sabato 13 aprile 2019

HOMILIAS DO TRIDUO PASCAL







QUINTA FEIRA SANTA/C
(Ex 12, 1-8.11-14; Sal 115; 1 Cor 11,23-26; Jo 13,1-15)

Paolo Cugini

1. Com a celebração da quinta feira Santa a Igreja entra no tríduo litúrgico chamado tríduo pascal. Nestes três dias somos chamados a refletir sobre o âmago da nossa fé, ou seja, sobre o mistério da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Reflexão importante porque também nós, através dos sacramentos da Igreja, fazemos parte deste grande mistério de salvação. Acompanhando a liturgia do tríduo pascal, a Igreja nos permite de regressar na origem da nossa caminhada, para podermos avaliar se a nossa maneira de viver os ritos da fé é conforme ao original, ou seja, á idéia que originou estes ritos. De fato, hoje a Igreja lembra a instituição da Eucaristia e do sacerdócio. Amanhã lembraremos a morte de Jesus, ou seja, a memória do seu amor infinito que recebemos sacramentalmente através do Espírito Santo. Sábado à noite, na vigília pascal celebraremos o mistério da Ressurreição de Jesus, considerada a noite mais importante, a mãe de todas as vigílias (santo Agostinho). Sabemos que era exatamente nesta noite que, na Igreja primitiva, eram conferidos os sacramentos da iniciação cristã: Batismo, Crisma e Eucaristia.

2. Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1).
Porque Jesus instituiu a Eucaristia? A resposta a encontramos neste versículo do Evangelho de João. Jesus proclamou o Reino de Deus, que é um reino de amor e de paz, vivendo ante de mais nada este amor com os seus discípulos. Nesta maneira, a vivencia antecipava e, de uma certa foram, anunciava a mesma Palavra. O conteúdo central do Evangelho é o amor, ou seja, a possibilidade de viver relacionamentos não ditados dos sentimentos negativos do ódio, inveja, ciúme que estragam as relações entre homens e mulheres, mas relacionamentos novos ditados pela abertura e confiança no outro, pela estima recíproca. Jesus veio anunciar a possibilidade real de uma humanidade nova e foi por isso que morreu. Humanidade nova quer dizer que, o centro da vida não sou mais eu, com os meus interesses particulares, a satisfação do meu egoísmo, mas os irmãos e as irmãs que o Senhor coloca no meu caminho, perto de mim. Isso é já um grande ensinamento que deveria nos levar a rever a nossa maneira de nos aproximarmos aos sacramentos. De fato, a Eucaristia não é tanto o Cristo que entra no meu coração, mas o Cristo que me coloca dentro a vida da Igreja, do Seu corpo místico, a nova humanidade. E é exatamente dentro esta nova humanidade que sou chamado a viver a verdade dos sacramentos que recebi. A vida sacramental é vida nova, é o caminho apontado por Deus em Cristo de sair do egoísmo, da vida autocentrada, narcisista fruto do pecado, para a vida verdadeira que é abertura, relação pacifica com os irmãos e as irmãs. Isso quer dizer que, toda vez que encrencamos, brigamos, não damos o braço a torcer, não queremos perdoar estamos negando o nosso batismo, negando a Eucaristia, pois esta é um convite á comunhão. O primeiro profetismo que a Igreja é chamada a viver é a comunhão entre os irmãos e as irmãs, que comungam o mesmo Corpo de Cristo. É desta forma, de fato, que a Igreja anuncia a verdade daquilo que celebra sacramentalmente.  A vida de Jesus foi uma linda e grande história de amor que não desistiu nem perante a morte. Aliás, a morte de Jesus, foi o coroamento desta vida de amor, de doação total, de entrega: esta é vida, a vida verdadeira, que todos nós somos chamados realizar. Perante este imenso amor de Deus para conosco, desmoronam todas as nossas briguinhas corriqueiras, as nossas incompreensões, o nosso orgulho desmedido que nos leva continuamente a nos colocarmos num pedestal para pudermos ver e sentir os outros de cima pra baixo. Pelo Contrario Jesus, com o seu gesto humilde de lavar os pés dos discípulos, mostrou o caminho que devemos percorrer. Caminho difícil, mas necessário. Ninguém deve cultivar em si estes sentimentos de superioridade, pois, em Cristo, nos tornamos irmão e irmãs e, então, perante Deus somos iguais. O verdadeiro cristão, que deixa agir o Espírito Santo dentro de si, não procura na vida demonstrar de ser o melhor, o tal, mas, pelo contrario, procura percorrer o mesmo caminho que Jesus percorreu, que é caminho da humildade, do abaixamento, do serviço.

3. Jesus, sabendo que o Pai tinha colocado tudo em suas mãos... começou a lavar os pés dos discípulos” (Jo 13, 3.5).
É um versículo impressionante e, ao mesmo tempo, revelador. No momento em que Jesus tem consciência que o Pai tinha colocado tudo em suas mãos, o que Ele faz com este poder? Pega uma toalha, uma bacia de água e começa lavar os pés dos seus discípulos. É esta a grande diferença entre Deus e o mundo. É este o estilo novo que a Eucaristia quer realizar entre nós. Todo o poder de Deus, Cristo o escondeu num gesto de humildade. Isso quer dizer que toda vez que servimos os nossos irmãos, irmãs com amor e dedicação, sem querer nos mostrar o sermos os melhores, ali nos experimentamos a gloria de Deus, o seu poder. Gloria e poder que não se encontram, então nos milagres, mas nos atos humildes da vida corriqueira. A santidade de Cristo, a sua divindade a encontramos neste ato humilde, no seu rebaixamento, nos seus gestos de amor, no seu se colocar aos pés da humanidade pecadora, sem nenhuma revanche.  É por isso que precisamos da Eucaristia, que não é apenas um rito, um preceito, mas um estilo de vida, aquele estilo que Deus em Cristo apontou por toda a humanidade. Precisamos da Eucaristia para nos tornarmos mais humanos, mais autênticos. Precisamos da Eucaristia para entendermos que o poder de Deus não está no dinheiro e no poder do mundo, mas na atenção aos irmãos e as irmãs que ele coloca ao nosso lado. Você pai de família, você mãe precisa da Eucaristia para encontrar Deus na dedicação total ao teu parceiro, aos teus filhos. Você filho, você filha precisa da Eucaristia para descobrir que toda a atenção e o respeito para os teus pais será aquilo que irá enriquecer a tua vida.

4. No Domingo somos convidados a celebrar da Eucaristia. Cabe a nós fazer deste ato litúrgico, não um puro e simples rito estéril, que não diz nada á nossa vida, mas um autentico instrumento de transformação da humanidade.  Que esta quinta feira santa posa revigorar a nossa consciência, para conseguirmos a realizar na vida aquilo que no rito celebramos.



 Sexta feira Santa C
Is 52,13-53,12; Sal 31; Hb 4, 14-16.5, 7-9; Jo 18, 1-19,42)

1. A liturgia da sexta feira santa introduz a Igreja no silencio da morte de Cristo. Não precisa, então, esbanjar palavras para comentar as leituras: é um evento que se explica por si mesmo. Tentaremos, assim, buscar nas leituras que ouvimos a resposta do problema que parece ainda hoje bastante enigmático, ou seja, a morte do justo. A final de conta, porque um homem justo come Jesus morreu? O que Ele fez de mal para merecer uma morte tão horrorosa e humilhante?

2. A primeira resposta a encontramos no texto de Isaias. “O Senhor quis macerá-lo com sofrimentos”. Isto quer dizer que a morte de Jesus não foi ao ocaso, mas perfeitamente dentro o plano do Pai. Que plano é este que prevê a morte violenta do Filho? Um plano que Jesus, não engoliu de forma fria, sem vontade quase que estivesse forçado. Pelo contrario, o texto do evangelho de João, que acabamos de ouvir disse que Jesus era “consciente de tudo aquilo que ia acontecer”. Pra fazer a vontade do Pai na nossa vida precisamos ser conscientes e isso pode acontecer somente quando existe um relacionamento de amor. Jesus realiza o projeto do Pai porque Ele é o Filho querido e pra Ele Deus é o Pai. Somente dentro este relacionamento filial é possível viver e fazer a vontade de Deus seja ela o que for.

3.Ele tomava sobre si nossas enfermidades e sofria”. (Is 53, 4).
É isso que o povo e também nós, pare que não entendemos. Cristo morreu por causa nossa, carregou as conseqüências dos nossos pecados. Foi uma morte vigária. Jesus se sacrificou voluntariamente por nós. Sacrificou a sua divindade, os seus projetos para nós. Por isso ficou sozinho na hora da morte porque tudo mundo pensava que Jesus teria salvado o mundo de uma forma diferente, talvez com exércitos, com a força, manifestando o seu poder. Cristo manifestou o seu poder na fraqueza, deixando se matar, atraindo na sua carne a raiva do mundo, se deixando massacrar do egoísmo dos homens. Perante um gesto tão grande é bom mesmo silenciar.

4. “Aprendeu o que significa obediência a Deus, por aquilo que Ele sofreu” (Hb 5, 8).
Se quisermos aprender a viver a nossa vida não como pessoas mimadas e caprichosas, que obedecem somente aos próprios instintos e caprichos, mas como pessoas adultas que seguem projetos elevados como é o projeto do Pai, a escola certa é o sofrimento. É isso que Jesus nos ensina na sua paixão. Enquanto o mundo faz de tudo pra fugir das situações de sofrimento, Jesus nos ensina que, toda vez que estamos sofrendo por causa do nosso batismo, é exatamente naquele momento que Deus nos oferece a grande oportunidade de amadurecer a nossa filiação ao Pai.  Tomamos, então, a ocasião desta paixão de Jesus para crescermos como filhos de Deus, aprendendo a encarar as perseguições da vida, as incompreensões, na certeza que aprenderemos á amar sempre mais a Deus como um Pai.



VIGILIA PASCAL

1. A liturgia da vigília pascal aconselha uma homilia breve. De fato, a liturgia é já bastante rica por sua conta que não precisa aumentar nada. Santo Agostinho considerava a Vigília pascal como a mãe de todas as vigílias que sintetiza a caminhada que cada cristão, junto com a Igreja, deve realizar. Começa fora da Igreja no escuro para simbolizar a situação de pecado em que a humanidade vive. O rito do fogo com o círio pascal aceso é sinal da luz de Cristo que veio para libertar a humanidade do pecado. Cristo é a nossa luz e o Espírito Santo que recebemos no Batismo de transformar a nossa vida em luz, para sermos também nós luz para o mundo. Entrando na Igreja atrás do círio pascal com as luzes que se acendem significa que a Igreja é chamada a espalhar no mundo a luz de Cristo. Devemos ser aquilo que o sacramento realizou em nós.

2. As leituras que ouvimos nesta noite lembram a grande caminhada que Deus realizou com o seu povo. É uma historia incrível de amor que passou através tantos momentos de desavenças, de traição, mas sempre deus cobriu com a sua imensa misericórdia. Nas horas mais tristes da sua historia, o povo de Israel faz a experiência da aproximação de Deus que, como um Pai, cuida dos seus filhos, sobretudo nas horas mais difíceis. A milenaria historia da salvação ensina também um outro detalhe importante. Deus cuida dos seus filhos e, em modo especial, dos mais fracos, pequenos e pobres. Por isso falamos do coração de mãe de Deus. Ele, de fato, age como uma mãe que tem um carinho tudo especial para com os seus filhos. Esta historia bonita chegou a seu pleno comprimento com Cristo, o Filho de Deus, que caminhou conosco anunciando o Reino de Deus e derramando o seu sangue para a salvação do mundo.

3. O rito do Batismo dos catecúmenos, realizado nesta vigília, conforme uma tradição antiguíssima da Igreja que remonta aos primeiros séculos do cristianismo, deve lembrar o nosso batismo na moldura de toda al liturgia que estamos celebrando. Através do batismo somos chamados a continuar a obra de Cristo, ou seja, espalhar o seu amor no mundo. Conforme aquilo que meditamos nestes dias, esta obra passa através de muitos sofrimentos, incompreensões, perseguições, mas no final que foi fiel e perseverante vencerá. O Batismo é fruto também da Ressurreição de Cristo: é sinal de vida nova, vida que deve ser transmitida em cada momento da nossa vida. Por isso nos interessamos com os problemas do povo. Por isso a Igreja entra na luta das conquistas dos direitos do povo, sobretudo dos mais pobres e injustiçados.

4. Pedimos a Deus que esta noite tão maravilhosa, possa produzir para nós a força para continuarmos o testemunho do ressuscitado, sabendo que este testemunho passa também através da cruz.



V° domingo de Quaresma. C




(Is 43, 16-21; Sal 126; Fil 3, 8-14; Jo 8, 1-11)


Paolo Cugini

1. Estamos chegando ao fim da caminhada de quaresma e a liturgia nos oferece a oportunidade de concretizar o sentido daquilo que meditamos ao longo destas semanas. Como já lembramos nestes domingos, o tempo de quaresma é um tempo propicio para aprimorarmos a nossa fé e, assim, tomarmos mais consciência da nossa responsabilidade com o Batismo que recebemos. A final de conta nos tornamos filhos e filhas de Deus, criaturas novas e, tudo isso, deveria ser bem evidente e manifesto nos nossos atos cotidianos, nas decisões que tomamos, nos projetos que queremos realizar. Não é um caso que, na Igreja primitiva, o tempo de quaresma era utilizado pela preparação final dos catecúmenos, ou seja, daquelas pessoas que, na noite de Páscoa, iriam receber o sacramento do Batismo.
 Estamos nos aproximando da grande celebração da Páscoa e a pergunta que deveria nos acompanhar ao longo desta semana é a seguinte: quer dizer que em Cristo nos tornamos criaturas novas? Como é que age no mundo uma pessoa que acolhe o Espírito de Jesus?

2. O Evangelho que acabamos de ouvir nos oferece bastante material para encontrarmos as respostas que procuramos. A cena que ouvimos é uma das mais emocionantes de todo o Evangelho: Jesus, uma mulher adultera e o povo. De um lado o povo enfurecido, que quer apedrejar uma mulher surpreendida em adultério. Do outro lado Jesus que fica em silencio. É sem duvida esta postura de Jesus que chama atenção. Porque este silencio? Talvez porque, perante a arrogância do homem, não sobra que o silencio. Jesus nos convida a silenciar os nossos julgamentos, os nossos pensamentos, as nossas condenações perante um pecador, uma pecadora, porque ela também é filho e filha de Deus. Silencio orante, porque perante o pecador não resta para Igreja outra coisa que esta: rezar.
  Moises na Lei mandou apedrejar tais mulheres”. É triste constatar como a Palavra de Deus às vezes é puxada para justificar os nossos atos horríveis, a nossa estupidez. Por isso Jesus cala. O que precisa dizer perante uma humanidade que não tem nenhuma vergonha de citar a Palavra de Deus pra cometer um crime? Precisa comentar alguma coisa?

3.Quem dentre vós não tiver pecado seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”.
 Jesus não veio para julgar e condenar ninguém. O tempo do julgamento e da condenação será somente no fim dos tempos (Jo 5, 21ss, Mt 25). Isso quer dizer que, até quando não chegará este dia, qualquer momento é importante pela nossa converso. Por isso Deus mandou o seu Filho Jesus no meio de nós, para falar conosco e despertar em nós a imagem de Deus perdida por causa do pecado. Escutando a Sua Palavra, todos deveriam sentir o desejo de abandonar os caminhos negativos e procurar a vida verdadeira, que somente Jesus pode nos oferecer. Para isso acontecer, precisamos entrar em nós mesmos, tomar consciência da nossa vida, da nossa situação. É isso que Jesus tenta fazer com aquela pergunta impressionante: “Quem não tiver pecado...”. E quem é que não tem? Quem é aquele homem e aquela mulher que não tem consciência das próprias faltas? Tudo mundo tem, só que para isso se tornar evidente, o homem deve ter a possibilidade de entrar em si mesmo, para se escutar. A pergunta que Jesus coloca, não julga ninguém, mas oferece a todos a possibilidade de entrar em si mesmo, captar a própria situação, que é uma situação de pecado, de miséria e, ninguém, nesta situação, tem o direito de julgar ninguém.
O Evangelho relata que, depois de Jesus ter colocado aquela pergunta, não ficou ninguém. A pergunta de Jesus surtiu o efeito esperado: ninguém atirou pedras na mulher. Deveria ser esta a postura da Igreja no mundo. Não uma Igreja que julga e condena, que atira pedras, mas uma Igreja que oferece a todos a possibilidades de entrar em si mesmos, para que cada um possa se encontrar a só com Deus e experimentar a sua grande misericórdia. É, de fato, no encontro pessoal com Deus, que a humanidade descobre o caminho de volta para o Pai.

4. “Eu também não te condeno. Podes ir, de agora em diante não peques mais”.
A mulher pecadora encontrou em Jesus uma possibilidade de vida. De certa forma, escapando da condenação à morte do povo, voltou a viver, ressuscitou. Os homens enxergavam na mulher a aparência de pecado e de morte, Jesus enxergou nela uma possibilidade de vida nova. Por isso Jesus não entrou em contato com a mulher com uma condenação, mas sim com palavras de misericórdia. Só a misericórdia permite ás pessoas de abrir o coração, de se disponibilizarem para caminhar atrás do Senhor. O Espírito Santo que recebemos no batismo, deveria formar em nós este olhar diferente, que não esbarra nas aparências superficiais, mas que consegue entrar na profundeza do coração humano, pra vislumbrar nele uma nova possibilidade de vida. É o pecado que fecha os nossos olhos. Quando ficamos escandalizados do pecado dos outros, é porque estamos vendo claramente aquilo que pode produzir o pecado que está em nós. Perante o pecador, Jesus exige silencio e oração. Silencio pra ficarmos constantemente alertados sobre o desastre que o nosso pecado pode provocar. Silencio como necessidade de um continuo estado de conversão. Na perspectiva do Evangelho, o pecado de um nosso irmão, de uma nossa irmã, deveria ser considerado como uma alerta para a nossa caminhada de fé. Perante o pecador, a única coisa que podemos fazer é a oração e oferecer espaços para o pecador se encontrar com Deus.

 5.  Se quisermos que se forme em nós o mesmo olhar puro de Jesus, precisamos modificar o nosso relacionamento com o nosso passado, os nossos sonhos, os nossos projetos. É disso que são Paulo, na segunda leitura de hoje, nos alerta. “Considero tudo como lixo, para ganhar Cristo e ser encontrado unido a ele” (Fil 3, 8).
 Se o pecado dos outros, sobretudo das pessoas mais próximas, nos irrita é porque amiúde atrapalha os nossos projetos. Para termos o olhar puro de Jesus, precisamos ser desprendidos de tudo, sobretudo de nós mesmos. È fácil ser desprendidos das coisas matérias: difícil é nos despojarmos do nosso homem velho, do nosso passado, daquilo que achamos importante na nossa vida. Ser cristão é reconhecer que a única coisa que vale a pena levar conosco na viagem da vida é Cristo: o resto é lixo!
É algo de novo que Deus que realizar conosco através de seu Filho Jesus: é isso que devemos enxergar! “Eu que eu farei coisas novas e que já estão surgindo: acaso não as reconheceis?” (Is 43, 19).
Este tempo de quaresma deveria nos ajudar a chegar á Páscoa com o coração totalmente desprendido de tudo, pra deixar a luz da ressurreição de Cristo entrar e nos conduzir aonde Deus quiser.




IV° domingo de Quaresma/C






(Josué 5,9-12; Sal 34; 2 Cor 5, 17-21; Lc 15, 1-3.11-32)


Paolo Cugini

1.Deixai-vos reconciliar com Deus” (2 Cor 5, 20): é este o grande grito que sai da liturgia deste IV° domingo de quaresma. É um grito importante, porque nos alerta do sentido profundo da nossa caminhada de fé e de tudo aquilo que estamos celebrando na liturgia. Afinal de conta Deus mandou seu Filho Jesus num mundo dividido das discórdias, das guerras, um mundo mergulhado no ódio e na violência. É esta mundo que Deus decidiu de salvar, antes de tudo transformando a mesma natureza do homem. Tudo isso é bem visível em Jesus, o protagonista principal desta grande obra de reconciliação da humanidade. Se é, então verdade que “em Cristo Deus nos reconciliou consigo, na imputando aos homens as suas faltas” (2 Cor 5,19), isso quer dizer que a Igreja, no seu jeito de ser e de viver, é chamada a ser nu mundo o sinal desta reconciliação que Cristo realizou na cruz. O tempo de quaresma que estamos vivendo quer, assim, nos alertar que esmola, oração e jejum junto com a vida espiritual visam aprimorar o nosso relacionamento para com os irmãos e as irmãs que Deus coloca no nosso caminho. Nada,então, de individualismo religioso, mas sim uma constante atenção e abertura para com todos e todas, sobretudo nos momentos de tensões, aonde os sentimentos negativos de raiva e ira são mais solicitados. È uma humanidade nova, renovada por dentro que em Cristo, Deus quis realizar. Humanidade nova que exige a nossa disponibilidade e livre adesão. É por isso que a liturgia da Palavra proclama no dia de hoje uma das mias lindas paginas do Evangelho, pagina que merece toda a nossa atenção e reflexão.

2. Um homem tinha dois filhos” (Lc15,11).
A nossa historia humana começa assim, no relacionamento familiar. Por isso Jesus utiliza esta imagem para revelar, de um lado a impressionante misericórdia de Deus e, do outro, o impressionante egoísmo humano.  O que estes dois filhos revelam de nós?
 O filho mais jovem, aquele que saiu de casa aponta para a nossa ousadia. Tem momento, na nossa vida, que o nosso coração fica tão fechado e nossa cabeça tão duraque não quer escutar nada e ninguém, mas só o próprio orgulho. E ali somos nós com a nossa mochila nas costas, os nossos projetos, querendo saber mais de que Deus, enfrentando o mundo equipados somente do nosso egoísmo. O evangelho nos diz que deste jeito não dá: o fracasso é assegurado. Precisamos comer a comida dos porcos para que caia a ficha: esses somos nós!

Existe toda uma humanidade que pra se dar conta dos próprios erros deve ir até o fundo do poço: não tem conselho que possa pará-la. Neste caminho a experiência de Deus passa através da descoberta que o Pai não se incomoda com o tamanho dos nossos erros, com o numero das nossas faltas. Descobrimos que aquilo que Deus quer é a nossa vida, o nosso bem; descobrimos que só nEle e com Ele conseguimos a felicidade e a paz: não precisamos fugir de Deus. Então porque fugimos? Talvez porque achamos que os nossos projetos são mais bonitos daqueles que Deus nos oferece. Achamos que o nosso projeto de vida, a nossa mesma idéia de vida, seja mais completa, mais atualizada, mais humana. Precisamos deparar com a nossa desumanidade, a nossa arrogante presunção, para cairmos em nós mesmo e descobrirmos que os nossos pensamentos, os nossos projetos sem Deus não valem absolutamente nada. Também porque a historia que acabamos de ouvir nos mostra claramente, que nos projetos que queremos alcançar não tem espaço pra ninguém, mas somente pra nós, para a completa satisfação dos nossos prazeres egoístas. O Evangelho nos mostra claramente o fracasso total dum projeto de vida como este.

3. A historia do outro filho nos alerta, porém, que não basta ficar em casa, perto de Deus pra viver em paz. Atualizando: não basta ser uma pessoa de Igreja, que todo o domingo vai à missa, que é engajado nos trabalhos da Igreja e tudo mais. Depende daquilo que tenho no coração. A atitude do filho mais velho, desvende uma situação bastante corriqueira, ou seja, Ele estava perto do Pai com um seu projeto bem claro, bem definido; não era o seu um serviço desinteressado, mas fortemente interessado. Isso quer dizer que, apesar da sua aproximação com o pai, não o conhecia, pois estranhou da sua atitude, de realizar um banquete paro o irmão que tinha gastado tudo com as prostitutas. Este episodio da parábola nos alerta sobre a nossa vivencia na Igreja e nos questiona: porque estamos indo á missa? Porque estamos freqüentando a Igreja? Qual é o nosso verdadeiro objetivo? Ainda mais: qual é, então, o sentido profundo da vida cristã?

4. A resposta a esta pergunta encontra-se na postura do Pai. Com o primeiro filho não quer saber de nada, de desculpas ou de outras palavras, mas somente o acolhe entre abraços e beijos. Com o secundo filho manifesta toda a sua grandeza dizendo que tudo aquilo que tem é dos seus filhos. Com um Pai deste jeito não dá pra segurar as lagrimas: dá mesmo vontade de chorar e de se jogar aos seus pés. É um Pai que nos ama e nos acolhe do jeito que somos: é o seu amor, a sua bondade, a sua imensa misericórdia que nos transforma. E tem mais um dato extremamente importante pra ser colocado: tudo isso é de graça. Ou seja, não são os nossos atos, as nossas boas ações que produzem a misericórdia do Pai: é exatamente o contrario! Se a um certo momento da nossa existência conseguimos perdoar os irmãos e as irmãs, amar os inimigos, partilhar com os mais pobres é porque acolhemos dentro de nós o imenso amor, a imensa e infinita misericórdia do Pai. Pois o amor não cobra nada: é gratuito! É isso que a eucaristia deveria produzir em nós: uma vida gratuita, atos e ações gratuitas. É esta gratuidade o sinal mais profundo e autentico do amor misericordioso do Pai na nossa vida. É por isso que devemos perdoar sempre: porque em Cristo, Deus nos reconciliou consigo mesmo e nos perdoou uma vez por todas. É por isso que devemos partilhar tudo aquilo que temos, porque em Cristo Deus partilho tudo aquilo que de mais precioso Ele tinha:o seu único Filho. É por isso que devemos amar: porque em Cristo Deu Pai nos amou de um jeito tão profundo que fez de nós os seu filhos e filhas. É finalmente por isso que devemos doar a nossa mesma vida para os irmão e as irmãs: porque Deus em Cristo doou a sua mesma vida para nós.

Que nesta quarta semana de quaresma saibamos transformar as nossas penitencia, esmolas e orações em vida superabundante de amor.