1Reis 17, 17-24; Sal 130; Gal 1, 11-19; Lc 7, 11-17)
Paolo Cugini
1. Depois de celebrarmos tantas solenidades a liturgia volta no
tempo comum, oferecendo para a nossa reflexão alguns temas que devem servir
para orientar a nossa caminhada corriqueira. Escutando as leituras de hoje,
percebe-se que o tema central é a vida. De fato, seja na primeira leitura que
no Evangelho, assistimos ao milagre da ressurreição de alguém que tinha
falecido. Claramente, como sempre, a liturgia nos pede de ir além dos dados
materiais que os textos oferecem, para vasculhar o sentido recôndito, o sentido
profundo que somente o Espírito pode nos revelar. Podemos, então, nos
perguntar: o que estas leituras podem nos revelar sobre o sentido da vida?
Somos disponíveis para questionar os nossos estilos e vida? O caminho da
conversão, que é o objetivo do anuncio da Palavra de Deus, precisa para ser
ativado de uma alma disponível a escutar, a se questionar, a por em duvida as
próprias presuntas verdades. Só desta maneira o Espírito do Senhor encontra uma
brecha para entrar e soprar o seu alento, a sua força de vida.
2. “Quando chegou á porta
da cidade eis que levavam um defunto” (Lc 7, 12).
É um versículo com uma
força paradoxal incrível. Jesus veio ao mundo e o que o mundo teve para
oferecer á Ele? Um defunto. É um quadro extremamente dramático e revelador, ou
seja, revela bastante o sentido da vinda de Jesus na historia. Jesus ao longo
da sua vida deparou constantemente com uma humanidade morta, pois aquilo que
encontrou era isso mesmo, uma humanidade mergulhada no esquecimento de Deus.
Esta pagina, então, vem ao nosso encontro com uma pergunta arrasadora: como
está se manifestando a morte na nossa vida? Que rosto apresenta a morte na
nossa existência? Se tudo mundo tem pecado, assim como sustenta Paulo (Cf. Rom
3), a morte entrou no mundo por causa do pecado então, de qualquer forma a
morte age na nossa existência. Aquilo que estamos colocando não é um pessimismo
apocalíptico, que olha somente o lado negativo das coisas, mas é a maneira da
Bíblia ver a realidade. Se Deus criou o homem a sua imagem e semelhança, esta
identidade permanece autentica até quando a vida do homem fica orientada para
Deus; caso contrario, quando o homem se afasta de Deus, a sua vida não é mais o
reflexo da imagem de Deus, mas do seu egoísmo, do seu orgulho. Deus através do
seu Filho Jesus entrando no mundo depara com um cadáver: quem é este cadáver?
Só a pessoa que tiver a humildade de se identificar com o cadáver, poderá
acolher o sopro de vida que Cristo trouxe. Pelo contrario, ficaremos
mergulhados para sempre na nossa vidinha mesquinha, que não sai do fechamento
narcisista, que busca somente se aparecer e busca isso porque dentro está
vazio, morto.
3. “Jovem, eu te ordeno,
levanta-te” (Lc 7,14).
È um dato bastante
sintomático que as duas pessoas falecidas e ressuscitadas nas duas leituras de
hoje, sejam uma criança e um jovem: quer dizer isso? Talvez a Palavra de Deus
queira apontar o fato espiritual, que são as jovens gerações aquelas que são mais
em risco do que os adultos, de sair do caminho de Deus. Uma criança é muito
frágil, precisa de muito cuidado para que ela aprenda a caminhar firme. A mesma
reflexão pode ser feita para um adolescente e um jovem: como é difícil nesta
idade tão delicada, seguir o caminho que Deus aponta! Como é difícil resistir para
um adolescente aos tentáculos de morte que o mundo oferece! Como é difícil na
juventude discernir o sentido profundo da vida das ilusões que estragam a
existência! O problema nessa altura é: fazer o que? O Que uma família, uma
paróquia, um cristão pode fazer para ajudar o mundo a encontrar a vida
verdadeira e permanecer nela? O que nós, que acreditamos em Deus, podemos
realizar para que a juventude se encontre com o Senhor da vida?
4. “Ao vê-la Jesus sentiu
compaixão para com ela e lhe disse: não chore. Aproximou-se, tocou o caixão, e
os que o carregavam pararam. Então Jesus disse...” (Lc 7, 14).
O primeiro movimento que a
Igreja é chamada a realizar, perante á humanidade mergulhada na morte, é sentir
compaixão. È um sentimento profundo que nasce da participação da visão que Deus
tem da humanidade, participação que nós podemos somente receber. Não se trata
de organizar, de projetar, planejar, mas de sentir, de compadecer. É de um
coração compadecido que a Igreja precisa para encontrar uma humanidade que
sofre. É este sentimento profundo que produz os dois movimentos sucessivos:
aproximar-se e tocar. A inércia de tantas comunidades e de tantos cristãos é
sintoma claríssimo de uma falta de compaixão. Quem sente compaixão participa do
coração de Jesus e sente-se impelido a agir, a se aproximar. Estes dois verbos
citados no texto do Evangelho, ou seja, aproximar-se e tocar, apontam para o
caminho que cada cristão deve realizar toda vez que depara com pessoas afastadas
de Deus. É preciso suspender qualquer julgamento negativo e fazer de tudo para
se aproximar e tocar, ou seja tecer laços pessoais. Só desta forma é possível
pronunciar a Palavra de vida. È importante, de fato, salientar que Jesus, antes
de falar, se aproxima e toca o morto. Isso que dizer muitas coisas. Antes de
tudo, que o anuncio da Palavra precisa de relações humanas, aliás, muitas vezes
a mesma relação precede e explica antecipadamente o sentido da Palavra. Em
segundo lugar, que não podemos fazer da Palavra um talismã, como se bastasse
pronuncia-la para surtir efeito. Jesus é o Verbo de Deus encarnado e isso quer
dizer que a Palavra de Deus entrou na historia, assumiu a nossa condição
humana, e exige para ser anunciada um mergulho na humanidade. A vida cristã
deveria, assim, nos ajudar para nos tornarmos mais humanos, mais sensíveis aos
sofrimentos deste mundo e anunciar a Palavra como um anuncio misericordioso de
amor e não como um macete que corta.
5. Tudo isso é bem visível na vida de Paulo. Na segunda leitura
de hoje escutamos a grande mudança de vida que aconteceu com Paulo depois de
ter encontrado o Senhor. Uma vida que produzia mais vida se aproximando e
tocando a humanidade para anunciar a todos e todas a Boa Nova. Assim também nós,
que estamos aqui no redor desta mesa para que o Senhor nos toque com o seu
Corpo, podemos nos tornar anunciadores de vida neste mundo. Cabe a nós
transformar esta Eucaristia em um estilo de vida novo que sabe envolver todos e
todas as pessoas que encontraremos ao longo da semana.
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