DOMÉNICA XXIX/B
(Mc 10,35-45)
Paolo Cugini
A beleza do Evangelho está na
proposta de uma vida diferente daquelas que encontramos na vida cotidiana. Uma
proposta de simplicidade chocante, que nos remete de forma imediata e
disruptiva à essência da vida, ao que realmente vale e no qual basear as nossas
escolhas. O Evangelho obriga-nos a pensar, a entrar em nós mesmos, a fazer um
balanço da situação e, consequentemente, a fazer aquelas escolhas necessárias
que nos permitem saborear o sentido autêntico da vida. Afinal, Jesus veio nos
mostrar o caminho daquela vida sonhada por Deus quando nos criou à sua imagem e
semelhança. Reencontrar o caminho: este é o sentido da proposta cristã, que tem
a lâmpada, o ponto de referência, no Evangelho. Tudo isto é claramente visível
no evangelho de hoje, que agora tentaremos aprofundar.
“Eles se aproximaram... Ele os
chamou”.
São expressões que encontramos
no Evangelho de hoje que revelam a condição existencial dos discípulos. Embora
tenham ouvido e visto o Mestre trabalhando, embora vivam com Ele, estão
distantes, não tanto fisicamente, mas em termos de pensamento, como estilo de
vida. Não basta ler as palavras de Jesus, é preciso meditá-las, assimilá-las,
traduzi-las em escolhas concretas, para que o Evangelho mude a nossa
mentalidade, a nossa maneira de pensar. O discípulo não é aquele que habita
fisicamente um espaço, frequenta uma paróquia, uma comunidade, mas é aquele que
pensa e vive de uma maneira nova no que diz respeito ao contexto em que se
encontra. Que diversidade é essa?
«Concede-nos que nos sentemos,
na tua glória, um à tua direita e outro à tua esquerda».
O pedido de Tiago e João é a manifestação do que foi dito acima. Estão, de
fato, seguindo o Senhor, mas pensam com a mesma mentalidade que tinham antes de
seguir o Mestre. Que mentalidade é essa? É aquela moldada pelo instinto de
sobrevivência, que provoca escolhas de autopreservação, escolhas egoístas, que
não levam em conta as necessidades dos outros. São escolhas que provocam uma
lógica de opressão, de dominação sobre os outros, gerando uma sociedade de
pessoas desiguais, na qual prevalecem os violentos, aqueles que agem com
astúcia e engano. Este é o estilo de vida básico, que assimilam da cultura em
que vivemos. A proposta de Jesus está em outro nível.
Vocês sabem que aqueles
que são considerados governantes das nações as governam e seus líderes as
oprimem. No entanto, entre vós não deve ser assim.
Os discípulos do Senhor são
aqueles que aprendem um estilo novo, não mais determinado pelo instinto de
sobrevivência, pelo afastamento egoísta de si mesmo, mas pelo olhar constante
para os outros. “Não é assim entre vocês”: esta lembrança é fundamental,
porque fala de uma diferença que deve ser visível, aquela diferença que surge
da escuta atenta e internalizada da Palavra, que produz um estilo novo, porque
transforma a dinâmica instintiva da agressão e da opressão, nas relações
baseadas na busca do bem do próximo, no desejo de que todos se sintam bem,
acolhidos e amados. A opressão e a violência não podem estar presentes na
comunidade de irmãos e irmãs que responderam ao chamado do Senhor para
segui-lo: seria uma contradição.
mas quem quiser tornar-se
grande entre vocês será seu servo, e quem quiser ser o primeiro entre vocês
será escravo de todos.
Quem está cheio do amor de
Deus não precisa se engrandecer diante de ninguém. Quem percebeu que o maior
dom da vida é ser amado pelo Pai como filhos e filhas, não entra em lógicas que
possam prejudicar os outros. A arrogância, a ganância, a violência são sintomas
de um mal-estar interior, de uma insatisfação, de uma vida em que falta algo
profundo, uma direção. Grandes na comunidade de Jesus são aqueles que se
colocam ao serviço dos outros, aqueles que trabalham para que a paz reine na comunidade.
Na verdade, até o Filho do
homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate
por muitos.
Aqui está o fundamento de toda
a discussão: é o exemplo de Jesus, o seu estilo de vida, que os seus discípulos
são chamados a reproduzir de forma criativa. É precisamente porque Jesus veio
ao mundo e se colocou ao serviço dos seus irmãos e irmãs que somos chamados a
fazer o mesmo. No corpo de Cristo, do qual nos alimentamos, está todo o seu
amor, o seu inclinar-se para lavar os pés dos seus discípulos, a sua atenção
aos pobres e sofredores, a sua busca contínua pelos necessitados. É por isso
que nos alimentamos Dele: para viver dele e gostar Dele.
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