(Am 8, 4-7; Sal 113; 1 Tim 2, 1-8; Lc 16, 1-13)
Paolo Cugini
1. Sempre procuramos, pelo menos as pessoas que estão buscando
uma vida de fé mais autentica e verdadeira, a essência da vida cristã, aquilo
que mesmo deveria ser o foco, o eixo da caminhada, mas nos perdemos em mil
riachos laterais sem nuca chegar ao rio. Isso é visível não apenas em nós, mas
também em pessoas que há tempo estão no Caminho. Passamos o tempo inventando
projetos, organizando eventos, ficando às vezes angustiados porque não saíram
do jeito que a gente quis ou, pelo menos, tinha esperado. O tempo vai passando
e nós ficando com um punhado de moscas nas mãos, nos questionando se a vida
cristã é assim mesmo ou se deveria ser diferente. O grande perigo, nesta fase de
angustia, que pode se protelar a vida toda, é ficar repetindo os mesmos erros,
as mesmas situações. Quando a insegurança toma conta da gente, ficamos até com
medo de pensar, de ousar algo de novo para não sermos criticados, julgados,
dedados. Vivemos, assim, uma vida em defesa, sem élan nenhum, sem empolgação. E
aqui vem o questionamento das leituras de hoje: o Espírito Santo que recebemos
no Batismo e continuamos recebendo nos sacramentos, deve produzir esta vida
segura, monótona, rotineira, ou tem algo a mais?
2. “E o Senhor elogiou o
administrador desonesto, porque ele agiu com esperteza. Com efeito, os filhos
deste mundo são mais espertos dos filhos da luz” (Lc16, 8).
A parábola que Jesus narra
no Evangelho de hoje termina com uma moral, que tão moral não parece. Porque
será que Jesus elogia a esperteza do administrador desonesto? Além do mais,
porque Jesus elogia uma pessoa desonesta: não é uma grande contradição perante
tudo aquilo que ele vem pregando de amor, respeito e tudo mais? Na realidade,
se prestarmos bem atenção às palavras de Jesus, Ele não elogia nem a
desonestidade nem a esperteza, mas sim a criatividade do homem. De fato, o
protagonista da Parábola, usou ao maximo a própria inteligência para se sair
bem de uma situação que tinha tudo para ser ruim pra ele. Esta historia traz
pra nós um grande ensinamento. O questionamento que Jesus traz por dentro da
comunidade dos discípulos, entre os quais estamos hoje também nós, é este: o
que estamos fazendo da Palavra de Jesus e do Seu Espírito Santo? O Espírito
Santo em Jesus agiu de uma forma que progressivamente transformou toda a sua
humanidade em amor, doação, partilha. Alem do mais, o Espírito em Jesus o
levava a criar continuamente novas situações para que o reino de Deus fosse
anunciado. O exemplo mais claro são as parábolas que ele inventava para chamar
á atenção do povo e, assim, induzi-lo a pensar, refletir sobre a própria vida,
se converter á Cristo. A verdade do Espírito Santo que Em Cristo agiu desta
maneira e que Ele entregou pra nós em cima da cruz (cf. Jo 19, 30), não pode
ser desperdiçado, mas deve gerar continuamente amor e, sobretudo, de uma forma
criativa. O problema, então, é esse: porque somos tão resistentes á ação do
Espírito Santo? O que em nós está bloqueando o Espírito Santo, impedindo que
invente algo de novo? Porque somos tão passivos, renunciatarios e preguiçosos a
ponto de prejudicar a obra criativa de Deus? Varias poderiam ser as respostas:
vou apontar somente algumas.
Em primeiro lugar, aquilo
que atrapalha a ação do Espírito Santo na nossa vida é o medo. Este medo se
manifesta de muitas formas e maneiras: medo que o outro não goste de nós; medo
de dizer algo que fere os outros; medo de não sermos aceitados. Ficamos
trancados em nós mesmos para não correr o risco de ficarmos ofendidos, de
sofrer por causa de uma magoa: a que ponto chega o nosso egoísmo, não é? E
assim perdemos a ocasião de experimentarmos o prazer e a felicidade de uma vida
diferente, uma vida de doação aos irmãos e as irmãs, uma vida fora da rotina
corriqueira, mais criativa e dinâmica. É o dinamismo do Espírito que impulsiona
a nossa vida a criar situações sempre nova para permitir a graça e Deus de
moldar a humanidade através da nossa disponibilidade. É a força daquele mesmo
Espírito que levava Jesus a enfrentar com coragem os poderosos do tempo, que
deve agir em nós para não ficarmos calados perante a injustiça que encontramos
no mundo, mas sim inventarmos novas situações para que o povo mais simples
possa viver num mundo mais justo e solidário. Somos passivos porque
amedrontados daquela diferença qualitativa que o Evangelho nos apresenta e que
em Jesus se tornou bem visível. Tememos o julgamento dos amigos, dos colegas,
até dos familiares e, por causa disso recuamos, voltamos atrás, preferindo a
tristeza da vidinha medíocre da massa, á grande felicidade dos poucos
discípulos de Cristo. O cara, deixa de frescura e segue a Jesus: tá?
3. “Usai o dinheiro
injusto para fazer amigos... Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Lc
16, 9.13b).
Como é que se manifesta
esta novidade, esta criatividade que o Espírito deveria realiza em nós? O
exemplo que Jesus traz é em referencia ao nosso relacionamento com o dinheiro.
Estes últimos versículos do Evangelho de hoje expressam, de uma forma
contundente a economia de Jesus, a teoria econômica que sai com força das
paginas do Evangelho. O dinheiro é sempre injusto: esta é a sentença clamorosa
e, ao mesmo tempo escandalosa de Jesus.
È claro que não é a qualquer dinheiro que Jesus se refere, o dinheiro
que serve para comprar o pão, os remédios, e tudo aquilo que necessita para
manter a nossa vida. O dinheiro é injusto quando é acumulado, guardado nos
cofres dos bancos, porque este é todo dinheiro tirado do povo, que gera
desigualdade e pobreza. Em um mundo ganancioso como é aquilo no qual vivemos,
esta proposta de Jesus, que o Espírito Santo deveria produzir na nossa vida
real, parece como uma verdadeira provocação. Na realidade, ou seja, na Verdade
do Evangelho, esta é exatamente a diferença, a diversidade que o Evangelho,
impulsionado pela ação do Espírito Santo, deveria realizar no meio de nós. Vida
despojada porque Cristo se despojou de tudo para dar a nós o tudo de Deus. Vida simples, despojada, porque é o amor de
Deus que é derramado em nós pelo Espírito (cf. Rom 5,5) e isso nos basta, é
suficiente para vivermos. Só o Espírito Santo pode impelir em nós idéias tão
revolucionarias e ousadas como estas pra deixar de queixo aberto todos aqueles
que vivem mergulhados no egoísmo do mundo. E nós, então, passamos fechando a
boca deles, convidando-os a não desperdiçar a própria única vida se apegando
aquilo que passa, mas se doando totalmente aos irmãos e as irmãs, sobretudo
mais pobres, para conseguirmos um tesouro no céu, tesouro que sem duvida
ninguém vai roubar (nem os políticos corruptos que andam nas nossas cidades).
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