(Pr 8, 22-31; Sal 8; Rom 5, 1-5; Jo
16, 12-15)
Paolo Cugini
1. Depois das semanas do tempo pascal, que encerraram domingo
passado com a celebração da solenidade do Pentecostes, a Igreja nos convida á
entrar no mistério da Trindade. Isso é algo que nos deixa bastante sem jeito,
pois, também nós, não conseguimos entender o sentido deste mistério que, aliás,
é o mesmo mistério de Deus. A liturgia nos pede humildade para entrarmos neste
mistério sem a presunção de entendê-lo, mas, pelo menos, de vivê-lo. Deus é uno
e trino: quer dizer isso? Deus é amor e o amor se revelou na historia e
continua se revelando de formas diferentes. Em que maneira, então, Deus
manifestou o seu amor na historia aos homens e as mulheres de todos os tempos?
2. “Quando [Deus]
preparava os céus, ali estava eu [a sabedoria]... Quando fixava ao mar os seus
limites... eu estava ao seu lado como mestre-de-obras” (Pr 8, 27.29.30).
Conforme
aquilo que escutamos na primeira leitura o amor de Deus se manifesta como
sabedoria. Deus cria o mundo e a historia não de qualquer jeito, mas com
sabedoria. Em tudo aquilo que encontramos na criação podemos perceber com a
nossa inteligência vestígios e rastros da sabedoria de Deus. Se o homem e a
mulher são criados a imagem de Deus então, um dos traços desta imagem é sem
duvida a inteligência, que o instrumento para alcançar a sabedora e, de uma
forma indireta, descobrir os traços, os vestígios da sabedoria presentes na
criação. Tarefa da Igreja torna-se, então, ajudar as pessoas a crescer na
sabedoria de Deus meditando a sua Palavra, prestando atenção á obra da criação.
Tarefa da humanidade é sair do estado de estupidez no qual nascemos,
mergulhados nos sentidos humanos que ofuscam a nossa inteligência. Por essa
razão quando Jesus, o Verbo de Deus, veio ao mundo se apresentou com a Verdade:
só um ser inteligente, somente uma pessoa que cultiva a sabedoria, a
inteligência pode reconhecer a presença do amor de Deus no mundo através dos
sinais inteligíveis da sua sabedoria. Folhando as paginas dos Padres da Igreja
dos primeiros séculos do cristianismo, considerada a época de ouro da Igreja,
encontramos este grande esforço de colher os sinais da sabedoria de Deus no seu
plano de salvação, que se manifestou de uma forma contundente na vinda do seu
Filho Jesus. A sabedoria de Deus, com o qual Deus criou o mundo não é apenas
uma sabedoria puramente racional, mas encarnada nos fatos, acontecimento
históricos. Por isso, para reconhecê-la, necessita de um preparo espiritual que
somente a internalização das Divinas Escrituras pode oferecer.
3. “Irmãos, justificados
pela fé, estamos em paz com Deus, pela mediação do Senhor nosso, Jesus Cristo”
(Rom 5, 1).
O amor de Deus
não se manifestou no mundo e na historia apenas como sabedoria, mas também com
a vinda do Filho Jesus Cristo. Ele encontrou uma humanidade condenada
definitivamente á morte por causa da incapacidade de viver a Lei de Deus,
incapacidade causada pelo pecado que estragou gravemente a humanidade. Jesus
entrou na historia vivendo até o fim o âmago da Lei que é o amor. Na historia
da salvação o amor não se identifica nunca como uma teoria, como algo de
abstrato, mas é sempre relacionado á alguém. O Evangelho de João, antes da céia
derradeira, faz questão de frizar que Jesus “tendo amado o seus que eram no mundo, amo-os até o fim” (Jo 13,1).
A carta de
Paulo aos Romanos nos solicita a olhar a Jesus não apenas pelas suas lindas
palavras ou os milagres mirabolantes, mas, sobretudo pela sua maneira de viver
perante Deus Pai como um Filho querido, em uma obediência filial que o levou a
oferecer até a própria vida. Esta morte fruto do imenso amor que Jesus
manifestou para com o seu Pai e pelas pessoas que encontrou na historia, é
motivo de salvação por todos nós. Olhar a Cristo não para cobrar continuamente
favores materiais, mas para expressar a nossa gratidão pelo seu imenso amor que
proporcionou a nossa salvação, é este o sentido da nossa caminhada de fé, para
sairmos de uma espécie de materialismo religioso e entrarmos, assim, no mistério
do amor de Deus que não poupou nem o próprio único Filho por nós. Perante um
amor tão grande e eterno como é que podemos continua a nos aproximar a Ele
cobrando algo? Não é terrível a nossa atitude?
4. “Quando, porém, vier o
Espírito da verdade, ele vos conduzirá á plena verdade” (Jo 16, 13).
O Amor de Deus
que se manifestou ao longo dos séculos e que se manifestou de muitas maneiras e
em muitos momentos (cf. Hb 1,1s) como atenção ao homem nas situações concretas
da historia, não parou com a morte de Jesus, mas continuou com a vinda do
Espírito Santo. É o Espírito Santo que salva o homem da morte, que se manifesta
como vida na mentira (cf. Jo 8,41s), que é o contrario da Verdade, da sabedoria
desvendada na obra da criação e na vida e nas palavras de Jesus. Esta Verdade é
sugerida ao homem pela ação do Espírito Santo, que age dentro do mesmo homem. É
isso que revela são Paulo no mesmo texto da carta aos romanos que citamos pouco
acima: “O amor de Deus foi derramado em
nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rom 5,5).
O amor de Deus
que se manifesta como caminho de aproximação ao homem, nesta ultima fase da
historia é tão próximo que decidiu de morar dentro de nós. O amor de Deus
derramado em nós através do Espírito, nos alerta sobre a verdade, para nos
ajudar a destrinchar os caminhos da mentira e, assim, nos afastarmos deles. Em
Deus a verdade coincide com o amor: esta é a grandíssima verdade que Deus
sempre em todos os tempo quis nos revelar. Só quem ama encontra a Verdade e, ao
mesmo tempo, só quem conhece a Verdade consegue á amar e, assim, viver a
própria vocação originaria. Esta intuição revelada na Escritura destroça todas
as formas mundanas de amor como possesso egoísta do outro. Pelo contrario, na
historia da salvação e na vida de Jesus o amor se manifestou como doação total
de si. É isso que Espírito nos sugere: fugir da mentira do amor egoísta baseado
somente no prazer individual, para buscar o amor que se doa totalmente ao
outro, renunciando a si mesmo. É esta a Verdade que o mundo não entende e não
compreende porque não conhece a Deus e seu Filho Jesus, e se recusa de escutar
a voz do Espírito.
5. Aproveitamos, então, desta Eucaristia para abastecermos a
nossa alma do amor de Deus e, assim, derramá-lo aos irmãos e irmãs que
encontraremos nos próximos dias.
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