Omilia Domingo V°/B
(Jó 7,1-4.6-7; Sal 146; 1 Cor 9,16-19.22-23; Mc 1,29-39)
Paolo Cugini
1. O Deus no qual acreditamos não é qualquer Deus, mas sim o
Deus de Jesus Cristo, o Deus que Jesus manifestou com a sua vinda na terra.
Jesus não apenas manifestou o rosto de Deus, mas também expressou a idéia de
Deus sobre a humanidade. Se, de fato, Jesus o Filho de Deus se fez presente no
meio de nós é porque Deus declarou doente a nossa humanidade, uma doença
espiritual, que é a desobediência ao seu plano de amor, que se manifesta ao
externo como enfraquecimento físico de toda a humanidade que, de agora em
diante é destinada á morte, á todo tipo de doença. Na perspectiva bíblica
existe uma ligação intrínseca não apenas entre fé e vida, mas também entre
corpo e Espírito, matéria e forma; ligação que deve ser entendida no sentido
profundo para podermos perceber e entender o sentido da ação de Deus em Cristo
Jesus na historia. Se Jesus veio ao mundo é para curar a humanidade por dentro,
na sua alma estragada pelo egoísmo que provoca uma incapacidade crônica de viver
de uma forma autentica. A morte é o caminho que a humanidade implicitamente
escolheu de viver se opondo ao plano de Deus. E é exatamente esta vida de morte
que Jesus veio sarar para sempre.
2. “Minha vida é apenas
um sopro e meus olhos não voltarão a ver a felicidade” (Jó 7,7).
Esta frase de Jó, que
escutamos na primeira leitura, reflete a condição humana; a nossa vida não
passa de ser um sopro. A caducidade humana é manifestada nas doenças que,
aliás, são sintomas da morte, ou seja, do destino terrível do homem. Por isso
Jó se queixa da vida, das lutas que o homem deve enfrentar sem saber o porque
de tanto sofrimento. Se, de fato, tudo acaba a que adianta passar a vida toda
lutando. É este um tema clássico não apenas da literatura bíblica, mas também
da sabedoria popular de todos os tempos. É o questionamento que é levantado
sobre o sentido da vida que é expresso também no Evangelho de hoje através da
doença, que não é entendida apenas como um dato inelutável, que leva a
humanidade toda pela morte, mas sim uma situação na qual Deus manifesta o seu
poder. Jesus, entrando em contato com a humanidade doente, não apenas elabora
uma reflexão, mas exerce uma cura que salva. Esta é sem duvida nenhuma a grande
novidade da presença de Jesus na historia que, porém deve ser interpretada para
não correr o risco de desembocar em fáceis, mas também perigosos materialismos.
De fato, se Jesus cura as doenças, a sua ação não pode ser encurralada no
simples ato físico, como se Ele exercesse a mera função do medico. A cura
física das doenças é o símbolo da cura profunda que Jesus veio realizar, ou
seja, o pecado do mundo. Jesus é o nosso salvador porque veio curar a nossa
alma. Este é o sentido do caminho espiritual que realizamos na Igreja: sair da
doença espiritual do pecado, que se manifesta como teimosia contra Deus e o seu
plano, para nos encontrarmos em Deus. O problema é que, para realizar este
caminho de salvação, precisamos admitir que somos doentes e, então, que
precisamos do medico espiritual, que é Jesus, e dos seu remédios espirituais
aos quais não somos acostumados. Por isso é necessário escutar o Evangelho,
pois é nele que encontramos a Verdade que manifesta a realidade, que nos
permite da sair do nosso mundo de mentira e falsidade.
3. “De madrugada, quando
ainda estava escuro, Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto” (Mc
1,35).
Jesus não busca a
gratificação no sucesso pessoal, naquilo que realiza, mas sim no seu
relacionamento com o Pai: é isso que me parece um dos maiores ensinamentos de
Jesus. A doença da humanidade movida
pelo orgulho e pelo egoísmo se manifesta amiúde como insatisfação, pois todo o
esforço, o anseio da vida, é colocado nas coisas materiais. Jesus, pelo
contrario, não busca nos atos que ele cumpre, nos milagres que ele realiza uma
satisfação pessoal, pois não é na vida material que Ele colocou a própria
realização. É isso que aprendemos em versículos como aquele que acabamos de
citar, que mostram Jesus fugir da multidão para procurar de madrugada ou de
noite lugares desertos, afastado da multidão e ali se entregar á oração, que
por Jesus não é um dever, mas sim uma profunda exigência da alma. É no
relacionamento com o Pai que Jesus busca o sentido da própria existência, um
Pai que busca no silencio porque sabe que Deus olha no coração. Por isso Jesus
não se deixa iludir do aparente sucesso diante dos milagres que Ele realizava
e, ao mesmo tempo, não se deixa abater pelo fracasso que a sua pregação
provocava. A força de Jesus está no Pai, no seu amor, e não na aparência das
conquistas humanas. Sem duvida nenhuma este ensinamento de Jesus é algo que
mexe com as prioridades matérias da nossa existência, pois, apesar de tantos
discursos, não somos acostumados a priorizar a vida espiritual, a buscar Deus
como eixo da nossa existência. As nossas orações, se comparadas com aquelas de
Jesus, não são nada mais que um punhado de palavras decoradas sem muito
sentido. A oração de Jesus nos ensina que o dialogo com Deus deve moldar a
nossa mente, orientar as nossas ações, formar o nosso pensamento, preencher os
nossos anseios. Só assim poderemos sair de uma experiência religiosa estéril,
que não leva em canto nenhum, que serve somente para tapear a nossa consciência
e não ouvir o ruído que nela escutamos.
4. “Devo pregar também
ali, pois foi para isso que eu vim” (Mc 1,38).
A busca constante da
vontade de Deus, a entrega da própria existência nas mãos do Pai tem como
conseqüência, a clareza sobre a própria identidade. Jesus sabe o que quer, ou
melhor, sabe o que o Pai quer dele, pois é só isso que ele deseja. O dialogo
incessante com o Pai, a busca do seu amor, leva Jesus, o Filho, a desejar pela
própria existência nada mais do que isso. A força, a verdade da oração se
manifesta em Jesus com a clareza sobre a própria identidade. Jesus não perde
tempo, pois ao longo da caminhada, sabe muito bem o que o Pai exige dele. Esta
firmeza, esta clareza da própria vocação, do sentido do lugar que Ele veio a
ocupar no mundo, machuca bastante a nossa insegurança, o sentido que nós temos
da nossa identidade, não apenas como pessoas, mas também como membros da
Igreja. De fato, muitas vezes transferimos a nossa inconsistência espiritual, a
nossa fraqueza vocacional, dentro da vida da Igreja prejudicando o caminho de
tantas pessoas. Nesta Santa Eucaristia pedimos ao Senhor que nos ajude a
consolidar a nossa vocação através de uma vida de oração mais profunda e mais
autentica, seguindo o exemplo de Jesus.
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