XVII DOMINGO/B - TEMPO COMUM
(2Reis 4,42-44; Sal 145; Ef 4,1-6; Jo 6,1-15).
Paolo Cugini
1. Sempre falamos que Jesus entra na historia
para divinizar, por assim dizer, a nossa humanidade, mas nem sempre ouvimos
palavras que nos ajudam entender este mistério da fé. Deus entra no tempo, se
faz homem, assume uma carne como a nossa e consegue leva-la pura e santa perto
do Pai, abrindo um caminho único, mas autentico, para conduzir a humanidade
toda no Reino de Deus. É verdade que este caminho é um pouco estreito, que o povo
fica chiando quando o encontra, pois percebe que para entrar deve deixar por
trás um monte de coisas, ou seja, aquilo que chamamos de vida mundana; é também verdade, porem, que
vale a pena ariscar-se nesta vereda na qual podemos encontrar a salvação.
O
grande filosofo francês Blaise Pascal dizia que a fé é um risco e que a
humanidade não tem outra alternativa. De fato, só arriscando o homem poderá
saber se além da morte existe a vida eterna. Vamos, então, nos arriscar na
reflexão para ver o que acontece na humanidade que se deixa transformar pela
ação do Espírito Santo.
2. “Levantando os olhos e vendo que
uma grande multidão estava vindo ao seu encontro, Jesus disse a Filipe: ‘Onde
vamos comprar pão para que eles possam comer?” (Jo 6,5).
É interessante acompanhar o jeito de Jesus
encarar a humanidade. Perante uma humanidade carente, faminta e sedenta, Jesus
não se faz de bonzinho, colocando uma atitude paternalista e
deresponsabilizante, como é aquela dos nossos políticos ou, pelo menos, da
maioria. Sem duvida Jesus, o Filho de Deus, podia resolver o problema sem
envolver ninguém. Deus quer que o homem seja protagonista ativo da própria
salvação, e não espectador passivo e inerte. Perante o problema da multidão
faminta, Jesus abre o problema para os seus discípulos para que também eles,
além de aprender a sentir o peso da responsabilidade, se esforcem na busca de
uma solução. Este é, a meu ver, uma linda imagem da Igreja. Não é o Papa, o
Bispo, o Padre, o Abade, a Madre o dono da Igreja. Sem duvida nenhuma, cada um
deles têm um função de responsabilidade insubstituível. É o jeito de realizar
esta responsabilidade que Jesus, no trecho que estamos comentando, questiona e
ensina. Na Igreja, assim como Jesus a quis, a autoridade é para servir e não
para aniquilar ou, pior, massacrar, humilhar. É o mesmo Jesus que disse para os
discípulos que estavam brigando entre eles para saber quem era o melhor: “Entre vós não deve ser assim”.
Além
disso, na ceia derradeira Jesus, depois
de ter lavado os pés para os seus discípulos, acrescentou:“Eu que sou o Mestre e o Senhor, lavei os seus pés; por isso vocês devem
lavar os pés uns dos outros. Eu lhes dei um exemplo: vocês devem fazer a mesma
coisa que eu fiz” (Jo 13,14-15).
Lavar os pés um dos outros, no texto que
estamos comentando, significa fazer de tudo para que as pessoas se sentem
protagonistas, responsáveis da própria salvação, do próprio caminho de fé.
Jesus primeiro envolve os discípulos – Filipe, André – e eles envolvem a
multidão representada por o menino dos cinco pães e dois peixes. Outro dato
importante é que o mesmo alimento não desceu do céu como o maná no deserto, mas
é doado da multidão. Nessa altura dá pra perceber que a caridade que a Igreja,
em nome de Jesus, é chamada a viver e realizar, não é resolver os problemas da
humanidade toda. Para responder aos problemas que a Igreja encontra no próprio
caminho, deve aprender a envolver os interessados, criar laços e condições de
dialogo para que a resposta saia da multidão, para deixar que sejam as pessoas
a oferecer caminhos de resposta e a partilhar aquilo que já existe. (Aqui seria
interessante avaliar a qualidade cristã de tantos projetos sócias que as
paróquias ou as dioceses realizam com o dinheiro fácil que vem de fora sem
envolver ninguém).
3. “Jesus
tomou os pães, deu graças e distribui-os aos que estavam sentados, tanto quanto
queriam” (Jo 6, 11).
Como entender este versículo á luz daquilo
que refletimos? É a liturgia que, desta vez, nos ajuda a penetrar o mistério da
Palavra escutada. De fato, quando no ofertório durante a Missa são apresentados
o pão e o vinho, é a nossa mesma humanidade a ser apresentada, para ser
transformada e, assim, partilhada. Este é o esforço mental que deveríamos fazer
quando, na procissão ofertorial, são oferecidos o pão e o vinho. Naquele
momento, cada um de nós deveria oferecer a própria semana, as situações
criticas, os relacionamentos negativos que prejudicaram a amizade e a paz em
casa ou, com os amigos. È neste momento que toda a nossa humanidade deveria ser
oferecida para que seja transformada junto com o pão e o vinho. È São Agostinho
que, numa famosa homilia, nos lembra que na hora do ofertório na mesa do altar
não são colocados apenas o pão e o vinho, mas também a nossa vida.
Como é que se revela uma humanidade transformada?
Em outras palavras: como é que posso avaliar se a participação na Missa foi
ativa, presente, com o desejo de mudar?
É são Paulo que, na segunda leitura de hoje,
nos oferece a resposta.
“Vos exorto
a caminhardes de acordo com a vocação que recebestes: com toda humildade e
mansidão, suportai-vos uns aos outros com paciência, no amor” (Ef 4,1-2).
Quando na nossa existência começam aparecer
estes sentimentos, que eram os mesmos de Cristo, então isso significa que na
nossa humanidade o Espírito Santo está encontrando o espaço para poder agir. Se
entrei hoje na Igreja para participar desta santa Missa com no coração uma o
mais pessoas que não suporto, que não consigo nem encostar, então é isso mesmo
que devo colocar na mesa do altar, para sair dessa missa com o desejo de
apaziguar estas situações de inimizade. “Entre
vós não deve ser assim”: por isso procuro a Eucaristia do Domingo, para
abastecer a minha alma daquele amor imenso que se manifestou na cruz de Cristo
e que tem o poder de derreter a minha teimosia, o meu coração duro, o meu
egoísmo. Nessa altura dá pra perceber quanto importante seja a Missa do
domingo, para uma vida melhor, uma existência aonde seja possível realizar o
sonho de Deus que é o seu Reino, Reino de paz, amor e justiça.
A verdade
de cada Missa está na possibilidade real que o Senhor tem de modificar a
historia, a humanidade toda. Cabe a nós, com a nossa disponibilidade, fazer com
que isso se realize.
Nessun commento:
Posta un commento