SOLENIDADE DE MARIA MÃE DE DEUS
1º de janeiro de 2024
Paolo Cugini
Que o Senhor te abençoe
e te guarde.
Que o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti
e tenha misericórdia de ti.
Que o Senhor volte sobre ti o seu rosto
e te conceda a paz.
Assim porão o meu nome sobre os israelitas e eu os abençoarei ” (Nm 6, 22-27).
A
Palavra de Deus acolhe a todos nós, no início do ano, com uma bênção especial,
a bênção que Deus indicou ao povo de Israel enquanto caminhava pelo deserto
para chegar à terra prometida. “Que o Senhor faça resplandecer o seu
rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti” (Lv 6, 24). Deus nos
abençoa fazendo brilhar sobre nós seu rosto: o que isso
significa? Significa que no dia a dia se vê ser abençoado por Deus porque
carregamos o rosto de Deus em nossos gestos e escolhas. Deus nos abençoa
durante este ano, garantindo que nossas escolhas, nossos gestos sejam uma
expressão de seu rosto. Por outras palavras: o rosto de Deus é
reconhecível ao mundo através do nosso estilo de vida que o comunica e,
manifestando-se através de nós, pode provocar caminhos de mudança. Esta
bênção, se pensarmos bem, está em harmonia com o que é dito na oração do Pai
Nosso: santificado seja o teu nome. O nome de Deus é
santificado quando vivemos segundo os ensinamentos do Filho, que encontramos no
Evangelho. Este è o nosso desejo para este novo ano.
“Irmãos,
quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher,
nascido sob a Lei, para resgatar os que estavam sob a Lei, para que
recebêssemos a adoção como filhos. E que sois filhos é provado pelo fato de que
Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama:
Aba! Pai! Portanto, você já não é mais escravo, mas filho; e, sendo
filho, também é herdeiro pela graça de Deus” (Gálatas 4:4-7).
Na
carta aos Gálatas, São Paulo recorda-nos o significado da vinda de Jesus que,
ao mesmo tempo, se torna para nós a indicação do caminho que devemos
percorrer. Este caminho está em linha com o que ouvimos durante a época do
Natal. Há uma relação que retorna e é aquela entre lei e
liberdade. Jesus nasceu de uma mulher (Maria) e sob a lei (Mosaica). O
primeiro nascimento conduz-nos a uma existência filial, a uma nova relação com
o Pai, enquanto a vida na lei nos subjuga, leva-nos a temer a Deus, a
temer. O caminho a percorrer este ano consiste em sair da relação de temor
de Deus para uma relação com o Pai como filhos, na qual vivemos em plena
liberdade. E este é o sentido do caminho de fé: tornar-nos pessoas livres
para amar as pessoas que encontramos. Por isso é necessário abandonar a
religião dos deveres e dos preceitos e seguir o caminho da liberdade traçado
por Jesus. Encontramos também este tipo de reflexão no Evangelho de hoje.
Naquele
tempo, [os pastores] foram sem demora e encontraram Maria, José e o menino
deitado na manjedoura. E quando o viram, relataram o que lhes foi dito
sobre a criança.
Todos os que ouviram ficaram maravilhados com o que os pastores lhes
contaram. Maria, por sua vez, guardou todas estas coisas, meditando-as no
seu coração. Os pastores voltaram glorificando e louvando a Deus por tudo
o que ouviram e viram, conforme lhes foi dito. Quando se completaram os
oito dias prescritos para a circuncisão, ele foi chamado de Jesus, como havia
sido chamado pelo anjo antes de ser concebido no ventre (Lc 2, 16-21) .
O
primeiro dia do novo ano abre com a boa notícia: aqueles que a religião
considera distantes, para Deus estão próximos. Os pastores, de fato, eram
considerados pessoas impuras pela sua atividade; eram considerados
marginalizados e por isso eram excluídos da religião e por isso não podiam
participar das funções do templo. Segundo a tradição, acreditava-se que,
quando o messias chegasse ele os puniria, como todos aqueles que vivem longe da
religião. Contudo, quando Deus se dirige a eles através do anjo, não os
castiga, mas envolve-os com a luz do seu amor. Desta forma, a doutrina
tradicional da retribuição é negada de forma sensacional: já não existe um Deus
que pune, mas um Deus que ama. Quando Deus encontra os pecadores, não os
castiga, mas envolve-os com o seu amor. O Filho de Deus nasceu na condição
deles. Não é o vingador que chegou, mas o salvador. Esta é a boa
notícia: hoje nasceu para nós o Salvador, Aquele que veio, envolve-nos com o
seu amor, com a sua misericórdia: é uma mensagem verdadeiramente maravilhosa e
surpreendente!
Por
parte de quem escuta há confusão: há algo de errado. Na doutrina, Deus
pune os pecadores: é o escândalo da misericórdia. O que a doutrina da
tradição ensinava desmorona, nomeadamente que Deus puniu os pecadores. O
anúncio dos pastores é chocante: eles estão rodeados pela luz do amor de Deus e
não pelo fogo das trevas, juntamente com todos os outros pecadores. É o
início de algo novo que chocará o mundo a ponto de condenar à morte quem
proclamou esta mudança. Eles esperavam a espada de Deus e em vez disso
chega o cordeiro sacrificado. Eles esperavam um vingador e em vez disso
chega a misericórdia infinita que envolve a todos. A mensagem é chocante e
Jesus a repetirá constantemente tanto com gestos marcantes de perdão quanto com
palavras que lembram os discursos dos profetas: quero misericórdia e
não sacrifícios (Mt 9,13).
Maria
também ficou surpreendida, porque o que ouviu não correspondia ao que a
tradição lhe tinha dado, mas ela tem uma atitude nova: procura o verdadeiro
sentido da novidade. Quando nos deparamos com coisas novas muitas vezes
temos reações duras, porque acolher coisas novas significa vontade de mudar, de
modificar a nossa vida, o nosso estilo. A novidade trazida por Jesus terá
dificuldade de entrar. Jesus, de facto, não seguirá os passos dos pais,
mas do Pai: é outra história.
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