( At 2, 1-11; Sal 103; 1 Cor 12, 3b-7.12-13; Jo 20, 19-23)
Paolo Cugini
1. Hoje é o dia do aniversario da Igreja, pois a Igreja nasceu
no dia do Pentecostes, quando o Senhor mandou o Seu Espírito sobre os
discípulos no cenáculo em Jerusalém. Esta é já uma primeira indicação
extremamente importante, pois nos revela que a Igreja não é invenção dos homens,
mas sim obra de Deus. A Igreja é assim constituída de pessoas que atraída pelo
Senhor, instruídas pela sua Palavra aceitam de percorrer a história se deixando
transformar pela ação do Espírito Santo. Sem duvida a Igreja é feita de pessoas
em carne e osso, é feita de gente: tem uma estrutura física, humana, visível.
Aquilo que, porém, realiza não é humano, mas sim divino. A obra que a Igreja
realiza ao longo dos séculos é fruto da ação do Espírito Santo nas pessoas que
acreditam no Senhor Jesus. É verdade que, apesar de tanto tempo, a história
parece ser dominada pelo espírito do mal e que também a Igreja e varia
circunstâncias se deixou dominar pelas forças do inimigo. É também verdade,
porém, que por dentro da história, o Espírito Santo desde a vinda do Senhor
Jesus na terra, está preparando o Reino de Deu, que é um reino de paz, de
justiça e de amor. Esta é uma verdade por assim dizer bíblica, uma verdade que
somente as pessoas espirituais podem enxergar, somente as pessoas que aderiram
ao Evangelho de Jesus podem vislumbrar. Se tudo isso é verdade, podemos nos
perguntar: como está se manifestando este Reino de Deus que o Espírito Santo
está moldando desde o dia de Pentecostes? Quais são os sinais espiritualmente
visíveis da sua presença?
2. “Há diversidade de
dons, mas o Espírito é o mesmo” (1 Cor 12, 4).
É esta uma idéia que Paulo
repete muitas vezes nas suas cartas (cf. Ef 2). O efeito do Espírito Santo nas
pessoas que o acolhem é dúplice. Em primeiro lugar, o espírito identifica as
pessoas, ou seja, ajuda as pessoas a descobrirem a própria especifica vocação.
Esta é uma marca claríssima da presença do Espírito Santo na História: ajudam
as pessoas a perceberem o sentido da própria vida, qual é o projeto do Pai para
elas, para depois ficarem firmes e fieis a esta vocação. Num mundo desnorteado,
que corre atrás de quem grita mais alto e se perde, assim, nas ilusões que o
mundo oferece, encontrar pessoas bem centradas naquilo que é a própria vida, a
própria vocação é ao mesmo tempo algo de raro e, também, uma grande alegria. Aquilo
que o Espírito Santo desvende nas pessoas não é apenas uma tarefa para ser
realizada, mas sim o sentido mesmo da vida, aquele sentido que enche a alma,
que produz paz e serenidade na pessoa que o acolhe. É isso que Jesus anuncia
logo após da sua ressurreição, aparecendo aos discípulos e soprando o Espírito
sobre eles: a paz esteja convosco (cf
Jo 20, 19). É o que esta paz se não a certeza que nada mais precisa correr
atrás de algo, que Cristo mesmo nos oferece, ou seja, o seu Espírito de vida!
Na perspectiva do Evangelho a paz não é um sentimento passageiro, que vem e vá
embora, mas é o dato permanente que marca o nosso relacionamento com o Senhor.
De fato, se Cristo é vivo, se nós temos o seu Espírito, porque temer? Se o
Senhor da vida está no meio de nós, porque correr atrás de outros falsos
senhores que não tem nada pra nos oferecer, a não serem paliativos inúteis e
enganadores? Afinal de conta, se com o seu Espírito Cristo é conosco, quem estará contra de nós? (cf. Rom 8, 31). Este
é então, o primeiro dato espiritual fundamental da ação do Espírito Santo na História:
a identificação das pessoas, a libertação do caos em que reina o mundo das
trevas e a certeza que Cristo não nos abandona mas caminha conosco. Do outro
lado o Espírito, além de nos oferecer uma identidade nos coloca numa vida de
comunhão, nos libertando da triste solidão do mundo. Quem vive do Espírito
Santo vive no amor de Deus e, o amor, é comunhão. Se no muno cada um queima o
filme do outro pra se promover, não é assim na Igreja, pois é um só Espírito
que age em todos para que todos sejam um
(cf. Jo 17). É verdade que amiúde também entre os membros da Igreja acontece
aquilo que assistimos no mundo, ou seja, brigas, rixas, desavenças, rivalidade.
Só que estas situações não devem ser tomadas como pretexto para nos afastarmos
da Igreja, mas sim devem ser utilizadas para crescer junto com a comunidade, na
superação daquela parte de mundo que ainda nos domina. Do outro lado, se
pensarmos atentamente, entre os mesmos discípulos de Jesus existiam rivalidades,
ao ponto que Jesus teve que entrar no meio da polemica (cf. Mt 20, 24-28) e
lembrar para todos que os discípulos não podem agir e pensar com pensa e age o
mundo, ou seja, se deixando levar pelo egoísmo e pela ganância, mas sim o
discípulo do Senhor deve aprender a deixar-se dirigir pelo Espírito do amor.
Neste sentido podemos dizer que toda vez que nos membros da Igreja, em nós
mesmos, percebemos algo de errado, um excessivo apego as coisas do mundo, um
instinto egoísta exacerbado, isso não que dizer que o Espírito não age, que o
Espírito não existe, mas que ainda precisamos de trabalhar bastante sobre a
nossa humanidade, para que o Espírito Santo possa encontrar espaço pela sua
ação santificadora.
3. “Recebei o Espírito
Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados serão perdoados” (Jo 20,
22-23).
Talvez seja este o sinal
mais profundo da presença do Espírito Santo na história, ou seja, a capacidade
de perdoar. Sem duvida o poder de perdoar os pecados Cristo o entregou para os
discípulos e, então a Igreja, mas pelo fato de pertencermos á Igreja através do
Batismo este poder, de alguma maneira, é também nosso. O cristão, pelo fato de
pertencer ao Corpo de Cristo e de ter recebido o poder de perdoar os pecados, é
chamado a viver no mundo o perdão do Senhor. É sintomático que a primeira
palavra que o Senhor soltou logo após da ressurreição, no primeiro encontro dos
discípulos, foi a palavra “perdão”. Além do mais “perdão” é a primeira palavra
pronunciada por Jesus depois de ter soprado o Espírito sobre os discípulos.
Perdoar os irmãos, neste sentido e pela força que este mandamento recebe no
contexto que acabamos de apresentar, é sem duvida algo de divino, que o homem
não consegue sozinho realizar. De fato, se pararmos um pouco para pensar,
percebemos imediatamente que os maiores problemas que encontramos nos
relacionamentos com as pessoas são todos ligado a nossa incapacidade de
perdoar, a nossa incapacidade de dar o braço a torcer. Porque, então, é tão
importante perdoar os irmãos e as irmãs? Porque á luz do Evangelho, toda vez
que perdoamos alguém permitimos ao Espírito Santo de entrar na história e
desenvolver a sua força criadora.
De uma certa forma, esta
solenidade de Pentecostes e esta pagina do Evangelho nos ensina que ser Igreja
não é tão complicado assim como em aparência parece. Basta somente um pouco de
humildade, um pouco mais de simplicidade, um pouco de docilidade á ação do
Espírito Santo para que Cristo possa reconciliar o mundo a sim, possa moldar a
humanidade toda para que assuma a forma da humanidade de Cristo. É isso que o
Espírito Santo quer realizar: transformar tudo em Cristo. A nossa capacidade ou
incapacidade de perdoar os irmãos e as irmãs torna-se a medida da realização
deste projeto ambicioso do Pai.
"Quem vive do Espírito Santo vive no amor de Deus e, o amor, é comunhão".
RispondiEliminaUma bela reflexão, e essa frase diz tudo.