Jer 20, 10-13; Sal 69; Rom 5,
12-15; Mt 10, 26-33
Paolo Cugini
1. É
interessante notar como o Senhor acompanha os nossos passos indicando o caminho
que devemos trilhar. Faz isso às vezes nos falando através de pessoas amigas,
ou através de uma liturgia. Sem duvida, porém, a maneira mais explicita de Deus
intervir na nossa historia para nos orientar é a sua Palavra. O problema é
prestar atenção a esta Palavra como algo de vivo, presente, considerá-la na sua
realidade especifica, ou seja, como Palavra que Deus dirige para nós hoje, para
iluminar o nosso caminho. De fato, a palavra “é Lâmpada para os nossos passos” (Cf. Sal 119), é Ela que
revela o caminho que devemos tomar no meio das trevas deste mundo. E para que a
Palavra se torne eficaz na nossa vida precisamos escutá-la, não apenas com as
orelhas do corpo, mas sim, sobretudo com as orelha das almas, do coração, para
que Ela penetre dentro de nós, modificando as atitudes erradas. A coisa pior
que podemos fazer é questionar a Palavra, achar que as nossas idéias sejam
melhores daquelas de Deus e por isso não prestamos muita atenção. Pelo
contrario todos aqueles que amam a Jesus perante uma pagina do Evangelho
deveriam se perguntar: o que Tu Senhor quis dizer? E em seguida: o que esta pagina
quer dizer para mim, na minha realidade? É com estas duas perguntas que
entramos no Evangelho de hoje.
2. “Não tenhais medo dos homens... Não tenhais
medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma” (Mt
10, 26.28).
No
texto do Evangelho de hoje ouvimos os versículos conclusivos do assim chamado
discurso apostólico, aonde Jesus envia os discípulos para anunciar o Evangelho,
alertando-os sobe os obstáculos que irão encontrar ao longo do caminho. Um dos
perigos que Jesus vislumbra é o medo que pode surgir nos discípulos perante a
ignorância do mundo que, não entendendo e não compreendendo o Evangelho,
persegue com a força os seu arautos. O medo é um sinal de falta de fé, porque
quando confiamos em Deus conseguimos enfrentar qualquer situação. Além do mais
estas palavras de Jesus alertam os discípulos sobre a essência da mesma
mensagem evangélica, que é a liberdade.
Por isso nada pode atrapalhar a
liberdade dos cristãos, nem a arrogância insolente do mundo, a prepotência dos
homens que se sentem o dono do mundo pelo fato de estarem senados nas cadeiras
do poder. Por um Cristão é somente a Deus que devemos respeito e a seu Filho
Jesus Cristo: é só perante Ele que devemos dobrar o joelho. Pelo resto nada
mais que uma consideração humana e, sobretudo, nada deve intervir que possa
prejudicar o nosso relacionamento com o Senhor. O Espírito é Liberdade e o
Senhor veio para libertar o mundo da toda forma de escravidão. Por isso o
Evangelho da liberdade entrando no mundo se choca com as forças do poder das
trevas, que se organiza com o único objetivo de prender os homens e as mulheres
para que se tornem escravos. O cristão, pelo contrario, não pode ser escravo de
ninguém porque Deus pagou um preço salgado para libertá-lo, o sangue do seu
Filho Jesus.
Ser
cristãos seguidores de Cristo significa ser livres, cujo único Senhor é Cristo:
é Ele o Deus da vida. Entender isso significa impostar a própria existência
conforme o plano de Deus vencendo o medo que os homens colocam em nós para nos
desistir.
3. “Temei aquele que pode destruir a alma e o
corpo no inferno!” (Mt 10, 28).
Este
versículo oferece uma importante indicação pela vida espiritual. Se devermos
temer aquilo que pode destruir a alma, significa que é à alma que devemos
prestar atenção mais do que ao corpo. Neste sentido o medo dos homens é um
reflexo do apego das pessoas pelo corpo ou, num sentido mais geral, pelas
coisas materiais. Quanto mais zelarmos da nossa alma, cuidando de viver
conforme ao Evangelho, tanto menos sentiremos a atração por aquilo que o corpo
oferece. Isso é importante porque, como nos lembrou são Paulo na segunda
leitura de hoje, “o pecado entrou no
mundo através de um só homem e a morte passou por todos os homens porque todos
pecaram” (Rom 5, 12). Zelar da alma significa zelar de nós mesmos, não
permitindo que a morte possa entrar na nossa vida. Existe uma experiência de
morte que o homem faz também quando é em vida. É a morte espiritual, a morte da
alma, a morte causada pelo nosso afastamento de Deus. Quando isso acontece o
vazio toma conta de nós e, junto com isso, o apego às coisas materiais, o apego
ao corpo toma conta da vida toda. Por isso o medo dos homens é um sintoma de um
vazio de Deus, pois na realidade quem ama a Deus de verdade não tem medo de
nada e de ninguém, tanto menos dos homens que não tem nenhuma chance de mexer
na nossa alma.
4. “Eu ouvi as injurias de tantos homens... Mas
o Senhor está ao meu lado como forte guerreiro; por isso aquele que me
perseguem cairão vencidos” (Jer 20, 11).
Tudo
aquilo que ouvimos no Evangelho é bem visível na experiência do profeta
Jeremias, assim como é narrada na primeira leitura de hoje. Jeremias é um
profeta que foi chamado por Deus na juventude para anunciar a destruição de
Jerusalém por causa dos pecados do povo, provocando a ira do mesmo povo.
Jeremias passou por muitas perseguições, angustias, mas em tudo experimentou a
presença do Senhor. Isso deve nos servir do exemplo. De fato, sabemos que
anunciar e viver o Evangelho num mundo que não conhece a Deus e nem se
interessa por Ele é difícil e pode provocar muitas situações de tensões além de
persecuções. Sabemos, porém, que o Senhor não nos abandona, pois sempre Ele
está ao nosso lado, para nos encorajar, para que não esmorecemos perante os
homens, aqueles que se acham os poderosos deste mundo, mas que na realidade de
Deus não são absolutamente nada porque que manda na historia é Cristo. É em
Cristo que Deus colocou toda a plenitude da sua divindade (Cf. Col
1, 19). Isso quer dizer que é somente a Cristo que devemos dar conta da
nossa vida e a nenhum outro homem ou mulher que seja. Quando conseguirmos
entender isso quer dizer que somos livres, livres dos tiranos deste mundo que
no maximo podem matar o corpo, mas não
podem fazer nada à nossa alma, pois quem manda na alma e na historia toda é
Deus. O profeta Jeremias nos ensina que a fé em Deus, a confiança na sua
presença e no seu amor por nós, se manifesta na nossa maneira de lidar com as
forças do mundo que amiúde nos amedrontam e que agora em Cristo foram
totalmente vencidas e não tem mais nenhum poder sobre a humanidade.
Pedimos
a Deus que nos ajude a viver aquela força que recebemos na Eucaristia para
sermos presença viva do mundo da liberdade de Cristo.
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