Isaías 52,7-10; Hebreus 1,1-6; João 1,1-18
Paolo Cugini
Para quem acompanhou o caminho proposto durante o Advento pelas leituras do dia, o Natal só pode ser uma mensagem de alegria. Realizou-se a esperança continuamente anunciada pela Palavra de um acontecimento capaz de encher de plenitude a humanidade: há uma grande alegria na terra! Façamos então nossas as palavras do profeta Isaías que diz: “Quão belos são sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz, do mensageiro da boa notícia que anuncia a salvação” (Is 52, 7). Quem viveu à espera de uma palavra capaz de dar resposta às suas angústias, um sentido ao seu caminho, uma plenitude ao seu vazio interior, não pode deixar de gritar de alegria ao perceber a realidade do acontecimento: existe um salvador!
Deus, que nos tempos antigos muitas vezes e de muitas maneiras falou aos pais pelos profetas, ultimamente nestes dias nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por quem fez também o mundo (Hb 1,1-2).
A carta aos hebreus nos lembra um fato sobre o qual trabalhamos no tempo do Advento, ou seja, que a salvação vem de longe, não é um fato improvisado, mas é fruto de um projeto, de um pensamento, de uma vontade que expressa liberdade e amor. Traduzido para uma linguagem compreensível, este discurso significa que a vinda do Salvador não tem nada de improvisado, não é um acontecimento que aconteceu por acaso, mas foi desejado, pensado, ou seja, é fruto do amor do Pai. Um primeiro significado do Natal nesta perspectiva significa que cada intervenção de libertação, cada ação que pretende produzir a salvação para os outros, requer todos estes ingredientes que o Pai colocou no acontecimento do Filho: amor, paciência, inteligência, liberdade.
No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. Ele estava, no princípio, com Deus: tudo foi feito por meio dele e sem ele nada do que existe se fez (Jo 1, 1-2).
Tudo isto se torna realidade na descrição que o Evangelho de João faz do mistério de Jesus. Se quem ouve estes versículos tiver um pouco de sensibilidade bíblica, perceberá imediatamente que João parece querer corrigir o Gênesis. Até porque o editor do livro de Gênesis não tinha a menor ideia de quem realmente era o messias. Na verdade, nenhum dos profetas do Antigo Testamento identificou alguma vez o futuro messias com o Filho de Deus, isto é, com o próprio Deus. Daniel esteve perto disso quando anunciou a vinda do Filho do Homem, ou seja, de alguém que ultrapassava o humano. É por isso que João, no prólogo do seu Evangelho, tendo conhecido de perto o Senhor em vida e depois morto e ressuscitado, modifica ligeiramente as primeiras palavras da página que narra a criação, dizendo que, na realidade, Deus não criou a terra, o céu e o mar assim, imediatamente, mas através do logos (verbo). Na verdade, tudo foi feito por meio dele. Além disso, Paulo já havia intuído isso quando na carta aos Colossenses afirma: Ele existe antes de todas as coisas e todas as coisas existem nele (Cl 1,17). Este discurso é muito importante porque nos faz compreender o que o Natal nos diz respeito. Com efeito, Aquele que veio ao mundo, Jesus Cristo, revela à humanidade, a cada homem e a cada mulher o significado profundo da sua identidade. Se tudo foi feito por meio dele e tudo subsiste Nele, dentro deste tudo está também a minha humanidade, a minha pessoa. Ou seja, é olhando para Ele que podemos compreender o sentido da nossa vida, podemos compreender porque viemos ao mundo e a direção do caminho que devemos seguir.
A sociedade já encheu o Natal de tantos significados que nem sempre é fácil recuperar o autêntico. Por isso a palavra de Deus vem em nosso auxílio para tirar todas as dúvidas. Cristo é a luz do mundo e só Nele há vida. Se quisermos viver uma vida plena, o caminho que somos convidados a percorrer é rumo a Ele.
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