sabato 7 settembre 2024

O rosto de Deus

 




  Paolo Cugini

No caminho da amizade o encontro do rosto do outro é de suma importância pois, a final de conta, o rosto revela a identidade do amigo. Na relação com o Mistério a situação é estranha pois, de um lado Ele se manifesta, se aproxima, cria laços, do outro nunca manifesta o seu rosto. São vários os salmos que falam do rosto de Deus e do desejo do homem de vê-lo.

Salmo 4, 6. muitos dizem: Quem nos mostrará o bem? Senhor, exalta sobre nós a luz do teu rosto.

Salmos 31:16. Faze resplandecer o teu rosto sobre o teu servo; salva-me por tuas misericórdias.

Salmos 67:1. Deus tenha misericórdia de nós e nos abençoe; e faça resplandecer o seu rosto sobre nós.

Salmos 80:19 Faze-nos voltar, Senhor, Deus dos Exércitos; faze resplandecer o teu rosto, e seremos salvos.

Salmos 105:4 Buscai ao Senhor e a sua força; buscai a sua face continuamente.

 Os salmos 4, 31, 67 e 80 tem todas a mesma expressão que é também a mesma que escutamos o primeiro dia do ano na leitura do livro dos Números 6. É o desejo que Deus faça brilhar sobre nós o seu roso e se isso acontecer, seremos salvos. Qual é o sentido desta expressão, deste desejo? É a ideia de uma vida completamente em harmonia com o Mistério de Deus. Se, de fato, o rosto indica a identidade, que este rosto brilhe sobre uma pessoa significa que ilumina totalmente a vida daquela pessoa. Esta luz se torna, então, uma grande benção na vida, porque tira definitivamente as trevas.

Continuando a folear as páginas da Bíblia para dar sentido ao nosso discurso encontramos um paradoxo na atitude do Mistério. De fato, enquanto manifesta o desejo de aproximar-se, ao mesmo tempo esconde o seu rosto. Esta dinâmica paradoxal é visível em alguns episódios.

Ex 33,1823. Moisés disse: “Mostrai-me vossa glória.” E Deus respondeu: “Vou fazer passar diante de ti todo o meu esplendor, e pronunciarei diante de ti o nome de Javé. Dou a minha graça a quem quero, e uso de misericórdia com quem me apraz.  Mas, ajuntou o Senhor, não poderás ver a minha face, pois o homem não me poderia ver e continuar a viver.  Eis um lugar perto de mim, disse o Senhor tu estarás sobre a rocha.  Quando minha glória passar, te porei na fenda da rocha e te cobrirei com a mão, até que eu tenha passado.  Retirarei depois a mão, e me verás por detrás. Quanto à minha face, ela não pode ser vista”.

Este é o paradoxo do Mistério. De um lado que se aproximar a cada um de nós, para nos conhecer e revelar a sua glória; do outro lado se esconde, não manifesta a sua face. O Mistério se esconde. Um dia, come sabemos, revelará a sua face de uma forma clara e nítida, mas pelo momento não. Existe uma pedagogia divina nesta dinâmica do escondimento. Para chegara contemplar o rosto do Mistério é necessário um caminho muito comprido, um caminho onde somos convidados a despojar-nos de qualquer forma idolátrica, de qualquer pre-compreensão. O Mistério nos atrai numa relação de amizade, mas para entrar nesta relação é preciso entrar num caminho de despojamento dos nossos ídolos, para criar espaço para o Mistério entrar. Ao mesmo tempo, o Mistério se escondendo, provoca um caminho na interioridade do homem e da mulher. Não é na exterioridade que é possível descobrir a identidade do Mistério, mas somente cuidando da própria alma, dedicando tempo á vida interior.

Deus mostra as costas para Moisés: qual é o mistério desta passagem? Querem dizer o que, simbolizam o que as costas do Mistério? Podem indicar duas coisas ao mesmo tempo. Em primeiro lugar, as costas indicam o sofrimento de Deus por nós. Nas costas de Deus se encontram os marcos de uma relação sofrida e cansativa. Não é fácil pelo Mistério lidar com a realidade humana, marcada pela fragilidade, que leva á desobediência, a dar as costas para Deus. Do outro lado, as costas de Deus mostram que o caminho do homem não termina com o seu respiro, mas tem um futuro no além. O Mistério, indicando as costas e continuando o caminho está convidando a humanidade a segui-lo, a não parar, a lamber as feridas e olhar para frente. A Vida do homem e da mulher que seguem o Mistério tem futuro e, este futuro será revelado com Cristo.

A face Deus não pode ser vista: por que e até quando? Outro texto neste sentido se encontra em 1 Reis. É no ciclo de Elias.

1 Reis 19, 11-13

O Senhor lhe disse: "Saia e fique no monte, na presença do Senhor, pois o Senhor vai passar".
Então veio um vento fortíssimo que separou os montes e esmigalhou as rochas diante do Senhor, mas o Senhor não estava no vento. Depois do vento houve um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto. Depois do terremoto houve um fogo, mas o Senhor não estava nele. E depois do fogo houve o murmúrio de uma brisa suave. Quan­do Elias ouviu, puxou a capa para cobrir o rosto, saiu e ficou à entrada da caverna. E uma voz lhe perguntou: "O que você está fazendo aqui, Elias?"

Aqui encontramos o mesmo paradoxo: o Mistério que nos convida num relacionamento profundo, não se dá a conhecer totalmente. O profeta Elias vive uma profunda experiencia espiritual, que o levou a viver situações dramáticas e de grande solidão. Na narração que acabamos de escutar percebe-se que Elias aprendeu algumas coisas da maneira do Mistério se manifestar, de se aproximar: isso é louvável. Apesar disso, não é ainda preparado ao ponto de poder olhar no rosto do mistério, na sua face.  

O paradoxo de um Mistério que vem ao nosso encontro e, ao mesmo tempo, do mesmo Mistério que esconde o seu rosto, provoca uma tensão nas pessoas visitadas pelo Mistério e que são sensíveis a este apelo. Esta tensão é expressa em várias passagens, sobretudo nos salmos. Por exemplo, podemos citar o salmo 62: O Deus, tu es meu Deus, eu te procuro. Minha alma tem sede de ti. Este versículo expressa o desejo de Deus, a busca dele. A dinâmica da aproximação e do escondimento, provoca o desejo, a busca do Mistério, mantendo, desta forma, a lama numa constante tensão interior.

É com a vinda de Jesus que o Mistério se resolve, pois é Ele que revela de forma definitiva o Mistério do rosto de Deus. O Evangelho de João, a este propósito, escreve:

Ninguém jamais viu Deus; o Filho unigênito, que está no seio do Pai, este o deu a conhecer (Jo 1,18).

Jesus é a manifestação definitiva do Mistério do rosto de Deus. Também Paulo entende assim e escreve: “Ele é a imagem do Deus invisível” (Col 1,15). Jesus desvende o rosto de Deus. De agora em diante a nossa relação com o Mistério tem um rosto, uma identidade clara. Apesar de uma longa história de preparação para a humanidade reconhecer o rosto de Deus no rosto do Filho, infelizmente não aconteceu: “Ele estava no mundo, o mundo foi feito por meio dele, mas o mundo não o reconheceu” (Jo 1,0). Este versículo deveria provocar uma grande pergunta na nossa mente: será que nós o reconhecemos? Em que Deus acreditamos? Qual é o Deus que mora na nossa mente?

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