giovedì 29 febbraio 2024

TERCEIRO DOMINGO DA QUARESMA/B

 




 

Paulo Cugini

 

No Caminho que a liturgia nos propõe neste tempo de Quaresma, caminho no qual somos convidados a dar espaço ao Evangelho e à sua proposta de amor e de justiça, no terceiro domingo somos convidados a verificar a nossa relação com a religião. De que religião viemos? Esta é a pergunta que a liturgia atual parece nos fazer. Não só isso, mas ao mesmo tempo que nos questionamos sobre o Deus em que acreditamos, também somos chamados a avaliar a nossa forma de estar no mundo, a compreender que relação temos com a criação. 

“Tirem daqui estas coisas e não façam da casa de meu Pai um mercado” (Jo 2, 16).

Jesus mostra-nos que o rosto de Deus é o rosto do Pai e, por isso, há proximidade. Teria gostado de encontrar no templo um ambiente de proximidade ao Pai, um ambiente de relação filial, e em vez disso encontra um mercado com comerciantes, sinal de um processo de degradação que o templo viveu, a ponto de não mesmo percebendo isso. Este é, sem dúvida, um aspecto do problema. Quando se perde o contato com o conteúdo da revelação, a matéria vai assimilando e incorporando progressivamente também o que é espiritual e, neste caso, a vida do templo, a ponto de levar a pensar que o templo se identifica com o mercado, com o negócio. Talvez este seja um dos danos mais graves que a vida religiosa, desligada das suas origens, pode causar no coração das pessoas, perdendo de vista a finalidade da relação com o Pai. Em Jesus, o Pai aproximou-se de cada pessoa e, consequentemente, já não há necessidade de oferecer sacrifícios ou de fazer sacrifícios (os famosos pequenos sacrifícios!), mas de seguir o seu exemplo, entregando gratuitamente a nossa vida aos nossos irmãos e a as irmãs que encontramos, especialmente as mais frágeis e as excluídas da religião. Ao fazer morada entre nós (Jo 1,14) Jesus inicia o processo de dessacralização da religião, mostrando que a partir de agora tudo é sagrado, porque tudo foi criado pelo Pai, que deseja uma relação de proximidade com Ele Os ritos e liturgias deveria, portanto, exprimir o sinal desta proximidade e, ao mesmo tempo, demonstrar um novo modo de estar no mundo, não mais marcado pelos jogos de interesses, mas pelo amor gratuito, pelo serviço desinteressado.

“Ele falou do templo do seu corpo” (Jo 2,21).

É difícil compreender a profundidade das palavras de Jesus, sobretudo porque surgem no contexto de uma cultura e de uma religião que durante séculos desprezou o corpo, considerando-o um obstáculo à vida espiritual, por ser sede de paixões, emoções, o que pode distrair quem busca a intimidade com Deus. Jesus inverte completamente a perspectiva ao afirmar que o corpo não só não impede o encontro com Deus, mas o facilita, porque o corpo é o santuário do Espírito. Relegar a possibilidade de encontro com Deus a um único lugar fechado feito de pedras significa limitar severamente o encontro das pessoas com Deus e abrir a porta para o controle incondicional de alguém sobre a esfera do divino. Até Paulo, na sua carta aos Coríntios, chega ao ponto de afirmar que: “Não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo que está em vós?” (1 Cor 6, 19). Existem contaminações culturais ou religiosas que, à distância, são avaliadas como positivas, porque abrem a discussão para horizontes novos e inexplorados; e há contaminações que são nocivas, porque desfiguram a mensagem evangélica, inserindo conteúdos negativos numa mensagem puramente positiva. Um desses encontros que prejudicou a proposta do Evangelho diz respeito à perspectiva antropológica do platonismo, que se infiltrou no cristianismo que, sem pensar muito, desenvolveu ao longo dos séculos seguintes uma visão negativa do corpo e da sexualidade totalmente estranha à perspectiva aberta por Jesus: O corpo como templo do Espírito significa a máxima valorização da vida pessoal e comunitária, porque é com o corpo que nos relacionamos com os outros, com a natureza, com o cosmos. É nesta linha que é possível desenvolver uma espiritualidade positiva da criação, da harmonia do homem e da mulher com a natureza circundante, aspectos raramente desenvolvidos pela espiritualidade católica. Neste tempo de Quaresma somos, portanto, chamados a avaliar não só a nossa relação com a criação, mas também e sobretudo no contexto sócio-político em que vivemos, o nosso contributo para a criação de um mundo saudável, atento à natureza, respeitoso da todos os aspectos da vida, colaboradores de uma construção harmoniosa da criação em que tudo se relaciona com tudo.

 

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