lunedì 18 febbraio 2019

DOMINGO XXV/C





(Am 8, 4-7; Sal 113; 1 Tim 2, 1-8; Lc 16, 1-13)
Paolo Cugini

1. Sempre procuramos, pelo menos as pessoas que estão buscando uma vida de fé mais autentica e verdadeira, a essência da vida cristã, aquilo que mesmo deveria ser o foco, o eixo da caminhada, mas nos perdemos em mil riachos laterais sem nuca chegar ao rio. Isso é visível não apenas em nós, mas também em pessoas que há tempo estão no Caminho. Passamos o tempo inventando projetos, organizando eventos, ficando às vezes angustiados porque não saíram do jeito que a gente quis ou, pelo menos, tinha esperado. O tempo vai passando e nós ficando com um punhado de moscas nas mãos, nos questionando se a vida cristã é assim mesmo ou se deveria ser diferente. O grande perigo, nesta fase de angustia, que pode se protelar a vida toda, é ficar repetindo os mesmos erros, as mesmas situações. Quando a insegurança toma conta da gente, ficamos até com medo de pensar, de ousar algo de novo para não sermos criticados, julgados, dedados. Vivemos, assim, uma vida em defesa, sem élan nenhum, sem empolgação. E aqui vem o questionamento das leituras de hoje: o Espírito Santo que recebemos no Batismo e continuamos recebendo nos sacramentos, deve produzir esta vida segura, monótona, rotineira, ou tem algo a mais?

2. E o Senhor elogiou o administrador desonesto, porque ele agiu com esperteza. Com efeito, os filhos deste mundo são mais espertos dos filhos da luz” (Lc16, 8).
A parábola que Jesus narra no Evangelho de hoje termina com uma moral, que tão moral não parece. Porque será que Jesus elogia a esperteza do administrador desonesto? Além do mais, porque Jesus elogia uma pessoa desonesta: não é uma grande contradição perante tudo aquilo que ele vem pregando de amor, respeito e tudo mais? Na realidade, se prestarmos bem atenção às palavras de Jesus, Ele não elogia nem a desonestidade nem a esperteza, mas sim a criatividade do homem. De fato, o protagonista da Parábola, usou ao maximo a própria inteligência para se sair bem de uma situação que tinha tudo para ser ruim pra ele. Esta historia traz pra nós um grande ensinamento. O questionamento que Jesus traz por dentro da comunidade dos discípulos, entre os quais estamos hoje também nós, é este: o que estamos fazendo da Palavra de Jesus e do Seu Espírito Santo? O Espírito Santo em Jesus agiu de uma forma que progressivamente transformou toda a sua humanidade em amor, doação, partilha. Alem do mais, o Espírito em Jesus o levava a criar continuamente novas situações para que o reino de Deus fosse anunciado. O exemplo mais claro são as parábolas que ele inventava para chamar á atenção do povo e, assim, induzi-lo a pensar, refletir sobre a própria vida, se converter á Cristo. A verdade do Espírito Santo que Em Cristo agiu desta maneira e que Ele entregou pra nós em cima da cruz (cf. Jo 19, 30), não pode ser desperdiçado, mas deve gerar continuamente amor e, sobretudo, de uma forma criativa. O problema, então, é esse: porque somos tão resistentes á ação do Espírito Santo? O que em nós está bloqueando o Espírito Santo, impedindo que invente algo de novo? Porque somos tão passivos, renunciatarios e preguiçosos a ponto de prejudicar a obra criativa de Deus? Varias poderiam ser as respostas: vou apontar somente algumas.

Em primeiro lugar, aquilo que atrapalha a ação do Espírito Santo na nossa vida é o medo. Este medo se manifesta de muitas formas e maneiras: medo que o outro não goste de nós; medo de dizer algo que fere os outros; medo de não sermos aceitados. Ficamos trancados em nós mesmos para não correr o risco de ficarmos ofendidos, de sofrer por causa de uma magoa: a que ponto chega o nosso egoísmo, não é? E assim perdemos a ocasião de experimentarmos o prazer e a felicidade de uma vida diferente, uma vida de doação aos irmãos e as irmãs, uma vida fora da rotina corriqueira, mais criativa e dinâmica. É o dinamismo do Espírito que impulsiona a nossa vida a criar situações sempre nova para permitir a graça e Deus de moldar a humanidade através da nossa disponibilidade. É a força daquele mesmo Espírito que levava Jesus a enfrentar com coragem os poderosos do tempo, que deve agir em nós para não ficarmos calados perante a injustiça que encontramos no mundo, mas sim inventarmos novas situações para que o povo mais simples possa viver num mundo mais justo e solidário. Somos passivos porque amedrontados daquela diferença qualitativa que o Evangelho nos apresenta e que em Jesus se tornou bem visível. Tememos o julgamento dos amigos, dos colegas, até dos familiares e, por causa disso recuamos, voltamos atrás, preferindo a tristeza da vidinha medíocre da massa, á grande felicidade dos poucos discípulos de Cristo. O cara, deixa de frescura e segue a Jesus: tá?

3. Usai o dinheiro injusto para fazer amigos... Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16, 9.13b).
Como é que se manifesta esta novidade, esta criatividade que o Espírito deveria realiza em nós? O exemplo que Jesus traz é em referencia ao nosso relacionamento com o dinheiro. Estes últimos versículos do Evangelho de hoje expressam, de uma forma contundente a economia de Jesus, a teoria econômica que sai com força das paginas do Evangelho. O dinheiro é sempre injusto: esta é a sentença clamorosa e, ao mesmo tempo escandalosa de Jesus.  È claro que não é a qualquer dinheiro que Jesus se refere, o dinheiro que serve para comprar o pão, os remédios, e tudo aquilo que necessita para manter a nossa vida. O dinheiro é injusto quando é acumulado, guardado nos cofres dos bancos, porque este é todo dinheiro tirado do povo, que gera desigualdade e pobreza. Em um mundo ganancioso como é aquilo no qual vivemos, esta proposta de Jesus, que o Espírito Santo deveria produzir na nossa vida real, parece como uma verdadeira provocação. Na realidade, ou seja, na Verdade do Evangelho, esta é exatamente a diferença, a diversidade que o Evangelho, impulsionado pela ação do Espírito Santo, deveria realizar no meio de nós. Vida despojada porque Cristo se despojou de tudo para dar a nós o tudo de Deus.  Vida simples, despojada, porque é o amor de Deus que é derramado em nós pelo Espírito (cf. Rom 5,5) e isso nos basta, é suficiente para vivermos. Só o Espírito Santo pode impelir em nós idéias tão revolucionarias e ousadas como estas pra deixar de queixo aberto todos aqueles que vivem mergulhados no egoísmo do mundo. E nós, então, passamos fechando a boca deles, convidando-os a não desperdiçar a própria única vida se apegando aquilo que passa, mas se doando totalmente aos irmãos e as irmãs, sobretudo mais pobres, para conseguirmos um tesouro no céu, tesouro que sem duvida ninguém vai roubar (nem os políticos corruptos que andam nas nossas cidades).


DOMINGO XXIV/C





(Ex 32,7-11.13-14; Sal 51; 1 Tim 1, 12-17; Lc 15, 11-32)

Paolo Cugini
1.Um homem tinha dois filhos” (Lc 15,11).
Dizia um grande poeta e filosofo francês, Charles Péguy, que quando estas palavras são proclamadas, ninguém agüenta: toda a humanidade chora. A parábola do filho pródigo, que acabamos de ouvir, mexe com as nossas entranhas, com o nosso emocional, porque chega na profundeza da nossa interioridade desvendando a nossa mesma realidade, a verdade de quem somos nós mesmos. Em outras palavras o conteúdo da Parábola do filho pródigo contem uma verdade tão profunda e autentica que ninguém consegue se esconder: arrebenta a nossa alma. Por isso é importante lê-la em silencio, meditá-la no escondido, para saborear aquilo que tem a dizer para mim, pela nossa conversão e, sobretudo, pela autenticidade da nossa seqüela ao Senhor. Se analisarmos com atenção a parábola do filho pródigo tem dois ensinamentos fundamentais. De um lado revela algo sobre a condição humana e do outro a mesma parábola revela algo sobre Deus. OS dois filhos são o símbolo da humanidade: por isso é importante parar a nossa atenção sobre eles pra ver o que a postura deles tem pra nós ensinar.

2.O filho mais novo disse ao Pai: ‘Pai dá-me a parte de herança que me cabe’. E o Pai dividiu os bens entre eles” (Lc 15, 12).
Existe toda uma humanidade que sonha a realização da própria vida fora do alcance de Deus. São as pessoas que um dia levantam da cama decidindo que a vida é deles e a ninguém devem prestar conta. É aquela convicção que vem da juventude, da saúde, das condições materiais que nos levam a acreditar que somos os únicos senhores da nossa vida. Perante esta arrogância acho extremamente interessante a postura do Pai: não questiona nada, mas faz aquilo que o filho pede: o deixa livre de realizara sua vida do jeito que ele quiser. É um grandíssimo ensinamento para os pais: a paternidade é fecunda quando é alicerçada na liberdade, pois a liberdade é um reflexo da imagem de Deus. Quando pelo contrario os pais querem fazer de tudo para impedir que os filhos façam besteiras, chegando até a si substituir á liberdade dos próprios filhos, é ali que o bicho pega. Nessa altura podemos questionar: mas porque o pai não disse e não fez nada para impedir que o filho saísse de casa? Ao longo do texto podemos encontrar varias respostas. A primeira é que o pai era tranqüilo na própria tarefa de Pai. Ele sabia que tudo aquilo de bom que tinha semeado no coração do filho na infância e na adolescência, antes ou depois teria surtido efeito. De fato, na hora do grande sofrimento e da grande perdição quando o filho entrou em si mesmo, quem encontrou no fundo do seu coração? O Pai! É na infância e na adolescência que as forças educativas e espirituais devem ser dobradas para colocar os filhos no caminho da realidade. A segunda resposta ao problema sobre colocado é que o pai conhecia muito bem o seu filho e sabia que era daquela raça rebelde de cabeça dura, metido a sabido, que não vai com a cara de ninguém, que se acha o tal e que quando bota na cabeça uma idéia não tem jeito algum para tirá-la. Existe toda uma humanidade que para descobrir a própria identidade, para descobrir o sentido da própria vida parece que deve quebrar a cara. O filho que sai de casa descobre que o tesouro maior que tinha na vida estava exatamente lá aonde tinha decido de se afastar. São os mistérios da vida: às vezes precisamos rodear o mundo para descobrirmos aquilo que está perto de nós. Tem um terceiro ensinamento que podemos tirar da historia deste filho rebelde. Os prazeres da carne, junto com os prazeres materiais que o mundo nos oferece são puras ilusões, não proporcionam a felicidade, mas sim esvaziam a pessoa que entra neste caminho. Tudo mundo sabe disso, mas poucos conseguem ficar de fora do caminho da perdição. Porque? Porque a força dos sentidos é devastadora, e que não aprende a lidar com a própria interioridade desde a infância, para controlar os instintos e assim dirigi-los aonde nós quisermos, se torna escravo deles. É isso que nos ensina esta historia triste: o caminho da liberdade está no amor do Pai, é Ele a fonte da nossa vida.

3.O filho mais velho estava no campo... Ficou com raiva e não queria entrar”(Lc 15, 25.28).
A postura do filho mais velho nos ensina que não adianta ficar perto do Pai: depende como ficamos. Podemos, de fato, fugir da nossa realidade, permanecendo no lugar. Quantas vezes nas nossas famílias têm familiares que não ligam com nada, parece que estejam sempre voando. E quando nos distanciamos da realidade, começamos a pensar besteiras, a fantasiar, botando gosto ruim naquilo que é bom. “E tu nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos”. Oh, coitado! Quando perdemos o contato com a realidade, nos fechando em nós mesmos, construindo no nosso imaginário um mundo de fantasia, transformamos o bem em mal, prejudicando assim o nosso relacionamento positivo com os outros, sobretudo com as pessoas que mais amamos.  Interessante é também um outro dato. Foi necessário o filho mais novo se mandar e estragar a sua vida, para que pudesse emergir aquilo que se escondia no fundo do coração do filho mais velho. Quer dizer isso? Acho que esta Palavra nos ensina a não julgar os eventos na sua manifestação factual, mas precisamos sempre colocar tudo nas mãos de Deus, esperando que seja Ele á abrir os nossos olhos para interpretarmos assim a historia do jeito que Deus a está escrevendo. De uma certa forma é a perdição do irmão mais novo que salva o irmão mais velho do abismo do seu egoísmo. Tudo isso é bastante impressionante, porque nos mostra o lado providencial de Deus, que respeita a nossa liberdade e sabe realizar historia bonitas com os pedaços da nossa humanidade esbagaçada.

 O filho mais velho, apesar de ter sido fiel ao pai permanecendo perto dele, precisou sentir uma verdade: “Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu”. Mais uma vez é o Pai que com a sua realidade, que é a mesma Verdade, purifica as ilusões falsas formadas ao longo do tempo na nossa cabeça, restituindo paz e serenidade a alma. É a Palavra do Pai que precisamos escutar para que tudo na nossa vida seja renovado. É o amor do Pai que devemos acolher, amor que purifica e renova constantemente as nossas vidas. Por isso vale a pena estarmos aqui reunidos no redor desta Eucaristia, para nos alimentarmos do pão da Palavra de Deus que alimenta a nossa alma, nos orientando sobre o cominho a ser tomado, e para nos alimentarmos do corpo de Cristo que infunde nos nossos corações o amor de Deus, do pai misericordioso, que almeja a toda hora a nossa salvação. Amém.

DOMINGO XVII/C






(Gen 18, 20-32; Sal 138; Col 2,12-14; Lc 11, 1-13)

Paolo Cugini

1. Ninguém duvida que o instrumento principal para entrar em contato com Deus é a oração. Todos nós, de uma forma o de outra, temos uma experiência mais ou menos profunda da oração. Quem é que não reza, ou quem é que de vez em quanto não esboça uma oração? Não existe ser humano tão ateu que, em alguma circunstancia, não tenha-se dirigido a Deus para obter alguma coisa. O problema é saber se a nossa maneira de rezar está certa, ou seja, se o nosso jeito de nos dirigirmos a Deus é fruto somente de um sentimento psicológico, comum nos seres humanos, ou se expressa o desejo de conhecer a Deus e a sua vontade. Por isso é importante também pra nós, como por os discípulos do Evangelho, pedir ao Senhor que nos ensine a rezar, para conseguirmos um relacionamento correto com Deus, um relacionamento que nos ajude a mergulhar na vida de Deus. Quantas vezes questionamos até Deus pelo fato que as nossas orações não são atendidas. Chegamos ao ponto até de duvidar da necessidade de rezar, pois se Deus não atende aos nossos pedidos, a que adianta rezar? Aquilo que podemos constatar é que a maneira errada de rezar, afasta as pessoas de Deus. Por isso, mais uma vez, nos aproximamos de Jesus como o mesmo pedido dos discípulos: “Senhor, ensina-nos a rezar”.

2. Quando rezardes dizei: Pai” (Lc 11, 2).
Com esta simples indicação Jesus oferece para os seus discípulos uma importante pista para entender o que é a oração. Se, de fato, a oração começa dizendo “Pai” isso quer dizer que não é um dever, mas algo de natural, espontâneo. Ninguém esquece de falar com o próprio pai ou com a própria mãe: seria desumano. Ninguém precisa que alguém de fora lembre do nosso relacionamento para com o nosso pai: mais uma vez é algo de natural. Da mesma forma deve ser a oração: algo de natural, algo que nasce de dentro do coração da gente, algo de espontâneo como é espontâneo pedir a benção ao pai. Nada, então, de algo de forçado. A oração não pode ser nunca uma obrigação, um dever, mas um prazer, um desejo que deve surgir do mais profundo do nosso coração. Além do mais, dizendo “Pai” expressamos um dado espiritual fundamental, ou seja, que somos filhos. Pode ser um dado banal, mas não é não. Se a oração é uma relação com o Pai, isso desvende a nossa natureza de filhos, ou seja, de criaturas humanas, que necessitam de alguém para viver. Um filho se dirige ao pai naturalmente para pedir algo. Um filho para viver precisa do pai: por isso pede e, este pedir, este se dirigir ao pai, é algo de natural. Transferindo no âmbito espiritual esta simples reflexão podemos dizer que, quando uma pessoa não reza, quer dizer que é o sintoma que ela já se acha auto-suficiente, que não precisa mais de ninguém, ou pior ainda, que ela se acha de uma certa forma, um pai, não mais uma criatura, mas um criador. Folhando a Bíblia sabemos muito bem que não existe pecado pior que o orgulho, aliás, o orgulho é uma manifestação do egoísmo, que é forma do pecado do homem, que desvende a própria resistência a Deus, a própria oposição a Ele. Quando uma pessoa não reza é porque não se sente mais um filho e, de conseqüência, não sente mais necessidade do Pai.

3. Se tudo aquilo que colocamos até agora tem um sentido, podemos continuar na reflexão acrescentando mais uma consideração. De uma certa forma podemos afirmar que a oração serve a manter vivo o sentido da realidade. Quem reza, pelo fato que se dirige ao pai pedindo, consegue manter vivo o sentido da própria realidade de criatura e, assim, de se lembrar cotidianamente que sem o Pai não é nada. Este é um dato antropológico fundamental que expressamos através da oração. A nossa condição humana é uma condição de fraqueza. Todos os dias experimentamos esta situação lidando com o medo da doença, o medo da morte, o medo que algo possa acontecer com a nossa vida. De uma certa forma, todos os dias fazemos a experiência da pobreza da nossa condição humana, da nossa condição de condenados a morte. Podemos ler neste sentido o esforço de fazer de tudo para não mostrar a nossa idade, para querer ser sempre jovens, a final de conta a dificuldade á aceitar a realidade. Temos medo daquilo que somos: condenados a morrer. Labutamos todos os dias para sobreviver: a morte, o sofrimento estão sempre na nossa frente. Talvez, seja por isso que gostamos tanto de festas, de bebidas: é uma maneira para esquecer a nossa condição humana, uma forma para fugir dela.
Pelo contrario a oração, quando é relação amorosa dos filhos com o Pai, nos ajuda a manter viva e autentica a nossa realidade e a assumi-la, acreditando que o Pai que ama os seus filhos, tem um dom especial pra eles: a vida eterna. Quem reza, que vive a própria existência perante o Pai, sabe que a morte é por aqueles que se entregam ao mundo. Quem reza, mantendo viva a própria identidade de filhos, aprende a não fugir da própria condição humana, mas a assumi-la, deixando que seja o Pai a transformá-la. Quando percebemos em nós a dificuldade de rezar, talvez seja um sintoma de um problema espiritual bem profundo, ou seja, a dificuldade de aceitar a vontade de Deus. Quem deixa a relação filial com o Pai, quem enfraquece no relacionamento filial construído e mantido através da oração, é porque está construindo sozinho a própria vida, está querendo moldá-la com as próprias mãos, recusando-se, mais ou menos explicitamente, a intervenção do Criador, o nosso Pai.

4.Portanto eu vos digo: pedi e recebereis; procurai e encontrareis; batei e vos será aberto” (Lc 11, 9).
Se quisermos manter viva na nossa vida o sentido da realidade, aceitado-a com humildade e aprendendo a não fugir perante ela, é bom escutar com atenção o conselho que Jesus nos oferece neste precioso versículo. A pessoa que ao longo dos anos vive a própria vida humana como um filho perante o seu Pai, aprende que este Pai faz de tudo para não nos deixarmos desamparados. Na oração, na sua forma de pedido, expressamos a nossa necessidade de filhos e experimentamos a bondade e a grandeza de coração do Pai. Ele, de fato, está sempre pronto á abrir a porta do seu coração, toda vez que nós nos dirigimos para Ele, seja qual for a hora. O Pai sempre no oferece o caminho de saída, que é Jesus e a Sua Palavra, toda vez que o procuramos. Além do mais, O Pai sempre nos envia o Espírito Santo para orientar as nossas intuições e guiar as nossas decisões no nosso intimo, toda vez que o pedimos.

Queremos mais de que isso?


mercoledì 13 febbraio 2019

Domingo X°/C






1Reis 17, 17-24; Sal 130; Gal 1, 11-19; Lc 7, 11-17)

Paolo Cugini

1. Depois de celebrarmos tantas solenidades a liturgia volta no tempo comum, oferecendo para a nossa reflexão alguns temas que devem servir para orientar a nossa caminhada corriqueira. Escutando as leituras de hoje, percebe-se que o tema central é a vida. De fato, seja na primeira leitura que no Evangelho, assistimos ao milagre da ressurreição de alguém que tinha falecido. Claramente, como sempre, a liturgia nos pede de ir além dos dados materiais que os textos oferecem, para vasculhar o sentido recôndito, o sentido profundo que somente o Espírito pode nos revelar. Podemos, então, nos perguntar: o que estas leituras podem nos revelar sobre o sentido da vida? Somos disponíveis para questionar os nossos estilos e vida? O caminho da conversão, que é o objetivo do anuncio da Palavra de Deus, precisa para ser ativado de uma alma disponível a escutar, a se questionar, a por em duvida as próprias presuntas verdades. Só desta maneira o Espírito do Senhor encontra uma brecha para entrar e soprar o seu alento, a sua força de vida.

2.Quando chegou á porta da cidade eis que levavam um defunto” (Lc 7, 12).
É um versículo com uma força paradoxal incrível. Jesus veio ao mundo e o que o mundo teve para oferecer á Ele? Um defunto. É um quadro extremamente dramático e revelador, ou seja, revela bastante o sentido da vinda de Jesus na historia. Jesus ao longo da sua vida deparou constantemente com uma humanidade morta, pois aquilo que encontrou era isso mesmo, uma humanidade mergulhada no esquecimento de Deus. Esta pagina, então, vem ao nosso encontro com uma pergunta arrasadora: como está se manifestando a morte na nossa vida? Que rosto apresenta a morte na nossa existência? Se tudo mundo tem pecado, assim como sustenta Paulo (Cf. Rom 3), a morte entrou no mundo por causa do pecado então, de qualquer forma a morte age na nossa existência. Aquilo que estamos colocando não é um pessimismo apocalíptico, que olha somente o lado negativo das coisas, mas é a maneira da Bíblia ver a realidade. Se Deus criou o homem a sua imagem e semelhança, esta identidade permanece autentica até quando a vida do homem fica orientada para Deus; caso contrario, quando o homem se afasta de Deus, a sua vida não é mais o reflexo da imagem de Deus, mas do seu egoísmo, do seu orgulho. Deus através do seu Filho Jesus entrando no mundo depara com um cadáver: quem é este cadáver? Só a pessoa que tiver a humildade de se identificar com o cadáver, poderá acolher o sopro de vida que Cristo trouxe. Pelo contrario, ficaremos mergulhados para sempre na nossa vidinha mesquinha, que não sai do fechamento narcisista, que busca somente se aparecer e busca isso porque dentro está vazio, morto.

3.Jovem, eu te ordeno, levanta-te” (Lc 7,14).
È um dato bastante sintomático que as duas pessoas falecidas e ressuscitadas nas duas leituras de hoje, sejam uma criança e um jovem: quer dizer isso? Talvez a Palavra de Deus queira apontar o fato espiritual, que são as jovens gerações aquelas que são mais em risco do que os adultos, de sair do caminho de Deus. Uma criança é muito frágil, precisa de muito cuidado para que ela aprenda a caminhar firme. A mesma reflexão pode ser feita para um adolescente e um jovem: como é difícil nesta idade tão delicada, seguir o caminho que Deus aponta! Como é difícil resistir para um adolescente aos tentáculos de morte que o mundo oferece! Como é difícil na juventude discernir o sentido profundo da vida das ilusões que estragam a existência! O problema nessa altura é: fazer o que? O Que uma família, uma paróquia, um cristão pode fazer para ajudar o mundo a encontrar a vida verdadeira e permanecer nela? O que nós, que acreditamos em Deus, podemos realizar para que a juventude se encontre com o Senhor da vida?

4.Ao vê-la Jesus sentiu compaixão para com ela e lhe disse: não chore. Aproximou-se, tocou o caixão, e os que o carregavam pararam. Então Jesus disse...” (Lc 7, 14).
O primeiro movimento que a Igreja é chamada a realizar, perante á humanidade mergulhada na morte, é sentir compaixão. È um sentimento profundo que nasce da participação da visão que Deus tem da humanidade, participação que nós podemos somente receber. Não se trata de organizar, de projetar, planejar, mas de sentir, de compadecer. É de um coração compadecido que a Igreja precisa para encontrar uma humanidade que sofre. É este sentimento profundo que produz os dois movimentos sucessivos: aproximar-se e tocar. A inércia de tantas comunidades e de tantos cristãos é sintoma claríssimo de uma falta de compaixão. Quem sente compaixão participa do coração de Jesus e sente-se impelido a agir, a se aproximar. Estes dois verbos citados no texto do Evangelho, ou seja, aproximar-se e tocar, apontam para o caminho que cada cristão deve realizar toda vez que depara com pessoas afastadas de Deus. É preciso suspender qualquer julgamento negativo e fazer de tudo para se aproximar e tocar, ou seja tecer laços pessoais. Só desta forma é possível pronunciar a Palavra de vida. È importante, de fato, salientar que Jesus, antes de falar, se aproxima e toca o morto. Isso que dizer muitas coisas. Antes de tudo, que o anuncio da Palavra precisa de relações humanas, aliás, muitas vezes a mesma relação precede e explica antecipadamente o sentido da Palavra. Em segundo lugar, que não podemos fazer da Palavra um talismã, como se bastasse pronuncia-la para surtir efeito. Jesus é o Verbo de Deus encarnado e isso quer dizer que a Palavra de Deus entrou na historia, assumiu a nossa condição humana, e exige para ser anunciada um mergulho na humanidade. A vida cristã deveria, assim, nos ajudar para nos tornarmos mais humanos, mais sensíveis aos sofrimentos deste mundo e anunciar a Palavra como um anuncio misericordioso de amor e não como um macete que corta.

5. Tudo isso é bem visível na vida de Paulo. Na segunda leitura de hoje escutamos a grande mudança de vida que aconteceu com Paulo depois de ter encontrado o Senhor. Uma vida que produzia mais vida se aproximando e tocando a humanidade para anunciar a todos e todas a Boa Nova. Assim também nós, que estamos aqui no redor desta mesa para que o Senhor nos toque com o seu Corpo, podemos nos tornar anunciadores de vida neste mundo. Cabe a nós transformar esta Eucaristia em um estilo de vida novo que sabe envolver todos e todas as pessoas que encontraremos ao longo da semana.



VI° Domingo do tempo Comum/C







(Jer 17,5-8; Sal 1; 1 Cor 15,12.16-20;Lc6,17.20-26)

Paolo Cugini


1. Conseguir não atrapalhar uma liturgia da Palavra como esta, não é fácil não. Para comentar esta Palavra de uma forma tal que penetre nos corações das pessoas com toda a força da qual Ela é constituída, precisa de uma caminhada bem coerente com o conteúdo do texto. Pois, o perigo constante do pregador é de diluir o conteúdo da Palavra conforme os próprios limites, ou seja, não deixar a Palavra falar aquilo que Ela queria dizer, mas puxá-la, arrastá-la para o próprio lado, justificando assim, a própria falta de fé, a incapacidade de seguir Jesus com aquela coerência de vida que o Evangelho exige. Desta forma não apenas o pregador não se converte, mas também o povo de Deus, sobretudo aquele mais fraco na fé, que não faz o esforço de averiguar por si mesmo lendo e folhando o texto da Escritura, mas se deixa arrastar pelo papo do pregador de turno.
De fato, perante as Palavras que acabamos de ouvir podemos refletir entrando em nós mesmos e pensar: “Como é que as pessoas, perante uma Palavra como esta, continuam mantendo o mesmo sistema corrupto que se alimenta com a ignorância e a preguiça do povo?”.

2. “Bem aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus. Bem aventurados vós que agora tendes fome... Bem aventurados vós que agora chorais... Bem aventurados sereis quando os homens vos odiarem... por causa do Filho do homem”( Lc 6, 20s).

Palavras impressionantes, que exigem uma parada de reflexão. De fato, são palavras que contradizem aquilo que vivemos no dia a dia, aonde o pobre é menosprezado, humilhado, massacrado. Pobre sofre, sobretudo porque é humilhado na sua dignidade: é rebaixado, considerado como uma pessoa de segundo plano. Por isso o pobre não gosta de si mesmo e amiúde busca disfarçar a própria condição social, para se sentir acolhido como gente e não recusado como um bicho qualquer. É esta pessoa humilhada, pisada na sua dignidade que Deus coloca ao seu lado, como seu primeiro herdeiro. O dono do Reino de Deus não será um dos poderosos deste mundo, mas, pelo contrario, os excluídos, famintos, sedentos, ou seja, todos aqueles que, neste mundo, passaram por desavenças por causa da injustiça humana. Este é o outro lado da historia. Na perspectiva de Deus ninguém é pobre porque quis, e nem porque Deus quis. Se existem tantos pobres não é por um designo de Deus, mas pela malvadez do homem, que não se satisfaz com aquilo que tem, mas quer sempre mais. A pobreza não é apenas um problema social que os homens não conseguem resolver: é antes de tudo um problema espiritual. É o mesmo profeta Jeremias que na primeira leitura, nos fornece o material para entender o ponto de vista de Deus:
“Maldito o homem que confia no homem e faz consistir sua força na carne humana” (Jer 17,5).

Este é o problema: uma vida confiando nas próprias forças, na busca de uma auto-suficiência, uma autonomia, que nos leva longe dos caminhos de Deus. Um homem assim, que confia só em si mesmo e olha só para o seu umbigo é maldito por Deus, porque os frutos que ele produz são frutos de morte. Quem anda olhando somente o próprio interesse, não se preocupa com os problemas dos irmãos e das irmãs que Deus coloca no caminho.   É uma vida auto-centrada,  na busca constante do próprio interesse, para satisfazer o próprio egoísmo que provoca, de conseqüência, situações de tremenda injustiça e desigualdade. Quem vive no Nordeste sabe muito bem disso e nem precisa entrar nos pormenores. Os problemas que enfrentamos todos os dias, são problemas sociais que tem uma origem espiritual, ou seja, foram todos gerados por pessoas egoístas, que fizeram e continua fazendo de tudo para tirar o maior proveito possível das situações nas quais se encontraram, passando pra cima de tudo: da lei, das pessoas, dos pobres, de Deus. Perante esta situação avassaladora Jesus expressa a opinião de Deus que não fica omisso e nem neutral perante o massacre dos seus filhos, mas toma uma posição claríssima que deve levar os cristãos pelo mesmo caminho. Por isso perante essa pagina claríssima, que nem precisaria de explicações, poderíamos nos perguntar: estamos bajulando a quem? Estamos contando com quem no nosso presente e no nosso futuro? Estamos atrás de que e de quem? Não adianta nada falar de Deus a toda hora, pisar na Igreja todo domingo, comer o Corpo de Cristo se depois na vida concreta, corriqueira o corpo de Cristo fica por trás, porque estamos buscando os favores dos políticos corruptos da vez. Qual foi a nossa postura, por exemplo, nas ultimas eleições municipais do 2004? É a resposta a esta pergunta que decide da verdade da nossa fé.

3. “Ai de vós, ricos, porque já tendes a vossa consolação!” (Lc 6, 24).
Com uma pancada como essa, com uma Palavra forte e clara como esta, não precisa mais esclarecer de que lado está Deus. Sim porque a verdade é esta: Deus, em Jesus, tomou posição, esclareceu uma vez para todas que a riqueza é sinônimo de injustiça, que se existe pobreza é porque alguém está sendo egoísta de mais e Deus não gosta de egoísta. Além do mais, estas palavras tão fortes e claras nos impelem a buscar a nossa consolação não nas coisas que perecem, como a riqueza, o dinheiro, o acumulo de terra, mas naquilo que é imperecível, que dura para sempre. Por isso estamos aqui querendo alimentar a nossa alma destas Palavras e do Corpo de Cristo, para abastecermos a nossa vida do amor de Deus que se manifestou em Cristo, o qual se despojou de tudo para doar a própria vida para nós. A vida de Jesus é o contrario do egoísmo, o caminho dele é no lado oposto dos ricos deste mundo, a sua postura abre o sentido autentico da vida humana e aponta a vereda que deve ser percorrida pela humanidade toda: o amor. Cristo, de fato, não morreu apenas para si mesmo, por um simples destino, mas para nos dar o exemplo (1Pd 1,4s), para que interiorizando a sua vida e as suas Palavras, saibamos olhar o mundo assim como Deus o olha e como Deus o quer e, repletos do seu amor, saibamos enfrentar os arrogantes deste mundo, que em cada momento não perdem a ocasião para iludir as pessoas com as suas promessas vazias.

4. “Alegrai-vos, nesse dia, e exultai, pois será grande a vossa recompensa no céu” (Lc 6, 23)
O Evangelho é um balsamo pelas nossas orelhas, um colírio para os nossos olhos: é um continuo convite para nunca desanimar, pois o mesmo Cristo já passou por este caminho.
Cabe a nós preencher o nosso tempo não de palavras vazias, mas daquela Palavra que dá sentido a nossa existência. O Evangelho, se de um lado se apresenta como uma Palavra dura, do outro aponta o caminho para a salvação, que passa através de uma mudança radical de vida. Pedimos a Deus que esta Santa Eucaristia possa ser um passo na frente na busca de um estilo de vida diferente, mais humano e evangélico.






Cristo rei do universo




Paolo Cugini

1.É o ultimo domingo do ano litúrgico e a mesma liturgia nos apresenta para a nossa reflexão um tema um pouco estranho, o tema do Cristo Rei do universo. É um tema estranho porque de um lado somos acostumados a identificar a figura do Rei com o poder, a riqueza, a arrogância e, do outro lado, a idéia que nós temos de Jesus é de uma pessoa humilde, simples. Então como é que se juntam estas duas idéias opostas? Em que sentido Jesus é Rei?

2. Um rei que se respeite deve ter um pedaço de chão para exercer o seu poder. Jesus, perante Pilatos, declara que ele tem um reino, só que este reino não é deste mundo. Quer dizer isso? Qual é o reino de Deus?
O mundo, na perspectiva do evangelho de João, não é o cosmo, a terra, mas é tudo aquilo que o homem constrói independentemente de Deus, é então aquela realidade fruto do egoísmo e do orgulho humano. Sobre os nossos projetos humanos feitos de rivalidades, inimizades, rixas, Cristo não tem poder, ou seja, não é Ele que manda, mas um outro.
Este é o segundo dato que aparece entre as linhas do Evangelho de hoje. Se Cristo é Rei significa que Ele domina sobre uma realidade, sobre um pedaço de humanidade. Isto quer dizer que o homem, a estrutura humana é feita para pertencer á alguém. Se não pertencemos ao reino de Deus pertencemos ao mundo: não tem escolha, alternativa. Não existe um terceiro espaço, um terceiro rei. Na perspectiva bíblica existe o Rei do universo, rei do reino do Céu e, do outro lado, existe o príncipe deste mundo, que reina sobre o mundo, ou seja, domina toda aquela humanidade, aquela realidade que os homens, as mulheres construam independentemente de Deus, como se Deus não existisse. Se na nossa vida corriqueira não estamos obedecendo a Deus, estamos nos entregando ao príncipe deste mundo.
A condição de vida no mundo é a escravidão, enquanto no Reino de Deus é a liberdade. Quem vive no mundo, quem se deixa guiar pelo príncipe deste mundo vive na escravidão, escravo das paixões, dos instintos, dos desejos humanos, desejo de poder, de dinheiro, de sexo (cf. 1Jo 2-3). Pelo contrario, as pessoas que vivem no Reino do Céu vivem livres, pois com a ajuda de Deus, da força e do poder de Deus que recebemos nos sacramentos, conseguimos dominar as paixões, os instintos, os desejos da carne. Esta solenidade de Cristo Rei do Universo nos lembra que a vida cristã é uma continua caminhada, uma romaria para passarmos deste mundo para o reino de Deus (cf Jô, 13,1-2), do domínio do príncipe deste mundo para o poder de Deus. Quem se conhece um pouco e está tomando a serio a própria vida, sabe muito bem que, esta romaria, não é nada fácil, mas muito desgastante e cheia de armadilhas, de recuos, de decepções, de momento de grande desanimo. Quem vive estes sentimentos é no bom caminho, pois quer dizer que está se esforçando para que o Reino de Deus possa ser a sua moradia constante. Pior é encontrar cristãos que brincam com a própria vida de fé. O cristão mais autentico, que vive com seriedade o próprio relacionamento com o Senhor, que deseja se tornar uma pessoa livre, é destinado a sofrer um bocado.

3. Existe somente um pedacinho de humanidade que o pecado não estragou que o diabo não afetou; este pedacinho de humanidade é Cristo, que até a morte ficou fiel e obediente a seu Pai. É por isso que estamos aqui adorando o Rei dos reis, O rei do universo, que testemunhou a Verdade até as extremas conseqüências. E isso deve nos ajudar na reflexão. Se Cristo faleceu, se Ele foi morto, pendurado á cruz é porque o mundo não quer escutar a Verdade. O mundo é tão mergulhado na mentira, é tão acostumado a comer mentiras, que não gosta da Verdade, não quer escutá-la. Cristo é o Rei do universo, porque testemunhou a verdade até o fim, encarando os algozes sem recuar, enfrentando a estupidez do mundo covarde e estúpido incapaz de realizar um gesto autentico.

4.  Cristo é Rei do Universo não porque se apoderou do poder com alguma artimanha, mas o recebeu. “Toda autoridade foi dada a mim no céu e sobre a terra” (Mt 28,18).
É o mesmo dado que ouvimos na primeira leitura de hoje. Jesus não tomou o poder, não se apoderou do Reino dos Céus, mas foi o mesmo Deus que o entregou para Ele. Isto vale também para nós. As coisas de deus não podemos comprá-las, mas somente acolhe-las, pois são fruto do amor e da misericórdia de Deus. Este ultimo domingo do ano litúrgico deveria nos ajudar a vasculhar na nossa vida de fé, na nossa caminhada de Igreja, se nos aproximamos a Deus com a arrogância  do mundo, querendo ser os donos do pedaço, ou, pelo contrario, com aquela humildade e simplicidade que caracterizou a vida de Jesus, que se entregou totalmente, com uma vida de doação e foi por isso que recebeu do Pai a vida eterna.

5. Nessa altura poderíamos nos perguntar: quais são os sinais que O Espírito Santo produz na nossa vida como marco evidente que pertencemos a Cristo e fazemos parte do Seu Reino?
O primeiro o encontramos escrito na primeira leitura, aonde se fala que o Reino de Deus é eterno. Quem participa da eternidade do reino de Deus, não desiste nunca perante os próprios compromissos, mas torna-se fiel até a morte, sem medo de enfrentar qualquer dificuldade, obstáculo, perseguição.
O segundo sinal é apontado na segunda leitura aonde se diz que o Senhor doou o seu sangue para nos libertar. Quem pertence ao reino de Deus torna-se uma pessoa livre, que não se deixa arrastar pelas paixões, os instintos, mas aprende a dominá-los e a dirigi-los aonde ele quiser.
O ultimo sinal da nossa pertença ao Reino de Deus é o mesmo Senhor que o revela. De fato, no final do Evangelho que acabamos de escutar, Jesus nos lembra que “ Que testemunha a verdade escuta a minha voz”. Um sinal claríssimo da pertença ao Senhor é o desejo de escutar a sua voz para que a própria vida se torne uma resposta ao Senhor.



SOLENIDADE DO CORPO E SANGUE DE CRISTO





(Gen 14, 18-20; Sal 110; 1 Cor 11, 23-26; Lc 9, 11-17)

Paolo Cugini

1. Celebrando a solenidade do Corpo e sangue de Cristo, a Igreja entende manifestar o próprio agradecimento a Deus Pai pelo dom do Seu Filho Jesus para a nossa salvação. Além do mais através desta solenidade os mesmos fieis são convidados a refletir sobre o mistério da Eucaristia, mistério do qual participamos no Domingo, dia do Senhor, aonde fazemos o memorial da sua morte e ressurreição. A Igreja desde a antigüidade nos ensina que o nosso Batismo é finalizado á Eucaristia, isso quer dizer que a nossa vida cristã se realiza e, ao mesmo tempo se fortalece, só através da Eucaristia, pois é naquela circunstância que nos alimentamos do mesmo Cristo que recebemos no Espírito no dia do Batismo. A vida cristã é vida em Cristo, pois a humanidade gloriosa de Cristo deve resplandecer na sua Igreja. As leituras que ouvimos nos apresentam o sentido da vida de Jesus que deve ser também o nosso. Aquilo que Jesus é por natureza, nós devemos alcançá-lo no sacramento. Por essa razão é importante aproveitar da solenidade para pararmos um momento e refletir sobre o mistério da Eucaristia no qual é contido também o mistério da nossa mesma existência.

2.Na noite em que foi entregue, O Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças o partiu e disse: isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isso em memória de mim. Do mesmo modo depois da ceia tomou o cálice...” (1 Cor 11, 23s).
 O problema que devemos enfrentar é este: o que Jesus quis dizer com este gesto? O que significa este rito? Porque Jesus pediu de repeti-lo?
Aquilo que Jesus realizou, se olhado bem de perto, purificado de qualquer pré-compreensão, é um ato extremamente humano, carregado de humanidade, pois com este gesto do pão e do vinho Jesus desvende uma vez para todas o sentido da sua vida. Outro dado importante é que este gesto, esta revelação Jesus a realizou perante os seus discípulos, ou seja, os únicos que o tinham acompanhado desde o começo. Isso quer dizer que, para desvendarmos o mistério deste rito, precisamos ser discípulos de Jesus, ou seja, precisamos querer conhecê-lo, amá-lo, segui-lo. O mistério da Eucaristia se desvende ao longo do caminho do discipulado: não é algo que se aprende com os instrumentos da pura razão, mas se desenrola ao longo da vida cristã.
Em segundo lugar é bom salientar que o gesto que Cristo realizou na ceia derradeira resume o sentido da sua vida. De fato, Jesus veio ao mundo para manifestar á humanidade toda, perdida no egoísmo, o sentido de uma vida no amor, uma vida que realizasse aquela vocação originaria, que Deus tinha entregado ao homem antes do pecado. Neste sentido, qualquer pecado é sempre algo que afeta a vocação ao amor. Jesus realizou a sua vida de amor entregando-se totalmente, doando-se sem poupar nada de sim. O pensamento dele era só para as pessoas que estavam ao seu redor: nada para sim, tudo para eles. A vida de Jesus foi uma vida totalmente partida, por assim dizer, para os seus. É isso que impressiona folhando com amor as paginas do Evangelho. Quando mais se doa tanto mais Jesus cresce: nunca se esgota. Multidões de pessoas se aproximam a Ele cada uma querendo tirar o próprio proveito, e Jesus nunca fica vazio, mas sempre tem de sobra de tudo, de amor, de atenção.  Jesus nunca se cansa de amar. O amor que Ele doa não depende do amor dos outros, daquilo que recebe em troca. A maneira de Jesus amar, que é o sentido autentico do amor, é uma critica radical e profunda da nossa maneira egoística de amar. Nos amamos com a pretensão humana de sermos correspondidos, pois a fonte do nosso amor está no outro. Em Jesus a fonte do amor está em Deus, no Pai que Ele busca dia e noite. É este amor divino que Jesus derrama de mãos cheias na humanidade que encontra. Por isso não se machuca se não for correspondido, pois não é isso que procura, mas somente que alguém receba um pouco do amor divino, que alguém participe daquela superabundância de amor do qual Cristo mesmo vive e participa.  Este amor desinteressado cuja fonte está em Deus, critica na raiz os nossos amores demasiadamente interessados que, na realidade, são formas disfarçadas de egoísmo. Por isso ficamos machucados se não formos correspondidos; ficamos tristes e até deprimidos toda vez que o nosso amor, por assim dizer, é desatendido. Nessa altura poderíamos nos perguntar: como é possível viver no mundo amando a todos e a todas sem nos esgotar? Como é possível vivermos como se fossemos também nós como Cristo, uma fonte inesgotável de amor (cf. Jo 7)?

3. “Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice estareis proclamando a morte do Senhor até que ele venha” (1 Cor 11, 26).
É impossível viver a nossa vocação ao amor do jeito que Jesus amou e da forma que Ele amou sem nos esgotar. Precisamos de algo que possa derreter o egoísmo que está enraizado em nós. Precisamos de algo que possa preencher o nosso vazio, pois toda vez que amamos e não somos correspondidos, ficamos com um vazio terrível dentro de nós. Toda vez que percebemos que alguém está se aproximando a nós por puro interesse, isso provoca sentimentos extremamente negativos. Para que a nossa fonte de amor não se esgote nunca precisamos do Corpo de Cristo, do corpo do Filho de Deus que veio ao mundo esbanjando amor sem nunca se esgotar. Na ceia derradeira Jesus não penas nos convidou para celebrarmos um rito, mas para imitarmos a sua vida. “Fazeis isto em memória de mim”, não é apenas um comando que se refere à forma externa dos gestos que Ele realizou naquela circunstância, quanto, sobretudo ao sentido que aqueles gestos tinham. Por isso, sendo que Jesus na ceia derradeira convidou os discípulos a continuar na historia o mesmo jeito dele amar, ofereceu para eles o alimento que os teria sustentado. Sem a Eucaristia ninguém consegue amar do jeito que Jesus amou. Por isso no domingo nos aproximamos á mesa Eucarística, não apenas para cumprir um preceito ou uma obrigação, mas para tomarmos o único alimento que nos permite de realizar a nossa vocação. Jesus nos convidou para comer, ou seja, num sentido espiritual, a interiorizar o seu corpo, ou seja, a sua pessoa, o seu jeito de ser, de viver, de amar. Jesus nos convidou a internalizar a sua mesma vida para que a pudéssemos doar aos outros.

4. Agradecemos a Deus de ter no oferecido o Seu Filho Jesus, alimento espiritual da nossa vida, motivo da nossa alegria plena.



Solenidade da Ascensão do Senhor/C





( At 1, 1-11;Sal 47; Ef 1,17-23; Lc 24, 46-53 )

Paolo Cugini

1. A solenidade da Ascensão do Senhor, que hoje celebramos, deveria nos ajudar a entender o sentido da missão da Igreja no mundo e também do nosso batismo, sendo que é neste sacramento que recebemos o Espírito Santo. De fato, é na Ascensão do Senhor que os discípulos recebem o mandato de anunciar a todos os povos o Evangelho. Tarefa da Igreja é, então, ser testemunha de Cristo. Além disso, a Ascensão do Senhor nos ensina que o Evangelho não apenas um anuncio terreno, que termina na Terra. O Evangelho não é um código de comportamento moral, mas é a indicação de um caminho que tem como meta o encontro como o Pai. Assim como Jesus passou através da sua paixão e morte, deste mundo para o Pai (Jo 13)- é este o sentido da sua Páscoa-também nós devemos escutá-lo para podermos passar também nós com Ele deste mundo para o Pai. É por isso que somos convidados a anunciar ao mundo o seu Evangelho, o seu único caminho de salvação. E aqui vem o problema:  Como é possível anunciar este caminho de salvação?

2. “Foi a Ele que Jesus se mostrou vivo depois da sua paixão” (At 1, 3).
Primeiro Critério para testemunhar Jesus no mundo é conhecê-lo, é a familiaridade com Ele. Jesus não é uma idéia abstrata, mas uma pessoa concreta.Jesus não uma criação literária, não é fruto da fantasia humana. Jesus é Deus que se fez homem e veio a morar no meio de nós: é Deus que se aproximou a nós. É por isso que é impossível conhecer a Jesus se não através de uma experiência viva, autentica, profunda. Jesus não envia os discípulos a anunciar uma idéia, e nem qualquer coisa, mas aquela experiência especifica que eles tiveram com o Senhor. Não é um caso que Jesus, depois da morte e ressurreição, apareceu somente aos discípulos, ou seja, aqueles que tinham as condições de reconhecê-lo. Por isso na raiz do nosso testemunho - pois é isso mesmo o sentido do nosso batismo!- deve existir a nossa experiência com o Senhor Jesus.  Não posso anunciar Cristo se não o conheço. Na primeira carta João relata essa mesma idéia: aquilo que nós ouvimos, aquilo que nós apalpamos com as nossas mãos nós o anunciamos a vós (cf. 1Jo 1, 1-4). A vida cristã não é feita apenas de palavras, mas sim de uma vivencia autentica com Cristo. É a aproximação dele que me permite de conhecê-lo e, assim, comunicá-lo. 

3.Recebereis o poder do Espírito Santo, que descerá sobre vós” (At 1,8).
Só que o conhecimento experiêncial e pessoal do Senhor não basta: precisamos do Espírito Santo.
Só o Espírito de Deus pode dar aos discípulos a coragem de anunciar, de testemunhar o Senhor ressuscitado num mundo que o odeia, que o massacrou, que odeia á Deus e, por conseqüência, odeia todos aqueles que falam do Filho. Esta coragem não é uma força psicológica, de origem humana, mas sim é algo que vem de Deus, do seu Espírito.
Tem algo a mais. Pra ser testemunho precisa da força que vem do fato de ser criveis. Isso quer dizer que se quisermos ser testemunhos do Senhor é preciso que o nosso encontro com o Senhor tenha modificado sensivelmente a nossa vida. De fato como podemos ser anunciadores do amor de Cristo para os inimigos, se nós odiamos alguém? Como podemos ser testemunhos da comunhão de Cristo se somos instrumentos de brigas, encrencas? Como podemos ser testemunhos da morte de Cristo que perdoou os nossos pecados, se nós não somos capazes de perdoar? Como podemos anunciar o amor de Cristo para os pobres se vivemos passando o tempo acumulando riquezas sendo, assim, instrumentos de injustiça? Testemunhar significa narrar aquilo que Jesus fez não apenas com as Palavras, mas também e, sobretudo, com a nossa mesma vida. A verdade daquilo que anunciamos deve ser bem visível na nossa carne, na nossa historia. Testemunhar não significa aquilo que Jesus fez, mas aquilo que Jesus fez para mim, a salvação que Ele troxe na minha vida. Se formos chamados a anunciar a Salvação que Cristo operou na historia por meio da sua paixão, morte e ressurreição, então tudo isso deve ser escrito na minha vida, deve ser bem visível na minha carne, no meu jeito de ser, viver, pensar. Isso se torna possível somente se o encontro com o Senhor provocou de verdade uma salvação na minha existência. Só nessa altura as palavras se tornam criveis, alcançando um peso e uma força impressionante, que penetra no coração do mundo, inquietando-o, preocupando-o, tirando-o do serio. É por isso que são Lucas, um pouco mais na frente dos Atos dos apóstolos, ao capitulo quarto, faz questão de dizer como era estruturada a comunidade dos primeiros cristãos, fruto da pregação dos discípulos.
“A multidão daqueles que tinham chegado à fé havia um só coração e uma só alma. Ninguém dizia sua propriedade aquilo que possui, mas tudo entre eles era em comum”.
É por isso que a pregação dos discípulos arrastava multidões: não era um problema de papo e de capacidade retórica, mas sim de testemunho. Aquilo que os discípulos anunciavam, ou seja, a salvação através do Evangelho de Jesus(cf. 1Cor 15,1-3) era bem visível nas suas comunidades, feitas de pessoas que em nome de Jesus viviam de uma forma totalmente nova, não mais animada pelo egoísmo humano que só provoca divisões e rivalidades, mas pelo amor de Jesus que fazia brotar entre eles a caridade e a partilha.

4. Quais são os sinais que o Espírito Santo produz na nossa humanidade que rende crível o nosso anuncio?
Em primeiro lugar a humildade. De fato, só Deus deve ser glorificado através da nossa ação. Só o Espírito pode produzir em nós este sentimento básico da vida cristã, tão presente na vida de Cristo.
Em segundo lugar a alegria. Os cristãos são alegres não por causa da conta no banco, ou de outros bens materiais, mas porque vivem com Jesus. Era isso que Santa Teresa de Jesus entendia dizer quando escrevia: “Quem a Deus tem nada lhe falta. Só Deus basta”.
Pedimos a Deus que nessa Eucaristia que estamos celebrando o Espírito Santo possa produzir na nossa vida aquela humildade e aquela alegria tão necessárias para o testemunho autentico do Seu Evangelho.