NOVA ALIANÇA
Jr 31,31-34; Hb 5,7-9; João 12, 20-33
Paulo Cugini
Aproximamo-nos da Páscoa e a liturgia da Palavra dá-nos um
vislumbre do sentido deste caminho espiritual que, ao mesmo tempo, é um caminho
de humanização. Jesus é a nova aliança profetizada por Jeremias, é a luz
nas trevas da noite, é o grão de trigo que morreu para nos dar
vida. Podemos compreender esta novidade libertando-nos das nossas
tentativas de autossalvação, deixando que o Espírito Santo nos toque no fundo
da nossa consciência.
“Porei
a minha lei no seu interior, e a escreverei nos seus corações ” (Jr
31, 33). Numa época, a do século VI a.C., em que a Palestina estava
ameaçada por todos os lados - Egipto pelo Sul e Nabucodonosor pelo Noroeste - e
era perceptível a ruína iminente, que, como sabemos, acontecerá a partir de 587
a.C, o profeta tenta ajudar o povo convidando-o a olhar para outro lugar, para
além da destruição iminente. Se é verdade que a Antiga Aliança não
funcionou, a ponto de os sábios de Israel interpretarem os acontecimentos de
destruição social como consequência da desobediência do Povo às leis que Deus
havia confiado a Moisés, é igualmente verdade que este fracasso não é
simplesmente um sinal de um fracasso histórico sem retorno, mas torna-se espaço
para uma nova possibilidade de vida. Jeremias encoraja o povo de Israel
mostrando-lhe uma nova perspectiva, um novo modo que Deus escolheu para revelar
a sua palavra de amor, que orienta as pessoas para uma vida mais
autêntica. Há, portanto, uma iniciativa de Deus que intervém
surpreendentemente na história, não para condenar a humanidade, mas para
envolvê-la na sua infinita misericórdia: « Perdoarei a sua iniquidade e
não me lembrarei mais dos seus pecados » (Jr 31, 34). É nesta
nova aliança de amor que as pessoas são chamadas a repensar-se e a redescobrir
uma nova forma de estar no mundo. Este modo de proceder de Deus
manifestado pelo profeta Jeremias contém, na minha opinião, um grande ensinamento
para a comunidade cristã. Em situações difíceis em vez de perder tempo a
queixar-se e a pensar nos tempos passados, a comunidade cristã é chamada a
pensar algo novo, a implementar novas estratégias. As leituras de hoje
ensinam-nos que, neste esforço de criatividade, não estamos sozinhos porque podemos
recorrer aos conteúdos que o Espírito derramou em nós, nas nossas consciências
e que estão apenas à espera de serem invocados.
“Se
o grão de trigo não morre fica só, mas se morre produz muito fruto” (Jo
12.24). Se quiséssemos dar um nome, um rosto à Nova Aliança anunciada pelo
profeta Jeremias, só podemos mencionar o nome de Jesus: na verdade, Ele é a
Nova Aliança, é o seu modo de viver por amor, que quebra o estilo de vida
baseado no egoísmo, é a sua doação desinteressada que rompe os padrões
meritocráticos tão presentes também na vida das comunidades cristãs. Só
podemos ir ao encontro do outro de forma desinteressada e livre seguindo o
exemplo de Jesus, se nos encontrarmos num caminho de transformação, de relação
constante com o Senhor, que nos despoja progressivamente dos resíduos do nosso
egoísmo. É o Senhor quem nos salva do nosso destino de solidão, produzido
pela tentativa de realizar a nossa vida confiando apenas nas nossas próprias
forças, o que nos leva a ver os outros não como irmãos e irmãs, mas como
inimigos a combater. Um mundo novo é possível quando aprendemos a ser
visionários como o profeta Jeremias, que viu novos caminhos onde o povo só via
lágrimas e desespero. Quanto a Jesus cuja hora de manifestação da sua
glória se realiza na cruz, sinal do seu imenso amor para com o Pai, assim
também para nós quando despojados do nosso egoísmo vivemos intensamente a vida
fraterna, manifestando assim a nova aliança que é a vida de Cristo entre nós. Isto
é o que o mundo precisa ver para acreditar no Senhor: novas mulheres e homens
que já não vivem para si mesmos, mas que escolhem viver uma vida de doação
gratuita por amor.
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