Paolo Cugini
1.É o ultimo domingo do ano litúrgico e a mesma liturgia nos
apresenta para a nossa reflexão um tema um pouco estranho, o tema do Cristo Rei
do universo. É um tema estranho porque de um lado somos acostumados a
identificar a figura do Rei com o poder, a riqueza, a arrogância e, do outro
lado, a idéia que nós temos de Jesus é de uma pessoa humilde, simples. Então
como é que se juntam estas duas idéias opostas? Em que sentido Jesus é Rei?
2. Um rei que se respeite deve ter um pedaço de chão para
exercer o seu poder. Jesus, perante Pilatos, declara que ele tem um reino, só
que este reino não é deste mundo. Quer dizer isso? Qual é o reino de Deus?
O mundo, na perspectiva do
evangelho de João, não é o cosmo, a terra, mas é tudo aquilo que o homem
constrói independentemente de Deus, é então aquela realidade fruto do egoísmo e
do orgulho humano. Sobre os nossos projetos humanos feitos de rivalidades,
inimizades, rixas, Cristo não tem poder, ou seja, não é Ele que manda, mas um
outro.
Este é o segundo dato que
aparece entre as linhas do Evangelho de hoje. Se Cristo é Rei significa que Ele
domina sobre uma realidade, sobre um pedaço de humanidade. Isto quer dizer que
o homem, a estrutura humana é feita para pertencer á alguém. Se não pertencemos
ao reino de Deus pertencemos ao mundo: não tem escolha, alternativa. Não existe
um terceiro espaço, um terceiro rei. Na perspectiva bíblica existe o Rei do
universo, rei do reino do Céu e, do outro lado, existe o príncipe deste mundo,
que reina sobre o mundo, ou seja, domina toda aquela humanidade, aquela
realidade que os homens, as mulheres construam independentemente de Deus, como
se Deus não existisse. Se na nossa vida corriqueira não estamos obedecendo a
Deus, estamos nos entregando ao príncipe deste mundo.
A condição de vida no
mundo é a escravidão, enquanto no Reino de Deus é a liberdade. Quem vive no
mundo, quem se deixa guiar pelo príncipe deste mundo vive na escravidão,
escravo das paixões, dos instintos, dos desejos humanos, desejo de poder, de
dinheiro, de sexo (cf. 1Jo 2-3). Pelo contrario, as pessoas que vivem no Reino do
Céu vivem livres, pois com a ajuda de Deus, da força e do poder de Deus que
recebemos nos sacramentos, conseguimos dominar as paixões, os instintos, os
desejos da carne. Esta solenidade de Cristo Rei do Universo nos lembra que a
vida cristã é uma continua caminhada, uma romaria para passarmos deste mundo
para o reino de Deus (cf Jô, 13,1-2), do domínio do príncipe
deste mundo para o poder de Deus. Quem se conhece um pouco e está tomando a
serio a própria vida, sabe muito bem que, esta romaria, não é nada fácil, mas
muito desgastante e cheia de armadilhas, de recuos, de decepções, de momento de
grande desanimo. Quem vive estes sentimentos é no bom caminho, pois quer dizer
que está se esforçando para que o Reino de Deus possa ser a sua moradia
constante. Pior é encontrar cristãos que brincam com a própria vida de fé. O
cristão mais autentico, que vive com seriedade o próprio relacionamento com o
Senhor, que deseja se tornar uma pessoa livre, é destinado a sofrer um bocado.
3. Existe somente um
pedacinho de humanidade que o pecado não estragou que o diabo não afetou; este
pedacinho de humanidade é Cristo, que até a morte ficou fiel e obediente a seu
Pai. É por isso que estamos aqui adorando o Rei dos reis, O rei do universo,
que testemunhou a Verdade até as extremas conseqüências. E isso deve nos ajudar
na reflexão. Se Cristo faleceu, se Ele foi morto, pendurado á cruz é porque o
mundo não quer escutar a Verdade. O mundo é tão mergulhado na mentira, é tão
acostumado a comer mentiras, que não gosta da Verdade, não quer escutá-la.
Cristo é o Rei do universo, porque testemunhou a verdade até o fim, encarando
os algozes sem recuar, enfrentando a estupidez do mundo covarde e estúpido
incapaz de realizar um gesto autentico.
4. Cristo é Rei do Universo não porque se apoderou
do poder com alguma artimanha, mas o recebeu. “Toda autoridade foi dada a mim no céu e sobre a terra” (Mt 28,18).
É o mesmo dado que ouvimos
na primeira leitura de hoje. Jesus não tomou o poder, não se apoderou do Reino dos
Céus, mas foi o mesmo Deus que o entregou para Ele. Isto vale também para nós.
As coisas de deus não podemos comprá-las, mas somente acolhe-las, pois são
fruto do amor e da misericórdia de Deus. Este ultimo domingo do ano litúrgico
deveria nos ajudar a vasculhar na nossa vida de fé, na nossa caminhada de
Igreja, se nos aproximamos a Deus com a arrogância do mundo, querendo ser os donos do pedaço,
ou, pelo contrario, com aquela humildade e simplicidade que caracterizou a vida
de Jesus, que se entregou totalmente, com uma vida de doação e foi por isso que
recebeu do Pai a vida eterna.
5. Nessa altura poderíamos
nos perguntar: quais são os sinais que O Espírito Santo produz na nossa vida
como marco evidente que pertencemos a Cristo e fazemos parte do Seu Reino?
O primeiro o encontramos escrito
na primeira leitura, aonde se fala que o Reino de Deus é eterno. Quem participa
da eternidade do reino de Deus, não desiste nunca perante os próprios compromissos,
mas torna-se fiel até a morte, sem medo de enfrentar qualquer dificuldade,
obstáculo, perseguição.
O segundo sinal é apontado
na segunda leitura aonde se diz que o Senhor doou o seu sangue para nos
libertar. Quem pertence ao reino de Deus torna-se uma pessoa livre, que não se
deixa arrastar pelas paixões, os instintos, mas aprende a dominá-los e a
dirigi-los aonde ele quiser.
O ultimo sinal da nossa
pertença ao Reino de Deus é o mesmo Senhor que o revela. De fato, no final do
Evangelho que acabamos de escutar, Jesus nos lembra que “ Que testemunha a
verdade escuta a minha voz”. Um sinal claríssimo da pertença ao Senhor é o
desejo de escutar a sua voz para que a própria vida se torne uma resposta ao
Senhor.
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