O MISTÉRIO PASCAL NA BÍBLIA E
NOS PADRES
Paolo Cugini
- Não apenas
surge em Israel a festa da Páscoa, nasce também a pergunta: “o que significa
este rito?” (Ex 12, 26). Esta pergunta é parecida a uma outra pergunta que nós
encontramos nos Padres de Igreja: “o que nós lembramos nesta noite?” ou “por
quê estamos aqui nesta noite?” (São Agostinho).
[1] Os dois sentidos da Páscoa.
A esta
pergunta o A.T. tem duas respostas diferentes.
a)
Es 12, 26-27: a festa da Páscoa lembra em primeiro lugar a passagem de Deus. O
nome mesmo da Páscoa é feito derivar dum verbo que indica a ação de Deus que
“passa sobre”, “pula”, “poupa”, “protege” as casas dos hebreus, contra-golpeia
aquelas dos inimigos.
Então Páscoa
porque Deus passou! O acento é todo sobre a iniciativa divina, ou seja, sobre a causa da salvação.
b) Dt 16, Ex 13-15. No livro de
Deuteronômio a atenção passa do momento da indagação do cordeiro a aquilo da
saída do Egito que é interpretada
como passagem de escravidão e
liberdade.
Muda o
protagonistaà não é mais Deus que passa e salva, mas é o homem
o povo que passa e é salvo.
a e b são
duas respostas complementares: e povo é libertado para servir a Deus. (ex 4, 23;
5, 1).
Tempo de
Jesus:
a) Judaísmo oficial palestinense: na sombra do templo
e do sacerdócio hebraico predomina a interpretação teológica (a).
------ do Êxodo: a historia da salvação é resumida nos
quatro eventos fundamentais que são: a criação, o sacrifício de Isaac, a páscoa
e a escatologia (as “quatro noites”). Neste texto a Páscoa é narrada como “a
noite onde Deus manifestou contra os egípcios e protegeu os primogênitos de
Israel.
Neste
ambiente - que foi aquilo de Jesus- a Páscoa em um sentido fortemente ritual e
sacrifical. Consiste numa liturgia concreta; cujos momentos essenciais são a
imolação do cordeiro no templo, na tarde de 14 do mês de Nisan e a sua
consumação na noite sucessiva.
b) Judaísmo helenístico (dos gregos). Predomina
a explicação antropológica. Aqui o evento histórico central é a passagem do
povo através o Mar Vermelho, que tem um sentido alegórico, ou seja, a passagem
do homem da escravidão e liberdade, dos vícios a virtude.
-
Se a
Páscoa é essencialmente a passagem dos vícios a virtude, ela com certeza não
terá por sujeitos a Deus, mas o homem e não se celebrará com a liturgia, mas
através de esforços interior rumo ao bem. O cordeiro pascoal de oferecer é o
próprio esforço espiritual.
Quando é que
começa a existir uma festa cristã da Páscoa?
-
A
primitiva comunidade cristã, depois da morte e ressurreição de Jesus, além de
subir ao tempo dos judeus, começou a pensar e a viver esta festa não mais como
uma lembrança dos acontecimentos do êxodo e como espera de Messias, mas como
lembrança daquilo que aconteceu alguns anos antes.
-
data
cronológicaà Cristo morreu em Jerusalém durante uma páscoa
hebraicaà Joãoà Onde Cristo morreu era o mesmo momento da
imolação dos cordeiros no templo.
-
data
tipológica: Aquele evento,
a imolação de Cristo foi percebido como a realização de todas as festas da
antiga páscoa. (cfr Melitone de Sardi).
[2] A Páscoa Paixão
Também no
crisma primitivo saem duas respostas complementares.
a) até o terceiro século teve uma tradição que
se desenvolve na Ásia Menor (tradição asiática). Nesta tradição o protagonista
da Páscoa não é o homem e nem Deus do A.T., mas Cristo. Ao centro da Páscoa
está a morte de Cristo como evento da salvação. A páscoa e a lembrança de tudo
aquilo que Jesus Cristo padeceu por nós.
Tudo isso por
causa de um erro, ou seja porque a palavra hebraica é pascheinà passagem,
e a palavra grega é patheinà padecer. Eles fizeram derivar uma palavra
hebraica de uma palavra grega. “A sua paixão foi a nossa ressurreição”.
[3] A Páscoa passagem
b) A segunda grande tradição da Páscoa nasceu
na Alexandria, no Egito (Clemente, Origem).
Toda a vida
do cristão é pensada como em êxodo, como um caminho contínuo. A Páscoa
verdadeira está na frente, a Páscoa celeste.
(a) A paixão de Cristo
(páscoa teologia)
O que significa este rito
(b) A passagem do homem
(páscoa antropologia)
Agostinho
lendo João 13 resolve o problemaà Páscoa é a passagem de Jesus de este mundo
ao Pai.
É através da
sua paixão que Jesus passou de este mundo ao Pai e alcançou a gloria da
ressurreição.
Paixão e
passagem não são mais duas explicações diferentes, mas complementares.
Páscoa de Deus e Páscoa de homemà. Em Jesus
os dois protagonistas da Páscoa - Deus e o homem - param de parecer um contra
outro e se tornam um só, porque em Cristo humanidade e divindade são a mesma
pessoa.
aquele de Jesus
não é apenas uma passagem sozinha mas é a passagem de toda a humanidade ao Pai.
Quer dizer
isso? Que na Páscoa nasceu a Igreja com o povo que está caminhando atrás de
Jesus de este mundo ao Pai.
Sentido espiritualà todos já passamos com Cristo ao Pai e “a
nossa vida é já escondida com Cristo em Deus” (Col 3, 3), porém ainda devemos
passar.
Somos passados na esperança e no sacramento (batismo), mas devemos
passar na realidade da vida cotidiana, imitando a sua vida e sobretudo o seu
amor.
“No presente
a gente cumpre esta passagem por meio da fé que nos doa o perdão dos pecados e
a esperança da vida eterna se, porém amamos a Deus e ao próximo”. (Agostinho).
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