(Ez 47,1-2.8-9.12; Sal 46;
1Cor 3,9-11.16-17; Jo 2,13-22)
Paolo Cugini
1. Segundo uma tradição que remonta ao século XII, celebra-se neste
dia o aniversario da dedicação da Basílica do Latrão, construída pelo imperador
Constantino no IV° séc. d.C. Esta festa é importante porque a Basílica do
Latrão é chamada “Mãe e cabeça de todas
as Igrejas da Urbe e do Orbe (de Roma e do mundo)” e também como sinal de
amor e unidade para com a cátedra de Pedro, que “preside a assembléia universal da caridade” (Inácio de Antioquia). Com
esta festa a Igreja nos oferece a oportunidade de refletir um pouco sobre o
sentido da mesma e, assim, avaliarmos o sentido da nossa pertença á ela. São as
leituras de hoje que nos oferecem o conteúdo para respondermos aos nossos
questionamentos sobre a Igreja e a sua natureza.
2. “A água corria do lado direito
do templo, a sul do altar... Estas águas correm para a região oriental, descem
para o vale do Jordão, desembocam nas águas salgadas do mar, e elas se tornarão
saudáveis” (Ez 47, 1.8).
Esta imagem do profeta Ezequiel mostra um elemento interessante
sobre a Igreja. Interpretando o versículo citado, podemos afirmar que da Igreja
sai a água (do batismo) que purifica a humanidade toda. Existe toda uma
humanidade “salgada” pelo estrago do pecado que precisa ser lavada, purificada:
é este o sentido do batismo. Claramente esta purificação não é feita apenas com
a água sacramental, mas também através da ação de todos aqueles que foram
purificados, batizados. A Igreja foi inventada por Deus com este intuito:
oferecer um espaço para que o mundo seja purificado. A água do batismo purifica
qualquer água salgada que encontrar: nada resiste a força purificadora dela.
Entender isso é fundamental para descobrir a gratuidade da ação de Deus e,
sobretudo, a verdade da sua força, do seu poder. Se Deus criou o homem e a
mulher foi com a intenção que eles vivessem para sempre (Cf. Sab 2,3). Se este
projeto foi estragado pelos mesmos homens e mulheres, por causa da desobediência,
que não é nada mais que uma forma de teimosia, de orgulho, isso não levou Deus
a desistir da sua idéia originaria. Pelo contrario, toda a historia da salvação
que nós lemos na Bíblia, é a narração do esforço de Deus de consertar,
purificar os erros dos homens. O ponto final deste esforço é Cristo, o Filho
único de Deus, que veio ao mundo para mostrar a toda humanidade o caminho de
saída do mundo do pecado, para entrar na gloria de Deus. O batismo é o
sacramento que dá inicio a este caminho, porque deveria marcar o desejo da
pessoa de seguir a Jesus e realizar a sua proposta de uma vida nova.
3. “Ninguém pode colocar outro
alicerce diferente do que está ai, já colocado: Jesus Cristo” (1 Cor 3,11).
A Igreja é aquela realidade espiritual, mística e ao mesmo tempo
visível pela ação dos cristãos, que é alicerçada sobre um único fundamento que
é Cristo. Se a Igreja é instrumento universal de salvação, deve isso ao fato
que Cristo não apenas é o fundador dela, mas também o alicerce que sustenta
toda a instituição. Por isso um cristão para ser tal, não apenas deve ser
batizado, mas dedicar tempo ao conhecimento de Cristo. A Igreja é o conjunto do
povo de Deus que sentiu-se atraído pela Palavra de Deus e que visa viver
conforme os ensinamentos do seu Mestre Jesus. O tempo presente para um cristão,
é o tempo do aprofundamento da Palavra de Jesus, da sua proposta de vida. Só
que para conhecê-lo, para desejar aprofundar o conhecimento da sua Palavra,
precisamos amá-lo e para amá-lo precisamos tê-lo encontrado, percebido. Este
encontro é possível somente na interioridade da nossa alma, pois é ali que Deus
se manifesta. Pessoas superficiais, mergulhadas nos prazeres do mundo, na busca
dos bens materiais dificilmente conseguirão encontrar o Senhor, escutar a sua voz
e, assim, ser atraídos por Ele. Se Cristo é o alicerce da Igreja, como Paulo
nos demonstra hoje, precisamos conhecê-lo melhor, precisamos passar tempo com
ele, debruçar na sua Palavra, interiorizar o seu estilo de vida. Somente assim
a Igreja se torna o corpo visível de Cristo ressuscitado, que atrai toda a
humanidade no Caminho que leva ao Pai.
4. “Jesus fez um chicote de
cordas e expulsou todos do templo... E disse: ‘Tirai isso daqui! Não façais da
casa do meu Pai uma casa de comercio!’” (Jo 2, 15.16).
Este é um versículo que muita gente não gosta. Até mesmo alguns
exegetas, ou seja, estudiosos da Palavra de Deus, escreveram palavras negativas
sobe esta atitude de Jesus. Pelo contrario, eu pessoalmente gosto muito deste
versículo, porque acho que revela algo de muito importante não apenas da
personalidade de Jesus, mas também da sua ação no mundo. Este versículo revela
que Jesus não veio para botar a mão na cabecinha do povo, acobertando os seus
erros, mas pelo contrario, Cristo veio para ajudar o mundo a sair do erro do
pecado. O primeiro efeito da leitura do Evangelho, quando é feita com o coração
aberto, é a descoberta da própria vida errada. Cristo é a verdade que
descortina a mentira. Perante esta revelação a tentação imediata é acobertar,
fingir que está tudo bem. Quem procede assim não está disponível a se tornar
discípulo do Senhor, a ser uma pessoa diferente. Pelo contrario, o sofrimento
causado pelo descobrimento constante dos nossos erros, é apaziguado somente se
tivermos a coragem de aceitar os conselhos e as indicações do nosso Mestre
Jesus, cuja intenção não é apenas de nos machucar mas, pelo contrario, de nos salvar
da nossa vida errada. Esta violência que Jesus usa no templo de Jerusalém é o
símbolo da força e do zelo que Ele mete no comprimento da vontade do Pai. As
vezes, para sairmos de situações de vicio, de pecado enraizado na nossa alma,
precisamos um pouco desta santa violência, que é força de Deus, que é a
determinação que nos leva a sermos pessoas diferentes. Se isso vale num sentido
pessoal, ainda mais quando se trata do pastoreio da Igreja. Quem tem uma função
de liderança na Igreja não pode vacilar perante o pecado da comunidade, que
pode estragar a mesma e comprometer definitivamente a caminhada. Às vezes, pelo
amor de Cristo e da sua Palavra, precisamos da força do Espírito Santo para
termos a coragem de sermos firmes e até duros perante situações de evidentes
erros. Nessa altura, somente o pastor que tem amor a Deus mais de que a si
mesmo terá a coragem de realizar atos e tomar decisões impopulares, mas que
beneficiam o prosseguimento da comunidade.
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