lunedì 14 settembre 2015

JESUS E' A VERDADE




Paolo Cugini

João  8

1.      O Capítulo 8 apresenta a continuação do “ ensinamento” que Jesus iniciou por ocasião da festa das Tendas: “ Jesus proclamou ainda...” (8,12;7,14). O contexto narrativo é lembrado: Jesus ensinava no Templo, e os adversários queriam apoderar-se dele antes da hora (8,20). Tudo se passa, então, no interior do santuário. Os interlocutores de Jesus são agora os fariseus, até aqui mantidos nos bastidores. O auditório entretanto inclui pessoas que freqüentavam o Templo: Jesus está na esplanada contígua à sala do Tesouro e a presença de grande número é assinalada no v. 30: “ Como proclamasse estas coisas, muitos creram nele”.
2.      O capítulo inteiro pode ser intitulado “Eu sou”, mas a expressão deve ser compreendida corretamente. Jesus afirma ser só por Deus, com quem está em relação constitutiva. Por outro lado, o Eu de Jesus torna-se exemplar para todo homem: se a fé requerida envolve não somente a palavra que Jesus pronuncia da parte de Deus, mas a sua própria pessoa, é porque o discípulo deve reconhecer nele o Filho e, por isso, o que ele próprio é chamado a tornar-se.
O texto está também unificado pela freqüência excepcional, na boca de Jesus, de expressões designando o ato da palavra. Isto reflete-se em muitas réplicas dos judeus e nos três comentários do evangelista. O leitor está na presença do Logos de Deus exprimindo-se em Jesus de Nazaré. O capítulo 8 complementa o prólogo.
3.      O texto apresenta uma seqüência de confrontações, ao longo das quais Jesus se choca não somente com mal-entendidos como no diálogo com Nicodemos, mas ainda com oposição sistemática, com incompreensão profunda, embora de ambas as partes a linguagem provenha de uma mesma tradição, a de Israel. Jesus sublinha a derrota da comunicação: “Por que não compreendeis minha linguagem?” (8,43). Uma tensão dramática resulta deste confronto que termina em tentativa de apedrejamento e, com alcance simbólico, na retirada de Jesus, que abandona o Templo. 
4.      O texto é formado por duas grandes partes, a primeira das quais comporta duas sub-unidades. Uma e outra parte começam por um apelo para seguir Jesus: ele é a luz do mundo (8,12); seu discípulo conhecerá a verdade que liberta (8,31). Na junção das duas partes encontra-se uma pequena nota positiva do narrador: “Como proclamasse estas coisas, muitos passaram a crer nele” (8,30); ela condiciona literariamente a retomada do ensinamento de Jesus no versículo 31: “Disse, então, Jesus aos judeus que haviam acreditado...”.
5.      Ao longo da primeira parte (8,12-30), Jesus justifica o testemunho inicial pelo qual ele se proclamou luz do mundo. Ele afirma por isto sua união com o Pai, que manifestará claramente sua “elevação”. A Segunda parte (8,31-59) é constituída em torno da figura de Abraão, aquele que crê, e de quem os ouvintes de Jesus dizem  “filhos”. Na perspectiva deste texto, todo homem é movido em sua conduta por um Outro, que é a fonte dele próprio. Esta origem não é fatalidade, mas escolha. É por isso que Jesus estigmatiza nos ouvintes a rejeição da verdade e a intenção homicida em que se exprime seu alívio: é o diabo que eles escutam, o Divisor por excelência. Seus comportamentos são o inverso do de Abraão, que acreditou na Promessa. Abraão acreditou n’Aquele que agora, por sua perfeita comunhão com o Pai, se define.
6.      Proclamando-se a luz do mundo, Jesus revela aquele que, ainda desconhecido dos homens, estava oculto em Deus para a salvação deles: afirmará que sua palavra, recebida do Pai, é verdade divina (8,45-47) e que guardá-la significa jamais ver a morte (8,51s). finalmente ele falará de seu “Dia” (8,56); este termo evoca o surgimento da claridade na obscuridade da noite.
Enfim, apresentando-se no Templo como a luz, Jesus afirma que se cumpriu em sua pessoa a longa expectativa, existente em Israel, da luz definitiva, aquela que preparava para a Luz da lei, depois para a sabedoria e que se identificaria com a luz messiânica.
7.      Após  as imagens do pão que alimenta para a vida eterna e da fonte que dessedenta para sempre, a da luz exprime a transformação da condição humana, segundo a esperança que já animava o Salmista. A treva que se opõe à luz não é aqui o nada mas, como mostra o texto, o desconhecimento de Deus como Pai.
8.      Jesus afirma primeiramente que seu testemunho vale em razão de seu saber. Ele já proclamou que vem do Pai e que retorna a ele: aqui insiste no conhecimento que tem de sua origem e do seu destino (8,14:


9.      cf.13,13): ele “sabe”, enquanto seus interlocutores permanecem na ignorância a seu respeito. Essa conseqüência pessoal situa Jesus fora do comum dos mortais: estes estão mergulhados num presente que não está imediatamente ligado à origem e ao fim; Jesus não está encerrado no seu espaço, ele domina o tempo e seu próprio ser. Por que, senão por ser do alto (cf. 8,23), perfeitamente unido àquele que o enviou, o Pai?  
De novo, o texto começa por um apelo relativo ao discípulo: Jesus, que chamou a “segui-lo” (8,12), convida agora a “permanecer” na sua palavra. Há progresso, ou pelo menos explicitação: se necessário passar de uma adesão pronta à  interiorização da palavra de Jesus, “guardá-la” (v. 51), é porque o próprio Filho “guarda” a palavra do Pai (v.55).
9.  A liberdade que a verdade (o Filho) dá é concedida aos discípulos de Jesus; tais são os dois pontos a         desenvolver: ser discípulo e tornar-se livre.
O anúncio inicial põe a condição para chegar ao estado de “discípulo” ( palavra que aqui aparece pela primeira vez na boca de Jesus) e de discípulo “verdadeiro”, distinguindo-se dos que abandonaram o Mestre (cf.6,66). Pensa-se no discípulo amado, protótipo daqueles que Jesus chama de “amigos”. O primeiro engajamento deve tornar-se fé autêntica. Não se tratará somente de “seguir”  Jesus (8,12) ou de confiar nele (8,31), mas de “permanecer” em sua palavra, de assimilá-la, de existir por ela e descobrir que ela é a palavra do próprio Deus. Permanecendo na palavra de Jesus, o discípulo “compreenderá”, entrará num conhecimento sempre mais profundo, que é comunhão com o objeto conhecido, a “verdade”.
Segundo sua etimologia hebraica, a palavra “verdade” (émet) expressa aquilo que assegura solidamente no ser; marcando à relação duradoura e sem cessar aprofunda entre dois seres, eqüivale à relação de “fidelidade”, termo que caracteriza o Deus da Aliança. A tradição sapiencial identifica a verdade à Sabedoria, e a apocalíptica, ao “mistério” do desígnio de Deus (Dn 10,21). Em João, a palavra conota o conhecimento imediato que o Filho tem do Pai. A proposição aqui parece nova: se antes da vinda do Filho o chamado a permanecer na palavra anunciada pelo Filho que saiu de Deus. Por isso, o Filho toma no v. 36 o lugar que tinha a verdade personificada (cf.1,14; 14,6.
10.    À guisa de introdução, Jesus diz uma frase surpreendente: “Vós não podeis ouvir minha palavra” (v. 43), o que é mais grave que a reprovação anterior: “Minha palavra não penetra em vós” (v.37); pois Jesus não diz: “Vós não quereis”, mas “vós não podeis”, como se eles fossem vítimas de um determinismo. Parece insinuar alguma predestinação para o mal. Os ouvintes estariam destinados a não compreender? Tal dedução desorientaria o leitor. Se eles não podem ouvir, é porque se tornaram incapazes; endureceram-se por causa deste “determinismo do pecado que se nutre de sua própria  substância”. Tornando-se surdos aos mandamentos de Deus, eles ficam fechados a toda nova palavra.
11.        O Combate de Jesus contra Satã torna-se para os crentes a luta por sua fé e por sua fidelidade a Jesus diante do assalto do “mundo”. Quando, na iminência da Paixão de Jesus, Satã se desencadeou contra ele, Jesus afirmou aos discípulos: “Sobre mim ele não tem poder algum” e “Ele já está condenado” (14,30; 16,11; 1Jo 3,8). Ameaçado nos seus pelo “mundo”, Jesus tem um defensor, o Paráclito, que demonstra ao coração dos fiéis o erro e a culpa do mundo, quer dizer daqueles que recusam obstinadamente a luz (16,7-11).

12.        Alguns preferem continuar a falar de Satã como de um indivíduo nefasto, outros acham que ele é a personificação do Mal universal. Que importa?! O essencial é que Jesus o derrubou quando, por fidelidade ao Pai, abriu definitivamente  aos homens a relação viva com Deus, aquela que Satã se esforçou por impedir ou por destruir. É inerente à nossa condição humana e também à autenticidade de nosso ‘sim’ que Satã nos afronte, pelos desvios do “mundo” fora de nós e em nós, com a sua presença ao mesmo tempo enfurecida e já vencida.

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