o ato final de uma historia de
amizade, de amor entre Jesus e os seus discípulos. Desejando dar continuidade a
este relacionamento, Jesus inventou um instrumento para que os discípulos
pudessem ficar com Ele para sempre, também depois da morte. Alem do mais,
entregando o pão e o vinho, Jesus profetizou não apenas a sua morte, mas
revelou o sentido da mesma. Dizendo “este
é o meu corpo, este é o meu sangue” Jesus profetizou a sua morte, os
acontecimentos da sexta feira. “Que é
dato por vocês”: Jesus quis dizer que ele não estava simplesmente morrendo
por causa da maldade dos chefes da lei, mas a sua morte era o ato conclusivo de
uma vida vivida como Filho obediente ao Pai, que não recuava perante ninguém,
nem a morte. Em Jesus se manifesta o sentido profundo do amor de Deus, que não
é um conceito abstrato, filosófico. Amor é doação total de si mesmo: é isso que
enxergamos em Jesus e é também isso que os discípulos viram em Jesus, na sua
firmeza perante os algozes.
Se tudo isso tem sentido quer dizer que a Eucaristia não é apenas um
rito que deve ser celebrado de qualquer maneira. O problema que, como padre,
devo sempre colocar na minha frente deveria ser este: como posso criar laços de
amizade com as pessoas que participam da missa? De que forma preencher de
sentido humano e espiritual a celebração eucarística para que não se torne um
rito de lembranças do passado?
É claro que num contexto como o nosso da Bahia, aonde tem paróquias
com mais de 50 o até 100 comunidade, esta idéia deve ser repensada,
incolturada. Talvez, neste contexto, poderia se privilegiar o relacionamento
com as lideranças, com as pessoas que pelo menos tem uma tarefa nas
comunidades.
4. “Tenho ainda muitas ovelhas
que não estão no redil”. O ultimo sentimento que o Espírito Santo deveria
formar na humanidade dos padres é tensão missionária. Esta tensão, porém, não
pode parar apenas na busca das pessoas batizadas que não freqüentam a Igreja,
mas ir além. Sobretudo neste mundo pós-moderno que muda rapidamente e que relativiza
qualquer elemento valorial seja moral que religioso, torna-se urgente aprender
a inventar de forma criativa projetos que possam alcançar aquelas pessoas de
boa vontade que na manifestam nenhum interesse pelas coisas de Deus. É a este
nível que é possível elaborar projetos de cunho cultural, político, artístico.
Importante é não se fossilizar no simples ritualismo, na desobriga: isso seria
a morte do espírito missionário. O fruto da oração sacerdotal deveria ser
também isso. Ou seja, produzir nas nossas almas o desejo corriqueiro que tudo
mundo se salve e, para isso, a vontade criativa de elaborar projetos para que,
de qualquer maneira, a humanidade se encontre com Deus.
5. Jesus se identifica totalmente com o seu ministério: este é o
sentido profundo da sua identidade. Nele não encontramos nenhuma separação
entre divino e humano. Os seus atos humanos desvendem a sua origem divina e, ao
mesmo tempo a sua natureza divina transparece nos seus gestos, atos e palavras.
\alem do mais em Jesus não encontramos também nenhuma separação entre sagrado e
profano. Jesus veio anunciar o Reino de Deus, mas aquilo que chama atenção é
que raramente o encontramos na sinagoga mas, sim, nas praças, ruas, casas.
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